Cursos De Decoracao De Festas Em Curitiba

New York University College of Arts & Science - A graça por Santo Agostinho, Bispo e Doutor da Igreja LIVRO SEGUNDO O PECADO ORIGINAL Capítulo 1 - Apresentação do tema a partir da afirmação de Pelágio sobre o batismo das crianças - Toda cautela será pouca de vossa parte ao ouvir semelhantes pessoas quando falam do batismo das crianças. Não ousam negar abertamente a essa idade o banho da regeneração e da remissão dos pecados, para não ofender ouvidos piedosos. Mas insistem em manter, sustentar e defender a sua opinião, segundo a qual julgam que a humanidade não está sujeita às consequências do pecado do primeiro homem. No entanto, parecem aceitar o batismo das crianças para a remissão dos pecados. Vós mesmos me escrevestes que ouvistes Pelágio em pessoa, lendo passagens de seu libelo que, conforme afirma, enviou também a Roma, e onde defendia que "as crianças devem ser batizadas com as mesmas palavras sacramentais empregadas para os adultos". Quem poderia imaginar que, ouvidas essas palavras, pudesse surgir qualquer discussão com eles sobre o assunto? E se alguém levantasse a questão, não seria tachado de caluniador, a menos que lesse suas claras afirmações, onde negam que as crianças contraiam o pecado original e defendem que todos nasceram sem nenhum pecado? Capítulo 2 - Celéstio nega a transmissão do pecado original (Até o capítulo 21, Agostinho vai seguindo os rastos de Pelágio e Celéstio através de seus escritos, depoimentos em sínodos, cartas, para mostrar o quanto se contradizem a respeito da transmissão do pecado original) - Celéstio revelou-se mais avançado nos termos deste erro. Nem diante do sínodo episcopal em Cartago quis condenar a doutrina dos que dizem: "que Adão foi a única vítima de seu pecado, o qual não atingiu o gênero humano; e que as crianças que nascem estão no mesmo estado que Adão antes da desobediência". E na cidade de Roma, no seu libelo que entregou ao mui bem-aventurado papa Zózimo, afirmou mais expressamente "que ninguém impute às crianças o pecado original". Copiamos essas suas palavras das atas eclesiásticas de Cartago. Capítulo 3 - Trechos das atas sinodais de Cartago sobre a acareação de Celéstio - "O bispo Aurélio disse: "Leia-se à continuação". E foi lido: o pecado de Adão somente a ele prejudicou, e não ao gênero humano. Após a leitura, Celéstio disse: "Afirmei que tinha dúvidas sobre a transmissão do pecado, mas estaria de acordo com alguém favorecido por Deus com a graça desse conhecimento. Ouvi diversas opiniões àqueles que foram constituídos presbíteros na Igreja Católica". O diácono Paulino disse: "Dize-nos seus nomes". Celéstio respondeu: "O santo presbítero Rufino de Roma que morou com São Pamáquio; ouvi-o dizer que não há transmissão de pecado". O diácono Paulino voltou a perguntar: "Há algum outro?". Celéstio respondeu: "Ouvi a muitos dizerem". O diácono Paulino: "Dize seus nomes". Celéstio respondeu: "Não basta o nome de um sacerdote?". E um pouco depois, em outra passagem: "O bispo Aurélio disse: Leia-se o restante do libelo". E foi lido que as crianças, ao nascerem, estão no mesmo estado que Adão antes da transgressão. Até o fim do libelo inserido acima." Capítulo 4 - Em Cartago, Celéstio não confirmou seu pensamento sobre a transmissão do pecado original Ainda as atas de Cartago: "O bispo Aurélio disse: "Celéstio, ensinaste alguma vez, como disse o diácono Paulino, que as crianças, ao nascerem, estão no mesmo estado em que esteve Adão antes da transgressão?". Respondeu Celéstio: Explique ele por que disse - "Antes da transgressão". Retrucou o diácono Paulino: "Nega que isso ensinaste. Uma das duas: ou negue ele que ensinou ou agora o condene". Celéstio disse: "Já disse, que ele explique qual o sentido de "antes da transgressão". O diácono Paulino respondeu: "Nega que ensinaste aquela doutrina". "O bispo Aurélio tomou a palavra: "Digo o que pude depreender desta objeção, ou seja, que Adão, colocado no paraíso, o que antes se dizia criado imortal, depois da transgressão do pecado tornou-se corruptível. É o que afirmas, diácono Paulino?". O diácono Paulino respondeu: "Isso mesmo, Senhor". O bispo Aurélio continuou: "O estado das crianças, que hoje necessitam do batismo, era o mesmo de Adão antes da transgressão ou, pelo contrário, contraem a culpa da transgressão na mesma origem do pecado, da qual nascem? O diácono Paulino quer ouvir isto?". O diácono Paulino disse: "Ele ensinou isto ou nega". Celéstio afirmou: "Já me referi à transmissão do pecado, e disse que a muitos dentro da Igreja Católica ouvi que a negam e a outros que a afirmam. Embora o assunto seja controvertido, não é heresia. Sempre defendi que as crianças necessitam do batismo e devem ser batizadas. O que mais quer perguntar?" ". - Percebeis que Celéstio concordou sobre a necessidade do batismo para as crianças, mas recusou confessar que lhes passe o pecado do primeiro homem, do qual se purificam pelo banho da regeneração, mas não se atreveu a negar. Apoiado na sua dúvida, não condenou os que defendem "que o pecado de Adão arruinou apenas a ele, e não o gênero humano, e que as crianças, ao nascerem, encontram-se no mesmo estado em que se encontrava Adão antes da desobediência". Capítulo 5 - Exposição de sentenças duvidosas de Celéstio e de Pelágio que o autor se propõe a esclarecer aos destinários - No libelo publicado em Roma, que em Cartago foi alegado nas atas eclesiásticas, fala do assunto em tais termos que revela crer o que dissera duvidar. São palavras suas: "Confessamos que as crianças devem ser batizadas para remissão dos pecados conforme a lei da Igreja universal e conforme a sentença do Evangelho, pois o Senhor determinou que somente aos batizados pode ser concedida a posse do reino dos céus (Jo 3,5) e, porque faltando-lhes as forças naturais, é necessário que lhes sejam outorgadas pela liberalidade da graça". Se nada mais dissesse a esse respeito, quem não acreditaria que confessa a remissão do pecado original concedida às crianças no batismo, ao dizer que devem ser batizadas para remissão dos pecados? Daí a razão de terdes escrito que, como Pelágio vos respondeu: "que as crianças devem ser batizadas com as mesmas palavras sacramentais empregadas para os adultos", isso vos alegrou, pois era o que desejáveis ouvir. No entanto, desejais saber nossa opinião sobre suas palavras. Capítulo 6 - Em Roma, foi bem clara a sentença herética sobre a não-transmissão do pecado original - Prestai atenção no que Celéstio afirmou em termos bem claros, onde percebereis o que Pelágio vos ocultou. Celéstio acrescentou e disse: "Não dissemos que as crianças devem ser batizadas para a remissão dos pecados, como se estivéssemos ensinando a transmissão do pecado; esta doutrina é bem contrária ao pensamento católico. Pois o pecado não nasce com o ser humano, mas é praticado depois; prova-se que o delito não está entranhado na natureza, mas na vontade. É conveniente confessar o anterior (o batismo das crianças), para não parecer que estamos estabelecendo diversos gêneros de batismo. É necessário tomar esta precaução para evitar que, em se tratando de um mistério, se diga com injúria ao Criador, que o mal, antes de ser praticado pelo homem, é transmitido pela natureza", (Aqui parece residir o núcleo da doutrina pelágio-celestiana: as crianças devem ser batizadas, mas não para a remissão dos pecados. Para Pelágio e Celéstio, atribuir às crianças o pecado original do qual deveriam se redimir pelo batismo é injuriar o Criador, que permitiria que se instalasse o mal na natureza indefesa e inconsciente) Pelágio teve medo ou vergonha de vos manifestar este pensamento que seu discípulo não teve medo ou vergonha de declarar perante a Sé Apostólica sem nenhum subterfúgio. - Mas o muito compreensivo prelado daquela preclara Sé, ao vê-lo tão cheio de presunção e mesmo de loucura, com que lhe dando oportunidade de voltar a si da demência, preferiu encerrá-lo em perguntas e respostas a lançá-lo no abismo para o qual parecia precipitar-se, se o ferisse com uma sentença rigorosa. Por isso eu não disse: "manifestamente se precipitara", mas "parecia precipitar-se", pois anteriormente no mesmo opúsculo ele havia predito quando fosse falar dessas questões: "Se, como é próprio do ser humano, cometemos algum deslize errando por ignorância, vosso juízo o corrija". Capítulo 7 - Histórico do sucedido depois da acareação em Roma - Tendo em conta esse exórdio de Celéstio, o venerável papa Zózimo procurou que ele, inflado pelo vento da falsa doutrina, condenasse o que lhe fora objetado pelo diácono Paulino e concordasse com os termos da carta da Sé Apostólica emanada de seu predecessor de santa memória. Ele se negou a condenar as acusações do diácono, mas não se atreveu a resistir à carta do papa Inocêncio. Pelo contrário, "prometeu abjurar tudo o que aquela Sé condenasse". No entanto, dando-lhe oportunidade de voltar a si do delírio, foi tratado com brandura, mas se considerou que não devia ser absolvido ainda dos laços da excomunhão. Durante dois meses, porém, enquanto não se recebia resposta da África, concedeu-se-lhe ocasião de se retratar mediante a brandura medicinal da sentença. E curar-se-ia sem dúvida, se, vencida a vaidade da teimosia, quisesse refletir sobre o que prometera e lesse com atenção as mesmas cartas que concordara em responder. Mas depois da resposta enviada pelo concílio episcopal africano, do que aconteceu em seguida para que, com justiça, contra ele se pronunciasse a sentença, podeis tomar conhecimento pelo que vos enviei, visto que tudo fizemos chegar às vossas mãos. Capítulo 8 - Encaminhamento do assunto para expor o pensamento do papa Inocêncio sobre as atas do sínodo palestinense - Se Pelágio pensar com lealdade em si mesmo e em seus escritos, afirmará sem razão que não é atingido pela mesma sentença. Pois conseguiu lograr o tribunal palestinense e, por isso, parece-lhe que aí foi glorificado. No entanto, não conseguiu enganar de modo algum a Igreja romana, onde sabeis ser ele muito conhecido, embora se tenha empenhado em consegui-lo. Mas, como disse, não o conseguiu. O beatíssimo papa Zózimo recordou o que