Tecnico De Enfermagem Veterinaria

Bard College - Uma maneira de viver. Algo que não se pode ver, mas que se pode sentir o cheiro. Um regime criado. Uma construção. É uma imposição social. A "banha da cobra" que nos venderam. Para mim é uma limitação. Uma peça cómoda do sistema. De quem gostas, como te vestem. "Tens namorado? Tens namorada?". Aceitar o que nos deram e reproduzi-lo. Desde sempre fui uma mulher que não devia ser. Foi uma norma inconsciente que carregava dentro de mim. "Isto não me pode estar a acontecer!". É muito mais fácil dizer: "Gosto do Mikel"... ...que dizer: "Gosto da Judith". E nós não estávamos de acordo com isso. Há algo que falha. Falha a maioria das vezes, nunca cumpre com as suas expectativas. Não se fala, por isso, não há problema. Pode a sociedade aceitar essas identidades que estão fora da norma? Esta sociedade sim, mas porque somos politicamente correctos. Uma opção é dramatizar a situação e outra é rir com ela. Quem não cumpre a norma, recebe sempre castigo. Mas, no fundo, a realidade é que estás numa luta e que tens de lutar. Uma amiga disse-me, e acho que encontro cada vez mais sentido: "Podes-me chamar de qualquer coisa, mas não me chames normal, que é um insulto". A normalidade não existe. Todos temos as nossas diferenças, somos diversos, nuns e noutros campos. Agarramo-nos todos à normalidade que não existe e escondemo-nos atrás dela... E a partir daí maltratamos os outros: as pessoas daqui aos de fora... ...brancos a negros, homens a mulheres, não-transsexuais a transsexuais... Esta discriminação sustenta-se, porque as pessoas acreditam na normalidade. ...escondemo-nos atrás dela, às vezes para procurar reconhecimento, identitário ou outro. Eu não entraria dentro da normalidade... porque o mais normal não é, sendo mulher, dedicar-se ao sindicalismo, porque o mais normal não é, estar com uma mulher e ter uma vida pública de sindicalista, Porque o mais normal não é,dedicar-se à militância e não abdicar da maternidade, Porque não é nada normal, sendo mãe, manter a militância e os amigos... Um mecanismo, para dizermos que está bem e que está mal... ...sempre dentro desse dualismo: "Isto está bem, isto está mal...". Nós que temos sexualidades não-normativas pensámos na normalidade.... ...com uma perspectiva muito ambivalente. Para mim, tem uma definição de dupla face. Por um lado, é uma realidade com uma enorme carga pessoal... ...que tem normas muito concretas que contém sanções e recompensas muito concretas. Uma peça, o mais passiva e estável possível, para que a máquina possa funcionar. Submissa. A realidade, é que num momento ou outro, todas as pessoas desejam a normalidade. Nesse sentido, apesar da necessidade de romper com a normalidade... ...temos também de aceitar os danos e dificuldades que resultam da ruptura. Na vida das pessoas queer, gay e lésbica a ideia de fracasso tem muito peso. E ao fim e ao cabo, passas grande parte da tua vida "expulso" da normalidade... ...e quando tentas entrar, vês que é um ambiente cheio de armadilhas. Entras na normalidade, mas de repente expulsam-te com um golpe de realidade. Algumas coisas são aceites... ...e se ages segundo o que é aceite, terás a vida mais facilitada. O que é suposto, no meu caso, não é. O que me colocou uma certa dificuldade. Supõe-se que, tem de haver sempre uma relação, de casal... ...e além disso, sempre entre um homem e uma mulher... além disso, não um homem qualquer, nem uma qualquer mulher. E como eu não era assim, foi-me difícil adaptar à situação. Portanto, para mim isso é uma limitação. Lembro-me de uma amiga dizer, que para ela, o cheiro a heteronormatividade... ...a recordava como desde cedo, famíla ou amigos, nos começam a perguntar... ...se temos alguém, se temos namorada... E com estas pequenas coisas vamos criando uma ideia de heteronormatividade... ...que é invisível, mas que deixa um rasto de odor. Por acaso, em pequena também gostava do rapaz mais fixe da turma. E também, por acaso, gostava de rapazes. Uma norma, que ao tornar-me adulta, me passou a ser desconfortável... ...já que muitas coisas que eu sentia, não estavam lá. Por isso, foi uma norma que me reprimia. Penso, que a heterossexualidade é algo muito interessante para analisar. É curioso, tantos estudos realizados sobre a homossexualidade... ...e ninguém fala da heterossexualidade. Regula com quem temos de ter relações sexuais. Mas creio que, nesta sociedade, está muito relacionada com a família. Supõe-se que, uma das funções da família é regular a sexualidade. Então, essas relações sexuais têm que ser entre um homem e uma mulher... ...e além disso, têm de ser um casal e imaginar um determinado futuro. Uma maneira de viver a nível social. E nós conhecemos a heterossexualidade obrigatória... ...isto é, o homem, homem, a mulher, mulher e a última palavra do padre. Atrás disto, existe uma ideologia, questões económicas fortes... ...uma organização política, ou um contrato económico, como por exemplo, o casamento. Afirmamos que o nosso sistema económico é capitalista e heterossexista... ...porque se baseia na centralização nos mercados e no sistema monetário... ...mas a construção dos géneros, é também fundamental para manter o sistema. O