Unb Cursos De Extensao 2020

Parsons School of Design - A GRAMÁTICA DE Padre GASPAR. 1ª PARTE - TEMPO DO ADVENTO E TEMPO DE NATAL - ESPERA DE CRISTO 1 - Cristo Vem: reavivamos a espera Cristo vem. O Salvador está para nascer. A Igreja, nestes dias, o espera, o deseja. Por Ele suspira. Então, por que permanecemos tão indiferentes em nossos sentimentos, passando os dias do Advento - tempo de alegria, de espera vibrante - com apatia, pouco dispostos a viver o espírito da Igreja, contentando-nos apenas em aceitá-lo com rituais exteriores e com celebrações superficiais e sem vida? Infelizmente, o apego aos bens terrenos cerceia nosso ânimo. Os prazeres dos sentidos arrebataram nosso coração, reduzindo-o a uma deplorável escravidão. Acreditamos nos bens celestes, mas não os amamos. Damo-lhes crédito exterior, mas não os saboreamos interiormente. Não é estranho o fato de não os desejarmos nem nos interessarmos por eles? Oh, Deus! Chegou o momento propício para quebrar este gelo, elevando bem alto nosso espírito, acolhendo o convite do Profeta e sentindo a alegria que procede de nosso Deus: "olha para o Oriente, Jerusalém, e vê a alegria que te vem da parte de Deus" (Br 4,36). Este é o objetivo para o qual deveríamos voltar a atenção de nosso espírito. Alguns, certamente, já experimentam, no dia-a-dia, como é proveitoso e gratificante aguardar a vinda do Salvador com o coração repleto de amor. Porém, eu que sou indiferente e outros como eu precisamos orar, visando nos persuadir de que até os mais miseráveis pecadores podem participar juntamente com os justos e santos desta espera com alegria pura e sublime. 2 - A Espera de Cristo e a Nossa Pobreza Podemos pensar, à primeira vista, que somente santos e justos estão em condições de esperar verdadeiramente com alegria a vinda de Cristo, ao passo que os pecadores não, porque trazem em si grande desintegração e desequilíbrio. Isso não é verdade. Pode-se dizer, em certo sentido que os pecadores estão em situação de se alegrar bem mais do que os próprios justos. De fato, o Filho de Deus veio do céu para salvar o que estava perdido (Mt 18,11), pois Ele mesmo havia afirmado que veio em busca dos pecadores e não dos justos: "de fato não é a justos que vim chamar, mas a pecadores" (Mt 9,13). E o nome que assume ao se fazer homem - nome anunciado pelo ministério do Anjo e solenemente traduzido - é Jesus, isto é, Salvador, aquele que liberta seu povo dos pecados (Mt 1,21). A nós pecadores, oprimidos pela miséria de nossas culpas e dominados vergonhosamente pela escravidão de nossos vícios, é endereçada e anunciada a visita do Rei dos céus. Ele nos quer livrar com sua graça e enriquecer com seus preciosos dons. Devemos, portanto, sentir com enorme prazer a aproximação do venturoso, feliz e alegre dia que supera toda imaginação humana. A miséria que tanto nos confundia antigamente e nos levava quase ao desespero agora se torna motivo de renovada esperança. E aqueles que conheciam nossa antiga miséria admirarão a sabedoria e o poder de Deus que sabe dar vida às coisas que existem e às que não existem (Rm 4,17). Ele escolhe o que é mais desprezível e indigno aos olhos do mundo para confundir os mais fortes (1Cor 1,27). Repita cada um de nós: para frente, pobre coração; alegra-te pela misericórdia do Senhor e Ele satisfará todos os teus desejos: "Põe no Senhor tuas delícias e ele te dará o que teu coração pede" (Sl 37,4). A ti, Senhor, elevei minha esperança, em ti confio e não sucederá jamais que eu tenha que me envergonhar por haver esperado em ti (Sl 25,1). 3 - Os Prodígios do Amor de Deus Fiquemos bem certos de uma coisa. Como estamos acostumados a amar somente aquilo no que descobrimos aparência de belo e de bom, assim, vendo em nós mesmos só a malícia e a deformação, parece-nos quase impossível que Deus possa nos amar. Parece-nos, também, um exagero o fato de que o Verbo de Deus tenha se encarnado como amante apaixonado de nossas almas, atraindo-as, por meio de convites amáveis e afetuosos, para núpcias castas e espirituais. Todavia, essa dificuldade desaparece quando se pensa na diferença que há entre o nosso amor e o amor de Deus. O nosso é provocado pelo bem que encontra no objeto amado; por isso é que amamos apenas em força do bem que existe em alguém. O amor de Deus, ao contrário, não é causado pelo bem que possa haver em nós, mas porque é Ele que o realiza em nós. É por isso que Deus ama até as coisas que não existem, a fim de que elas possam vir a existir. Ama as almas deformadas pelo pecado, para poder adorná-las e regenerá-las com sua graça. Observemos os fatos. São argumentos irrefutáveis. Quem foram os grandes santos que receberam as primícias do Espírito, nos primeiros tempos da Igreja nascente? Quem eram os mártires heróicos, os confessores ilustres, os cristãos virtuosos? Eram, na verdade, pagãos e escravos do poder das trevas, que adoravam pedras, metais, madeira. Sua vida e seus costumes eram repletos de confusão. São Paulo dizia deles: "outrora éreis trevas (por causa dos vícios e superstições), mas agora sois luz no Senhor" (Ef 5,8). Como conseguiram passar dos abismos obscuros do pecado aos cimos luminosos da santidade? O Verbo de Deus se fez homem para que o mundo pagão, cego e imerso nos vícios, se tornasse esposa formosa e imaculada, adornada com todas as virtudes. Foram anunciadas e resplandeceram a graça e a benignidade do Cristo nosso Salvador. Aconteceu, então, uma mudança prodigiosa no mundo, digna do Deus Altíssimo. Quem de nós, ao ouvir isso, não renovará a esperança de poder se elevar bem alto, com a graça do Salvador, mesmo que tivesse, por suas culpas, caído miseravelmente? Foi, exatamente, o que aconteceu com os primeiros cristãos: "onde, porém, se multiplicou o pecado, a graça transbordou" (Rm 5,20). 