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Hamilton College - LEGÍTIMA INTERPRETAÇÃO DA BÍBLIA LÚCIO NAVARRO CAMPANHA DE INSTRUÇÃO RELIGIOSA BRASIL PORTUGAL, RECIFE — 1958 PRIMEIRA PARTE — A SALVAÇÃO PE LA FÉ CAPÍTULO SEGUNDO DOUTRINA CATÓLICA SOBRE A SALVAÇÃO I - A PARTE REALIZADA POR JESUS CRISTO 11. A VISÃO BEATIFICA. — Quando Deus criou Adão e Eva, destinou-os a irem para o Céu, depois de viverem algum tempo aqui na terra. Dizendo - ir para o Céu - entendemos: ir gozar da felicidade de Deus, vendo-O face a face. É o que se chama visão BEATÍFICA: Nós agora vemos a Deus como por um espelho, em enigmas; mas então FACE A FACE. Agora o conheço em parte, mas então hei de conhecê-Lo como eu mesmo sou também dele conhecido (1Cor 13,12). Ora, esta visão beatífica está acima das forças da nossa natureza. Nossa alma não pode ver a Deus diretamente, mas só pode conhecê-Lo como por um espelho, isto é, através do conhecimento das criaturas. Para usarmos uma comparação: assim como na ordem material a luz demasiada cega os nossos olhos e, se nos chegássemos mais perto do sol, não poderíamos contemplá-lo de maneira alguma (seria preciso, então, que Deus concedesse aos nossos olhos uma fôrça especial para isto) assim também é preciso que Deus eleve a alma a um estado superior à sua natureza, e que lhe dê uma força toda especial (é o que os teólogos chamam O LUME DA GLÓRIA) para que ela possa gozar da glória divina, vendo a Deus diretamente lá no Céu. Em outros termos, foi para um FIM SOBRENATURAL que Deus destinou a Humanidade, quando criou o primeiro homem. 12. A GRAÇA SANTIFICANTE. — Mas um fim sobrenatural exige também meios sobrenaturais. Para chegar à glória, na qual o homem vai ser um HERDEIRO de Deus, gozando, quanto é possível, da própria felicidade divina, é preciso que aqui na terra já seja elevado a um estado sobrenatural, que se torne um FILHO ADOTIVO DE DEUS, pela graça santificante. Por esta graça santificante, nós nos tornamos participantes da natureza divina (2Pd 1,4). Não no sentido de que ficamos iguais a Deus, mas no sentido de que tomamos uma grande semelhança com Ele. Costuma-se comparar com a barra de ferro que se mete no fogo; não deixa de continuar a ser ferro, mas torna-se como uma brasa viva pela semelhança com o fogo - ou com o cristal banhado pelos raios do sol, recebendo dês te modo o seu brilho e esplendor. Foi assim que Deus criou o primeiro homem: à sua imagem e semelhança, em estado de justiça e de santidade. 13. DONS GRATUITOS. — Além deste dom sobrenatural da alma, ou seja, a graça santificante, Deus concedeu a Adão e Eva outros dons, como por exemplo: a imortalidade do corpo. Não haveriam de morrer. Além disto, não sentiam os movimentos desordenados da concupiscência, isto é, as suas paixões não resistiam, nem se antecipavam à voz da razão. E viviam num estado de felicidade, sem dores nem agruras, lá no Paraíso terrestre. Mas tanto a graça santificante e a destinação à visão beatífica, como estes dons de imortalidade do corpo, imunidade à concupiscência e felicidade terrena eram dons gratuitos. Deus os concedeu ao homem simplesmente porque quis, pois podia tê-lo criado para um fim meramente natural, isto é, destinado a ser eternamente feliz, mas feliz sem ver a Deus, como pode ser feliz uma pessoa aqui na terra, com o conhecimento Indireto do Criador, por intermédio das criaturas; podia ter deixado o homem em seu estado natural e entregue às suas próprias forças, sem a graça santificante e fazendo o que pudesse sem o auxílio especial da graça. Como também podia tê-lo criado já sujeito à morte que é o fim natural do nosso fraco e imperfeito organismo e sujeito aos movimentos desenfreados da concupiscência, que são uma consequência também das inclinações do nosso corpo para as coisas sensíveis e materiais como ele. Mas não! Quis dar-lhe aqueles dons gratuitos, os quais passariam aos descendentes, porém com uma condição, a saber, se Adão obedecesse ao preceito divino: Come de todos os frutos das árvores do paraíso, mas não comas do fruto da árvore da ciência do bem e do mal; porque, em qualquer dia que comeres dele, morrerás de morte (Gên 2,16-17). Cometido o pecado da desobediência - que, diga-se de passagem, não foi o pecado da carne, como pensam muitos erradamente, pois Adão e Eva eram legítimos esposos, a quem Deus já havia dito: Crescei e multiplicai-vos e enchei a terra (Gên 1,28) - ficaram Adão e Eva sujeitos à concupiscência, o que sentiram imediatamente (pois logo se envergonharam de sua nudez), ficaram sujeitos às dores, às enfermidades e à morte, e, perderam a graça santificante. Seus descendentes nascem nas mesmas condições - e a esta privação da graça santificante, em nós é que chamamos PECADO ORIGINAL: nascemos fora da graça de Deus. No que não há nenhuma injustiça da parte de Deus com relação a nós, pois somos privados de dons que estavam acima da nossa própria natureza. 14. PROMESSA DO REDENTOR. — Naquela hora em que Adão e Eva pecaram, ficou, a Humanidade em um estado deplorabilíssimo. Adão e Eva estariam pelo seu pecado condenados ao inferno. Os seus descendentes, mesmo que observassem, em toda a vida os ditames da própria consciência e jamais cometessem, um pecado mortal, seriam felizes depois da morte, mas de uma felicidade natural, sem ver a Deus, nem ir para o Céu, porque a Humanidade, com o pecado de Adão, havia decaído do estado sobrenatural, havia perdido o direito à visão beatífica. Mas o que era pior é que bastaria que um de nós cometesse um só pecado mortal para ser irremedivelmente condenado ao inferno pelo motivo seguinte: O pecado mortal é uma ofensa de malícia infinita, pois a ofensa cresce na proporção da dignidade da pessoa ofendida. A ofensa feita a um homem comum é um crime comum; feita ao rei, já se torna um crime de lesa-majestade; feita a Deus, é uma ofensa ilimitada, pela infinita grandeza de Deus. Ora, o homem, sendo uma criatura limitada, não podia nunca oferecer a Deus uma satisfação suficiente pela ofensa feita pelo pecado mortal, que é um total afastamento de Deus, Infinitamente Perfeito. E, no entanto era muito fácil ao homem cair num pecado mortal por causa da concupiscência desenfreada que apareceu em Adão, e em nós, após o pecado de Adão, a qual não destrói o nosso livre arbítrio, mas o deixa muito enfraquecido e inclinado para o mal. O homem precisa da graça de Deus para observar os preceitos da lei divina impressos no seu coração e, naquele estado de afastamento de Deus em que estaríamos pela triste herança recebida de Adão, não poderíamos receber a graça de Deus. A Humanidade haveria de cair no inferno aos borbotões. Havia, além disto, as dores e enfermidades aqui na terra, que foram consequência do pecado de Adão. Mas o estado lamentabilíssimo da Humanidade não durou muito tempo. Logo depois da queda de Adão, Deus, compadecido de nossa miséria, o procurou e fêz imediatamente a promessa do Redentor, nas palavras dirigidas à serpente: Eu porei inimizades entre ti e a mulher, entre a tua posteridade e a sua dela. Ela TE PISARÁ A CABEÇA, e tu armarás traições ao seu calcanhar ( Gên 3,15). Com esta promessa foi outra vez a Humanidade posta em condições de atingir o fim sobrenatural, podendo novamente receber a graça santificante. E isto se realizou em virtude dos futuros merecimentos de Cristo, ou