sistema capitalista não se manteria, se o sistema patriarcal acabasse. Neste regime, impõem-se ou são dadas como boas, práticas concretas... ...intimamente ligadas à reprodução, para assim promover a reprodução da sociedade. Seriam o "missionário", o coitocentrismo, seja o que for. O mais importante é que, além das práticas, impõem-nos papéis sexuais específicos: os homens têm de assumir um papel activo e forte. As mulheres, no entanto, passivo e débil. Além disso, eles devem ser hipersexuais... ...e nós, ao contrário, parece que não temos de gostar de sexo. A heteronormatividade, no fundo, não é mais que declarar nesta sociedade como... ...comportamento afectivo-sexual, uma das possibilidades que existem. A que diz que um homem e uma mulher são os que criam a condição dos cidadãos. Isto tem muito a ver com a organização da sociedade. Nessa estrutura entra como vai ser essa relação... ..que função social vai ter... O amor romântico, por exemplo, é muito pertinente. Que a relação seja monogâmica, que depois essa relação seja encaminhada ao consumo... Logo, tudo isso cria então uma norma. Mas, em si, penso que a heterossexualidade pode ser saudável... ...mas não a heteronormatividade. São duas coisas diferentes. Se é uma norma, é uma visão do mundo. Uma norma que determina como cada um tem de viver a sua sexualidade... ...desde que nasce até morrer. Um sistema organizado para que a heteronormatividade seja dominante... ...para que se reproduza e para que compita com as outras opções. ...não ao mesmo nível, mas a partir da dominação... Programam-nos para aprender o que desejar e como. Programam-nos para aprender quem temos que gostar E sendo uma norma, tudo o que se situa... ...fora das práticas, pessoas e modelos de corpos estabelecidos por ela... ...é punido, discriminado e menosprezado. A heteronormatividade deixa de fora uma enorme quantidade de pessoas. E não só: dependendo da forma como a sociedade está organizada... ...as pisa, as evita, as maltrata, as assassina. Está fora da heteronormatividade desejar alguém mais novo que tu, está fora da heteronormatividade desejar alguém do mesmo sexo, está fora da heteronormatividade desejar mais que uma pessoa, estão fora da heteronormatividade muitas práticas sexuais... E diria também, que muitos corpos ficam fora da heteronormatividade. Parece que alguns corpos não têm capacidades sexuais... ...ou que não experienciam prazer... ...e afastamo-los de todos os planos da sexualidade. Sim, é possível que a literatura seja uma forma de romper com a heteronormatividade. O cinema, jornalismo, desporto, política... ... a forma de fazer amor... Tudo pode ser uma maneira de romper ou mudar a heteronormatividade. Ficaria de fora da heternormatividade tudo aquilo que sonhamos durante a noite... ...sem querer, tudo aquilo com que não contamos... E, no fundo, estaríamos fora, se realmente mostrássemos o que somos... ...o que desejamos, o que experienciam os nossos corpos... ...se vivessemos livremente e encorajados a libertar, abrirmo-nos e sentir... ...estaríamos totalmente fora, mas ao mesmo tempo, criaríamos algo diferente. Desde as periferias do género. Gosto muito quando perguntas: "Como nos tornamos isto ou aquilo?". Tem presente que nos tornamos. As identidades são construções sociais. Por isso, não existem desde o nascimento, nem naturais, nem biológicas. Sendo construções sociais, podem-se mudar ao longo da vida. Eu, fui um homem heterossexual, e sem mudar a minha estrutura mental... ...mas por norma social, eu passei a ser uma mulher lésbica. Vão perguntando, se jugavas futebol ou brincavas com bonecas, se usavas calças ou vestidos... Eu usava vestidos e brincava com bonecas, mas falava muito alto, na escola não seguia as regras... ...era demasiado bruta. As mulheres, no nosso tempo, cumpriamos umas características: eramos mais sensíveis, carinhosas... ...generosas, submissas, obedientes... A promiscuidade nas raparigas, por exemplo... ...que uma rapariga goste mais que uma pessoa, que escolha ou que deseje... Está mal visto e não é aceitável, E é precisamente isso que quebra com a heteronormatividade. Quanto mais longe da heteronormatividade, maior a punição E o estigma da puta nas raparigas, desde pequenas... ...é algo que está presente, e se utiliza para regular. Então, ninguém quer ter essa identidade... ...e afastamo-nos de tudo o que tenha a ver com isso. Não sei bem, se me tratam de forma diferente, por ser transsexual... ...ou por ser mulher. Senti-me mais discriminada por ser mulher... ...que por ser transsexual. No trabalho, por exemplo, sabem que sou transsexual... ...e o meu corpo não é pequeno, nem débil... ...mesmo que tenha perdido força no decorrer do processo... ...hoje em dia, dão-me trabalhos que socialmente são destinados a mulheres. E pensas: "Bem, eu fazia-los antes". Sou jardineira e já trabalhei com uma motoserra a uma altura de 3 andares. Mas depois de mudar de sexo, não me dão esse tipo de trabalhos. É muito importante decidir seguir a norma que nos é dada... ...ou não segui-la de todo. Ser submissa, ou não sê-lo. Curtir com o que gostas ou reprimir-te. Tornamo-nos, mas como se faz uma nacionalista ou basca, ou cidadã do mundo? Eu não sei