pensara das mesmas atas o seu predecessor digno de ser imitado. Teve em conta o que de Pelágio julgava a fé dos romanos, celebrada em todo o mundo (Rm 1,8), cujo zelo unânime percebia ser ardente em defesa da verdade contra o erro de Pelágio. Este havia vivido entre eles longos anos, o que impedia que lhes ocultasse seus dogmas. E tinham certeza de que Celéstio era seu discípulo, o qual podiam testemunhar com fidelidade e firmeza. Creio que não se deve passar em silêncio o que o santo papa Inocêncio julgou a respeito das atas do sínodo palestinense, com as quais Pelágio se considerou absolvido, embora disso possais tomar conhecimento pela carta que nos escreveu e que foi lembrada quando o sínodo africado respondeu ao venerável papa Zózimo. Este documento enviamos à Vossa Caridade junto com as outras instruções. Capítulo 9 - O valor atribuído pelos papas Zózimo e Inocêncio às atas palestinenses - Na carta, que cinco bispos escrevemos ao referido papa Zózimo, fizemos menção das mesmas atas palesti-nenses, cuja fama chegara até nós, dizendo que, no Oriente, onde Pelágio mora, elaboraram-se atas eclesiásticas, cujo conteúdo o levou a pensar que se tinha justificado. Em resposta, entre outras coisas, diz: "Estão transcritas nessas atas coisas que lhe foram objetadas, parte das quais ele, evitando-as, suprimiu, e parte envolveu em muita obscuridade, retorcendo o sentido de muitas palavras. Algumas outras justificou com razões mais falsas que verdadeiras, como no momento podia parecer, negando umas e interpretando outras falsamente. Mas oxalá, o que seria mais de desejar, volte já de seu erro para o caminho verdadeiro da fé católica, e almeje e queira se justificar considerando a cotidiana graça de Deus e reconhecendo sua ajuda. Desse modo, todos o considerem e aprovem como deveras corrigido por motivos bem claros, não por uma sentença de atas, mas por um coração voltado para a fé católica. Daí que não podemos nem aprovar nem censurar aquele julgamento, pois ignoramos se as atas são autênticas. Se são autênticas, fique claro que houve mais subterfúgios por parte dele do que justificação, segundo o que exige a verdade". Podeis ver nestas palavras que o mui bem-aventurado Inocêncio não fala como de algo desconhecido. Podeis ver qual foi o seu juízo sobre a justificação de Pelágio, e podeis depreender o que o seu sucessor, o santo papa Zózimo, devia recordar, como de fato recordou, para apoiar sua sentença na dele, sem nenhuma hesitação. Capítulo 10 - Início da comprovação sobre a atitude enganosa de Pelágio perante o tribunal palestinense - Ouvi agora com atenção a exposição a respeito de como Pelágio enganou os juízes palestinenses na questão do batismo das crianças, para não falar de outros pontos. Assim a ninguém parecerá que caluniamos ou suspeitamos em vez de exprimir uma certeza a respeito do que dissemos, ou seja, que Pelágio vos ocultou aquele parecer, sobre o qual Celéstio foi mais franco. Ficou claro pelo dito anteriormente que Celéstio se recusou a condenar o que se propalava, ou seja, que "o pecado de Adão somente a ele prejudicara, e não o gênero humano; e que as crianças, ao nascerem, se encontram no mesmo estado de Adão antes da transgressão". Não condenou porque percebia que, se condenasse, estaria confirmando a transmissão do pecado de Adão para as crianças. Ao serem apresentadas a Pelágio essas proposições, visto que seu pensamento era idêntico ao de Celéstio, condenou-as sem resistência. Embora saiba que disso já tomastes conhecimento, como não escrevo somente para vós e para que o leitor não tenha de recorrer às atas, se não as tem e pesquisá-las com trabalho, transcrevemos delas as próprias palavras, as quais estão escritas na continuação. Capítulo 11 - Continuação da comprovação, começando pela menção às atas do sínodo - "O Sínodo disse: "Posto que Pelágio condenou certa doutrina carente de solidez, respondendo corretamente que o homem, com a ajuda de Deus, pode viver sem pecado, responda também a outros capítulos". Há outro capítulo na doutrina de Celéstio, discípulo de Pelágio, dentre aqueles que em Cartago foram ouvidos e mencionados pelo santo bispo cartaginês Aurélio e outros bispos (Consta nesse capítulo), que Adão, criado como mortal, morreria, quer pecasse, quer não pecasse; que o pecado de Adão somente a ele arruinou, e não o gênero humano; que a lei conduz ao reino do mesmo modo que o Evangelho; que antes de Cristo existiram pessoas que viveram sem pecado; que as crianças, ao nascerem, encontram-se no mesmo estado que Adão antes da transgressão; que os homens não são mortais devido à morte ou à prevaricação de Adão nem ressurgirão, porque Cristo ressuscitou. E que o santo bispo Agostinho respondeu a Hilário contra os discípulos de Pelágio na Sicília a respeito dos capítulos apresentados, escrevendo um livro que recolhe os seguintes erros: que o ser humano pode viver sem pecado, se quiser; que as crianças, mesmo não batizadas, podem obter a vida eterna; que os ricos batizados, se não renunciarem a todos os seus bens, não lhes será imputado nenhum bem, mesmo que o pratiquem, e não podem possuir o reino de Deus (Há aqui, nestes pontos básicos da doutrina de Pelágio, pelo menos dois que são admitidos hoje pela Igreja. Primeiro, acerca da mortalidade de Adão. Quando Paulo diz em Rm 5,12 que "pelo pecado entrou a morte no mundo", donde se conclui que, se não tivesse pecado, Adão não morreria, Paulo se refere aí à morte espiritual, que no versículo 21 contrapõe à "vida eterna". Refere-se também à morte física, porém, como antessala da morte eterna para aquele que morre no pecado. O segundo refere-se à salvação das crianças mortas sem batismo, pois a Igreja só pode confiá-las à misericórdia de Deus, como o faz no rito das exéquias por elas. A misericórdia de Deus, que quer a salvação de todos os homens, e a ternura de Jesus para com as crianças nos permitem esperar que haja um caminho de salvação para as crianças mortas sem batismo) Pelágio disse: "Sobre a possibilidade de o homem viver sem pecado, respondi anteriormente. Sobre a existência de pessoas que viveram sem pecado antes da vinda do Senhor, afirmamos nós também que, antes da vinda de Cristo, algumas pessoas viveram na santidade e na justiça, conforme nos dizem as Sagradas Escrituras; com relação aos demais pontos, de acordo com o testemunho deles mesmos, não são pontos a respeito dos quais lhes dê satisfação. Mas, para tranquilidade do Santo Sínodo, condeno aqueles que os defendem ou alguma vez defenderam." Capítulo 12 - Nas suas opiniões, Pelágio revela-se mais astuto do que Celéstio - Percebeis que, deixando de lado outros pontos, Pelágio condenou os que defendem "que o pecado de Adão arruinou apenas a ele, e não o gênero humano, e que as crianças, ao nascerem, encontram-se no mesmo estado de Adão antes da desobediência". O que os juízes episcopais entenderam nestas palavras, senão que confessava a transmissão do pecado de Adão às crianças? Celéstio, para não fazer essa confissão, não quis condenar esses pontos, que Pelágio condenou. E se eu demonstrar que Pelágio pensa o mesmo que Celéstio a respeito das crianças, que elas vêm a este mundo sem nenhum contágio de pecado, qual seria a diferença entre um e outro nesta questão, senão que Celéstio é mais claro e Pelágio mais reservado; aquele, mais pertinaz e este, mais mentiroso; aquele mais franco, e este mais astuto? Celéstio recusou-se a condenar mesmo na Igreja cartaginense o que confessou defender na romana, e declarou "estar disposto a se corrigir, se, como ser humano, cometera algum deslize". Pelágio, porém, condenou aquela opinião como contrária à verdade para evitar a condenação pelos juízes católicos, mas se resguardou para defendê-la depois, seja condenando mentirosamente, seja interpretando ardilosamente. Capítulo 13 - O autor prova que Pelágio enganou os bispos católicos da Palestina - Mas entendo que, com razão, já se me pede, conforme prometi, não diferir a prova de que Pelágio tem a mesma opinião de Celéstio. No primeiro livro de sua mais recente obra, escrita em defesa do livre-arbítrio, de cuja obra fez menção na carta enviada a Roma, diz: "Todo o bem e todo o mal que nos tornam dignos de louvor ou de reprovação, não nascem conosco, mas são praticados por nós. Ao nascermos, não somos plenamente capazes nem de um nem de outro, e somos procriados tanto sem virtude como sem vício; e antes da ação de nossa vontade, possuímos somente o que por Deus foi criado". Vedes sem dúvida nestas palavras de Pelágio que elas contêm a opinião de ambos sobre as crianças, as quais, ao nascerem, não trazem nenhum pecado pelo contágio de Adão. Não é de admirar que Celéstio não tenha querido condenar os que dizem: "Que o pecado de Adão só a ele prejudicou, e não ao gênero humano, e que as crianças, ao nascerem, encontram-se no mesmo estado de Adão antes da transgressão". Mas causa muita admiração o descaramento com que Pelágio condenou esses pontos. Ao dizer que "o mal não nasce conosco e somos procriados sem culpa, e que antes da ação da vontade o homem possui apenas o que por Deus foi criado", está afirmando, sem dúvida, que o pecado de Adão somente a ele prejudicou, não passando para a descendência. Não se diga que o pecado não é um mal ou que o pecado não é um vício ou que Deus criou o pecado. Ele, porém, diz: "O mal não nasce conosco e somos procriados sem vício, e que, ao nascer, o homem possui somente o que Deus criou". Assim sendo, se Pelágio certamente pensa que "o pecado de Adão apenas a ele prejudicou, e não o gênero humano", segundo sua doutrina há pouco exposta, por que Pelágio a condenou? Não foi para enganar os juízes católicos? Pode-se argumentar também assim: "Se o mal não nasce conosco e somos procriados sem vício, e o homem, ao nascer, só possui o que Deus criou", pode-se concluir que "as crianças, ao nascerem, encontram-se no mesmo estado de Adão antes da prevaricação", quando ele não era ainda atingido por mal algum e possuía somente o que Deus criara. Mas Pelágio condenou "os que defendem ou alguma vez defenderam que as crianças recém-nascidas encontram-se no mesmo estado de Adão antes da desobediência", isto