seja, na previsão de sua morte redentora. Quanto aos outros dons gratuitos, não puderam mais ser readquiridos por nós aqui na terra, mas por outro lado, com o auxílio da graça de Deus, as dores, as enfermidades, a morte, as tentações da concupiscência podiam e podem tornar-se uma fonte riquíssima de merecimentos para o homem, pela resignação, pela paciência e pelo heroísmo em vencer-se a si mesmo, amparado com a ajuda divina. E assim aquelas vantagens no que diz respeito ao corpo, as quais possuíam Adão e Eva e possuiriam seus descendentes, se êles não houvessem pecado, nós as conseguiremos em grau mais esplêndido e elevado, depois da ressurreição da carne, se merecermos a salvação que Deus, na sua infinita misericórdia, quer conceder a cada um de nós. 15. O ÚNICO SALVADOR. — Quando chegou a plenitude dos tempos (Gl 4,4) Deus, para restaurar em Cristo tôdas as cousas (Ef 1,10), enviou o seu próprio Filho Unigênito, Segunda Pessoa da Santíssima Trindade. E o Verbo se fêz carne, e habitou entre nós (Jo 1,14) e se fêz para nós sabedoria e justiça e santificação e redenção (1Cor 1,30). A salvação é obra de Jesus Cristo, que é o Único Salvador, o Único a nos poder resgatar, porque Êle é que era homem e Deus ao mesmo tempo; homem, para poder sofrer e expiar por nós; Deus, para que seu sofrimento, sua expiação tivessem um valor infinito. E é neste sentido que São Paulo o chama: Único Mediador entre Deus e os homens. Só há um Mediador entre Deus e os homens que é Jesus Cristo homem, que SE DEU a SI MESMO PARA REDENÇÃO DE TODOS (1Tm 2,5 e 6). Sobre isto falaremos mais a vagar nas páginas 531 a 533. E disse São Pedro falando a respeito do mesmo Nosso Senhor Jesus Cristo: Não há salvação em nenhum outro, porque do céu abaixo nenhum outro nome foi dado aos homens pelo, qual nós devamos ser salvos (At 4,12). 16. EM QUE SENTIDO MARIA SANTÍSSIMA É CHAMADA CO-REDENTORA. — Quando alguns escritores católicos chamam a Maria Santíssima co-redentora do gênero humano, eles empregam este termo não no sentido de que os merecimentos de Maria Santíssima pudessem acrescentar alguma coisa aos merecimentos de Jesus Cristo quanto ao resgate do gênero humano: os merecimentos de Cristo eram infinitos, e os de Maria, finitos, como de criatura que é; além disto, os próprios merecimentos da Virgem já são efeitos dos merecimentos de Jesus. Nem é no sentido de que o Messias necessitasse da ajuda de Maria para realizar a sua obra salvadora. O que esses escritores querem significar com tal denominação é o papel que Deus, nos desígnios de sua Providência, fez com que Maria Santíssima, embora simples criatura, exercesse na obra da Redenção. Pelo poder divino, Cristo podia ter aparecido neste mundo, como homem feito; mas tendo que mostrar-se] em todas as coisas à nossa semelhança, exceto o pecado (Hb 4,15) era preciso, segundo os desígnios de Deus, que nascesse de um ventre materno. Uma mulher, Eva, se associara ao primeiro homem no pecado, oferecendo-lhe o fruto da árvore proibida. Outra mulher, Maria, foi associada ao novo homem, Jesus Cristo, na obra da salvação, pois foi escolhida por Deus para ser a Mãe do Salvador. Para isto era preciso, em atenção à honra e dignidade do próprio Filho, que Deus escolhesse uma mulher pura, imaculada, sem a mínima sombra de pecado, a fim de ser o sacrário onde havia de formar-se o corpo de Jesus Cristo. Deus lhe manda o anjo Gabriel para anunciar-lhe que ela, cheia de graça, havia sido escolhida para a grande honra da maternidade divina. E, só depois que Maria vê resolvido o problema de sua virgindade, é que dá o consentimento: Eis aqui a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra (Lc 1,38). E, é em seguida a este consentimento que o Verbo se faz carne e habita entre nós, tornando-se Maria, nessa hora, a esposa do Espírito Santo: O Espírito Santo descerá sobre ti, e a virtude do Altíssimo te cobrirá de sua sombra (Lc 1,35). Se o Verbo se faz carne para nossa salvação, Maria contribui para isto, pois a carne de Cristo é carne de Maria, o sangue de Cristo é sangue de Maria, pela íntima união que há entre o filho e a mãe, a mesma união que há entre o fruto e a árvore que o produz, e por isto lhe diz Santa Isabel, falando cheia do Espírito Santo: Benta és tu entre as mulheres e bento é o fruto do teu ventre (Lc 1,42). Aquele Menino que ela trouxe no seu ventre puríssimo e virginal durante nove meses, Maria depois O nutriu, O guardou, O educou durante trinta anos e Jesus lhe foi obediente: E estava à obediência deles (Lc 2,51). E na cruz, no momento da Redenção, Maria que pela ação preservativa de Deus, graças aos merecimentos de Cristo, jamais teve o mínimo pecado, ali estava sofrendo juntamente com Jesus Cristo, fazendo resignada, e heroicamente o sacrifício de seu Filho Amantíssimo para a redenção do gênero humano. É frisando esta atuação que Maria, embora simples criatura, foi destinada a exercer junto a seu Divino Filho, que esses escritores dizem que Maria Santíssima é DE UM CERTO MODO co-redentora do gênero humano. Se o termo está bem ou mal empregado - é uma questão de gramática e de linguagem. Mas os católicos nada querem significar além do que está exposto, quando dão a Maria Santíssima o aludido título. 17. O QUE JESUS MERECEU POR NÓS. — Jesus Cristo morreu por todos os homens: Ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos DE TODO O MUNDO (1Jo 2,2). Oferecendo sua vida por nós, no sacrifício da cruz, Jesus Cristo: I - ofereceu uma reparação íntegra, condigna e perfeita pela ofensa feita a Deus, não só pelo pecado de Adão e Eva, mas também por todos os pecados, passados, presentes e futuros. Foi do agrado do Pai... reconciliar por Ele a si mesmo todas as cousas (Cl 1,19 e 20). Sendo nós inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de seu Filho; (Romanos 5,10) II - restaurou a Humanidade no seu destino sobrenatural, dando aos homens o direito de receberem a graça santificante neste mundo, tornando-se filhos adotivos de Deus para chegarem' a ser herdeiros de Deus no Céu pela visão beatífica. A todos os que O receberam, deu Ele poder de se fazerem filhos de Deus (Jo 1,12) E se somos filhos, também herdeiros; herdeiros verdadeiramente de Deus e co-herdeiros de Cristo; (Rm 8,17) III - mereceu para todos os homens a graça necessária para alcançarem a salvação, de modo que todas as graças recebidas pelos homens e que dizem respeito à sua salvação provêm da morte redentora de Cristo. Nós vimos a sua glória, a sua glória como de Filho Unigênito do Pai, CHEIO DE GRAÇA e de verdade... E todos nós participamos da sua plenitude e GRAÇA POR GRAÇA (Jo 1,14 e 16). Ficará mais salientada esta contribuição de Cristo, quando falarmos na influência e necessidade da graça de Deus em todos os nossos atos meritórios para o Céu (número 24 a 30). Esta Redenção, Cristo a realizou abundantíssima e generosissimamente. Onde abundou o pecado, superabundou a graça (Rm 5,20). Bastaria uma gota de seu sangue, bastaria um suspiro seu para redimir toda a Humanidade, mas Éle quis sofrer todas as dores e todas as ignomínias por nosso amor. Agora naturalmente ocorrem ao espírito do leitor duas perguntas. A primeira é sobre OS QUE VIVERAM ANTES DE CRISTO. 