como é feito, mas experimentando, uma vez mais. Experimentando coisas, escolhendo as que gostas e rejeitando outras. É-nos dito que o sexo é biológico, inato, nos vem dado, não se pode mudar... ...e que existem dois únicos sexos. Mas, os intersexuais, por exemplo, não encaixam em nenhum dos sexos. E nesses casos a medicina intervém; é paradoxal, louco. Diz-se que o sexo é biológico... ...mas como as pessoas intersexuais não entram nesta divisão de sexos, intervimos. Então, a sociedade (cultural) intervém para mudar o natural. Há um grave problema de raíz nessa divisão. O maior problema, é que as pessoas transsexuais não são autónomas por lei. São outras pessoas que nos dizem, se somos ou não transsexuais. Psicólogos e psiquiatras - na lei de 2007 não deixaram entrar sexólogos- ... ...quem decide se tu és mulher ou homem, quem decide, se acreditam em ti ou não. Entras num processo de psicologia ou psiquiatria... ...tens de responder a perguntas. Para ver se és uma mulher ou um homem, por exemplo... ...se gostarias de trabalhar numa oficina... ...se gostas de flores, se gostarias de ser militar... ...e isso determina se és homem ou mulher. No congresso em que me nomearam Secretária Geral... ...havia muitos convidados internacionais... ...e perguntaram-me se era a mulher de Rafa Diez... ...se era filha dele, e se havia alguma sucessão hereditária no sindicato. Alguns entenderam, que "Secretária" era secretária e não "Secretária Geral". Então, dás-te conta da realidade. Mas não digo que estas atitudes venham só de gente que vem de fora. Não se podia ser nacionalista basca e lésbica ao mesmo tempo... ...e eu costumava dizer isso aos nacionalistas bascos à minha volta... ...porque só se falava de uma coisa: a luta, a luta e a luta. E como se fosse uma obsessão, temas que abordamos na juventude... ...anti-nuclearismo, ecologia, feminismo e tantos outros... ...foi eliminado; a luta levou tudo à frente. Durante vinte anos, até há pouco tempo e também hoje, ainda que em menor escala... ...a luta engoliu tudo, como se proibisse todo o resto. O movimento contra o serviço militar não criticava com força suficiente o exército. ...no que toca a masculinidade e sexismo. Contudo, o principal objectivo do nosso movimento era nos libertar disso. ...fazer frente a esse sexismo, cambatê-lo. Vimos, que devíamos reivindicar também isso. Por outro lado, nas leis internas do exército não se aceitava a homossexualidade. Se te indentificavas como homossexual perante eles... ...eras expulso. Na realidade, o problema são as restantes pessoas. É muito mais fácil mudar-mos o corpo, e quem queira que o mude, mas é mais díficil fazer com que as pessoas te vejam e admitam que tu existes. Nós rejeitamos o exército, não o o exército a nós. Isso o princípio. Fizemos a nossa própria campanha: Maricas contra o serviço militar. Dissemos ao juíz que eramos maricas e que não aceitávamos os seus valores. Não é nenhuma descoberta. Não descobrimos se a nossa sexualidade é isto ou aquilo. O que descobrimos é que temos uns desejos e comportamentos não aceites. Com dez anos não pensas: "Serei isto ou aquilo?". Pensas: "Algumas coisas que penso não são aceites". As identidades gay e lésbica são uma bengala... ...agarras-te a uma identidade "colectiva", e isso faz-te pensar... ...que não és a única que está fora dessa norma, que não és a única que sente medo perante algumas circunstâncias. Tinha um discurso. Construimos a identidade maricas, porque quisemos. Dissemos: "Agora 'maricas' significará isto". Se as identidades são políticas, isto é, impõem-nos algumas identidades... ...para perpectuar os sistemas opressores... ...a transformação dessas identidades, é também uma arma política. São questões de conceitos e significados. A "homossexualidade" era como uma doença, "gay", simbolizava as comunidades dos EUA, e nós dissemos: "Nós somos agentes activos nesta luta". Isso foi o que dissemos ao juíz, mas não nos compreendeu. Isto é também uma questão política. E agarramos o slogan feminista: "O pessoal é político". As nossas vidas são políticas também. Não temos que esconder-nos, não não temos que aceitar as humilhações. Existe uma diversidade e há um continuum de corpos. Não estão só os homens e as mulheres. À volta de todo este continuum, existem corpos mais indefinidos. E existem corpos a transitar de um lado ao outro. Se alguém precisa de tratamento ou cirurgia, que o faça. Faça num sistema público de saúde, com qualidade e segurança. Porém, quem não queira modificar o seu corpo, que não o modifique. Não faça desse corpo funcional, um disfuncional... ...mas estética e socialmente aceite. Que as pessoas reconheçam, que sou a mesma mulher, agora e antes da operação. Que podes ser uma mulher com um pénis, que podes ser um homem com uma vagina. Entendemos que "pluma" era apenas uma forma de expressão. Tal como, os metaleiros faziam assim... nós faziamos assim... ...ou os punks assim. No fundo, tudo é "pluma". "Eu tenho uma pluma e tu também. Eu pluma maricas e tu pluma macho". Então, demos a volta e foi bonito: aceitar a pluma e tomar conta dela. Fizeram-se também campanhas: "Se a tua pluma os incomoda, mostra-la". Ter uma sexualidade à margem, leva que tenhas