é, sem nenhum mal, sem vício algum, possuindo somente o que Deus criou. Portanto, por que Pelágio condenou esses pontos doutrinários? Não foi para enganar o Sínodo católico e não ser condenado como novo herege? Capítulo 14 - Contradição de Pelágio entre o que afirmou no tribunal e o que ensinou em seus livros - Sabeis muito bem, e o fiz constar naquele livro que escrevi a nosso venerável ancião Aurélio sobre as atas palestinenses, sabeis, repito, como me alegrara que toda essa questão tivesse chegado ao fim em vista daquela resposta de Pelágio, e como me parecia que tivesse confessado em termos bem claros que as crianças nasciam com o pecado original, quando ele condenou a proposição segundo a qual o pecado de Adão lesou somente a ele, não, porém, o gênero humano, e as crianças se encontram no mesmo estado daquele primeiro homem. Posteriormente, porém, depois de ter lido quatro livros de sua autoria, do primeiro dos quais extraí as palavras antes mencionadas, e de ter concluído que ele ainda opina contra a fé católica no tocante às crianças, pus-me a admirar mais ainda a tão descarada mentira diante do tribunal eclesiástico sobre uma questão de tamanha importância. Se havia escrito antes tais livros, como pôde dizer que condenava os que alguma vez defenderam aquela tese? E se redigiu depois essa obra, como condenou os que agora a defendem? A menos que ridiculamente afirme que condenou os que a defenderam alguma vez e os que a defendem, mas com relação ao futuro, ou seja, com relação aos que a hão de defender, não poderia julgar nem a si nem a outros. Nesta hipótese, não mentiu, porque depois pôde ser surpreendido defendendo a referida tese. Mas não se expressa desse modo, não só porque é ridículo, mas não envolve a verdade. E assim, nos mesmos livros, fala contra a transmissão do pecado de Adão às crianças e se gloria das atas do sínodo palestinense, onde ele pensou ter condenado os que assim ensinam e onde, mediante embuste, roubou a sua absolvição. Capítulo 15 - O autor elimina a consideração de algumas proposições pelagianas - O que importa ao assunto em pauta o fato de Pelágio responder a seus discípulos "que ele condenou o que se lhe objetava, se ele mesmo afirma que o primeiro pecado prejudicou não somente o primeiro homem, mas também os demais seres humanos, não devido à descendência, mas ao exemplo", isto é, não porque contraem algum pecado pelo fato de serem descendentes, mas pelo fato de terem imitado o primeiro pecador todos os que depois pecaram? O que importa também o fato de ele dizer "que as crianças não se encontram no estado em que se encontrava Adão antes da transgressão, porque estas não têm ainda capacidade de compreender o preceito, mas ele a teve, e porque não possuem a liberdade racional, a qual se ele não possuísse, não se lhe imporia o preceito"? Também não vem ao caso que, expondo desse modo o que lhe objetaram, tenha certeza de ter condenado o que se afirma nesta proposição: "O pecado de Adão arruinou somente a ele, e não o gênero humano", e "as crianças, ao nascerem, encontram-se no estado em que se encontrava Adão antes do pecado". E não vem ao caso ainda que, condenadas essas proposições, as continue defendendo sem aleivosia, na forma como se encontram em seus opúsculos escritos posteriormente: "que as crianças nascem sem nenhum mal, sem nenhum vício, e que somente possuem o que por Deus foi criado", e não a chaga que o inimigo causou. Capítulo 16 - Argumentos que provam a condenação de Pelágio mesmo depois da absolvição - Expressando-se assim, ou seja, alterando o sentido das palavras das objeções, porventura consegue demonstrar que não enganou os juízes? É claro que não; é tão grande a fraude oculta, quanto é grande a astúcia da exposição. De fato, os bispos católicos, quando o ouviram condenar os que dizem: "O pecado de Adão arruinou somente a ele, e não o gênero humano", julgavam que ele sentia o que a Igreja católica sempre ensinou. De acordo com esse ensinamento, ela batiza realmente as crianças para a remissão dos pecados, não os que cometeram seguindo o exemplo do primeiro pecador, mas o que contraíram, ao nascer, pela origem viciada. E ao ouvi-lo condenar os que dizem: "que as crianças, ao nascerem, encontram-se no mesmo estado de Adão antes da queda", os bispos acreditavam que ele estava condenando os que defendem a não-transmissão do pecado de Adão às crianças, que se encontrariam, portanto, no mesmo estado de Adão antes do pecado. Com efeito, este era o ponto objetado, e não outro, pois sobre ele versava a questão. Portanto, quando Pelágio explica seu ponto de vista que as crianças não se encontram no mesmo estado de Adão antes do pecado, porque ainda não são dotadas da mesma robustez de espírito ou de físico, e não porque tenham contraído alguma culpa pela descendência, pode-se responder-lhe: "Quando eras arguido sobre as proposições condenáveis, os bispos católicos não lhes davam essa versão; por isso, ao condená-las tu, acreditavam que professavas a fé católica. Assim sendo, o que julgavam ser tua doutrina foi absolvido; o que pensavas de fato foi condenado. Portanto, não foste absolvido tu que defendestes o que devia ser condenado, mas foi absolvido o que devias defender. No entanto, para te considerares absolvido, consideravam que defendias o que é louvável, visto que os juízes ignoravam que ocultavas o que era condenável. Com razão foste considerado como correligionário de Celéstio, pois é notório que és seu cúmplice. E se no julgamento ocultaste os teus livros; depois do julgamento, contudo, vieste a publicá-los." Capítulo 17 - Análise da carta de Pelágio enviada a Roma, na qual encobre sua falsa opinião - Com as coisas nesse ponto, constatais que os concílios episcopais, a Sé Apostólica, toda a Igreja romana, o império romano, que graças a Deus é cristão, indignaram-se contra os autores de tão nefando erro, indignação que perdurará até que esses hereges se libertem dos laços diabólicos. Quem sabe se Deus não lhes dará um coração penitente para conhecer, confessar e também pregar a verdade, e condenar com sinceridade a falsidade digna de condenação! De qualquer modo que se comportem os seguidores de Pelágio, não podemos duvidar de que, pela misericórdia de Deus, tudo isso veio favorecer a muitos que eram seus adeptos, porque viam que estavam em comunhão com a Igreja católica. - Prestai muita atenção no modo como Pelágio tentou enganar furtivamente o tribunal episcopal da Sé Apostólica nessa questão do batismo das crianças. Na carta enviada a Roma, dirigida ao papa Inocêncio, de santa memória, e que, por ter ele já falecido, foi entregue ao santo papa Zózimo, e depois a nós também remetida, ele diz que "é acusado por negar o sacramento do batismo às crianças e de prometer o reino dos céus prescindindo da redenção de Cristo". Mas não é isto que se lhe objeta, visto que não nega o sacramento do batismo às crianças nem acena a alguém com o reino dos céus prescindindo da redenção de Cristo. O que motiva a queixa de que é infamado, ele a apresentou como resposta à acusação em pauta, pondo a salvo o seu ensinamento. Capítulo 18 - Pelágio não foi condenado pela exposição diante do tribunal, mas pelos ensinamentos posteriores em livros O que de fato é objeto de acusação é não quererem confessar que as crianças não batizadas estejam contaminadas pela condenação do primeiro homem e contraiam o pecado original, necessitando por isso de regeneração. Além disso, é objeto de acusação o ensinamento segundo o qual as crianças devem ser batizadas somente para alcançar o reino dos céus, como se, não obtendo o reino dos céus, possam alcançar somente a morte eterna os que não podem conseguir a vida eterna sem a participação no Corpo e no Sangue do Senhor. É isso de que é acusado no tocante ao batismo das crianças, e não o que ele expôs de modo que pode responder à sua própria proposição de acordo com a sua opinião. - Finalmente, percebei como elabora a resposta e vede as trevas da ambiguidade prepararem refúgio à falsidade, espargindo nevoeiro sobre a verdade, conseguindo que até nós quase nos alegrássemos quando num primeiro momento constatamos ser a expressão da verdade e da exatidão. Mas arrazoados posteriores em seus livros, nos quais, embora tente esconder, vê-se constrangido a revelar às claras, despertaram em nós a suspeita sobre suas intenções, o que nos levou a examinar com mais atenção e encontrar ambiguidades. Depois de dizer que "nunca ele afirmou ou ouviu algum ímpio herege afirmar, sobre o batismo das crianças, tal afirmação, ou seja, a contida na proposição dos adversários", acrescentou em seguida e disse: "Quem é tão ignorante do texto evangélico a ponto de não só intentar afirmar, mas de ser capaz de dizê-lo por leviandade ou mesmo de assim pensar? Além disso, quem é desnaturado que chegue a querer a exclusão do reino dos céus por parte das crianças, ao proibir que sejam batizadas em Cristo e nele renasçam?". Capítulo 19 - A ambiguidade das afirmações oculta a negação da transmissão do pecado original - São palavras inúteis que não o justificam. Nem mesmo eles negaram que as crianças sem batismo não pudessem entrar no reino dos céus. Mas esta não é a questão; a questão é acerca da purificação do pecado original nas crianças. Justifique-se nesse sentido quem não quer confessar o banho da regeneração como tendo algo que purificar. Assim, estejamos atentos ao que vai dizer. Após alegar o testemunho evangélico, segundo o qual quem não renascer da água e do Espírito Santo não pode entrar no reino dos céus (Jo 3,5), a respeito do qual, como dissemos, não há discussão, acrescentou em seguida: "Quem é tão desnaturado que chegue a negar à criança de qualquer idade a redenção universal do gênero humano?". Esta declaração envolve também ambiguidade sobre a qual redenção se refere: se do mal para o bem ou do bom para o melhor. Isso porque Celéstio, em Cartago, confessou no seu opúsculo a redenção das crianças, mas recusou confessar a transmissão do pecado, de Adão para elas. Capítulo 20 - Celéstio ensina que a sorte das crianças não batizadas é a morte eterna - Mas prestai atenção no que diz na continuação: "Quem há