18. OS QUE VIVERAM ANTES DE CRISTO. — Passaram-se milhares e milhares de anos, antes de Jesus Cristo vir ao mundo. Aqueles que viveram antes de Cristo, como podiam salvar-se, se Cristo ainda não tinha morrido por eles? Como já dissemos, 'com a simples promessa do Redentor, os homens passaram a receber novamente o dom sobrenatural da graça, na previsão dos merecimentos de Jesus Cristo que um dia havia de morrer por todos. É o que se mostra claramente pelas palavras de São Pedro, no Concílio de Jerusalém, em que o Apóstolo mostra que seus antepassados foram salvos pela graça de Jesus Cristo: Por que tentais agora a Deus, pondo um jugo sobre as cervizes dos discípulos, que nem nossos pais nem nós pudemos suportar? Mas nós cremos que pela graça do Senhor Jesus Cristo SOMOS salvos, assim como ELES TAMBÉM O FORAM (At 15,10 e 11). Deus já distribuía a graça a todos pelos futuros merecimentos de Jesus Cristo, assim como (perdoe-se a comparação) um homem que distribuísse cheques sacando para o futuro, em vista de uma riqueza que infalivelmente lhe seria oferecida. Esta graça, é claro, também os gentios a recebiam, pois a ninguém Deus torna impossível a salvação. Os gentios podiam salvar-se crendo em um Deus Remunerador e fazendo o que estivesse ao seu alcance, pela observância da lei natural impressa em seus corações; uma vez que não haviam recebido a revelação mosaica. Sim; os homens podiam salvar-se antes de Cristo, e salvar-se em virtude da futura morte do Redentor. Mas daí não se segue que entrassem logo no Céu, no gozo da visão beatífica; a morte de Cristo ainda não lhes havia aberto as portas do Céu. Depois de purificadas, as almas justas eram felizes sem ver a Deus face a face, num lugar que é designado na parábola de Lázaro e o mal rico como o seio de Abraão (Lc 16,22) e que nós, católicos, chamamos o limbo. É a este mesmo lugar que Jesus Cristo alude quando diz ao bom ladrão: Hoje serás comigo no paraíso (Lc 23,43) porque o limbo com a presença de Cristo seria um paraíso e a alma de Cristo ali desceu (enquanto o corpo aguardava no sepulcro a ressurreição) para anunciar àquelas almas, que em breve entraria no Céu triunfalmente com todas elas. 19. A PARTE DE DEUS E A NOSSA. — A outra pergunta é esta: Se Cristo ofereceu uma satisfação condigna e perfeita pelos nossos pecados, então que nos resta mais fazer? Não se segue daí que todos estamos salvos e vamos todos para o Céu? Absolutamente não! Se Cristo viesse morrer por nós neste sentido de que pagou por nós, fez tudo em nosso lugar, não nos resta fazer mais nada e nos salvamos de qualquer maneira, isto seria a licença ampla para todos os crimes, todos os pecados, todas as perversidades, todas as misérias. A obra realizada por Cristo seria neste caso não uma obra regeneradora, mas o incentivo para a mais desbragada corrução. A salvação de Cristo tem outro sentido. Somos todos pecadores. Todos nós tropeçamos em muitas cousas (Tiago, 3,2). Mas, por maiores e mais graves que tenham sido os nossos pecados, não devemos desesperar da salvação, temos a Deus de braços abertos para nos perdoar, contanto que façamos o que é da nossa parte para nos pormos novamente no caminho da vida eterna, o que não é possível se não nos voltarmos de todo o coração para Deus. E se Éle está pronto a nos reabilitar, foi porque a sua ira foi aplacada pela morte de Cristo. Cristo é o autor da salvação eterna para todos os que Lhe obedecem (Hb 5,9). Cabe, portanto, ao próprio Cristo que não só nos veio abrir a porta do Céu, oferecendo a reparação a Deus, mas também mostrar-nos o verdadeiro caminho, ensinar-nos a doutrina da salvação, cabe a Éle indicar em que condições nos são aplicados os méritos infinitos de sua Paixão, ou, em outras palavras, em que condições poderemos salvar-nos e conquistar o Céu. É o que veremos agora expondo A NOSSA CONTRIBUIÇÃO ENTRELAÇADA COM A AÇÃO DE DEUS. II - A NOSSA CONTRIBUIÇÃO ENTRELAÇADA COM A AÇÃO DE DEUS 20. A REGENERAÇÃO DAS CRIANÇAS PAGÃS. — Em consequência da culpa de Adão, nascemos com o pecado original e, portanto, sem a graça santificante: Assim como por um homem entrou o pecado neste mundo e pelo pecado a morte, assim passou também a morte a todos os homens por um homem, no qual TODOS PECARAM (Rm 5,12). O texto grego traz assim: a morte passou a todos os homens, POR ISTO QUE TODOS PECARAM. Mas não se altera o sentido. De qualquer forma se exprime que todos os homens estão sujeitos à morte PORQUE TODOS PECARAM EM Anão, em virtude da solidariedade entre Adão, cabeça do gênero humano e seus descendentes. As criancinhas, que não cometeram nenhum pecado pessoal, estão também sujeitas à morte, porque pecaram em Adão. Um pouco mais adiante ainda diz o Apóstolo: Pelo pecado dum só, incorreram todos os homens na condenação... pela desobediência dum só homem foram muitos feitos pecadores (Rm 5,18 e 19). (Não haverá contradição entre estas palavras de São Paulo e o dogma da imaculada Conceição de Maria Santíssima", ou seja, de que ela foi concebida sem o pecado original? Nenhuma. Se Adão e Eva não tivessem pecado, todas as criaturas teriam, segundo os desígnios de Deus, a graça santificante POR UM DIREITO DE HERANÇA; seríamos descendentes de um homem que se tinha conservado no elevado estado em que Deus o criou. Mas Adão, antes de gerar, decaiu dê-te estado. Dizendo que Todos PECARAM, TODOS INCORRERAM NA CONDENAÇÃO, São Paulo está mostrando que toda a Humanidade sem exceção alguma, INCLUSIVE MARIA SANTÍSSIMA, perdeu este direito de herança. Acontece, porém, que aquilo a que não temos direito por herança, nós podemos receber por uma DÁDIVA, e assim puderam os homens novamente receber de Deus a graça santificante, em virtude dos merecimentos de Nosso Senhor Jesus Cristo, que um dia havia de morrer por nós na cruz. Mas Deus é senhor absoluto das suas dádivas; Ele não estava proibido de dar a graça santificante a uma pessoa, mesmo antes que esta pessoa nascesse. Assim é que São João Batista já foi santificado, já recebeu a graça santificante e se libertou do pecado original antes de seu nascimento: já desde o ventre de sua mãe será cheio do Espírito Santo - Lc 1,15. Tudo indica que esta regeneração de João Batista se deu no próprio momento em que Maria Santíssima visitou a Santa Isabel, pois esta diz à Santíssima Virgem: assim que chegou a voz da tua saudação aos meus ouvidos, logo o menino deu saltos de prazer no meu ventre - Lc 1,44. Pois bem, Maria Santíssima foi santificada também no ventre de sua mãe, Sant'Ana, porém no próprid instante da sua conceição, não houve um só instante em que estivesse sujeita ao pecado original; isto aconteceu, não em virtude de um direito seu, mas por concessão de um privilégio especial de Deus e em virtude dos futuros merecimentos de Nosso Senhor Jesus Cristo. Jesus foi, portanto, o Salvador, o Redentor para ela, como foi para todos os homens; e a Redenção foi para ela urna Redenção preservativa). O texto grego traz os muitos, o que significa a totalidade; por isto a versão da Sociedade Bíblica do Brasil não hesitou em colocar Todos: pela desobediência de um só TODOS foram constituídos pecadores (Rm 5,19). Sendo assim, mesmo a criança que não tem o uso da razão precisa, para conseguir a visão beatífica, receber a graça santificante pelo Batismo, que produz um verdadeiro renascimento espiritual: Na verdade, na verdade te digo que não pode ver o reino de Deus senão aquele que renascer de novo... Quem não renascer da água e do Espirito Santo não pode entrar no reino de Deus (Jo 3,3 e 5). Esta é, segundo a própria norma traçada por Cristo, a condição para que se lhe aplique o benefício da Redenção. As crianças que morrem sem atingir o uso da razão e sem receber o Batismo, não vão gozar da visão beatífica, mas não sofrem nenhuma pena pessoal, podem mesmo gozar duma felicidade natural, sem a direta visão de Deus e sem ter ideia da felicidade sobrenatural que perderam. Nisto não há injustiça, porque a felicidade do Céu está acima de sua natureza e elas não fizeram nenhum ato livre pelo qual pudessem merecê-la, desde que não chegaram a atingir a luz da razão. Como a vida das crianças é muito frágil, a Igreja manda que os pais providenciem para que seus filhos se batizem quanto antes, afim de que não se prive o Céu de mais um feliz habitante. 