uma visão de margem, digo sempre que sou uma escritora de periferia. Sou da periferia, porque sou dos limites (Baiona, Amikuse, Maule)... ...o meu idioma também é periférico: é um pouco confuso... ...não é tão claro como o euskera unificado, é uma mistura. E nunca menciono a terceira periferia: a do género. Quem me entrevista nunca o pergunta. Cria-se um silêncio: é tácito. A transsexualidade, até há pouco tempo, estava no lado degenerado da vida. Onde estava tudo misturado. Onde estava a delinquência, a droga... ...estávamos travestis, transsexuais, a protituição... tudo misturado. Há gente que te deixa de falar, porque iniciaste o teu processo... ...eu creio que o fazem por medo de te verem com ele, por medo, que te vejam com alguém que está no lado degenerado, na parte obscura, em que não queres estar porque és uma pessoa "normal". E dizes: "Ok, se não queres estar comigo, eu também não quero estar contigo". Tenho de admitir, que de certa forma foi fácil para mim. Esta é também um ponto forte da heteronormatividade. Perdoa-se mais fácilmente aquele que tem a "posição de poder". Tenho a certeza, que não é o mesmo ser-se lésbica sendo Secretária Geral... ...ou sendo responsável sindical de uma cidade. Ao haver repressões diferentes existem grandes diferenças entre elas... ...quando nos afastamos da heteronormatividade. Não é o mesmo ser-se lésbica negra ou coxa, Ser uma lésbica de África ou dos EUA, pobre ou rica... É importante identificar esses privilégios. Na minha cidade havia quatro grupos de feministas, estávamos entre feministas. E isso dá-te a oportunidade de reflectir e admitir algumas coisas. Outra questão, são os privilégios: por exemplo, ser branca é um privilégio. Branca, não só pela cor da pela, ter capacidade económica, mover-se dentro da legalidade... Ser homem também é um privilégio, mesmo que sejas maricas... ...porque às vezes tratam-te como homem, não com todos os privilégios, mas com muitos deles. É bem claro nesta história que denominamos GAY: gay "mainstream"... ...director da Mango, realizador de cinema, Todos esses famosos... ...não estão onde estão por serem gays, senão por serem homens. Isso hoje em dia, ainda tem muito peso. Quando dizemos que não admitimos as identidades hegemónicas... ...que ser homem ou mulher são contratos impostos... ...e se construíram com base nas relações de poder... ...temos a necessidade de contrariar essas identidades. Podemos decidir não usar essas identidades. Porque usar uma identidade não é o mesmo que usar outra: mulher ou fufa, são reprimidas mas usamo-las como armas. Homem ou heterosexual, alternadamente perpetuam as relações de poder. Talvez a solução esteja em usar identidades estratégicas... ...e inventar identidades que não sejam repressoras e falem dos nossos desejos. Eu também quero que me perguntem, para dar uma resposta clara. Desejas o que entendes que não podes desejar. Há coisas que mudam; com dez anos pensas que não deves desejar rapazes, com certa idade pensas que não deves desejar gente de outra idade, que não deves desejar em negativo, mas sempre em positivo. Mas não, por vezes também desejamos em negativo. Pensar o desejo como potência eléctrica, temos que pensar como construir os circuitos... ...onde estão os botões, onde estão os curto-circuitos, quem os desenha... ...e se todas podemos participar da mesma forma. Temos também de pensar no desejo como capacidade política. Se és hippie, gostas de hippies, e não de membros da Opus Dei... ...é óbvio que por trás desse desejo existem questões políticas. Costumávamos gozar com o assunto: "És hippie-sexual ou nacionalista-sexual?". O Desejo não é sempre libertador. Sendo o desejo homossexual muito libertador... ...vimos que o capitalismo pode absorve-lo e leva-lo para o consumismo. Eu nunca me senti confortável na heterossexualidade... ...por causa da posição em que a mulher é colocada e do tipo de relações que se dão. Faz-me sentir bastante desconfortável... ...ter de adequar a standards de beleza... ...da hegemonia de homens heterossexuais, de forma a ser avaliada. Eu não me identificava como uma lésbica. Isso era assunto para os outros. Claro que eu era uma lésbica, mas para mim no início não era isso. Por esse lado, sentes muita inquietação. Via com normalidade que gostava de raparigas, e não entendia a conotação negativa nas pessoas. Porque tem de ser negativo aquilo que sinto? Tu sentes o que sentes, e eu, o que eu sinto. Não tinha de ser um problema, mas assim se apresentava. Lembro-me se estar no recreio da escola, de camisa aos quadrados azul e verde. Gostava de guardar coisas no bolso. Tenho muito presente essa lembrança. Lembro-me que nesse momento pensei sobre os meus desejos. Notava que sentia desejo pelos meus companheiros. E reflecti com base num cálculo sociológico-matemático: "A minha vida tem vários aspectos, se este é só um deles... ...poderei silenciar este. Desenvolver os outros aspectos, e este não". Pensei que dessa forma conseguiria ser feliz. Comecei a identificar-me como lésbica desde muito jovem, sempre em segredo. Creio que na adolescência já o tinha bem definido. Mas tornei-o público em 2006, quando se fizeram as primeiras... ...mesas redondas sobre o tema