4 - Como se Preparar para Receber o Salvador? Já se aproxima o tempo favorável, já estão próximos os dias da Salvação (2Cor 6,2). Uma esperança agradável e alegre já nasceu em nossos corações e jubilosos afetos de satisfação, amor e anseios já envolvem nossos espíritos. Ora, após haver refletido sobre o propósito por nós formulado de esperar a jubilosa vinda do Salvador, chegou, agora, o momento de pensar como concretizá-lo. Quem deseja correr ao encontro de Cristo, que se aproxima, deve unir, aos seus bons desejos o esforço, a atitude prática de abandonar e deixar totalmente os maus costumes, bem como a altivez de seus pensamentos mundanos. Além disso, deve-se envergonhar diante de Cristo pela vida passada e reconhecer, contrito, os próprios pecados, confessando-os com humilde arrependimento. Nosso Senhor Jesus Cristo nos conceda a graça de poder fazer isso no tempo do Advento, da melhor maneira possível. Ao introduzir nossos corações em sua casa, digne-se uni-los a si através da graça nesta vida. E por meio da glória, na outra, possamos, aqui na terra e lá no céu, festejar reciprocamente tal felicidade e juntos louvar sua misericórdia. O IDEAL CRISTÃO 5 - Vocação à Santidade Deus, que nos deu o ser e a vida, por meio de sua mão criadora, nos introduziu neste mundo com a seguinte finalidade: conhecer, amar, louvar, servir o Autor dos bens e promover sua glória nesta terra para poder merecer uma gloriosa recompensa e uma perfeita felicidade no Céu. Resgatados pelo Sangue do Filho de Deus, adotados como filhos do Rei do céu, feitos participantes da natureza divina pelo dom da graça, não pertencemos mais a nós mesmos, mas somos de Deus, para só a Ele servir. Não somos mais escravos da carne e do sangue, para satisfazer seus desejos perversos, mas servidores do espírito, deixando-nos guiar facilmente por seus impulsos e ditames. Não somos mais criaturas terrenas que servem ao mundo, mas seres celestes que agem e vivem como santos. Quantos cristãos, diante do convite de se aproximarem mais de Deus para servi-lo no próprio estado de vida com maior perfeição, afastam-se amedrontados. Encaram a vida espiritual como objeto de tristeza e angústia. Fica, assim, bem claro que quem quer julgar as coisas do espírito simplesmente com olhos terrenos expõe-se a inúmeros erros. É um enorme engano. Muitos não consideram a consolação interior de que estão repletos os verdadeiros servos de Deus. Ela é tanto mais terna, quanto mais íntima for. Ela é "o maná escondido... que ninguém conhece; a não ser quem o recebe" (Ap 2,17). Ela é a "perene festa" (Pr 15,15), a alma que goza a segurança e a paz no coração. Ela é a conversação serena com a Sabedoria não criada, da qual está excluído todo tipo de tédio e dissabor (Sb 3,16). Quanto é grande, Senhor, a riqueza de vossa bondade, que reservastes para aqueles que Vos amam e Vos servem! (Sl 31,20). O tempo é breve. A fascinação do mundo acaba em curto tempo. Vamos, então, ficar aguardando que a noite nos surpreenda para começarmos agir? Ficar esperando que chegue o Esposo para reabastecer de óleo nossas lâmpadas? Ficar na expectativa de que nos chame para as núpcias, para, então, tecermos o ano da veste nupcial? "Eis que venho em breve, trazendo comigo minha recompensa" (Ap 22,12). Feliz a alma que estiver bem adornada e preparada para recebê-lo. Vem, ela ouvirá, vem minha esposa, receba a coroa que o Senhor te preparou desde a eternidade. "Parabéns, servo bom e fiel! Como te mostraste fiel na administração de tão pouco, eu te confiarei muito mais. Vem participar da alegria do teu Senhor!" (Mt 25,23). 6 - A Santidade É para Todos Deus chama a todos para servi-lo. Ou melhor, todos podem e a todos convém aspirar à santidade em seu estado de vida. De modo diferente devem ser vividos o empenho espiritual de um religioso no claustro e o de um leigo no coração do mundo; de um sacerdote no exercício do ministério e o de um pai de família no governo de sua casa; de uma virgem que se consagra a Deus e o de uma esposa que se une a seu marido. Sabe-se que a devoção tem asas para voar ao céu e pés para caminhar sobre a terra e, enquanto as mãos estão em contínuo movimento na ação, não desconhece que seu coração tem de repousar tranqüilamente em Deus. Além disso, tem olhos para orientar-se, vigiar e comandar os negócios temporais, como também uma perspicácia mental, pela qual jamais perde de vista o fim último da vida. Aconselha-se com Deus em todas as atividades e realiza tudo para sua maior glória. Vai mais longe. Tem língua para falar com os homens e, no interior do seu espírito, movimenta todas as forças para jamais cessar de louvar e bendizer a Deus. Desse modo, trata com o mundo e conversa com os céus, atraindo a si o seu Deus por amor, encontrando-o dentro de si, possuindo-o na plenitude da paz, e vivenciando já na terra um outro Paraíso. Disso tudo provém uma admirável doçura, com a qual impregna todas as atividades. Vive com inalterável uniformidade de espírito. O mundo não percebe nela nada de extraordinário, nada que a distinga no comportamento, na atividade e no desenvolvimento dos deveres condizentes com sua condição. Por isso, ele fica constrangido por ser obrigado a amar nela algo singular e divino que desconhece. Na prosperidade, a devoção não se exalta. Na adversidade, não se entrega à tristeza. Alegra-se com a felicidade alheia e com a própria. Desapegada de toda preferência pessoal, tem discreta condescendência pelos gostos dos outros, contanto que sejam honestos. Passa, de boa vontade, consolação a quem se encontra em aflição de espírito. É liberal com os amigos, generosa com todos, sem pretensões, esperando a recompensa somente de Deus, ao qual somente tem o prazer de servir plenamente. 