21. A JUSTIFICAÇÃO DOS ADULTOS PAGÃOS. — Acontece às vezes, porém, que em virtude de uma conversão, ou por causa do descuido dos pais ou por outra circunstância qualquer, é uma pessoa que já tem o uso da razão (e que para este efeito de recepção dos Sacramentos é chamado um ADULTO) que vai receber o Sacramento do Batismo. Para isto, é necessário que a pessoa se disponha pela fé nas verdades reveladas, tendo um certo conhecimento dos principais mistérios da Religião e que tenha o arrependimento de seus pecados, com o firme propósito de evitá-los pela guarda dos mandamentos. Este arrependimento supõe, é claro, a esperança do Céu que se deseja alcançar e, pelo menos, um certo começo de amor a Deus, a quem não se deseja ofender. Em virtude dos merecimentos da Paixão de Cristo, o batismo recebido com estas boas disposições não só apaga o pecado original, como também perdoa os pecados pessoais cometidos até aquele momento. Aos adultos que ouviram a pregação da palavra divina no dia de Pentecostes e compungidos no seu coração (At 2,37) perguntaram o que deviam fazer, São Pedro respondeu: Fazei penitência, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo PARA REMISSÃO DE vossos PECADOS; e recebereis o dom do Espírito Santo (At 2,38). A justificação que se segue ao batismo convenientemente recebido não é somente a remissão dos pecados, no sentido de que externamente não nos são mais imputados, fingindo Deus considerar-nos justos, quando continuássemos a ser os mesmos manchados pecadores, como queria Lutero. Não; é a remissão dos pecados, com a nossa renovação interior, operada pelo batismo de regeneração e renovação do Espírito Santo; (Tito, 3,5) em virtude da imensa bondade de Deus que quer que nós sejamos chamados filhos de Deus e, com efeito, o sejamos; (1Jo 3,1) justificados pela sua graça e tornados herdeiros segundo a esperança da vida eterna (Tito, 3,7). É a graça santificante com os dons cio Espírito Santo: Os vossos membros são templo do Espírito Santo, que habita em vós (1Cor 6,19). 22. BATISMO DE DESEJO E BATISMO DE SANGUE. — Em vista da necessidade do Batismo, surge naturalmente o problema dos adultos que não ouviram de forma alguma a pregação do Evangelho e a quem, portanto, não chegou a notícia de que o Batismo era obrigatório para a salvação. O Batismo pode então ser suprido pela caridade perfeita naqueles que, não tendo o conhecimento da Revelação, mostram a Deus o seu amor pela obediência aos ditames da própria consciência. Nessa boa disposição estão dispostos a fazer o que é possível para agradar a Deus e de boa vontade receberiam o Batismo, se dele tivessem conhecimento. Chama-se isto VOTO IMPLÍCITO DO BATISMO. Estes que, assim amando a Deus, amam consequentemente a Jesus Cristo, que é a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, podem também receber a graça santificante: Aquele que tem os meus mandamentos e que os guarda, esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado de meu Pai e eu o amarei também e me manifestarei a éle (Jo 14,21). Se algum, me ama, guardará a minha palavra, e meu Pai o amará; e nós viremos a éle e faremos nele morada (Jo 14,23). O outro caso em que o batismo é suprido, é o daqueles que antes de recebê-lo, são martirizados por causa da fé: O que perder a sua vida por amor de mim e do Evangelho, salvá-la-á (Mc 8,35). Todo aquele, pois, que me confessar diante dos homens, também eu o confessarei diante de meu Pai que está nos Céus (Mt 10,32). 23. A GUARDA DOS MANDAMENTOS. — Voltamos agora ao caso daquele que com boas disposições de fé e contrição recebeu o Batismo. É o mesmo caso daquele que recebeu o Batismo pouco depois de nascido e agora vê chegar o uso da razão. Que lhe é necessário fazer para salvar-se? Conservar a graça santificante recebida no Batismo. Morrendo neste estado de graça, alcançará a salvação. Para conservar a graça santificante, é preciso evitar o pecado mortal e, por conseguinte, observar os mandamentos: Se tu queres entrar na vida, guarda os mandamentos (Mt 19,17). A Escritura não faz uma relação completa e minuciosa dos pecados mortais e dos veniais. Mas Jesus Cristo fala em alguns pecados que impedem a salvação, como o ódio (Mt 6,15), o escândalo dos pequeninos (Mc 9,41), a falta de caridade para com os necessitados (Mt 25,41 a 46). E São Paulo, pelo menos, enumera vários pecados graves: Acaso não sabeis que os iníquos não hão de possuir o reino de Deus? Não vos enganeis: nem os fornicários, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os sodomitas, nem os ladrões, nem os avarentos, nem os que se dão a bebedices, nem os maldizentes, nem os roubadores hão de possuir o reino de Deus (1Cor 6,9 e 10). Vê-se pelo contexto que o Apóstolo aí se refere a esses pecadores, se não se convertem e se nesse estado deplorável de pecado são colhidos pela morte: E tais haveis sido alguns; mas haveis sido lavados, haveis sido santificados (1Cor 6,11). Jesus Cristo não foi somente o nosso Redentor, não foi somente o Mestre que nos ensinou a sua doutrina, mas também o Legislador que promulgou preceitos que têm de ser observados: Ide, pois, e ensinai a todas as gentes, batizando-as em nome do Padre, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-as A OBSERVAR TODAS AS COUSAS QUE VOS TENHO MANDADO (Mt 28,19 e 20). 24. NECESSIDADE DA GRAÇA PARA O CUMPRIMENTO DA LEI DIVINA. — O homem, para salvar-se, precisa cumprir com os mandamentos e observar o que Jesus mandou. Mas daí não se segue que ele possa fazer isto unicamente por suas fôrças naturais. Quando apareceu Pelágio, em princípios do século 5, afirmando que não havia necessidade da graça para alcançar a vida eterna, bastando para isto o livre arbítrio ou a liberdade do homem, de modo que o homem podia por suas fôrças naturais vencer as tentações e observar os mandamentos, servindo a graça apenas para ajudá-lo a cumprir com mais facilidade a lei divina, se insurgiram contra a heresia pelagiana os Santos Padres da Igreja, tendo à frente Santo Agostinho, que ficou sendo chamado o Doutor da Graça. E o erro de Pelágio foi formalmente condenado pela Igreja em vários Concílios particulares e pelos Papas Santo Inocêncio primeiro e São Zósimo. Foi ao conhecer a condenação do pelagianismo pelo Papa, que Santo Agostinho proferiu a célebre frase: Roma locuta, causa finita. Roma falou; acabou-se a questão. Segundo a doutrina da Igreja, não é simplesmente mais difícil, é impossível ao homem, sem o auxílio da graça de Cristo, vencer a própria