entre escritoras. Tive quase de segurar a minha mãe quando lhe disse que ter namorada. E no sindicato, suponho que o que me disseram e o que se disse nas costas... ...nem sempre seria o mesmo. Saí do armário aos 16... Saía ou explodia. Precisava de colocar o desejo em primeiro plano, e depois de fazê-lo, entrei noutra fase da minha vida. Tirei um grande peso de cima de mim. Fui escolhendo espaços e pessoas que vivem fora da heteronormatividade. Fui construindo zonas de conforto para mim. Mas quando voltas a situações que são hegemónicas, família, escola... Custava-me colocar a etiqueta de lésbica. "Porque não me atrevo a dizê-lo?". "Porque me importa tanto o que ela pensa?". "Ela sentiu-se incomodada!". Aconteceu-me, encontrar os meus tios, quando estava com uma rapariga... ...apresentei-a a eles, e ficaram perplexos: "Hã... A sério?". E mais tarde a minha tia veio ter comigo e disse: "Não foste nada clara, disseste que era tu namorada... Diz que és lésbica!". E eu: "Fui eu que disse mal?!". Acho que foi um erro não me ter declarado antes lésbica. Talvez, graças à função profética do escritor, mais pessoas estariam mais tranquilas... ...se alguém à nossa volta se declara publicamente gay ou lésbica. Quando sabemos que somos gays ou lésbicas... ...todas tiramos as nossas vidas do redemoinho do meio social. Fomos viver para Paris ou Londres, Pessoas do Sul para Madrid ou Barcelona... ...e elas desenvolveram as suas vidas lá. Quando dizemos que somos lésbicas na família, no trabalho, aos amigos... ...temos problemas em gerir a questão da visibilidade... ...tivemos muito pouco tempo para saber lidar com esta diversidade. Existem meios em que não há nenhum problema: falam disso... ...e aprenderam a dar visibilidade. Não se faz disso um tabú. mas existem muitos outros em que se continua a fazer tabú. "Eu sei que és lésbica, mas não te pergunto, porque não sei como abordar". "Posso ofender, posso entrar na sua vida privada...". Parece que é parte da nossa vida privada, mas quando és heterossexual, não é. Houve sempre um silêncio quanto ao que fazia na minha vida. Porém hoje, não me perguntam sobre a minha vida sentimental. E gostava que o fizessem, para poder responder claramente. Mas nunca chega a acontecer, e, ficamos sem saber o que dizer. Sem dizer nada não, porque como acontece com muitas lésbicas... ...ouvimos muitas histórias mas as nossas não as contamos. Quando assumes um cargo de responsabilidade e te entrevistam... ...e perguntam o teu nome, o do marido, quantas filhas tens... A mim nunca o perguntam, e às vezes forço a situação: -"Que gostas de fazer?". -"Estar com a minha namorada". Assim, acaba-se com a pergunta pessoal. Na famíla, sobretudo as tias, perguntavam-me: "Quando te casas?". Estava claro, não me ia casar. Hoje em França, os casais homossexuais têm direito a casar-se, mas eu não sou a favor do casamento. Na família não podia dizer: "Não me posso casar por estes motivos". Deixei passar, fui tendo as relações às escondidas... Ainda que não tenham sido tão secretas, escrevi sobre elas. É importante ter vocabulário, muita gente não sabe nem como chamar. "Se a chamo lésbica pode ficar ofendida". Quando vivo experiências homofóbicas, na escola por exemplo... ...o meu corpo fica em alerta. Sinto que há algo que se articula, um mecanismo de defesa. Sei que é uma agressão. E isto acontece hoje aqui no País Basco. Depois de receber alguns golpes, disse: "Sou assim, e para mim não é um problema... ...se é para ti, que seja. Mas deixa-me em paz". E comecei a viver a minha vida. Fui-me apoderando da minha vida pessoal... Disse a mim mesma: "Não quero isto". E comecei a construir algo diferente. Esta consciência, deu-me a oportunidade de aceitar algumas coisas que sentia... ...e ir mudando aquilo que gosto e que posso gostar. Mudar completamente o objecto de desejo. Tive também a oportunidade de aceitar algumas práticas sexuais... ...que antes não aceitava ou dava pouca importância... ...e dar passos em direção à libertação. Não é fácil romper a norma, com a prática... ...ou simplesmente o que te é imposto e não te diz nada. As coisa mudam muito e tens de te questionar a ti própria. Mas, por vezes é um jogo: é algo entre prazer, jogo, conflito e luta. Ser lésbica, é para mim, um enorme prazer. Conhecer-me a mim mesma a partir dessa perpectiva é muito enriquecedor. Não ponho de lado ter relações com homens. Não gosto de responder a uma categoria fixa, e não o digo para causar boa impressão. Às vezes sinto desejo por homens, e quero disfrutar disso também. Sair do armário tem algo de empoderamento. É afirmar que não temos nenhum problema com a nossa sexualdiade.... ...mas que temos um grave problema em viver algumas sexualidades... ...e pô-las em prática, pela punição que recebemos... ...ou pelas regras que nos levam a outro lado. Não somos nós que temos o problema. Isto não é "bué de fixe". Isto não é: "Uau, conseguimos!". Ainda há muito por fazer. Não é certo que o direito a decidir aconteça de uma forma democrática, e muito menos, quando se trata de sexo ou de mulheres. Não diria a ninguém qual deve ser a sua escolha, a mudança deve assegurar... ...esse direito de decidir a todas, oferencendo meios e