7 - Deus É Fiel: cumpre o que prometeu "É fiel o Deus que vos chamou para a comunhão com seu Filho, Jesus Cristo, nosso Senhor" (1Cor 1,9). Que afirmação grandiosa faz aqui São Paulo e que dom imenso nos anuncia! Somos chamados à comunhão de vida com o Unigênito de Deus. De que modo? Por meio do Pai. Chamados por Ele e não por nossa iniciativa. E, como anunciou algo grandioso, acrescenta a prova segura, que não admite contestação. Diz: "Ele é fiel". É de palavra. Cumpre o que prometeu. Prometeu colocar-nos em comunhão com seu Filho Unigênito, e é justamente para isso que nos chamou. Jamais se arrependeu de nos conceder seus dons, como a vocação. Aquilo que Deus nos prometeu certamente nos concede, a menos que o recusemos. Mesmo que nos chame para enfrentar batalhas árduas e difíceis, seria imperdoável recuarmos. Na verdade nos chama à santidade, à liberdade, à graça, a bens maiores preparados para nós, que olhos jamais viram, nem ouvidos ouviram. É Deus mesmo que nos chama. Que desculpas podem apresentar aqueles que não vão a seu encontro? Deus jamais retira, a não ser por nossa culpa, o auxílio que começou a conceder. Continua a oferecê-lo, a fim de que possamos perseverar, fortalecendo nossa fé e comunhão com Cristo. Ele jamais nos abandonará. A não ser que seja abandonado por nós. 8 - Aspirar a Carismas ainda Maiores Os maiores dons e as maiores graças convêm, de modo particular, à vocação dos ministros da Igreja, aos quais Deus, de sua parte, está pronto a dar com fartura se eles não colocarem obstáculos. São dons especiais e preciosos, que, mediante seu ministério, Ele difunde em seu povo, como foi dito: "satisfarei o apetite dos sacerdotes com carnes gordas; meu povo vai se fartar com meus benefícios" (Jr 31,14). Por outro lado e acima de tudo, tais dons convêm, especialmente, à vocação dos sacerdotes que, com novo espírito, são chamados pelo Espírito Santo, renovador e restaurador de todas as coisas, para revitalizar sua Igreja, com base na indefectível retidão e segurança da primeira Pedra. Dessa forma, convém a todo cristão também, chamado certamente a gozar da visão beatífica de Deus no paraíso, aspirar humildemente e sem presunção, nesta vida, aos melhores e essenciais dons de graça e da caridade, conforme o convite das Escrituras: "aspirem aos dons mais elevados" (1Cor 12,31). É assim que Deus santifica as almas que escolheu, colocando-as em sublime comunhão consigo, mesmo que, às vezes, faça isso quase repentinamente, como no caso de São Paulo. Normalmente, o faz de modo progressivo. Pouquíssimos são os que compreendem o que Deus faria deles, se por eles não fosse impedido em seus desígnios. Não podemos imaginar o que Deus faria de nós e de que modo agiria em nós e por nosso intermédio se não puséssemos obstáculos à sua graça e nos colocássemos livre e totalmente em suas mãos. 9 - Santidade e Caridade "Quer comais, quer bebais, quer façais qualquer outra coisa, fazei tudo para a glória de Deus" (1Cor 10,31). O amor a Deus e a busca de sua glória é o que dá verdadeiro sentido à vida do cristão. No Sancta Sanctorum do templo de Jerusalém, todos os objetos eram de ouro ou revestidos de ouro. Assim também toda e qualquer atividade do cristão tem que estar impregnada de amor e feita com amor. Não visar apenas o resultado de nossas obras, mas a vontade de Deus, que proporciona grande paz, mesmo quando o resultado ou a obra não corresponda totalmente às expectativas. Deus não nos pedirá conta dos resultados obtidos nem da qualidade de nossas obras, mas do que podíamos fazer, conforme os talentos recebidos. O Senhor não olha o quanto, mas o como, e se utiliza sempre do critério com o qual avaliou o óbolo da viúva, que "da sua pobreza ofereceu tudo o que tinha para viver" (Mc 12,44). "Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos queridos. Vivei no amor, como Cristo também nos amou e se entregou a Deus por nós" (Ef 5,1-2). "É um tanto quanto suspeito o amor que procura sempre obter, fora de si, alguma coisa a mais. É muito frágil o amor que, ao ver diminuir a esperança de obter algo a mais, acaba se esfriando, e até se extinguindo. É defeituoso o amor que, além do seu próprio objetivo, deseja algum outro. O amor autêntico não é mercenário, mas gratuito, como o da esposa. Contenta-se consigo mesmo e não procura outra finalidade senão a de amar. Isso é suficiente e satisfaz por si só. Fruto do amor é o próprio amor. Amo porque amo. Amo por amor". 10 - Perfeição e Simplicidade A santidade consiste não tanto em fazer coisas extraordinárias, mas, muito mais, em fazer bem os deveres e as coisas comuns. Fico muito satisfeito ao perceber sua paz de coração, ninho do Espírito Santo, e ao sentir, até de longe, o bom odor de Cristo, com o qual Ele se faz presente em sua alma, mediante a graça de sua caridade e devoção. Tudo isso me alegra muito mais do que se você me relatasse seus maiores feitos. Lembre-se sempre do provérbio que significa tudo para nós: buseta e taneta. Você deve ser muito agradecido ao Senhor, porque, mesmo parecendo aos olhos dos homens estar afastado daqui, na realidade, o conserva aí em seu buseta e taneta. É o mesmo que diz Cristo Nosso Senhor: "em verdade vos digo: se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças, não entrareis no Reino do Céu" (Mt 18,3). E já que o Senhor lhe concedeu a graça, maior do que qualquer outro tesouro, de conduzi-lo à pequenez, à humildade e simplicidade de criança, procure sempre se deixar conduzir pela seguinte bem-aventurança: "felizes os pobres no espírito, porque deles é o Reino do Céu. Felizes os mansos, porque receberão a terra em herança" (Mt 5,3-4). 