que impeça o renascimento para uma vida perpétua e garantida àquele que nasceu para uma vida incerta?", ou seja, quem é tão ímpio a ponto de impedir o renascimento para uma vida perpétua e garantida àquele que nasceu para uma vida incerta? Ao ler pela primeira vez estas palavras, julgamos que como vida incerta queria dizer esta vida temporal, embora nos parecesse que devia dizer antes mortal que incerta, visto que termina com a morte certa. Mas enquanto transcorre esta vida, não se duvida de que seja incerta em todos os seus momentos, chegamos à conclusão que por vida incerta queria dizer mortal. À vista disso, embora se recusasse a confessar abertamente a morte eterna das crianças que deixam esta vida sem o sacramento do batismo, um raciocínio quase correto aliava nossa preocupação sobre o assunto. Pois dizíamos: Se a vida eterna, como parece confessar, só pode ser a dos que foram batizados, consequentemente aqueles que morrem sem o batismo obtêm a morte eterna. E esta não pode ser por justiça a sorte daqueles que nenhum pecado cometeram em sua vida, a não ser que tenham contraído o pecado original. Capítulo 21 - Contradição sobre o batismo infantil entre a resposta de Pelágio às autoridades e o ensinamento em seus livros - Posteriormente, porém, não faltaram irmãos que nos advertiram de que Pelágio pôde dizer isto, visto que se conta que costuma responder aos que lhe perguntam a respeito dessa questão: "As crianças que morrem sem batismo, sei aonde não vão; mas não sei aonde vão". Isto é, sei que não vão para o reino dos céus, mas dizia e diz não saber aonde vão por não se atrever a afirmar que a morte eterna é destino daqueles que sabia não terem cometido nenhum mal, mas não admitia que tivessem contraído o pecado original. Mesmo aquelas palavras enviadas a Roma, para sua total justificação, envolvem tanta ambiguidade, que podem oferecer esconderijo à sua doutrina, de onde brote um sentido herético para armar insídias, quando, não havendo ninguém que seja capaz de responder, encontra alguém desamparado, como se estivesse num lugar ermo. - Além do mais, no livro de confissão de sua fé, enviado a Roma ao mesmo papa Inocêncio junto com a carta, a ele também dirigido, ao querer esconder-se, mais claramente se revelou, dizendo: "Professamos um só batismo, o qual deve ser administrado com as mesmas palavras sacramentais às crianças e aos adultos". Pelo menos não disse: "Com o mesmo sacramento", o qual, se dissesse, seria também ambíguo; mas disse: "com as mesmas palavras sacramentais", como se a remissão dos pecados fosse outorgada às crianças pelo som das palavras, e não tivesse eficácia pelos efeitos dos sinais. Durante algum tempo, considerou-se que suas palavras pareciam concordar com a fé católica, mas não conseguiu enganar até o fim a Sé Apostólica. Depois da resposta do concílio africano, a cuja província aquela pestífera doutrina chegara furtivamente, mas não a atingira extensamente nem nela penetrara tão profundamente, outras proposições vieram à luz graças ao zelo dos fiéis de Roma, onde Pelágio vivera durante muito tempo e onde delas se ocupara nas pregações e discussões. Tais proposições, o papa Zózimo as reuniu, como podeis ler, na carta dirigida a todo o orbe católico e as considerou como execrandas. Pelágio, como comentário à Carta do apóstolo Paulo aos romanos, argumenta assim, dizendo: "Se o pecado de Adão arruinou os que não pecam, a justiça de Cristo beneficia até os não-crentes". E outras sentenças do mesmo naipe que refutamos e pulverizamos nos livros que, com a ajuda de Deus, escrevemos sobre o batismo das crianças. De fato, não se atreveu a objetar essas proposições, mas defendia-as onde era muito conhecido; não conseguira ocultar o que sentia e dizia. Isto mesmo defendia naqueles livros, do primeiro dos quais vos fiz menção anteriormente, ou seja, afirma com certeza e com toda a força da argumentação que não se pode pensar que a natureza humana é corrompida de algum modo nas crianças pela razão da descendência. Assim, atribuindo à natureza a salvação, nega o Salvador. Capítulo 22 - A heresia ganhou terreno; os católicos devem se instruir e opor-lhe resistência - Estando as coisas nesse ponto, pode-se constatar que já existe um ensinamento pestífero e uma doutrina herética, que a Igreja, com a ajuda de Deus, já evita mais abertamente. Pelágio e Celéstio, ou reunidos num lugar de penitência, ou, se recusarem, condenados realmente, são apontados ou mesmo indicados como autores dessa perversidade. E se não são autores, mas aprenderam-na de outros, sejam indiciados pelo menos como defensores e mestres, pois, mediante eles, se estendeu mais amplamente e cresceu com mais força pelas suas palavras e escritos. E, como disso se gloriam, como o comprovam numerosos indícios e a fama que surge e se avoluma por esse motivo, o que resta a fazer é que cada católico, de acordo com a capacidade que recebe de Deus, refute essa epidemia e resista-lhe com espírito prevenido. Quando se virem na necessidade de retrucar, sem espírito de controvérsia, são obrigados a lutar pela verdade, não há outro caminho que instruir os ignorantes e assim redunde em utilidade para a Igreja o que o inimigo tramou para sua ruína, conforme o que diz o Apóstolo: É preciso que haja mesmo cisões entre vós, a fim de que se tornem manifestos entre vós aqueles que são comprovados (1Cor 11,19) Capítulo 23 - É justificável o erro em questões alheias à fé; no entanto a posição de Celéstio contraria a fé - Depois de muito discorrer, mediante meus escritos, contra esse inimigo da graça de Deus, que é outorgada aos pequenos e aos grandes por Jesus Cristo nosso Senhor, agora é mister examinar o que eles sustentam no afã de evitar astutamente a inculpação de heresia, ou seja: "Que esta é uma questão que não ameaça a integridade da fé". Assim, se forem convencidos de se terem desviado da fé, fique parecendo que cometeram não um erro com a conotação de crime, mas um erro facilmente desculpável. Pois assim se expressou Celéstio, em Cartago, conforme as atas eclesiásticas: "Já falei sobre a transmissão do pecado, ou seja, que ouvi a muitos dentro da Igreja Católica que a negam e outros que a defendem. Ainda que seja um assunto controverso, não é uma posição herética. Sempre disse que as crianças necessitam do batismo e que devem ser batizadas. O que mais quer investigar?". Expressou-se nestes termos como querendo significar que, se negasse a necessidade do batismo para as crianças, estaria caindo na heresia. Mas, como confessa que devem ser batizadas, embora não aceite como motivo do batismo o que a verdade ensina, mas o que lhe é estranho, não considera estar no erro e evita ser tachado de herege. Seguiu o mesmo procedimento no opúsculo publicado em Roma. Ao dar explicações sobre sua fé, estendendo-se da Trindade em um só Deus até a ressurreição futura dos mortos, disse tudo o que quis, embora fossem questões alheias à matéria do interrogatório, sobre as quais não se lhe movia ação nenhuma. Quando chegou ao assunto em pauta, disse: "Se surgiram algumas questões fora do campo da fé, sobre as quais há controvérsia entre muitos, eu não as formulei como autor de doutrina com autoridade decisória. O que recebi da fonte dos profetas e apóstolos, apresento para serem apreciadas pelo vosso critério de sucessor dos apóstolos, se, como ser humano que sou, cometi algum deslize por ignorância". Podeis observar que antepôs aquela advertência, a fim de não parecer ter errado em assunto de fé, mas em questões alheias à fé, se fosse surpreendido em algum erro. E se o erro fosse plausível de correção, seria corrigido não como heresia, e o que assim fosse corrigido, dir-se-ia que errou, mas não merecia ser considerado como herege. - Está muito enganado ao emitir essa opinião. Essas questões, que ele considera alheias à fé, são bem diferentes daquelas em que, resguardada a fé que nos faz cristãos, ou se ignora o que seja verdadeiro e se suspende o juízo definitivo, ou se conjetura que seja diferente com base na suposição humana. Por exemplo: quando se pergunta como era e onde estava o paraíso criado por Deus para o homem formado do limo da terra, apesar de a fé cristã não duvidar de sua existência; ou quando se pergunta onde está Elias ou Enoc, se ali ou em qualquer outro lugar, mas não duvidando de que vivam revestidos do corpo com o qual nasceram; ou quando se pergunta se o Apóstolo foi arrebatado ao terceiro céu no corpo ou fora do corpo, embora seja esta uma pergunta petulante dos desejosos de saber, quando o que foi favorecido, sem prejuízo da fé, atesta que não sabia (2Cor 12,2); ou quando se pergunta quantos são os céus, se o Apóstolo declara que foi arrebatado ao terceiro; ou se os elementos deste mundo visível são quatro ou são mais; ou o que provoca eclipses do sol ou da lua, os quais os astrônomos costumam antecipar de acordo com determinado cômputo dos tempos. Outros exemplos. Os antigos viveram tantos anos, conforme testemunho da Escritura, pelo fato de começarem a gerar filhos mais tardiamente em proporção à longa idade? Onde será que Matusalém viveu, pois não esteve na Arca, e, no entanto, segundo vários códices gregos e latinos, pela idade indicada sobreviveu ao dilúvio? Ou se há de dar crédito a uns poucos, ou mesmo raríssimos, segundo os quais o número de anos registrado para Matusalém revela ter ele falecido antes do dilúvio? Quem não compreende que, sem prejuízo da fé, se ignoram muitas coisas e que em algo se pode errar sem nenhuma ofensa dogmática nestas e em outras muitas e mesmo inumeráveis questões semelhantes, pertençam elas às incompreensíveis obras de Deus ou aos ocultos mistérios das Escrituras, as quais é difícil definir e encerrar em determinado gênero ou categoria? Capítulo 24 - Explanação dos postulados da verdadeira fé - A fé consiste propriamente na relação de dois homens. Pelo primeiro fomos feitos escravos do pecado, pelo segundo somos resgatados do pecado; por um, fomos precipitados na morte; pelo outro somos libertados para a vida; aquele nos levou à perdição fazendo sua vontade, e não a daquele que o criou; este nos salvou fazendo não a sua, mas a vontade daquele