recursos. Temos de nos focar nisso. Os potros também são nossa família. Parece que com certa idade temos que fazer determinadas coisas: desde pequenxs, viver com o pai e a mãe, só com eles. Não falam... ...de outras experiências, e penso que elas existem. Quando se é jovem, ter de estudar ou experimentar coisas... ...vais viver com os amigxs. E logo chegas à idade em que tens que... ...ou viver com o teu compenheiro ou sozinha, porque decidiste assim... ...e porque tens essa possibilidade, porque viver sozinha, hoje em dia, não é fácil. No início eu não decidi viver sozinha. Propos-me o meu companheiro de então. Não iamos viver em casas separadas, mas não viveriamos juntxs. Ele a viver num apartamento, e eu ali como quisesse. Em sociologia, diz-se que para amadurecer, uma pessoa tem de dar três passos: ser económicamente autónoma, ter fontes de rendimento. Que ninguém tenha de te dar dinheiro. A segunda, que saias de casa. E a terceira... ...que formes uma família ou um casal. Juntamos a convivência com a idade. Parece que só podemos conviver... ...com gente da nossa idade. E assim, não damos espaço à experiência. Apercebi-me das pessoas à minha volta me responderem: "O que tu queres é viver toda a vida a namorar". "Vocês não vivem juntos e não querem ter filhos". "Quando começas a levar as coisas a sério e a viver como deve ser?". Também reproduzimos as hierarquias familiares nos espaços. Por exemplo, porque não há nos prédios um espaço comum para as máquinas de lavar? Porque precisamos de ter uma máquina de lavar em cada casa? A certa altura, dás-te conta que a maternidade não é uma coisa que está nos teus genes. E então, sentes a liberdade para escolher o que quiseres. Eu associo a maternidade a um desejo. Ponho-a na minha mala de desejos. Assim, é uma coisa que podes escolher. ...não uma coisa que te diz respeito por ser mulher. Libertação! Soube sempre que queria ser mãe? Não, tive as minhas dúvidas. Na altura não estava no melhor momento com a minha companheira... ...mas decidi ser mãe, com companheira ou sem ela. Primeiro tens de decidir quem das duas vai ser a mãe biológica. Para mim uma oportunidade nova e única. Na altura o meu sindicato decidiu.... ...que a minha orientação sexual era a melhor. Não haveria licença de maternidade... ...nem tinha de aguentar a gravidez. Isso era o melhor! Eu tinha a certeza que ia ter o bebé, E começou aì a história. Podia ter relações sexuais com um homem, Mas dá-me muita preguiça. E, a verdade, é que não me dão tusa. Sim, claro que as podes ter. Mas eu não o queria. Tinha de usar outro método. A mulher que ia viver comigo, tinha estado na prisão... ...e sugeriu o "método da prisão" - "O que é isso?" - "O tipo deixa num frasco e tu usas uma seringa". - "Ok, vou fazer isso!". Muitxs deram-me os parabéns porque ia ser mãe, e no sexto mês... ...continuavam a olhar para a minha barriga e diziam: "Não se nota nada!". Para ser sincera, rimo-nos bastante com isso. Apercebes-te, que quem pensavas que considerava todas as opções... ...não as tinham contemplado. A primeira vez foi muita fria. Ele vinha de uma reunião e nós duas estávamos sentadas na cama... ...e ele entrou na casa de banho. "E agora, o que temos de fazer?". É uma situação caricata, não sabes o que fazer. No fim, o rapaz apareceu e eu, a olhar para o frasco, pensei: "Acho que deve estar aqui. Mas não consigo ver nada!". Foi desconfortável para mim. Fiz amor com a minha companheira e depois ela meteu-o em mim com a seringa. Como não entra com a sua força natural, tens de fazer uma espécie de pino. No hospital, eu não era a outra mãe, era a acompanhante. No corredor, estava com os restantes homens... ...contamos como uma anedota, mas se pensares bem, é muito violento: esqueceram-se de mim. O bebé nasceu, saíram e como não viram um homem... ...não me disseram que o meu filho tinha nascido. Se Alaitz fosse um homem, ninguém faria um teste de ADN ao bebé... ...para saber se ela era realmente o pai. Só a mãe sabe quem é o pai. É assim! Tu sabes com quem tiveste uma relação! A um homem não se pergunta nada e põe-se o nome do pai. É simples. Ninguém lhe pergunta nada, nem se pedem os papéis do casamento. No nosso caso, não temos essa possibilidade, não existe. Vou à Academia de Língua Basca e o nome Zuhaitz: - "Não, Zuhaitz não pode ser." - "Porque não? Tu decides o nome da minha filha?". - "Não, eu não, a Academia!". - "Ah sim, muito melhor!". - "E porque tem a Academia de escolher o nome da minha filha?". - "É rapariga?". - "Será o que quiser ser... ...rapariga, rapaz ou burro! Não interessa!". - "Não, a Academia diz que tem de ser Zuhaitza". - "Se quiseres podes pedir recurso". - "Que recurso ou o raio?... ...Não vou registar o bebé!". E depois pensei: "São só papéis... ...registo e depois chamo o bebé como eu quiser". A Academia não vai... ...a minha casa dizer que "é Zuhaitza" cada vez que diga Zuhaitz. Eu e a minha namorada vemos da mesma forma e não relativizamos o cuidado... ...colectivisamos o cuidado e criamos uma rede à volta do bebé... ...e fomos capazes de deixar, sem complexos, o bebé com amigos. Sempre num ambiente que lhe dê segurança. O bebé sabe onde está. A maternidade é a responsabilidade de cuidar, mas