11 - Desejo de Perfeição "O princípio da Sabedoria é o mais sincero desejo de instrução" (Sb 6,17). O caminho da perfeição tem de começar do coração, pois não é algo que se possa aprender à força. Se alguém não a quer, são inúteis milhares de oportunidades nem mesmo meios apresentados por outros para que ele faça algo. À sua irmã, que lhe perguntava o que deveria fazer para conseguir a perfeição, São Tomás de Aquino respondeu simplesmente: basta querer. Se você quiser, salva-se-á, fará progressos e será perfeito. Quando alguém tem desejo de progredir e crescer na virtude e na perfeição, Deus se compraz tanto que o enriquece e o cumula de todas as graças: "a quem tiver sede, eu darei de graça da fonte da água vivificante" (Ap 21,6). Existem, porém, aqueles que, com palavras, formulam bons propósitos e desejos, mas não se esforçam para colocá-los em prática, nem se empenham em lutar seriamente. Nesse caso, não há nem verdadeiros desejos, nem autênticos propósitos, mas apenas veleidades: "desejaria muito", mas, na verdade, não quer nada. Os que possuem semelhantes veleidades podem ser comparados aos soldados nas pinturas: estão sempre com a espada em cima do inimigo, mas jamais desferem o golpe. O que vale são os propósitos eficazes: "já te foi indicado, ó homem, o que é bom, o que o Senhor exige de ti. É só praticar a justiça, amar a misericórdia e viver humildemente com o teu Deus" (Mq 6,8). 12 - A Santidade como Empenho Prioritário A perfeição é nosso único fim. No dia do juízo ser-nos-á perguntado não o que lemos ou escrevemos, mas o que fizemos; nem mesmo do que falamos bem, mas se vivemos santamente: "buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão dadas por acréscimo" (Mt 6,33). Procuremos manter firme este princípio: que os deveres espirituais, referentes ao progresso na santidade, ocupem sempre o primeiro lugar e, por motivo algum, sejam negligenciados. Por mais que sejam múltiplas e relevantes as ocupações inerentes ao próprio encargo, ou mesmo impostas pela obediência, não é vontade de Deus que alguém se permita descurar os deveres espirituais. E não é a obediência à vontade de Deus que vai impedir manter esta fidelidade. Normalmente, é a nossa negligência, ou pouca dedicação, que nos afasta do interesse pelas coisas do espírito. Não é permitido deixar de praticar a virtude para não prejudicar uma obra. Muitos, porém, defendem este equívoco. A experiência, entretanto, tem demonstrado que, desse modo, muita coisa se faz erradamente e, às vezes, fica totalmente prejudicada. Ao passo que, quando se cuida bem da virtude, Deus intervém com sua proteção, e a obra se solidifica, desenvolvendo-se melhor ainda. Procuremos ser, particularmente, fiéis em oferecer a Deus os momentos destinados à oração. Se, em algumas ocasiões, isso não for possível, por qualquer circunstância, é bom alimentar a vontade e o desejo de suprir e preencher tal lacuna o mais rapidamente possível. É como quando alguém é obrigado a privar-se do alimento ou do sono por alguma ocupação imprevista. Procura de imediato supri-lo, por algum meio, encontrando, para isso, o tempo necessário. Ora, é vontade de Deus que façamos o mesmo com a oração. 13 - A Santidade como Empenho Global "Mas que tudo se faça como convém e em boa ordem" (1Cor 14,40). Notemos a seguinte palavra: tudo. Somos obrigados a cumprir todos os deveres relativos à aquisição da perfeição. Não só alguns, e descurando a maior parte. Não só a maior parte e abandonando a parte menor. Não só os menores, deixando de lado os mais importantes. Nem só os mais importantes, negligenciando os mais insignificantes. Pelo contrário, valorizar sempre as coisas pequenas! Quem é fiel no pouco será também no muito. Ao contrário, "quem despreza as coisas pequenas, aos poucos cairá" (Eclo 19,1). Uma gota contínua escava uma pedra e uma centelha produz um incêndio: "quem teme a Deus, de tudo sairá ileso" (Ecl 7,18). O próprio Deus ensinou tais verdades. Não basta ouvi-las, é preciso colocá-las em prática. Não basta ouvir a palavra divina com prazer e colocar em prática somente parte dela. Também Herodes ouvia João Batista com prazer. Contudo, somente punha em prática alguns ensinamentos, deixando de lado o que se referia à sua paixão predominante. É lamentável que, desde jovem, se comece a viver desleixadamente! Pouco a pouco, vai se perdendo o primitivo ardor e, fatalmente, cair-se-á na fraqueza de espírito, na tibieza e no relaxamento. Por outro lado, quem vê o ardor dos jovens faz que toda a Igreja, inclusive os que já estão adiantados no caminho da perfeição, sinta-se tocada pelo fervor da oração e pelo cultivo mais intenso da união com Deus. Tive a inspiração de combater, quer os pequenos defeitos, quer os grandes, e de crescer com toda a diligência na virtude. Torna-se cada vez mais breve o tempo em que posso servir melhor a Deus, promover sua glória e me santificar. 14 - Progredir Sempre De Jesus é dito que "ia crescendo em sabedoria, tamanho e graça diante de Deus e dos homens" (Lc 2,52). Portanto, "quem diz que permanece em Deus deve, pessoalmente, caminhar como Jesus caminhou" (1Jo 2,6). Mas, se enquanto Ele caminha, eu paro, não chegarei jamais a Cristo. Pelo contrário, afastar-me-ei cada vez mais. Nos caminhos do Senhor, não seguir adiante significa retroceder. É o mesmo que estar no meio de um rio impetuoso: tentar parar, sem esforço algum para vencer a correnteza, é correr o risco de ser levado rio abaixo. Se o desejo é não ser arrastado, é preciso o esforço para ir em frente. Na prática, é melhor enfrentar o caminho da perfeição não apenas em termos gerais, mas, sobretudo, nos detalhes, e com persistência, lutando para vencer a paixão dominante ou conquistar a virtude que mais nos falta. Na escola, o aluno não é admitido aos cursos superiores se antes não superou os anteriores. Assim também não se pode esperar do Senhor graças mais elevadas, se não houve correspondência às primeiras inspirações. O mesmo acontece na luta contra o pecado e o vício: "quem