que o enviou (Jo 4,34; 5,30) Portanto, na relação destes dois homens consiste propriamente a fé cristã. Um é Deus e o único mediador de Deus e dos homens, o homem Cristo Jesus (1Tm 2,5). Porque não há sob o céu outro nome dado aos homens pelo qual devemos ser salvos (At 4,12), e dele Deus fez o centro da fé para todos, ressuscitando-o dos mortos (At 17,31) Portanto, a fé cristã não duvida de que, sem esta fé, ou seja, sem a fé no único mediador de Deus e dos homens, Cristo Jesus; sem a fé, digo eu, na sua ressurreição, a qual Deus estabeleceu para todos e que não pode ser objeto de fé verdadeira sem sua encarnação e morte; sem a fé, portanto, na encarnação, morte e ressurreição de Cristo, nem os antigos justos, para que fossem justos, se purificariam de seus pecados e se justificariam pela graça de Deus. A mesma purificação e justificação não puderam alcançar tanto os justos mencionados na santa Escritura, como os não-lembrados, mas sem dúvida existiram ou antes do dilúvio ou depois até a entrega da Lei ou no tempo da vigência da Lei, não somente com relação aos filhos de Israel, como foram os profetas, mas também aos de outros povos, como foi Jó. Seu coração purificava-se pela fé no Mediador e difundia-se neles a caridade pelo Espírito Santo (Rm 5,5), que sopra onde quer (Jo 3,6), e não de acordo com os merecimentos, pois ele é a origem dos merecimentos. A graça de Deus não será graça de forma alguma, se não for totalmente gratuita. - De fato, a morte reinou de Adão até Moisés (Rm 7,14), porque não a pôde vencer nem a Lei dada por Moisés, pois não se deu uma Lei que pudesse infundir a vida, mas uma Lei que deveria mostrar que os mortos, para os quais a graça seria necessária para infundir a vida, não somente foram jogados ao chão pela propagação e domínio do pecado, mas também subjugados pela prevaricação acrescentada pela própria Lei. Contudo, a Lei não foi dada para ruína daquele que compreendesse esse plano da misericórdia de Deus, mas para que o destinado ao suplício pelo reinado da morte e também descoberto a si mesmo pela violação da Lei, procurasse a ajuda de Deus, a fim de que onde avultou o pecado, superabundasse a graça (Rm 5,20), a única capaz de libertar do corpo desta morte (Rm 7,24-25) Capítulo 25 - Sob a Lei os homens de boa vontade eram justificados mediante a fé no futuro Messias Ainda que a Lei dada por Deus não pôde arrancar nenhum homem do reino da morte, existiam homens de Deus no tempo da Lei, não sob a Lei que infundia terror, que acusava, que castigava, mas sob a graça que atrai, cura e liberta. Existiam os que assim diziam: Eis que nasci na culpa, e minha mãe concebeu-me no pecado (Sl 51,7); e Nada há intacto nos meus ossos, por causa do meu pecado (Sl 38,4); e Cria em mim, ó Deus, um coração puro e renova em mim um espírito firme (Sl 51,12); e Não retires de mim o teu espírito santo (Sl 51,13) Havia os que diziam: Tive confiança, mesmo quando disse: "Estou muito aflito" (Sl 116,10) Eram purificados pela mesma fé com que somos purificados. Daí o dizer do Apóstolo: Por conseguinte, tendo o mesmo espírito de fé a respeito do qual está escrito: "Acreditei, por isso falei", cremos também nós, e por isso falamos (2Cor 4,13). Pela forma da mesma fé se dizia: Uma virgem conceberá e dará à luz um filho, e o seu nome será Emanuel (Is 7,14; Mt 1,23). Conforme a mesma fé, dizia-se de Cristo: Que sai como um esposo de seu tálamo, dá saltos como gigante a percorrer o seu caminho. A sua saída é desde uma extremidade do céu, e o seu giro até a outra extremidade, e nada se pode subtrair do seu calor (Sl 19,6-7). Segundo a mesma fé, dizia-se a Cristo: O teu trono é de Deus, subsistirá por todos os séculos, o cetro do teu reino é um cetro de equidade. Amas a justiça e aborreces a iniquidade; por isso te ungiu Deus, o teu Deus, com óleo de alegria, de preferência aos teus companheiros (Sl 45,7-8) Pelo mesmo espírito de fé, viam as coisas futuras em que nós acreditamos já realizadas. Os que no-las profetizaram com amor fiel não puderam ser delas participantes. Qual a razão do dizer do apóstolo Pedro: Por que agora tentais a Deus, querendo impor aos discípulos um jugo que nem vossos pais, nem nós tivemos a força de suportar? Aliás, é pela graça do Senhor Jesus que acreditamos ser salvos, exatamente como eles? (At 15,10-11). Não é porque eles se salvaram pela graça do Senhor Jesus Cristo, e não pela Lei de Moisés que trouxe não a cura, mas o conhecimento do pecado? Daí o dizer do Apóstolo: Agora, porém, independente-mente da Lei, se manifestou a justiça de Deus, testemunhada pela Lei e pelos Profetas (Rm 3,21). Se agora se manifestou, é porque então existia, embora oculta. Essa característica era significada pelo véu do templo, que, para significar a revelação da justiça, rasgou-se à morte de Cristo. Portanto, a graça do único Mediador de Deus e dos homens, Cristo Jesus, já privilegiava então o povo de Deus. Mas, como a chuva no velocino, ocultava-se a graça, a qual Deus reserva para os seus herdeiros (Sl 68,10), não como algo devido, mas como manifestação de sua vontade. Agora, porém, enxuto o velocino, por assim dizer, ou seja, reprovado o povo judeu, aparece descoberta a todos os povos como que exposta ao ar livre. Capítulo 26 - Os justos do Antigo Testamento foram salvos pela graça da futura encarnação de Cristo; foram também membros do corpo de Cristo - Não dividamos as épocas, como Pelágio e seu discípulo o fizeram, quando dizem: "Que os homens justos viveram primeiramente conforme a natureza, depois sob a Lei e, finalmente, sob a graça". O homem viveu conforme a natureza, querem eles dizer, do tempo de Adão e no longo período depois transcorrido em que a Lei ainda não fora dada. Continuam eles dizendo: "Naquele tempo conhecia-se o Criador à luz da razão, e o modo de viver levava-se escrito nos corações, não com as letras da Lei, mas da natureza. Mas, corrompidos os costumes - continuam eles - quando a natureza deixou de ser suficiente, foi outorgada a Lei, pela qual, como a lua, assim a natureza fosse restituída ao antigo fulgor com a remoção da ferrugem. Mas posteriormente - como eles discorrem - prevaleceu tão excessivo hábito de pecar e, como a Lei não tinha eficácia para curá-la, veio Cristo e, como a um doente desenganado, o médico a curou não pelos seus discípulos, mas por si mesmo". - Nessa exposição, empenham-se em excluir os justos antigos da graça do Mediador, como se o homem Cristo Jesus não tivesse sido o Mediador de Deus e daqueles homens pelo fato de ainda não se ter revestido da carne humana, e não existia como criatura humana no tempo em que aqueles justos viveram. Se assim fosse, o Apóstolo não diria: Visto que a morte veio por um homem, também por um homem vem a ressurreição dos mortos. Pois assim como todos morrem em Adão, em Cristo todos receberão a vida (1Cor 15,21-22) E se os antigos justos, consoante as palavras ocas de Pelágio e Celéstio, bastando-lhes a natureza, não necessitaram do Mediador, o homem Cristo, pelo qual seriam reconciliados com Deus, também não receberão a vida por meio dele, a cujo corpo e membros não pertencem em conformidade com o objetivo por ele proposto de se fazer homem pelos homens. Contudo, como a Verdade fala pelos seus apóstolos: assim como todos morrem em Adão, em Cristo todos receberão a vida, visto que a morte veio por um homem, também por um homem vem a ressurreição, quem se atreve a duvidar que também aqueles justos ressuscitarão da vida eterna e não da morte eterna, porque em Cristo receberão a vida, já que nos tempos primitivos agradaram a Deus? E quem duvidará que em Cristo receberão a vida, se já pertencem ao corpo de Cristo e Cristo é sua Cabeça? E é sua Cabeça porque há um único mediador de Deus e dos homens, o homem Cristo Jesus. E não o teriam como mediador se, pela sua graça, não tivessem acreditado em sua ressurreição. Como poderia isso suceder, se tivessem ignorado que ele haveria de vir em carne humana, e não tivessem vivido na justiça e na piedade em virtude da fé? E se a eles não beneficiou a encarnação de Cristo porque ainda não se dera, também a nós não favorece o julgamento de Cristo sobre os vivos e os mortos, porque ainda não se deu. E se nós estaremos à direita de Cristo pela fé neste juízo futuro, portanto ainda não realizado, pela mesma razão os justos antigos são membros de Cristo pela futura encarnação, portanto ainda não efetuada. Capítulo 27 - A visão do dia de Cristo desejado por Abraão refere-se à sua encarnação - E não se há de crer que os antigos justos foram beneficiados somente pela divindade de Cristo, que nunca deixou de existir, e não pela revelação de sua humanidade que ainda não se dera. Pois, pelo que o Senhor disse: Abraão, vosso pai, desejou ver o meu dia. Ele o viu e encheu-se de alegria (Jo 8,56), se por seu dia quis dar a entender seu tempo, então testemunhou em favor de Abraão afirmando sua fé na encarnação. Com efeito, pela encarnação viveu no tempo, mas pela divindade excede todo o tempo, visto que por ela foram feitos todos os tempos. Se alguém pensar que se deva entender o dia sempiterno, ao qual o amanhã não põe limites e o dia de ontem não o precede, isto é, a própria eternidade na qual é coeterno ao Pai, como explicar que Abraão o desejou, se não se admitir que conhecera a futura mortalidade daquele a cuja eternidade aspirava? Alguém poderia pensar em restringir o sentido daquelas palavras de tal modo que a afirmação do Senhor: Desejou o meu dia, deve-se entender: "desejou a mim", que sou o dia eterno, ou seja, a luz indefectível. Nesse caso teria o mesmo sentido de "vida do Filho", da qual fala o Evangelho ao dizer: Também concedeu ao Filho ter a vida em si mesmo (Jo 5,26), não se entendendo que ele seja uma coisa, e outra sua vida, entendendo-se por vida o mesmo Filho, que disse: Eu sou o caminho, a verdade e a vida (Jo 14,6), e do qual se disse: Este é o Deus verdadeiro e a vida eterna (1Jo 5,20) Interpretando-se assim, Abraão desejou ver a divindade igual ao Pai e não teve conhecimento prévio de sua encarnação, como sucedeu a alguns filósofos que o procuraram sem nada saber de sua vida na carne. À vista dessa hipótese, pergunto: acaso a ordem de Abraão a seu servo de pôr sua mão por debaixo de sua coxa e jurar pelo Deus do céu (Gn 24,2-3), entenderá alguém retamente, se não considerar um sinal de que Abraão sabia que a carne, na qual viria o Deus do céu, descenderia daquele músculo? Capítulo 28 - Comprovação do mesmo pelo testemunho de Melquisedec. - Cristo é mediador de todos os que morreram em Adão - Melquisedec, ao abençoar Abraão (Gn 14,18-20), deu um testemunho muito do conhecimento dos fiéis cristãos acerca dessa carne e desse sangue, de tal modo que muito tempo depois era afirmado de Cristo nos salmos, mas ainda não se dera e era, portanto, coisa do futuro. Essa afirmação representava a fé que é a mesma, de nossos pais e a nossa. Tu és sacerdote eternamente segundo a ordem de Melquisedec (Sl 110,4) Portanto, os que em Adão encontram a morte, por isso Cristo os beneficia, porque é mediador para a vida. Não mediador pelo fato de ser igual ao Pai, visto que sob esse aspecto dista tanto de nós quanto do Pai. E como pode haver mediação havendo tanta distância? Por isso o Apóstolo não disse: Um só mediador entre Deus e os homens: Cristo Jesus, mas o homem Cristo Jesus (1Tm 2,5). É mediador, porque é homem: inferior ao Pai por estar mais próximo de nós; superior a nós por estar mais próximo de Deus. Isso mesmo se expressa mais claramente deste modo: inferior ao Pai na forma de servo; superior a nós, porque é livre da mancha do pecado. Capítulo 29 - Os que negam o pecado original são inimigos da graça. - O pecado generalizado no Antigo Testamento comprova a transmissão do pecado original - Pode-se concluir que merecem ser apontados como inimigos da graça de Deus os que defendem que a natureza, em qualquer idade, não necessita de médico, e que afirmam não ter sido ela corrompida no primeiro Adão. Este ponto deve ser considerado não como um assunto em que, salvaguardada a fé, pode-se duvidar ou errar, mas um assunto que atinge a própria profissão de fé, pela qual somos cristãos. Mas, por que razão a natureza humana daquela época é enaltecida pelos pelagianos, como se fosse menos viciada pelos maus costumes? Não consideram que os homens estavam mergulhados em tão grandes e inumeráveis pecados que, por justo juízo de Deus, o mundo todo foi destruído pelo dilúvio, com exceção de um casal com seus três filhos e três noras, do mesmo modo que o foi posteriormente pelo fogo a pequena região de Sodoma? (Gn 7 e 19) Com efeito, desde o tempo em que por meio de um só homem o pecado entrou no mundo e, pelo pecado, a morte, e assim a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram (Rm 5,12), toda a massa de perdição tornou-se possessão do corruptor ("Massa de perdição" - Agostinho se inspirou em Rm 9,21. O oleiro não pode formar de sua massa seja um utensílio para uso nobre, seja outro para uso vil? Na ideia de massa, esconde-se a solidariedade de todos os homens em Adão na origem, no pecado e na condenação ou na culpa e pena. Às vezes, Agostinho fala da "massa de condenação" e outras em "massa do pecado" . O homem só poderá ser excluído desta massa de condenação pelos méritos de Jesus Cristo, isto é, pela "graça de Cristo". Desse modo, ele justifica a condenação das crianças não batizadas pelo fato de pertencerem à essa "massa de perdição", cf adiante, capítulo 31). Assim, ninguém, absolutamente ninguém desde então, se isentou ou se isenta ou se isentará do pecado, a não ser pela graça do Redentor. Capítulo 30 - A circuncisão era o sinal da justiça pela fé - A Escritura não revela se antes de Abraão os justos e seus filhos eram marcados com algum sinal visível no corpo. Contudo, Abraão recebeu o sinal da circuncisão, selo da justiça pela fé (Rm 4,11) E o recebeu de tal modo que, dali em diante, todos os descendentes de sua casa deveriam ser circuncidados logo ao nascer, no oitavo dia após terem vindo ao mundo. E aqueles que ainda não eram capazes de crer para alcançar a justiça, deveriam também receber o sinete da justiça pela fé. A ordem foi dada sob tão terrível ameaça que, segundo o mandato de Deus, deveria ser excluída de seu povo a pessoa não circuncidada no prepúcio até o oitavo dia (Gn 17) Uma reflexão sobre a justiça desse horrível castigo não desmorona, rechaçada e desfeita, toda argumentação dos pelagianos, por mais astuciosa que seja, sobre o livre-arbítrio e a exaltada pureza e sublimado vigor da natureza? Que mal, pergunto eu, cometeu uma criança pela sua própria vontade que, por negligência de outro, não foi circuncidada, e ela seja condenada com castigo tão severo, qual seja a exclusão do povo de Deus? Não há exemplo de ameaça com morte temporal, visto que, no tocante aos justos, quando morriam, dizia-se então: Foi unir-se ao seu povo (Gn 25,17), ou: Foi unir-se com seus pais (1Mc 2,69). A pessoa passava a não ter medo de nada que a separasse do seu povo, se seu povo era o próprio povo de Deus. Capítulo 31 - O rigor contra os não-circuncidados, sinal da herança do pecado original - O que significa tão severa condenação sem se haver cometido nenhum pecado por vontade própria? Não se opine, como alguns da escola de Platão, que se retribui à alma de cada criança segundo o que cometeu por vontade própria antes desta vida, quando tinha, antes deste corpo, total liberdade para viver bem ou mal. Esta opinião contraria a do Apóstolo, que ensina claramente que, antes do seu nascimento, as crianças não haviam praticado nem o bem nem o mal (Cl 10,4) Portanto, por que a criança é castigada justamente com aquela exclusão, senão porque pertence à massa da perdição? E com razão é tida como nascida de Adão e condenada pelo vínculo da antiga culpa, se não for libertada dessa situação, não por merecimento próprio, mas pela graça. Qual graça, senão a graça de Deus por Jesus Cristo nosso Senhor, do qual, assim como os demais sinais antigos, a circuncisão do prepúcio foi uma figura? Com efeito, o oitavo dia é, na sucessão das semanas, o domingo, no qual Cristo ressuscitou, e a pedra era Cristo (Rm 6,6) Daí o fato de ser de pedra o cutelo da circuncisão, e a carne do prepúcio, corpo do pecado. Capítulo 32 - A circuncisão equivale ao batismo - Assim, sendo outros os sinais depois que veio aquele, cuja vinda era significada pelos antigos, não mudou, no entanto, o Mediador. Antes de sua vinda na carne, libertava os antigos membros pela fé na sua encarnação, e agora nós também, mortos pelos pecados e pelo prepúcio de nossa carne, fomos vivificados juntamente com Cristo. Nele fomos circuncidados pela circuncisão não feita pela mão (Cl 2,11), figurada pela circuncisão assim feita, para destruição do corpo de pecado (Rm 6,6) com o qual nascemos de Adão. A descendência de uma origem culpada traz-nos condenação, se não somos purificados pela semelhança da carne do pecado, na qual foi enviado sem pecado aquele que, feito pecado por causa dos homens, condenou o pecado procedente do pecado. Daí o dizer do Apóstolo: Em nome de Cristo suplicamo-vos: reconciliai-vos com Deus. Aquele que não conhecera o pecado, Deus o fez pecado por causa de nós, a fim de que, por ele, nos tornemos justiça de Deus (2Cor 5,20-21) E foi imolado por nossos pecados, não tendo nenhum pecado, o único entre os homens, para o qual já então se buscava entre os animais aquele que pudesse significar o único sem pecado, que viria para curar os pecados. Portanto, em qualquer dia, após seu nascimento, em que a criança for batizada em Cristo, equivale à circuncisão no oitavo dia, pois é circuncidada naquele que ressuscitou após três dias de sua crucificação, mas no oitavo dia da semana. É circuncidada pelo desvestimento da natureza carnal (Cl 2,11), isto é, para que a graça da regeneração espiritual perdoe a dívida contraída pelo contágio da geração carnal. Ninguém está limpo da mancha (de que mancha, senão do pecado?); nem a criança cuja vida é de um dia sobre a terra (Jó 14,4) (A Bíblia de Jerusalém traduz esse versículo: "Quem fará sair o puro do impuro? Ninguém!", e acrescenta em nota: "Já reconhece a impureza inerente ao homem... A ênfase é posta na impureza física contraída pelo homem desde sua concepção e seu nascimento , porém, essa impureza implica uma fraqueza moral, uma propensão ao pecado, e a exegese cristã viu nesta passagem pelo menos uma alusão ao pecado original, transmitido pela geração - cf Rm 5,12) Capítulo 33 - Em resposta a uma argumentação pelagiana, mostra a bondade da natureza e a maldade do pecado - Assim argumentam os pelagianos: "Portanto, o casamento é um mal e não é obra de Deus o ser humano gerado no casamento". Pensam que o bem do casamento seja o mal da concupiscência, pela qual se amam os esposos que desconhecem a Deus, procedimento que o Apóstolo proíbe (1Ts 4,5) O bem do matrimônio é a castidade conjugal, pela qual a sensualidade se restringe ao bom uso regular da procriação de filhos. Ainda mais, pode ser obra de Deus tanto o ser humano procriado no casamento como o fruto da fornicação ou do adultério. Mas nesta questão, onde se indaga não aquilo que necessita de criador, mas de salvador, não se há de considerar o que há de bom na procriação de uma natureza, mas o que há de mau no pecado que certamente contamina a natureza. Ambos se propagam juntos, ou seja, a natureza e o pecado da natureza, dos quais a primeira é um bem, e o segundo, um mal. Aquela se recebe da liberalidade de Deus, este provém da condenação da origem; aquela tem por causa a vontade de Deus sumo, este, a vontade depravada do primeiro homem; uma indica Deus como formador da criatura; o outro indica Deus como castigador da desobediência; finalmente, o mesmo e próprio Cristo, para curar a primeira, é autor do homem; para curar o segundo, fez-se homem. Capítulo 34 - As obras de Deus são sempre boas, mesmo que os intermediários sejam maus. - A nudez no Éden após o pecado - Portanto, o matrimônio é um bem em tudo o que lhe é peculiar. São três as peculiaridades: o preceito da procriação, a fidelidade conjugal e o sacramento da união. Sobre o preceito da procriação, está escrito: Desejo que as jovens viúvas se casem, criem filhos, dirijam suas casas (1Tm 5,14). Sobre a fidelidade conjugal: A mulher não dispõe de seu corpo, mas é o marido