concupiscência e cumprir a lei divina. Lê-se em São Paulo: Sinto nos meus membros outra lei que repugna à lei do meu espírito e que me faz cativo na lei do pecado, que está nos meus membros. Infeliz homem eu, quem me livrará do corpo desta morte? A. graça de Deus por Jesus Cristo Nosso Senhor (Rm 7,23 a 25). O texto grego diz: Graças a Deus por Jesus Cristo Nosso Senhor - mas isto não modifica o sentido: dão-se graças a Deus pelo auxílio que nos vem de Jesus Cristo, ou seja, de sua graça que ele mereceu por nós na cruz. E o mesmo São Paulo diz ainda aos Efésios: Fortalecei-vos no Senhor e no poder da sua virtude. Revesti-vos da ARMADURA DE DEUS para que possais estar firmes contra as ciladas do diabo (Ef 6,10 e 11). Jesus Cristo nos ensinou a dizer no Padre Nosso: Não nos deixes cair em tentação (Mt 6,13). E disse aos Apóstolos: Vigiai e orai, para que não entreis em tentação. O espirito na verdade está pronto, mas a carne é fraca (Mt 26,41). O que nos mostra que para nos livrarmos do pecado, não basta o nosso cuidado, o nosso esfôrço, a nossa vigilância; é necessário também o auxílio da graça divina que se alcança pela oração. 25. NECESSIDADE DA GRAÇA PARA QUALQUER OBRA MERITÓRIA. — Há ainda mais: não só é necessária a ajuda da graça de Cristo para o cumprimento da lei divina, de modo geral, mas para realizar qualquer obra, por mínima que seja, meritória para a vida eterna. Isto se vê claramente pelas palavras do próprio Cristo: Sem mim não podeis fazer nada (Jo 15,5). A mesma doutrina vemos em São Paulo: Não que sejamos capazes de nós mesmos de ter algum pensamento como de nós mesmos; mas a nossa capacidade vem. de Deus (2Cor 3,5). 26. NECESSIDADE DA GRAÇA PARA A FÉ. — Para a salvação é indispensável a fé. Sem fé é impossível agradar a Deus (Hb 11,6). E aqueles a quem chega o conhecimento do Evangelho têm que crer em tudo que direta ou indiretamente se deduz da revelação trazida por Jesus Cristo. É uma consequência necessária do primeiro mandamento em que se nos prescreve uma plena submissão de toda a nossa alma, de todo o nosso coração, de toda a nossa inteligência a Deus. Mas, embora seja a fé um ato livre da vontade, pois o homem pode crer ou deixar de crer, não podemos ter a fé sem a ajuda da graça de Deus. Jesus Cristo disse, falando aos judeus que não queriam crer nas suas palavras: Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou não o trouxer (Jo 6,44). Há alguns de vós outros que não creem... Por isso eu vos tenho dito que ninguém pode vir a mim, se por meu Pai lhe não for isso concedido (Jo 6,65 e 66). Depois dos pelagianos, apareceram os semipelagianos que, embora admitindo a necessidade da graça para a salvação, afirmavam que o início da fé, ou seja, o piedoso afeto de boa disposição para crer, que é excitado pela pregação do Evangelho, este primeiro movimento do homem para a fé seria feito só pela liberdade do homem, sem a graça de Deus. Realizado este ato, Deus entraria com a sua graça. A doutrina dos semipelagianos foi igualmente condenada pela Igreja, em 529, no Segundo Concílio de Arles, em definição confirmada pelo Papa Bonifácio Segundo. Também o início, o primeiro movimento de fé no coração do homem é feito com o auxílio da graça divina, pois a fé é um dom de Deus (Ef 2,8). E o mesmo São Paulo diz aos Filipenses: A vós vos é dado por Cristo, não somente que CREAIS NÊLE senão que padeçais também por ele (Fl 1,29). 27. DISTRIBUIÇÃO DESIGUAL DAS GRAÇAS. — A graça não é dada a todos igualmente; uns recebem mais, outros menos: A cada um de nós foi dada a graça segundo a medida do dom de Cristo (Ef 4,7). Isto se vê também na parábola dos talentos (Mt 25,14 a 30) em que um homem ao ausentar-se para longe, chamou aos seus servos e lhes entregou os seus bens e deu a um cinco talentos, e a outro doas, e a outro deu um, a cada um segundo a sua capacidade e partiu logo (Mt 25,14 e 15) e passando muito tempo, veio o senhor daqueles servos e chamou-os a contas (Mt 25,19). É claro que no Novo Testamento, ou seja, depois da morte de Cristo, a graça de Deus é distribuída muito mais abundantemente do que na Antiga Lei; e• que no Antigo Testamento era distribuída entre os judeus, que eram o povo escolhido, com mais abundância do que entre os gentios. E é claro também que aqueles que recebem maiores graças serão julgados com maior rigor. Ai de ti, Corozaim; ai de ti, Betsaida; que se em Tiro e Sidônia se tivessem obrado as maravilhas que se obraram em vós, há muito tempo que elas teriam feito penitência, cobrindo-se de cilício e de cinza. Por isso haverá sem dúvida no dia do juízo para Tiro e Sidônia menos rigor que para vós (Lc 10,13 e 14). 28. GRAÇA SUFICIENTE PARA TODOS. — Embora não seja dada a graça igualmente a todos, no entanto a todos é dada a graça suficiente para se poderem salvar, porque Deus quer que TODOS os homens se salvem (1Tm 2,4). Deus espera com paciência por amor de vós, não querendo que algum pereça, senão que TODOS se convertam à penitência (2Pd 3,9). Acaso é da minha vontade a morte do ímpio, diz o Senhor Deus, e não quero eu antes que ele se converta dos seus caminhos e viva? (Ez 18,23). É um princípio da teologia católica: Aquele que faz o que está ao seu alcance, Deus não nega a sua graça; e mesmo para ele fazer isto que está ao seu alcance, Deus o ajuda com a sua graça também. Se nem todos se salvam, é porque nem todos cooperam com a graça, porém muitos a ela resistem: Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te são enviados, quantas vezes quis eu ajuntar teus filhos do modo que uma galinha recolhe debaixo das asas os seus pintos, e tu o não quiseste? (Mt 23,37). 29. DUAS CAUSAS QUE SE ENTRELAÇAM. — Diante do que fica exposto sobre a ação e a necessidade da graça, se vê claramente que dizer que o homem se salva pela sua fé juntamente com suas obras ainda não é dar uma ideia exata da doutrina católica. O homem contribui com sua fé e suas obras para a salvação, mas não pode ter a fé, não pode fazer nenhum ato meritório, nem mesmo ter um pensamento salutar sem a graça divina. Cada ação meritória para a vida eterna é efeito de duas causas que se unem: a ação da graça de Deus alcançada por Cristo na cruz, e a livre cooperação do homem. É por isto que diz São Paulo: OBRAI A VOSSA SALVAÇÃO com receio e com tremor, não só como na minha presença, senão muito mais agora na minha ausência, porque Deus é o que OBRA EM VÓS O QUERER E O PERFAZER, segundo o seu beneplácito (Fl 2,12 e 13). Trabalhai na vossa salvação com receio e com tremor - é o esfôrço, o cuidado, o trabalho do homem; Deus opera em vós o querer e o executar - é o auxílio da graça divina. E o mesmo Apóstolo diz na Primeira Epístola aos Coríntios: Pela graça de Deus sou o que sou, e a sua graça não tem sido vã em mim; antes tenho trabalhado mais copiosamente que todos eles; não eu, contudo, mas a graça de Deus comigo (1Cor 15,10). O Apóstolo fala aí da ação conjunta do livre arbítrio e da graça: tenho trabalhado mais copiosamente que todos eles - é o seu esfôrço pessoal,. Não eu, contudo - isto é, não eu sozinho, com minhas próprias fôrças, mas com a graça de Deus a me ajudar, a graça de Deus trabalhou comigo. E é muito instrutivo nesta matéria o contraste que há entre um pequeno trecho do profeta Zacarias e outro das Lamentações de Jeremias. Em Zacarias se lê: Convertei-vos a mim, diz o Senhor dos exércitos, e eu me converterei a vós (Zc 1,3). Aí Deus pede a cooperação do homem e promete a sua graça. Nos trenos ou Lamentações de Jeremias se lê: Converte-nos, Senhor, a ti e nós nos converteremos (Lm 5,21). Aí o homem pede a graça divina e promete a sua cooperação. A Igreja Católica sempre ensinou que. o homem nada pode sem a graça de Deus e tudo pode com ela: Sem mim não podeis fazer nada (Jo 15,5). Tudo posso naquele que me conforta (Fl 4,13). 