despreza as coisas pequenas, aos poucos cairá" (Eclo 19,1). As grandes quedas começam do pouco. Ouso afirmar algo surpreendente, diz São João Crisóstomo: parece-me mais oportuno que se deva dar maior atenção para evitar os pecados aparentemente pequenos e sem importância do que combater os graves. Os graves, por si só, nos assustam muito, ao passo que os pequenos podem nos deixar indiferentes e apáticos, com o perigo de, assim, passar-se do caminho da negligência à ruína espiritual. VIDA DE GRAÇA 15 - A Beleza da Graça "Vivamos uma vida nova" (Rm 6,4). A novidade da vida não é o estado de graça em si tão desejável. Embora a graça de Deus apresente muitas qualidades excelentes, convém agora meditar sobre uma delas, muito especial: a beleza. "Há uma beleza oculta e secreta, de muito mais valor do que a sensível: a beleza espiritual que somente pode ser contemplada pela mente". Todos, certamente, já a percebemos, porque nosso coração foi atraído por ela, arrebatado e envolvido com enorme força: é ação da beleza da virtude. Demos mais um passo. A graça é de ordem muito superior à virtude. A virtude - que também atrai muito fortemente o coração - é só uma perfeição natural da alma. A graça é uma qualidade sobrenatural e totalmente celestial. Se eu dissesse que uma alma em estado de graça possui tão excelsa beleza que muito se aproxima e até se iguala à esplêndida e puríssima beleza própria dos seres espirituais (os anjos), ainda assim diria pouco. Na verdade, a graça é uma participação na própria natureza de Deus. Seria preciso, pois, conhecer a beleza de Deus para se ter a idéia justa da beleza de uma alma em graça. Estamos falando de realidades sublimes, porque verdadeiramente sublimes são as realidades às quais fomos chamados. E não somente chamados, no sentido de que nos são feitas promessas vindas do alto, mas no sentido de que temos também a posse de dons muito preciosos, conforme o que diz São Pedro: "foram-nos concedidos os bens prometidos, os maiores e mais valiosos, a fim de que vós vos tornásseis participantes da natureza divina" (2Pd 1,4). 16 - Comunhão com as Pessoas Divinas "Nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho, Jesus Cristo" (1Jo 1,3). É assim que São João exalta a nobreza da Igreja, Esposa de Cristo, pela qual nos tornamos "participantes da natureza divina" (2Pd 1,4). São Paulo celebra com incontida admiração este mesmo mistério, quando afirma: "é fiel o Deus que vos chamou à comunhão com seu Filho Jesus Cristo, nosso Senhor" (1Cor 1,9). Todos os que crêem, portanto, estão em comunhão com Cristo e com Deus, por meio da fé, esperança e caridade. Mais sólida e íntima torna-se tal comunhão quanto neles se robustecem a fé, esperança e caridade; quanto mais procuram eles configurar-se com a vida e a conduta de Cristo; quanto mais se empenham em difundir o Evangelho no mundo, à maneira dos Apóstolos, que vivenciaram, por primeiro e da forma mais perfeita, a comunhão com Deus. Na verdade, eles trabalharam muito e sofreram por Cristo, entregando totalmente suas vidas para a maior glória de Deus e salvação dos irmãos. Esta comunhão é uma verdadeira amizade com Deus, pois toda amizade comporta amor recíproco e mútuo intercâmbio de bens. Ora, segundo o ensinamento de São João, é de tal natureza o relacionamento entre a alma fiel e Deus que não há nada que melhor manifeste a dignidade maravilhosa e divina de alguém do que a alma em graça. 17 - Viver a Graça Convém, agora, conhecer melhor o dom admirável da graça divina que nos elevou acima de nossa natureza e nos fez participantes da natureza do próprio Deus, colocando-nos na ordem sobrenatural e divina, segundo a qual somos chamados a agir com nosso espírito. É necessário pensar quão grave perda é descer, ainda que pouco, nesta ordem sublime e retornar ao nosso modo natural de pensar e agir. As virtudes teologais, isto é, divinas, pertencem exatamente a tal ordem e, como tais, orientam-se para Deus, a fim de melhor conhecê-lo (com a Fé), para apoiar-se nEle (com a Esperança), para aderir a Ele (com a Caridade). Quanto menos pensarmos, apoiarmo-nos e nos detivermos nas criaturas mais aquelas virtudes se fortalecerão e se desenvolverão. Daqui deriva a necessidade de uma diligência compromissada e zelosa para conservar e fazer crescer as virtudes teologais, porque é dom excelso e sobrenatural de Deus, mediante as quais podemos ter comunicação íntima e familiar com sua Divina Majestade. Admirável, pois, é a piedade e a bondade do Senhor, que, ao perceber que nós, por humana fraqueza, começamos a vacilar quando estamos nas alturas e corremos perigo de voltar à humana baixeza, estende sua mão, qual mãe amorosa amparando seus filhos (Sl 37,24), a fim de que não soframos mal algum. Ele, com doçura e, ao mesmo tempo, com energia, torna a nos elevar. Exclamemos, portanto, com o salmista: "quanto a mim, minha felicidade é estar perto de Deus. Ponho no Senhor o meu refúgio" (Sl 73,28). 18 - A Graça: um capital a ser guardado e aumentado Quem, por um momento só, tenha contemplado a beleza da graça divina percebeu, de imediato, o coração inflamar-se com o fogo de puro amor e fervorosos desejos. Se a graça de Deus está conosco, envidaremos esforços para não perdê-la! Com coragem e santo arrojo decidiremos tirar do caminho ocasiões que, mesmo remotamente, possam destruí-la! E se, por acaso, sabiamente nos prevenirmos, faremos propósitos, com o auxílio divino, para aumentá-la e desenvolvê-la cada vez mais! A estrada dos justos é como a luz esplêndida do sol que surge e se desenvolve até se tornar pleno dia (Pr 4,18). O Senhor colocou em nosso coração muitos degraus, como uma escada, a fim de que possamos subir, sem jamais parar, até chegar a ver a face de Deus no céu. Senhor, renovai o nosso espírito. Fazei que, de novo, ele seja guiado pela retidão, como Vós o criastes, impulsionando-o com esperanças contínuas, de tal modo que cada um possa experimentar que "o Senhor é bom para os puros de coração" (Sl 73,1). Assim, poderemos, um dia, finalmente, não mais sob véus e na penumbra sombra obscura da fé, mas face a face, conforme o que prometestes aos puros de coração, contemplar-vos, amar-vos e possuir-vos por todos os séculos como verdadeiro Centro, único Referencial, Fim último de nossos corações. 