quem dispõe; do mesmo modo, o marido não dispõe de seu corpo, mas é a mulher quem dispõe (1Cor 7,4). Sobre o sacramento da união: Que o homem não separe o que Deus uniu (Mt 19,6) Sobre tudo isso, lembramo-nos de que, conforme Deus nos ajudou, já dissertamos bastante em outros livros nossos, que não vos são desconhecidos (Agostinho se refere, principalmente, à sua obra De bono conjugali, número 3, seguintes). Pelo qual dizemos com o Apóstolo: O matrimônio seja honrado por todos, e o leito conjugal, sem mancha (Hb 13,4) Sendo o matrimônio um bem, faz muito bem mesmo com relação ao mal da sensualidade, visto que não é a sensualidade que faz bom uso da sensualidade, mas é a razão. A sensualidade consiste, como observa o Apóstolo, na lei que peleja contra a lei da razão, e é a lei dos membros desobedientes; mas a razão, quando se utiliza retamente da sensualidade, faz parte da lei do matrimônio. Se nenhum bem pudesse resultar do mal, Deus não formaria o ser humano da união adulterina. Portanto, assim como o mal culpável do adultério, do qual nasce um ser humano, não se pode imputar a Deus, o qual na má ação do homem realiza uma boa ação, assim tudo o que há de vergonhoso na desobediência dos membros (Adão e Eva), da qual se envergonharam depois do pecado cobrindo os mesmos membros com folhas de figueira (Gn 3,7), não se imputa ao matrimônio. Devido ao matrimônio, a união conjugal não é somente lícita, mas também útil e honesta. Mas deve-se imputar ao pecado da desobediência, ao qual se seguiu este castigo, que o homem desobediente a Deus sinta seus membros desobedientes a ele próprio. Envergonhando-se deles, cuidou de cobri-los porque se excitavam, não ao arbítrio da vontade, mas ao estímulo da sensualidade, como se fosse a própria vontade. E o homem, sem dúvida, não deveu envergonhar-se da obra de Deus. Em caso contrário, seria causa de vergonha para o ser criado o que a Deus parecia digno. Assim nem a Deus nem ao homem ofendia aquela nudez natural, pelo fato de nada haver de vergonhoso, visto que nada houve antes que merecesse castigo. Capítulo 35 - O matrimônio existia antes do pecado sem as consequências da sensualidade - Não há dúvida de que existia o casamento antes do pecado. Tendo isso em vista, como seu auxiliar o homem recebeu não outro homem, mas a mulher. E as palavras de Deus: Crescei e multiplicai-vos (Gn 1,28), não representam a predição de pecados culpáveis, mas a bênção de matrimônio fecundo. Mediante essas suas inefáveis palavras, isto é, por esses divinos mandamentos, que vieram na verdade de sua sabedoria, Deus, que tudo criou, introduziu a potência do sêmen nos primeiros homens. Mas se a natureza não se tivesse degradado pelo pecado, longe de nós pensar que o matrimônio no paraíso fosse de tal ordem que, para a procriação da prole, os órgãos genitais se excitariam pelo ímpeto da sensualidade e não por ordem da vontade, como o pé para andar, as mãos para fazer algo e a língua para falar. Nem, como acontece agora, a integridade virginal não se deterioraria na concepção dos fetos pela força do ardor impetuoso, mas cederia ao mando do amor tranquilo. Não haveria a dor e o sangue da virgem na relação matrimonial, como também não haveria os gemidos da mãe ao dar à luz. Há dificuldade em se acreditar nesses pormenores, visto que não se podem verificar na atual condição da mortalidade. Degenerada a natureza pelo pecado, não se encontram exemplos daquela pureza primitiva. Mas falamos a fiéis que aprenderam a dar crédito às palavras divinas, mesmo sem exemplos em que se fundamente a verdade. Como poderei demonstrar agora que o homem foi criado do limo da terra sem o concurso de pais, e que a esposa foi formada de seu costado? Tenha-se em conta, de princípio, que a fé acredita no que o olho não vê (Agostinho, como aliás todos os Padres da Igreja, era prisioneiro do marco cultural da época. Suas expressões devem ser liberadas de muitos elementos caducos como a historicidade do paraíso ou de Adão, da expulsão do paraíso. Estes mitos eram a expressão popular e metafórica daquilo que não é nem mais nem menos que a limitação da natureza humana. O homem, pelo fato de ser criatura, é ser dependente, frágil, perecível, limitado e sujeito às tentações e ao pecado) Capítulo 36 - Depois do pecado, são incompreensíveis os atos de casamento com a pureza original - É impossível também fazer compreender a serenidade no primeiro casamento, sem a paixão da sensualidade, e o movimento dos órgãos genitais, assim como dos outros membros, não pela excitação do ardor desenfreado, mas pelo arbítrio da vontade (como seria ainda a união conjugal, se não houvesse a injúria do pecado). Mas a impossibilidade em fazer compreender não impede que com razão se dê crédito ao que está escrito por autoridade de Deus. Não se dá agora uma relação carnal sem o prurido da concupiscência, assim como não acontece um parto sem dor e gemidos, e que alguém venha ao mundo isento da morte futura. Contudo, conforme a verdade das santas Escrituras, não haveria o gemido da parturiente nem a morte dos homens, se não houvesse o pecado, não haveria motivo de se envergonharem os que cobriram os membros, pois nas mesmas santas Letras assim está escrito que aconteceu depois do pecado. Assim, se o movimento desonesto não lhes houvesse chamado a atenção para os membros por meio dos olhos, que não estavam fechados, mas também não estavam abertos, ou seja, atentos, nada teriam sentido de vergonhoso e não teriam necessidade de cobrir seu corpo, o qual Deus fizera integralmente decente. Isso porque, se não precedesse o crime, que a desobediência ousara cometer, não viria depois a ação desonesta que o pudor pretendia cobrir. Capítulo 36 - O ilícito do matrimônio não provém da instituição, mas da tentação e da vontade - É claro, portanto, que tudo isso não se há de imputar ao matrimônio; se não tivesse havido o pecado, o matrimônio, contudo existia, e seu bem não lhe é tirado por esse mal, visto que, pelo casamento, esse mal destina-se a um uso honesto. Porém, pelo fato de, na atual condição dos mortais, andarem juntos a relação carnal e a sensualidade, aqueles que não querem ou não sabem distinguir essas coisas, são levados a não considerar como lícito e honesto o matrimônio, pelo fato de se censurar a sensualidade. E não percebem que um é o bem do matrimônio, do qual ele se gloria, ou seja, a prole, a castidade conjugal e o sacramento, e outra coisa é não um mal do casamento, mas concupiscência carnal, da qual o casamento também se envergonha. Mas sem esse mal não se verifica o bem do casamento, ou seja, a procriação de filhos. Por isso, quando se leva a efeito tal operação, procura-se a privacidade, dispensam-se as testemunhas, evita-se a presença dos próprios filhos, se já nasceram alguns, quando estão na idade de compreenderem essa operação. Assim ao casamento é permitido praticar o que é lícito, mas de modo que não se deixe de esconder o que é contra o pudor. Daí se conclui que não nasçam sem o contágio do pecado as crianças, as quais não são capazes de pecado. Essa constatação não tem fundamento no lícito, mas no ilícito. Do que é lícito, nasce a natureza; do que é ilícito, o pecado. O autor da natureza, que nasce, é Deus, que criou o homem e uniu o homem e a mulher pelo direito nupcial; o autor do pecado é a astúcia do diabo enganador e também a vontade do homem que consente. Capítulo 38 - O uso da sexualidade no matrimônio é legítimo - Deus não é autor de nada disso, a não ser da condenação, por justo juízo, do homem deliberadamente pecador e de sua descendência. Assim, o que ainda não havia nascido, é condenado com justiça na raiz prevaricadora. A geração humana submete a criatura humana a essa raiz condenada, da qual a liberta somente a regeneração espiritual. Desse modo, essa raiz condenada de forma alguma prejudicará os pais, se perseverarem na graça recebida pela remissão dos pecados. Isso se não se relacionarem sexualmente não somente mediante alguma corrupção ilícita, mas também se realizarem o ato conjugal não levados pela intenção de procriar filhos, mas do desejo de saciar a concupiscência com o prazer carnal. Com a finalidade de evitar infidelidades, o Apóstolo, por condescendência, não por mandato, concede aos maridos e esposas a não se recusarem um ao outro, a não ser de comum acordo e por algum tempo, para se entregarem à oração. É evidente que a condescendência implica alguma culpa. A relação sexual dos cônjuges, regulada também pelas leis matrimoniais e que tem por objetivo a procriação de filhos, é honesta não somente comparada à fornicação, mas também por si mesma. Mas, devido ao corpo de pecado, ainda não renovado pela ressurreição, é realizada com alguma excitação animal, da qual se envergonha a natureza humana. Contudo, essa relação não é pecado, sempre que a razão lança mão da sensualidade para o bem e não se deixa vencer pelo mal. Capítulo 39 - A concupiscência é transmitida pela geração. - A rege-neração iniciada no batismo é completada pela ressurreição - A concupiscência da carne seria prejudicial somente pelo fato de fazer parte da natureza humana, se a remissão dos pecados não favorecesse de modo tal que, existindo no nascido e no renascido, existe e prejudica ao nascido, e, no renascido, apenas existe. E desfavorece de tal modo os nascidos que, se não renascerem, nenhum proveito lhes traz o fato de terem nascido de renascidos. Com efeito, a concupiscência permanece na prole e a faz adquirir o reato do pecado de origem, ainda que o reato do mesmo pecado nos pais tenha sido purificado pela remissão dos pecados, até que todo pecado que se comete deliberadamente seja destruído pela última regeneração (Batizados, os pais estão livres da condição de réus, isto é, foram remidos, regenerados pelo batismo. Contudo, mesmo purificados ou santificados, não podem gerar filhos inocentes, puros. Estes nascem manchados pelo pecado original e até não serem batizados permanecerão no estado de réus, na condição de acusados-condenados. É isso que Agostinho chama de "reato do pecado de origem"). Esta regeneração é prometida para a futura ressurreição, quando não somente não cometeremos