30. ALGUMAS COMPARAÇÕES CLÁSSICAS. — Já no século 2, Santo Irineu dizia que, assim como a terra seca não pode frutificar sem a chuva, assim também nós não frutificaremos para a vida eterna, sem a chuva que Deus manda do Céu e que é a sua divina graça. No século 5, Santo Agostinho fazia a comparação com o olho humano o qual, embora esteja são e perfeito, não pode ver nas trevas, precisa do auxílio da luz. Assim também, a alma precisa da graça de Deus para seguir o caminho da salvação: "Assim como o olho do corpo, mesmo estando plenìssimamente são, não pode enxergar senão ajudado pelo brilho da luz, assim também o homem, mesmo perfeitìssimamente justificado, não pode viver retamente, senão ajudado pela Eterna Luz da Justiça" (Apud Journel, Enchiridion Patristicum número 1792). E é muito divulgada entre os católicos a comparação da ação combinada de Deus e do homem neste sentido com uma cena que vemos comumente na intimidade das nossas famílias: a criança que não sabe escrever, escreve com a mão coberta pela mão de sua mãezinha. Foi por um ato livre que concordou em escrever juntamente com sua mãe; se não quisesse escrever, poderia ter emperrado. E quanto mais docilmente cooperar com sua mãezinha e se entregar à ação maternal, tanto melhor sairá a escrita, porque cada emperro de sua mão produzirá mais uma imperfeição, mais uma garatuja. Naturalmente toda comparação claudica, mas esta dá uma boa ideia do que é a ação de Deus em nossa alma, pois sem Deus nada podemos fazer e muitas vezes atrapalhamos a ação da graça com a nossa fraqueza e imperfeição. 31. A SEGUNDA TÁBUA DE SALVAÇÃO DEPOIS DO BATISMO. — O pior é que às vezes não só atrapalhamos a ação da graça com a nossa fraqueza, mas nos afastamos de Deus e pelo pecado mortal perdemos em nossa alma a graça santificante recebida no Batismo. E o Batismo só se recebe uma vez. Temos então o Sacramento da Penitência que foi instituído por Nosso Senhor Jesus Cristo, quando disse aos seus Apóstolos: Recebei o Espirito Santo; aos que vós perdoardes os pecados, ser-lhes-ão eles perdoados; e aos que vós os retiverdes, ser-lhes-ão eles retidos (Jo 20,22 e 23). Assim o dispôs Cristo, nosso Redentor. A absolvição sacramental, porém, só é válida, quando o penitente está verdadeiramente arrependido de seus pecados, com firme propósito cie emenda. A impossibilidade de achar um sacerdote não acarreta impossibilidade de salvação, pois assim como o batismo de água pode ser suprido. pelo batismo de desejo, assim também e em virtude do mesmo texto do Evangelho (Jo 14,23), a confissão sacramental pode ser suprida pelo Ato de Contrição Perfeita, ou seja, o arrependimento baseado não no temor da pena, mas no puro amor de Deus, a quem se ofendeu pelo pecado e com o voto de confessar os pecados quanto antes, submetendo-os assim ao poder das chaves. 32. PURIFICAÇÃO REAL E INTERNA. — A remissão dos pecados sempre se verifica por meio de uma purificação real e interna. Se a Sagrada Escritura, referindo-se ao perdão que de Deus recebemos fala às vezes em não-imputação dos pecados (Bem-aventurado o homem a quem o Senhor não imputou pecado Sl 31,2; Rm 4,8), é claro que os pecados não são imputados, simplesmente porque DESAPARECEM; SÃO DESTRUÍDOS: Eu sou, eu mesmo sou o que APAGO as tuas iniquidades por amor de mim (Is 43,25) Tem piedade de mim, ó Deus... e segundo as muitas mostras da tua clemência, APAGA a minha maldade (Sl 50,3). Quanto dista o Oriente do Ocidente, tanto Éle tem APARTADO de nós as nossas maldades (Sl 102,12). Cristo foi uma só vez imolado para ESGOTAR os pecados de muitos (Hb 9,28). Considerai-vos que estais certamente MORTOS ao pecado, porém vivos para Deus em Nosso Senhor Jesus Cristo (Rm 6,11). O desaparecimento dos pecados leva à santificação interior: E tais haveis sido alguns; mas haveis sido LAVADOS, mas haveis sido SANTIFICADOS, mas haveis sido JUSTIFICADOS em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo e pelo Espirito do nosso Deus (1Cor 6,11). Noutro tempo éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor... Cristo amou a Igreja e por ela se entregou a si mesmo, para a SANTIFICAR, purificando-a no batismo da água pela palavra da vida, para a apresentar a si mesmo Igreja gloriosa, SEM MÁCULA NEM RUGA, nem outro algum defeito semelhante, mas SANTA E IMACULADA (Ef 5,8; 25 a 27). 33. O QUE O HOMEM PODE MERECER. — Depois desta ligeira exposição sobre a doutrina da graça, surge naturalmente uma questão importante: Poderá o homem merecer alguma coisa com relação a Deus? Merecer - quer dizer: ter direito a uma retribuição POR JUSTIÇA. E o mérito propriamente dito supõe uma certa proporção, uma certa equivalência entre o ato merecedor e a coisa merecida. Sendo assim, o homem não pode merecer a graça primeira. Que vem a ser a graça primeira? É a passagem do homem do estado de pecado para o estado de graça santificante. Todos nós nascemos com o pecado original. É preciso que um dia Deus nos dê a graça santificante. Pois bem, esta graça santificante nos é dada sem merecimento nenhum de nossa parte, por pura bondade e benevolência de Deus. Suponhamos que a recebemos, quando éramos crianças sem uso de razão: o Batismo nos conferiu a graça santificante sem merecimento nenhum de nossa parte, uma vez que nada tínhamos feito, nem éramos capazes de fazer livremente. Suponhamos, porém, o caso de um adulto que recebeu o Batismo. Éle precisou dispor-se para o Batismo, como já vimos, por atos especiais de fé, contrição etc. Porém, por mais boas obras que tenha feito, essas boas obras não têm proporção com a graça santificante que é um dom sobrenatural. A graça santificante vai tornar o homem um filho adotivo de Deus. E o servo, por mais obras que faça, não pode dizer que tem direito POR JUSTIÇA a ser tratado e considerado como filho. Por outro lado, por maiores que sejam os pecados cometidos até então, desde que haja as necessárias disposições de fé, contrição etc., Deus não nega o Batismo com a consequente reabilitação do pecador; é como uma esmola que basta estender a mão para receber. Além disto, esta graça santificante só nos foi alcançada em virtude da morte redentora de Jesus Cristo que satisfez a Deus em nosso lugar, é um efeito da benignidade de Deus que quis sacrificar o seu Divino Filho, para que o servo se tornasse um filho adotivo. É por isto que diz São Paulo que somos justificados gratuitamente por sua graça, pela redenção que tem em Jesus Cristo (Rm 3,24). E se isto foi por graça, não foi já pelas obras; doutra sorte a graça já não será graça (Rm 11,6). Cada vez, portanto, que passamos do estado de pecado mortal para o de graça santificante, isto Deus nos concede sem merecimento de nossa parte, por pura bondade e misericórdia sua, pois em estado de pecado nada podemos merecer. Para haver o merecimento em nós, é preciso que haja em nossa alma a