19 - Graça e Sacramentos A alma sem a graça é como um campo árido por causa do contínuo calor das paixões e dos ventos das tentações. Por isso, não dá frutos ou leva tempo para produzi-los. É preciso irrigá-la, pois a água é a graça. É preciso que, assim como ao lado dos canteiros, também corra o rio da graça perto das almas. Ora, esse rio da graça corre continuamente na Igreja desde a morte de Cristo, que nos proporcionou água tão salutar. Os hortelãos, em cuja horta passa um riacho, abrem canais, fazendo penetrar nela essa água, de tal modo que, levada para os canteiros, sacie a sede de verduras, flores, arbustos e plantas. Do mesmo modo, sabemos que Deus abriu canais por meio dos quais a água da graça pode chegar até nós. Estes são os sacramentos. Quando recebemos os sacramentos, Deus abre esses canais para nós e só exige que abramos nosso coração por meio de disponibilidade convicta, não os obstruindo com o pecado ou com disposições contrárias. O que se exige de nós, portanto, é a oferta de disponibilidade convicta para não impedir a entrada da graça, mas favorecê-la. Quanto mais abrirmos nosso coração e estivermos preparados, mais copioso será o dom da graça. TEMPLOS DE DEUS 20 - Nosso Coração, Templo de Deus Deus quer consagrar nosso coração tornando-o templo, onde Ele mesmo habite. São Paulo diz: "acaso não sabeis que sois templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? O templo de Deus é santo, e esse templo sois vós" (1Cor 3,16, seguinte). De fato, embora possamos dizer que Deus está em todo o lugar, por causa de sua imensidade, todavia, Ele habita, de modo especial, nos corações dos justos, aos quais comunica não só a graça com todos os dons, mas o próprio Espírito, autor da graça e do dom. Cada alma, portanto, que Deus escolheu para si, como ameno e delicioso templo ou palácio, fê-lo para poder nele residir e deliciar-se, "alegrando-se em estar com os filhos dos homens" (Pr 8,31). Quer conversar com eles no mais íntimo do coração. Por isso, Ele nos chama com um convite suave: vinde, libertai-vos de todas as preocupações e despojai-vos das afeições mundanas. Provareis quão bom e suave é o Senhor, o vosso Deus. Que alma bendita é essa! Pode, então, afirmar tendo encontrado seu amor dentro do próprio coração: "o meu amado é todo meu e eu sou dele" (Ct 2,16); "segurei-o e não o soltarei" (Ct 3,4). Que paz e que serenidade deve ter essa alma! São Paulo já o havia previsto, quando afirmou que todos os justos possuiriam uma grande paz (Rm 5,1). Não só se alegra no tempo presente, mas antecipa o gozo futuro, pois, como prossegue o mesmo Apóstolo, "nos gloriamos, na esperança da glória de Deus" (Ct 5,2). 21 - Habitação Divina e Vínculo Esponsal O Espírito de Deus, tornando uma alma participante de seu amor, a santifica, e, por isso, sendo dulcíssima esposa, dela se aproxima, nela habita, age e se delicia. Se muitas honrarias concedem-se às igrejas, porque templos materiais da majestade de Deus, como não deverá ser honrado pelos anjos e pelos homens o templo vivo, esplêndido e interior, no qual se realizam castas e sublimes núpcias entre Deus e a alma? "Eu me caso contigo" - já havia Ele feito saber, por seus Profetas, - "caso-me contigo com toda a fidelidade" (Profeta Oséias, 2,21-22), na justiça e na caridade, pois estas são, justamente, as pedras preciosas com que Deus a embeleza. E, se quisermos contemplar também as vestes da esposa celeste, São Paulo assim as descreve: oh, meu Deus! Quanto esplendor! "Revesti-vos do Senhor Jesus Cristo" (Rm 13,14). A que formosura poderá ser comparada a de uma alma que Deus mesmo ornou para torná-la sua esposa? Faltam-me cores para pintá-la. Direi apenas, cheio de admiração e como o próprio Apóstolo, que se alguém se une a Deus com profunda convicção se torna um mesmo espírito com Ele, por causa da transformação pelo amor. 22 - Unidos a Deus, Gloriamo-nos Também nas Tribulações Que felicidade poder ter Deus dentro de nós! Ele é o sumo bem que pode dinamizar perfeitamente todas as nossas potências, porque nele estão contidas todas as perfeições e todos os recursos aptos a preencher cada coração, conforme suas próprias exigências. Na Sagrada Escritura, Ele se apresenta como "o maná escondido" (Ap 2,17) e afirma: "põe no Senhor tuas delícias e ele te dará o que teu coração pede" (Sl 37,4). Até as tribulações desta vida, mesmo que pareçam colocar um dique ao livre curso das consolações celestes, na realidade, não fazem senão reuni-las em quantidade ainda maior, multiplicando-as como uma impetuosa cheia e acabando por fazê-las transbordar. Por isso, "nós nos ufanamos também de nossas tribulações", acrescenta São Paulo, em nome do todos os justos, sabendo que a tribulação gera a constância, a constância leva a uma virtude provada, e a virtude provada desabrocha em esperança. E a esperança - - não decepciona, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado (Rm 5,3-5). E quem poderá desconfiar do seu amor? "Entrega ao Senhor tua ansiedade, e ele te dará apoio", diz o Salmista (Sl 55,23). Deus é sempre liberal diante das nossas necessidades, luz em nossas dúvidas, consolação em nossas aflições, repouso no cansaço, nosso sustento, nossa fortaleza e paz. 23 - Estou à Porta e Bato Diante do convite do Senhor, que quer fazer de nós seu templo, alguém, talvez