não cuidar só tu. E quando não o podia levar à escola, não me martirizava... ...por não fazê-lo, que devia ser eu. Não o fiz e pronto! Ser mãe sozinha é desgastante e quase impossível. Não tens tempo para ti, e precisas dele. Senão, às vezes, tens vontade de esganar a criança. É verdade. É a tua filha e quere-la, quase mais que a ti mesma... ...mas em certos momentos, estás tão cansada! Precisas de espaço para ti própria. Da forma como eu penso, as coisas fazem-se com mais tranquilidade. Porquê? Porque não sentes: "A responsabilidade é toda minha! Boomm!... ...Uma carga enorme sobre os ombros!". Não; estás a conviver. partilhas tudo. Gostava que a minha filha conhecesse o pai. É difícil definir o que é um pai. Há muito tipos de mães e pais. "Queres falar com o pai? Pergunta-lhe se ele também quer". Mas assim, sem muitos rodeios. Não vou julgar o que ela sente, O que ela quer ou não quer. Eu decidi fazer assim. Agora é contigo o que fazer com o teu pai. E o teu pai decidirá o que quer fazer contigo. Quando imaginamos uma família: duas mulheres ou dois homens com filhas... ...teríamos que analisar a sua relação e falar a partir daì. Parece-me bem ter a opção de casar e ter filhas. Mas observando a estrutura, acho que não estão muito longe da família nuclear. Para mim, não há só um tipo de famíla; existem muitos tipos. Temos a chamada família "de sangue"... ...e por outro lado, temos a outra família. Tu, nós e os que vão viver connosco, são nossa família. As nossas amigas e as que vivem connosco, são nossa família. As nossxs poltras, são nossa família, e os nossos cães e galinhas, também. Para nós, são nossa família. Talvez pareça uma loucura... ...mas para mim, é assim. Porque tem de ser: um, um um e dois? Que seja livre! Qua cada um decida! Porquê que tem de ser um problema? Logo a seguir, a advogada diz-me: - "Tu está louca! Heranças...!". - "Estou-me a marimbar para heranças!". Cada um é livre de sentir o que quiser... ...e se eu sinto que tenho cinco avós, quem és tu para me dizer que não? O que tu sentes! Porque não pode ser livre? E pôr isso no papel: livre. - "Quantas mães tu queres ter?". - "Muitas". - "Muito bem, muitas, então". E que a seguir a lei se adapte aos nossos sentimentos. E não o contrário. A manif está dentro de ti. Ajudou-me imenso ter trabalhado com movimentos sociais... ...provavelmente muito mais que os psicólogos e psiquiatras. Conviver com as pessoas na rua. O movimento feminista, é um movimento muito interessante, Acho que é o espaço mais confortável para as reivindicações das lésbicas. O movimento feminista no Sul do País Basco e os colectivos de lésbicas de agora... ...enchem as praças, têm mais eco. Nos jornais, na televisão... Os jornalistas que vêm ao Norte do País Basco, não querem saber desses temas. Centram-se na agricultura, no "versolarismo", na cultura tradicional.. Para nós, era importante juntar a criatividade com a reivindicação política. No nosso contexto, ou no de movimentos de esquerda em geral... ...o modelo de luta foi muito masculino. Podemos dizer que a esquerda acolheu um certo padrão. E nós queríamo-nos afastar desses modelos e guias. Além disso, não achávamos apenas masculino, como muitas vezes machista. Vês a situação em casa, com os amigos, a atitude que tens em momentos íntimos... ...a tua sexualidade... Tudo. Penso, que esse é o primeiro lugar onde se tem de trabalhar. E depois saímos para as ruas. Porque senão, eu não saio para a rua. Romper com a heteronormatividade, é declarar guerra a ti mesma. E claro, não existe um inimigo de referência, Rajoy ou Merkel... ...e: "Vamo-nos manifestar contra o capitalismo!". Não. A manifestação está dentro de ti. Chocas contra todos os teus dogmas, e começas a questionar tudo. Evita-se esse desconforto, porque a nossa dinâmica está voltada para a produção... ...então, temos de produzir, e nessa produção... ...uma discussão de duas horas não é produtiva. E como não é produtiva, não lhe damos prioridade, e nunca se fará. Estás em luta constante. Diria que, tens dar sempre explicações pelo que fazes. E além disso, como és feminista, militante e queres transformar o País Basco... ...queres que as pessoas entendam o que fazes. E isso cansa muito. Mas ao mesmo tempo, é um jogo ou pelo menos, eu vejo-o assim. É um jogo, porque tu estás na fronteira, a jogar com elementos interessantes... ...e isso também me dá prazer. Sim, prazer. Muitas vezes, a tua palavra não tem o mesmo valor. Vão questionar as tuas palavras mil vezes mais: "E isto, porquê?". Além disso, um pouco como se fosses uma borboleta. Bem, estás num processo de experimentação e acho que é legítimo... ...hoje dizer A e amanhã B. Se o dizes com convicção? Na minha opinião, é muito mais triste o dogma em que eles vivem. Os adultos são muito dogmáticos. É mais frustrante para eles, porque orientaram-se assim toda a vida... ...e agora a sua filha ou filho diz-lhes que não é assim. "O que me estás a dizer? Vivi toda a vida assim!". Claro, sobrevivendo! Gozar realmente, sentir prazer, ter uma vida digna?! Procurar os teus espaços, os teus amigos, os teus...?! Vivo isto como um processo pessoal muito enriquecedor. Deu-me oportunidade de fazer algumas piadas e