graça santificante: Permanecei em mim e eu permanecerei em vós. Como a vara da videira não pode de si mesmo dar fruto se não permanecer na videira, assim nem vós o podereis dar, se não permanecerdes em mim. Eu sou a videira; vós outros, as varas. O que permanece em mim, e o em que eu permaneço, esse dá muito fruto (Jo 15,4 e 5). Se temos a graça santificante, já as nossas boas ações são sobrenaturalizadas por Jesus Cristo que habita em nós e já se estabelece uma certa proporção entre elas e a recompensa, a visão beatífica que é sobrenatural também. A árvore em que corre esta seiva divina da graça já pode produzir frutos para a vida eterna. Pela graça santificante somos filhos de Deus e se morremos nesta graça, se morremos como filhos, é de justiça que se nos dê a herança da vida celestial, pois quem é filho é também herdeiro. A Escritura está cheia de textos em que o Justa Juiz nos promete um prêmio, um galardão, uma recompensa ou retribuição pelas nossas obras, coroando assim na eternidade os nossos merecimentos. São Paulo diz aos Colossenses: Tudo o que fizerdes, fazei-o de boa mente, como quem faz no Senhor e não pelos homens, sabendo que recebereis do Senhor o GALARDÃO DA HERANÇA (Cl 3,23 e 24). O mesmo São Paulo compara a vida eterna com o prêmio que se oferece nas competições esportivas, em que muitas vezes o atleta faz sacrifícios, se abstém de muitas coisas, com o pensamento de receber a palma da vitória: Não sabeis que os que correm no estádio correm sim todos, mas um só é que leva o prêmio? Correi de tal maneira que o alcanceis. E todo aquele que tem de contender de tudo se abstém, e aqueles certamente por alcançar uma coroa corrutível; nós, porém, uma incorrutível (1Cor 9,24 e 25). É a glória do céu, que vem coroar aquele que se esforçou, que fez sacrifícios e mortificações para consegui-la (castigo o meu corpo e o reduzo à servidão - 1Cor 9,27), porque, como éle diz a Timóteo, usando a mesma comparação das lutas esportivas: o que combate nos jogos públicos não é coroado, senão depois que combateu conforme a lei (2Tm 2,5). É por isto que ele próprio, Paulo, no fim da vida, depois de ter combatido o bom combate, espera urna coroa, mas uma COROA DE JUSTIÇA, realmente merecida pelas suas boas obras juntamente com sua fé e dada pelo Justo juiz: Eu pelejei uma boa peleja, acabei a minha carreira, guardei a fé. Pelo mais me está reservada A COROA DE JUSTIÇA que o Senhor, JUSTO JUIZ, me dará naquele dia; e não só a mim, senão também àqueles que amam a sua vinda (2Tm 4,7 e 8). Porque cada um receberá a sua RECOMPENSA particular SEGUNDO O SEU TRABALHO (1Cor 3,8). Os pequenos sofrimentos, bem aceitos em união com Jesus Cristo, produzem um efeito maravilhoso na vida eterna: O que aqui é para nós duma tribulação momentânea e ligeira, produz em nós, de um modo todo maravilhoso, no mais alto grau, um peso eterno de glória (2Cor 4,17). E São João diz na sua Segunda Epístola: Estai alerta sobre vós, para que não percais o que HAVEIS OBRADO, mas antes recebais uma PLENA RECOMPENSA (2Jo versículo 8). Esta doutrina dos Apóstolos não é mais do que a própria doutrina de Jesus Cristo que promete claramente no Evangelho a divina recompensa àqueles que sofrem por seu amor, àqueles que renunciam a tudo ou que praticam a caridade em seu nome: Bem-aventurados sois quando vos injuriarem e vos perseguirem e disserem todo o mal contra vós, mentindo por meu respeito. Folgai e exultai, porque o vosso GALARDÃO é copioso nos céus (Mt 5,11 e 12). E todo o que deixar por amor do meu nome a casa, ou os irmãos, ou as irmãs, ou o pai, ou a mãe, ou a mulher, ou os filhos, ou as fazendas, receberá CENTO POR UM E POSSUIRÁ A VIDA ETERNA (Mt 19,29). Amai, pois, a vossos inimigos, fazei bem e emprestai sem dai esperardes nada, e tereis MUITO AVULTADA RECOMPENSA (Lc 6,35). O que recebe um profeta na qualidade de profeta receberá a RECOMPENSA de profeta, e o que recebe um justo na qualidade de justo receberá a RECOMPENSA de justo. E todo o que der a beber a um daqueles pequeninos um copo d'água fria, só pela razão de ser meu discípulo, na verdade vos digo que não perderá a sua RECOMPENSA (Mt 10,41 e 42). 34. AUMENTO DA GRAÇA E DA GLÓRIA. — O que se conclui de tudo isto é que cada sofrimento bem suportado pelo justo, cada ação boa, cada ato de virtude feito por ele com reta intenção tem direito a uma nova recompensa - e assim ele vai merecendo o aumento de graça santificante e, cada vez mais, consequentemente, um aumento de glória no Céu. CRESCEI NA GRAÇA e no conhecimento de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo (2Pd 3,18). Aquele que é justo, justifique-se ainda; e aquele que é santo, santifique-se ainda (Ap 22,11). Por isto, assim como o pecador que permanece no seu pecado, que peca sempre mais, vai aumentando o seu castigo e a sua desgraça (pela tua dureza e coração impenitente ENTESOURAS para ti IRA no dia da ira e da revelação do justo juízo de Deus, Rm 2,5), assim também o justo, praticando cada dia boas obras, vai aumentando a sua recompensa, o seu tesouro nos céus: Não queirais entesourar para vós tesouros na terra, onde a ferrugem e a traça os consume e onde os ladrões os desenterram e roubam; mas ENTESOURAI para vós TESOUROS no Céu (Mt 6,19 e 20). Porque no Céu é desigual a sorte dos bem-aventurados: Aquele que semeia pouco, também segará pouco; e aquele que semeia em abundância, também segará em abundância (2Cor 9,6). 35. DEUS RETRIBUI A CADA UM SEGUNDO AS SUAS OBRAS. — A razão desta diferença é que no dia de juízo o Filho do Homem há de vir na glória de seu Pai com os seus anjos; e então DARÁ a CADA UM A PAGA SEGUNDO AS SUAS OBRAS (Mt 16,27). Aliás, isto é uma verdade insistentemente, declarada nas Sagradas Escrituras, no Antigo e no Novo Testamento: os maus receberão maior ou menor castigo conforme as suas 'más ações; os justos receberão maior ou menor recompensa de acordo com as suas boas obras. No Antigo Testamento: Paralipômenos: DARÁS A CADA UM CONFORME AS SUAS OBRAS, que conheces que ele tem no seu coração, pois que só tu conheces os corações dos filhos dos homens (2, Paralipômenos 6,30). Salmos: O poder é de Deus; e a ti, Senhor, a misericórdia; porque tu RETRIBUIRÁS A CADA UM SEGUNDO AS SUAS OBRAS (Sl 61,12 e 13). Provérbios: Se tu disseres: As fôrças não me ajudam, o mesmo que é inspetor do coração o conhece e ao guardador da tua alma nada se esconde e Ele RETRIBUIRÁ AO HOMEM SEGUNDO AS SUAS OBRAS (Pr 24,12). Jeremias: Eu lhes TORNAREI SEGUNDO AS SUAS OBRAS e segundo os feitos das suas mãos (Jr 25,14). Ezequiel: Eu JULGAREI A CADA UM CONFORME OS SEUS CAMINHOS, diz o Senhor Deus (Ez 18,30). No Novo Testamento, além da palavra de Jesus Cristo, no texto já citado de São Mateus: (Mt 16,27) Epístola aos Romanos: Entesouras para ti ira no dia da ira e da revelação do justo juízo de DEUS QUE HÁ DE RETRIBUIR A CADA UM SEGUNDO AS SUAS OBRAS: com a vida eterna por certo aos que, perseverando em fazer OBRAS BOAS, buscam glória e honra e imortalidade; mas com ira e indignação aos que são de contenda e que não se rendem à verdade, mas que obedecem à injustiça (Rm 2,5 a 8). Primeira Epístola de São Pedro: Se invocais como. pai Aquele que sem acepção de pessoas JULGA SEGUNDO A OBRA DE CADA UM, vivei em temor durante o tempo da vossa peregrinação (1Pd 1,17). Apocalipse: Eu sou aquele que sonda os rins e os corações; e RETRIBUIREI A CADA UM de vós SEGUNDO AS SUAS OBRAS (Ap 2,23). Eis aqui que depressa virei, e o meu galardão anda comigo para RECOMPENSAR A CADA UM SEGUNDO 'AS SUAS OBRAS (Ap 22,12). Veja-se ainda Apocalipse 20,12 e 13. Sim, A GRAÇA é dada de graça. Mas uma vez recebida a graça santificante, ainda temos que observar os mandamentos, trabalhar, lutar e sofrer em união com Cristo para conquistar A GLÓRIA. E a glória eterna do Céu varia de acordo com as virtudes, os atos de penitência, as boas obras, em suma, o mérito de cada pessoa, pois Deus retribuirá a cada um segundo as suas obras. 