por excessiva timidez, pretenda recuar, pensando que todas essas coisas são de fato muito sublimes, mas não feitas para ele. Entendo, entendo: está preocupado com seus graves pecados e sua fraqueza pessoal. Porém, se, mesmo com tudo isso, conseguisse, ao menos, entrever Cristo, que está à porta de nosso coração, e escutar que ele pede para entrar! Vamos, então, abrir as divinas Escrituras e ler o que está escrito no Apocalipse, com as mesmas palavras de Cristo: "eis que estou à porta e bato" (Ap 3,20). Sim, ele está à porta do coração. E de qual coração senão do pecador? Naquele dos justos está bem acolhido e como hóspede tranqüilo. Bate à porta do coração por meio de inúmeras inspirações e sinais. Coloca diante dos olhos a felicidade plena capaz de ser alcançada mediante a graça. Sim, ele bate: "se alguém ouvir minha voz e abrir a porta, eu entrarei na sua casa" (Ap. 3,20). Fala como um hóspede que vem a noite; isso significa que, erradicado qualquer tipo de ofensa e mancha, Ele apenas deseja viver no âmago da alma, em completa amizade e familiaridade. Não diz só: "eu entro na sua casa", mas acrescenta: "e tomaremos a refeição, eu com ele e ele comigo" (Ap. 3,20), isto é, eu me deixarei tratar com muita intimidade, deliciando-me familiarmente com ele, como entre amigos. E ele, por sua vez, estará comigo; juntos estaremos na sala deliciosa de celestes prazeres, através de meus sacramentos, porque faço questão de recebê-lo em minha mesa. Daí se deduz que Cristo fala sempre como um hóspede rico, mas generoso, que, ao entrar numa casa, leva muito mais dons do que recebe. Oh, amor! Oh, amor! Sim, vencestes, ó Senhor. Não há desculpas para nossa insensibilidade, ao querer negar o ingresso no coração de um amigo tão bondoso que bate à porta implorando acolhida só para fazê-lo feliz. DEUS CONOSCO 24 - Cristo Nasce para Nós: vinde, adoremos Somos convidados a nos prostrar, devotamente, com a mesma fé viva dos pastores, diante de nosso Rei menino, "vamos a Belém" (Lc 2,15) para adorá-lo, pedindo que aceite nossa oração. E, unindo-a a seus primeiros vagidos, a apresente, com odor de suavidade, ao eterno Pai. Assim, como pretendemos de boa vontade glorificá-lo no céu, do mesmo modo ele se digne nos conceder a paz aqui na terra: "glória a Deus no mais alto dos céus, e na terra paz aos que são do seu agrado!" (Lc 2,14). Senhor Jesus Cristo, nascendo neste vale de lágrimas, abristes hoje os ouvidos de vossa humanidade para escutar nossos prantos; abristes os olhos do vosso corpo para chorar nossos pecados. Abri também os ouvidos e os olhos de meu coração, a fim de que possa ouvir e compreender vossas palavras e cumprir vossa vontade. Nascendo, viestes não como estrangeiro, mas como Senhor nosso, "para o que era seu" (Jo 1,11), com pleno direito de emanar leis: "não escondas de mim teus mandamentos" (Sl 119,19). Porém, para compreender o espírito admirável de vossas leis, precisamos de muita luz. Ora, "esta era a luz verdadeira que, vindo ao mundo, a todos ilumina" (Jo 1,9). Se nós somos trevas, vossa "luz brilha nas trevas" (Jo 1,5). Para que não aconteça também hoje que "os seus não a acolheram" (Jo 1,11), então, abri meus olhos para eu contemplar as maravilhas de vossa lei" (Sl 119,18). Tudo isso é dom vosso, totalmente gratuito. Por esse motivo, nós vo-lo pedimos. 25 - Tarde Te Conheci, Tarde Te Amei Jesus Cristo, desde o seu nascimento, fez-nos ver em si muita pobreza, dor e humilhação. Logo, estes são os verdadeiros e únicos bens. Coragem, portanto! Demos adeus às belezas passageiras e aos bens transitórios desta terra para amar só a Ele. Viva Jesus, nosso único amor! Vamos repetir inúmeras vezes este nome dulcíssimo. Ao ver nele o retrato do amigo afável, iremos recordar sempre aquele a quem ofertamos nosso amor de hoje, a fim de poder rechaçar corajosamente, no futuro, quem pretendesse nos separar dele. Estou aqui a vossos pés, ó Jesus. Sou uma pessoa que, ao correr atrás de vaidades inúteis, vos abandonou, Sumo Bem, único ser digno do meu amor. Tarde vos conheci, antiga beleza, e tarde vos amei, eterna bondade. Mas, agora, não posso mais vos desconhecer, não posso deixar de vos amar. Aqui tendes, portanto, meu coração. É toda vossa minha alma. Lavai-a, purificai-a e embelezai-a para torná-la digna esposa vossa, porque ela vos pertence inteiramente. Nas três missas do Natal: recolhimento e sentimento do grande benefício da vocação. Grande vantagem é esquecermo-nos e despojarmo-nos de tudo, para procurar a Deus só! Como Deus glorifica e ama seu Filho humilhado! Realizar por amor a Ele algo do que antes fez por nós é nossa obrigação. 26 - Jesus Cristo, Verdadeiro Deus e Verdadeiro Homem "Quando digo o nome de Jesus - diz São Bernardo - eu imagino o homem mais perfeito, santo e repleto de toda beleza e virtude, e, ao mesmo tempo também como Deus todo-poderoso, justo clemente, misericordioso, Sumo Bem e infinito. É por isso que o nome de Jesus se torna mel em meus lábios, melodia em meus ouvidos e suavidade em meu coração". O anjo, que trouxe do céu o nome de Jesus, disse: "tu lhe porás o nome de Jesus" (Mt 1,21). Ora, a mim me parece encontrar algo de extraordinário neste nome, encontrar o Salvador e o Mediador entre Deus e os homens, que satisfaz a justiça divina pelos pecados de todo o mundo. São Cirilo pergunta: "Como Ele pode ser chamado de Salvador do mundo, se não é Deus? De fato, se Jesus não tem dignidade infinita, igual a de Deus infinito, que foi ofendido por nossos pecados, não se pode compreender como ele possa ter realizado satisfação igual à ofensa. Portanto, Jesus é Deus". "Mas, se ele é somente Deus - acrescenta Santo Agostinho - como poderá ser Mediador entre Deus e os homens? Nesse caso, Deus estaria dando satisfação a si mesmo, e não o homem pecador a Deus ofendido". O nome de Jesus, portanto, que significa Salvador do mundo, indica um homem que é, ao mesmo tempo, Deus, com todas as perfeições que convêm tanto à natureza divina como à natureza humana. 