pecados, mas também não teremos desejos pecaminosos que nos levam a consentir nos pecados. A essa bem-aventurada perfeição chega-se pela graça do banho sagrado que aqui nos é administrado. Por esta regeneração do espírito, nesta vida conferida, todos os pecados passados alcançam remissão, e também, pelo seu merecimento, alcançar-se-á a regeneração da carne para a vida eterna, pela qual, ressurgindo incorruptível na mesma carne, apaziguar-se-ão os incentivos de todos os pecados. Mas esta cura até agora se realizou apenas na esperança, não se a goza na realidade; não se possui pela presença, mas se espera pela paciência. Capítulo 40 - A regeneração dos pais não purifica a geração dos filhos. - O rito batismal indica a transmissão do pecado original. - Pelo pecado o homem se animaliza. Comparação para provar a tese São apagados pelo mesmo banho do batismo não somente todos os pecados dos quais se obtém agora a remissão nesse sacramento, dos quais se adquire o reato quando há consentimento nos desejos pecaminosos e pecamos, mas também os próprios maus desejos que, não consentidos, não implicam culpabilidade, e que deixarão de existir, não nesta, mas na outra vida. - O reato de pecado, do qual falamos, subsistirá na prole carnal dos regenerados até serem apagados pelo banho da regeneração. O regenerado, no entanto, não regenera os filhos da carne, mas apenas os gera, e por isso lhes transmite o reato não pelo fato de ele ter sido regenerado, mas sim por ter gerado. Assim, pois, seja um réu infiel, seja um réu justificado, ambos não geram filhos justificados, mas réus, como acontece com as sementes do azambujeiro e de oliveira, as quais não produzem oliveiras, mas azambujeiros. O primeiro nascimento sujeita a pessoa à condenação, da qual somente o segundo a liberta. Sujeita-a o diabo, liberta-a o Cristo; sujeita-a o sedutor de Eva, liberta-a o Filho de Maria; sujeita-a o que pela mulher veio até o homem, liberta-a o que nasceu de uma esposa que não conheceu varão; sujeita-a o que introduziu na mulher a causa da sensualidade, liberta-a o que sem sensualidade foi concebido em mulher. O demônio pôde a todos manter cativos por meio de um apenas; apenas um pode libertar de sua dominação, aquele a quem não conseguiu dominar. Finalmente, os próprios sacramentos da Igreja, que ela continua a conferir pela autoridade de tão antiga tradição e que os pelagianos não se atrevem a rejeitar, embora considerem que para as crianças devem ser administrados mais por simulação que em realidade, os mesmos sacramentos, repito, indicam claramente que as crianças, mesmo as que acabam de nascer, são libertadas da escravidão do diabo pela graça de Cristo. Além de serem batizadas para a remissão dos pecados não com um sacramento simulado, mas verdadeiro, antes são exorcizadas, e o poder diabólico é expulso pelo sopro ritual. Além disso, pelas palavras de quem as leva à pia batismal, respondem que renunciam ao demônio. Mediante todos estes sagrados e evidentes sinais de coisas ocultas, pretende-se revelar que as crianças passam do péssimo escravizador ao ótimo redentor, o qual, tendo-se revestido de nossa fraqueza por causa de nós, amarrou o forte para roubar seus pertences (Mt 12,29). A fraqueza de Deus é mais forte que os homens (1Cor 1,25) e também mais que os anjos. Deus, libertando os pequenos com os grandes, mostrou em uns e outros o que a Verdade falou pelo Apóstolo. Pois ele arrancou do poder das trevas não só os adultos, mas também as crianças, para as transferir para o reino do Filho do seu amor (Cl 1,13) - E ninguém se admire e diga: "Por que Deus cria o que será possessão da malignidade diabólica?". Sucede que procede com as sementes de suas criaturas com a mesma bondade com que faz o sol nascer para os bons e os maus, e faz cair a chuva sobre os justos e os injustos (Mt 5,45). Por esta mesma bondade abençoou também as próprias sementes, ou melhor, criou-as com sua bênção, a qual não foi retirada à natureza digna de louvor pela culpa digna de condenação. Esta culpa, embora tenha tido poder, pela justiça de Deus que castigou, de fazer com que os seres humanos nascessem com o pecado original, no entanto, não teve o poder de fazer com que não nascessem. Produz-se do mesmo modo como nos adultos: os pecados não os privam da condição de seres humanos, mas a obra de Deus permanece, por maiores que sejam as más obras dos ímpios. O homem, tão honrado por Deus na criação, mas que não o compreendeu, é comparado aos animais e se torna semelhante a eles (Sl 49,13), porém, não tão semelhante a ponto de se tornar um animal. A comparação é devida ao pecado, e não à natureza, assim como não se compara ao vício do animal, mas à sua natureza. A excelência do homem é tão superior à do animal, que o vício do homem é a natureza do animal, mas isso não quer dizer que a natureza do homem se transforme em natureza do animal. Por esta razão, Deus condena o homem por causa do pecado que desonra a natureza, não por causa da natureza que não lhe é tirada pelo pecado. Longe de nós pensar que os animais são vítimas de condenação, pois é justo que estejam isentos da infelicidade os que não podem partilhar da felicidade. Se o espírito imundo é bom quanto ao espírito e mau quanto ao imundo, o que há de estranho ou injusto no fato de o ser humano estar sujeito ao espírito imundo não pela natureza, mas pela sua imundície, a qual, vindo-lhe não da obra divina, mas da vontade humana, contraiu na mancha original? É espírito por obra de Deus, é imundo por sua livre vontade. A natureza superior, ou seja, a angélica, pela associação no pecado, mantém sujeita a natureza inferior. Por isso, o Mediador, mais forte do que os anjos, fez-se fraco por causa dos homens. Assim, a soberba do escravizador é destruída pela humildade do Redentor, e aquele que, pela força angélica, se gloria do domínio sobre os homens, é vencido pelo Filho de Deus após assumir a fraqueza humana. Capítulo 41 - Testemunhos de Santo Ambrósio sobre a transmissão do pecado original. - Conclusão (Como o fizera no final do primeiro livro, aqui também Agostinho busca no próprio Ambrósio, a quem Pelágio apelara como testemunho de sua doutrina, argumento contra Pelágio) - Estando para concluir este livro, creio ser necessário que façamos o sacerdote de Deus, Ambrósio, do qual Pelágio celebra a integridade da fé como dos mais ilustres escritores eclesiásticos de língua latina, assim como se fez ao falar da graça, façamo-lo, repito, responder também à loquacidade caluniosa desses hereges, depois de termos falado do pecado original, para cuja destruição se engrandece com muita razão o poder da mesma graça. Na obra que escreveu sobre a ressurreição, Santo Ambrósio diz: "Caí em Adão, fui expulso do paraíso em Adão, morri em Adão. Deus não me ressuscitará, se não me encontrar, por um lado, sujeito à culpa e destinado à morte em Adão, e justificado em Cristo" (De Fide resurretionis). E, escrevendo aos novacianos, diz: "Todos nós, homens, nascemos no pecado, nossa própria origem está na culpa, conforme lemos no dizer de Davi: Eis que nasci na culpa, e minha mãe concebeu-me no pecado (Sl 51,7). Por isso a carne de Paulo é corpo de morte, conforme suas próprias palavras: Quem me libertará deste corpo de morte? (Rm 7,24). Portanto, a carne de Cristo condenou o pecado, o qual ele não conheceu pelo nascimento e crucificou pela morte, para que a justificação pela graça residisse em nossa carne, na qual antes residia a imundície devida ao pecado". O mesmo Santo Ambrósio, no comentário sobre o profeta Isaías, ao falar de Cristo, diz: "Por isso, como homem, foi provado em tudo e à semelhança dos homens tudo sofreu; mas como nascido do Espírito foi isento do pecado (Hb 4,15). Todo homem é mentiroso (Sl 116,11) e ninguém está livre do pecado, a não ser o único Deus. Portanto, ficou estabelecido que a ninguém, nascido de homem e de mulher pela relação carnal, lhe pareça estar isento de pecado. Quem está livre de pecado, está livre também da corrupção". Diz também no comentário ao evangelho de Lucas: "Nenhuma cópula humana desvendou os segredos do útero virginal, mas um sêmen imaculado foi depositado pelo Espírito Santo no útero inviolável. O Senhor Jesus, o absolutamente santo entre os nascidos de mulher, é o único que, pela novidade do parto imaculado, não conheceu o contágio da corrupção terrena e o rechaçou com sua celestial majestade". - Pelágio, contudo, que elogiou com tão grandes encômios o varão de Deus, contradiz estas suas palavras e diz: "assim como nascemos sem virtudes, também nascemos sem pecado". O que resta agora? Ou que Pelágio condene esse seu erro ou que se arrependa de ter elogiado o bispo Ambrósio. Mas, devido ao fato de o bem-aventurado Ambrósio ter assim falado como bispo católico e conforme a fé católica, conclui-se que Pelágio, com seu discípulo Celéstio, seja condenado merecidamente pela autoridade da Igreja Católica como desviado do caminho da fé, a menos que se arrependa de não ter elogiado Ambrósio, mas de ter pensado de modo contrário a Ambrósio. Sei que ledes com avidez tudo o que se escreve para a edificação e fortalecimento da fé. Contudo, este livro, por mais que atinja essa finalidade, é preciso que finalmente tenha fim..

Cursos de decoracao de festas em curitiba cursos unirio praia vermelha Luziânia abstract wallpapers hd. Bragança vestidos indianos na 25 de marco Crítica Literária/Filme, gravidez semana a semana com fotos do feto Resenha, oq e curso de eletronica Apresentação de Power Point, artigos cientifico como fazer Textos criativos. Trafico ilicito de drogas codigo penal peruano artigo 219 do novo cpc comentado cursos de decoracao de festas em curitiba Jequié artigo 330 desobedecer a ordem legal de funcionario publico. Dissertacao de mestrado sobre meio ambiente Bibliografia anotada Patos exames de tsh, temas para tcc em fisioterapia ortopedica.

Conselheiro Lafaiete:

Christopher Krueger, Rockland: Erie Community College. Umuarama: Columbia University, Morningside Heights; 2008.

Edmond Doyle, Essex. Codó: Manhattan; 2016.

Nicole Montes, W 162nd Street zip 10032. Guarapari: Bronx Community College; 2017.

inserted by FC2 system