36. CONFUSÃO DE IDÉIAS. — Ainda não entramos de cheio na refutação da teoria da salvação só pela fé. Fizemos apenas um resumo da doutrina católica sobre a salvação, para esclarecer certos pontos em que se confundem os nossos adversários que não estão perfeitamente ao par da nossa doutrina. Mas bastou ao leitor ver o texto das Escrituras em que se exige a observância dos mandamentos para conseguir o Céu, não podendo alcançá-lo os que cometem certas faltas graves, bastou ver a insistência com que a Bíblia nos assegura que Deus retribuirá a cada um segundo as suas obras, sem fazer acepção de pessoas, para observar como é inexata a doutrina de que só a fé é que salva e de que as boas obras não influem na salvação. Queremos dizer apenas algumas palavras sobre uma confusão que fazem os protestantes a respeito do perigo de envaidecimento para aqueles que fazem boas obras, sabendo que elas terão a sua recompensa. Os protestantes viram um texto de São Paulo (Ef 2,8 e 9) em que o Apóstolo nos ensina que a concessão da graça primeira, ou seja, a passagem do pecador do estado de pecado para o estado de justiça pela graça santificante se realiza de graça e não em atenção a nossas obras, para que ninguém se glorie. Teremos ocasião de comentar atentamente e a vagar esse texto (número 133) num capítulo especial que versará sobre a graça primeira. Daí aprenderam de oitiva a dizer que a glória do Céu não se alcança pelas nossas obras mas só pela fé, para que o homem não se orgulhe, não se glorie de ter alcançado a salvação pelo seu próprio esfôrço. Deus teria querido assim evitar o perigo do orgulho humano, e teria caído noutro perigo muito maior ainda: teria favorecido horrivelmente à corrução do homem e ao relaxamento no pecado, impondo somente a fé para a salvação e dispensando a observância dos mandamentos e a prática das outras virtudes cristãs, entre as quais avulta a caridade, para a consecução da glória celeste. 37. A DOUTRINA CATÓLICA E A PRESUNÇÃO. — Qualquer um que considere atentamente a doutrina católica, não terá motivo algum para gloriar-se de suas virtudes ou de suas boas obras. E a prova é que a Igreja Católica tem produzido um número imenso de grandes santos que são conhecidos no mundo inteiro, muitos dos quais bem estimados e admirados pelos protestantes, e no entanto um fenômeno observado em todos eles é que, quanto mais progrediam na virtude e se enriqueciam da graça de Deus, tanto mais baixo conceito faziam de si mesmos. A sua grande virtude fazia com que lamentassem profundamente as mais pequenas imperfeições; e causa admiração como se não julgavam mais do que grandes e desprezíveis pecadores. Seguiam nisto a palavra do Eclesiástico: Quanto maior és, humilha-te em todas as cousas, e acharás graça diante de Deus (El 3,20). Realmente a consideração da doutrina sobre a graça, que há pouco resumimos, leva o homem a reconhecer o seu nada, a sua fraqueza e insuficiência. Se Deus justifica o pecador e o faz seu filho, esta elevação a uma grandeza sobrenatural é feita por pura bondade e misericórdia de Deus. Cada ação boa, cada ato de virtude, cada vitória sobre as tentações precisou, para efetuar-se, do auxílio da graça divina: Sem mim não podeis fazer nada (Jo 15,5). A criancinha que não pode escrever a carta sem a mãezinha a estar ajudando com a mão dela por cima da sua, não pode absolutamente orgulhar-se de ter escrito a carta por seu próprio engenho e esfôrço. E os erros dados nesta carta, por culpa do pequeno escrevente, a mãezinha depois os corrige - isto é, os pecados, as faltas, as imperfeições que frequentemente cometemos, Deus está sempre de braços abertos para nos perdoar, se nos voltamos para ele. E o católico tem, mais do que ninguém, uma lembrança viva de seus pecados, pois tem que fazer cuidadoso exame de consciência sobre eles e confessá-los humildemente ao ministro de Deus, a quem foi dado o poder de perdoar e reter os pecados. Nenhuma razão tem, portanto, o católico, para orgulhar-se de suas virtudes, quando as possui: Que tens tu que não recebesses? Se, porém, o recebeste, por que te glorias como se o não tiveras recebido? (1Cor 4,7). Se, porém, por um ato de Irreflexão ou, para melhor dizer, de loucura, conceber um pensamento de presunção, uma queda fatal se dará, porque Deus resiste aos soberbos, e dá sua graça aos humildes (Tiago, 4,6). E acontecerá o que aconteceu a São Pedro, que fez as mais brilhantes profissões de fé e que amava a Cristo mais do que os outros Apóstolos, mas por ter consentido num ato de confiança exagerada em si mesmo, teve que chorar, por toda a vida, uma queda desastrosa. Assim aprenderá o homem, à custa dos próprios fracassos, a não confiar em si mesmo. Não há razão, portanto, para Deus deixar de considerar como CONDIÇÃO NECESSÁRIA PARA A SALVAÇÃO a guarda dos mandamentos, a prática das boas obras, por parte do homem (que é livre nas suas ações e portanto tem que mostrar um bom uso de sua liberdade), só pelo receio de que o homem se venha a tornar vaidoso. Se assim fosse, Ele também deixaria de apontar a FÉ como condição NECESSÁRIA PARA A SALVAÇÃO, porque a fé é sempre um ato livre, uma cooperação humana, e assim como há o perigo de ensoberbecer-se o homem pelas suas obras, assim também há o de ensoberbecer-se pela fé: Tu pela FÉ estás firme, pois NÃO TE ENSOBERBEÇAS, MAS TEME (Rm 11,20). 38. RECOMPENSA E BENEFICIO. — Por mais estranho que pareça, a glória do Céu, que a Escritura nos mostra como uma RECOMPENSA dada ao homem pelas suas boas obras, é também, em última análise, uma graça, um BENEFÍCIO de Deus. Um homem rico e ilustre toma um mísero e desprezível servo e o cumula de favores, espontânea e benignamente, fazendo dele um filho adotivo. Depois disto, começa a fornecer-lhe verba continuamente, para que éle realize alguns trabalhos. Perdoa frequentemente também os erros e fraquezas dê-te filho, bastando para isto que éle procure sinceramente o seu perdão. E aqueles trabalhos realizados pelo filho com a verba dada pelo próprio pai, este os recompensa larguissimamente, fazendo-o cada vez mais participante de uma imensa herança. Pode ser maior a sua benignidade? Assim faz Deus conosco, chamando-nos e justificando-nos misericordiosamente quando somos pecadores, perdoando-nos inúmeras vezes na vida, graças aos merecimentos infinitos de Jesus Cristo, fornecendo-nos continuamente o auxílio da sua graça e recompensando com os gozos da vida eterna as nossas obras, que só com a sua graça podiam ser realizadas. Por isto, tinha razão em exclamar o grande Doutor da Graça, Santo Agostinho: "Deus quando coroa nossos merecimentos, não coroa senão seus próprios benefícios"..

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