divertir-me. Algumas situações foram duras, outras nem por isso... ...mas sinto como se fosse uma autoafirmação. Acho que gostamos de romper com as regras. Tem algo... Alegria de viver. Para nós, além das reuniões, é importante o espaço público... ...estar nas ruas, fazer as reivindicações nas ruas... Por isso, esforçamo-nos para realizar as ações nos espaços públicos: as usuais manifestações e graffitis... ...mas a par disso, performances, teatro de rua, etc. É muito importante, na luta contra o capitalismo e contra o patriarcado... ...utilizar todas as ferramentas, para que a exploração não seja maior. A arte ajuda-te a escapar... ...e acho que é preciso escapar muitas vezes deste mundo. E não só, a arte também ajuda a mudar a visão que tens do mundo. Há que utilizar isso. Surgiu um debate: podemos fazer pornografia feminista ou postporno? Essa pornografia, além de mostrar novos corpos e novas práticas... ...não tem como finalidade a masturbação, mas antes, transformar. Interiorizamos um código e uma narrativa com milhares de anos. É essa a máquina de guerra entre os estados. Todos repetem aquilo que aprenderam. Então, o que temos de fazer? Inventar outra história, ou melhor, outras histórias... ...e integrar o nosso próprio código nessa narrativa. Essa é a única forma de mudar o nosso discurso. Se cumprirmos o nosso desejo, se o materializar-mos... ...mudaremos então a situação em que vivemos ou o mundo. Se ficcionamos, que o façamos com a nossa tendência sexual, género, etc. Não acho interessante a literatura que reproduz a realidade. Sonhemos um pouco, ponhamos um pouco de sal... ...uma piscadela, alguma ironia e muito amor. Para mim, arte é uma forma de experimentar o meu corpo... ...mais além da heterossexualidade e talvez, também mais além do lesbianismo. O corporal, é um vazio entre nós. No País Basco, o corpo não tem forma de ser. Se existe um corpo, é para ser sacrificado. Não para sentir prazer, se manisfestar, nem para ser admirado. Unir política e corpo. Fazer reivindicações sérias, denunciar... ...sempre e quando o fazemos, da forma que queremos e nos sai do corpo. Por isso, tentamos sempre associar a política ao nosso prazer. A luta não é só LUTA. Lutamos todos os dias. Quando engatamos estamos a lutar e quando fodemos, também. Porque entendemos a sexualidade como algo pessoal... ...não é fácil ver a dimensão política, económica e ideológica que abarca. Falar de sexualidade implica olhar para dentro... ...analisar as nossas práticas, olhar para os nossos desejos. "Do quê que eu gosto? Porque gostei?". No início, no Bilgune Feminista, eram mais comuns as práticas normativas. Quem se movia fora das regras, era especial. A pouco e pouco, fomos vendo e reivindicando práticas sexuais mais diversas. Começamos a ter actividade em Jarrai de San Ignacio, e foram feitas campanhas. A primeira, foi com o lema "Porque és heterossexual?". Foi estranho, porque começas a fazer essa pergunta a ti mesma. Parece uma parvoíce, mas uma campanha pode ajudar a mudar o que pensas. E lembro-me que uns companheiros nos diziam: "Que mania têm com esse tema, estão sempre, raparigas com as raparigas... ...todas meio lésbicas... Isso é uma moda!". Diziam-no, muito picados. Não nos passou a "moda", e continuamos a ser lésbicas. Tivemos uma relação estreita com o movimento alternativo, o movimento ocupa. Em Iruñea tivemos um centro de juventude durante dez anos. Era um espaço muito libertador. Organizava-mos encontros, conferências, festas abertas a toda a gente... Custou-nos, mas conseguimos integrar as festas na dinâmica do Bilgune. Foi uma luta que exigiu o seu esforço. No ínicio, pensava que não íamos jantar porque eramos todas heteros... ...e ninguém tinha interesse especial em conhecer-se melhor. Pensei: "Tenho a certeza, que se houvesse rapazes pelo meio... ...já teríamos organizado uns oito jantares!". E, pronto, com o tempo conseguimos organizar jantares e festas... ...beber chocolate quente, comer melão... Todo o tipo de coisas. Militante com gosto. Para ser activista num grupo tens de te sentir bem. Tens de ter confiança, conhecer-se mútuamente, gostarem-se... Também procuro estes valores no activismo. Estar com gosto. Antes era uma limitação. Agora não me importo em absoluto. Com certeza haverá tanta diversidade sexual e de género como pessoas no mundo. Agarrar a heterogeneidade que existe e começar a arrancar coisas dela. Vês que vale a pena, fazendo as coisas de forma diferente surge a oportunidade. É possível viver de outra forma. Todas as gerações e as pessoas precisam criar e levar acabo um caminho. Chegou o momento que decidi viver a vida que escolhi. Cabe-nos a nós seguir o nosso desejo. Para ser eu mesma, para romper com a norma, começar a pensar fora dela. Liberta-me não ter uma vida hegemónica. Deixem de usar a palavra 'normal'. Criar os nossos próprios estilos de luta. Consendo, falando... As relações, os engates... Alegria de viver. Ser um pouco sem-vergonha. Porque queremos assim. Se não, não vais a nenhum lado. Não estamos dispostas a esconder o que sentimos Se deixássemos de fingir, todo o País Basco estaria fora da heteronormatividade. Somos muitas..

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