27 - Jesus, o Amante Mais Terno e Apaixonado Em Jesus vemos o Deus Salvador, que "por nós, homens, e para a nossa salvação desceu dos céus" (Símbolo Niceno-Constantinopolitano). Entregou sua vida por nós, para livrar-nos dos pecados que haviam tornado nossa alma escrava do demônio e merecedora de condenação. Ele lavou nossa alma com seu Sangue, adornou-a com sua graça, para coroá-la, finalmente, com sua glória. O que tudo isso significa senão encontrar o amigo mais apaixonado? É próprio dos amigos apaixonados amar tão intensamente que nenhuma dificuldade os detém, nenhum perigo os abate, nem mesmo a morte os atemoriza. Como esquecidos de si mesmos, tudo fazem, tudo sofrem, tudo ousam para agradar e unir-se a quem amam. Acontece, às vezes, que o amor os cega a tal ponto que não vêem os defeitos que tornam o ser amado desprezível aos olhos de todos, menos aos seus. Mais ainda, a própria ingratidão que, muitas vezes, não retribui o amor, ao invés de extinguir a chama, a reacende ainda mais. Este amigo é exatamente Jesus. Esse amigo, para recuperar o ser amado, usa "não coisas perecíveis, como a prata e o ouro... mas, seu precioso Sangue" (1Pd 1,18-19). Caso a alma venha a cair de novo nas mãos do inimigo infernal, pecando, Jesus continuará, a cada dia, a oferecer-se como vítima sobre os altares, lavando-a com seu sangue, como fonte perene de amor, no seio de sua Igreja. Meu Jesus, o que pretendeis com tanto amor? Apenas que ela me ame e aceite minhas castas núpcias. Por isso, decidi ir até ela em pessoa. E, para que os fulgores dos meus raios não espantassem sua timidez ao querer conversar comigo, encontrei um modo de me esconder sob o véu do Sacramento e entrar, quase furtivamente, em seu coração, para poder falar com ela frente a frente. Estou aqui aguardando que ela atenda aos meus desejos. 28 - Jesus, a Pessoa Mais Amável Jesus é o homem mais perfeito, cuja beleza contemplada mesmo de longe, em espírito, pelo Profeta, o fez exclamar maravilhado que Ele é "o mais belo dos homens" (Sl 45,3), cuja graça "se espalha em seus lábios" (Sl 45,3). Seu espírito contém "todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento" (Cl 2,3). É a santidade perfeita. Desafia até os próprios adversários que tentam encontrar nele ao menos uma sombra de mancha... Amamos a doçura e a bondade de seu coração? Ah! Coração amável de meu Jesus, doce, benigno, afável, clemente e misericordioso. Quem o sentiu lento em misericórdia por suas falhas ou rigoroso em acolher suas dúvidas ou impiedoso em conceder perdão às suas culpas? Ó Jesus, sempre amável! Agora não causa admiração o fato de que Madalena, olhando para vós, tenha esquecido amores e amantes, para poder amar unicamente a Vós; para não ver e ouvir senão a Vós; para viver somente convosco e por Vós totalmente. Ela já escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada (Lc 10,42). Que outra coisa poderá ela fazer no céu? E nós, não poderemos ver a Deus; e, vendo-o, amá-lo; e, amando-o, encontrar a felicidade? Ora, vendo a Jesus, não vejo também o meu Deus? Amando-o, não amo também o meu Deus? Não basta somente esse Deus, perfeito sob todos os aspectos para tornar, com sua visão, todos os santos felizes? E que outro ser poderá tornar-se objeto digno de meu amor senão Jesus? A NOVIDADE CRISTÃ 29 - Felizes os Olhos que Vêem o que Vedes "Felizes os olhos que vêem o que vós estais vendo" (Lc 10,23). Estas são palavras de Cristo a seus discípulos; não só aos que ali estavam, como eram os Apóstolos e outros que o seguiam, mas também aos futuros, em cujo número estamos incluídos. Nossa sorte, na verdade, não é inferior à deles. O que viam eles para serem chamados de bem-aventurados? "Teus próprios olhos hão de ver aquele que te ensina" (Is 30,20), como já havia sido profetizado por Isaías. E, nesse mesmo texto, foi também predito para todo o Povo de Deus que "teu Mestre não se esconderá mais" (Is 30,20). Além disso, para nós, Cristo também prometeu: "eis que estou convosco todos os dias, até o fim dos tempos" (Mt 28,20). Por acaso, aqueles que conheceram "Cristo à maneira humana" (2Cor 5,16) serão mais felizes do que nós que "não o conhecemos assim?" (2Cor 5,16). Eu leio assim: "Felizes os que, sem terem visto, creram!" (Jo 20,29). Como, então, "felizes os olhos que vêem"? Porque dois são os modos com que se pode ver Cristo: com os sentidos e com a fé. No primeiro, Cristo foi visto até por inimigos. Contudo, tal visão, longe de torná-los felizes, transformou-os em seres dignos de compaixão. "Se eu não tivesse vindo e não lhes tivesse falado eles não teriam pecado. Agora, porém, não têm desculpa para o seu pecado" (Jo 15,22). Os Apóstolos viram Jesus de ambos os modos, pelo sentido e pela fé. Por isso, seus olhos mereceram ser chamados de felizes. No segundo e mais perfeito, pela fé, vemos Cristo agora; todavia, se nos falta a visão sensível, nem por isso somos menos felizes do que eles. Que felicidade a nossa, por Deus nos ter chamado "para a sua luz maravilhosa" (1Pd 2,9), "com os santificados" (At 26,18)! E que tenha "iluminado os olhos de nosso coração" (Ef 1,18) para sermos "justificados, pela fé, em Jesus Cristo (Gl 2,16). Em síntese, como é consoladora nossa condição no Evangelho e na Graça! 30 - A Glória de Nosso Estado Na Lei evangélica, dois aspectos devem ser destacados: "O mais importante é o da graça do Espírito Santo, que é concedida por meio da fé em Cristo. O outro são os escritos do santo Evangelho, que contêm tudo o que se relaciona com a graça". Ora, como tudo deriva e se define a partir do mais importante, assim deve-se considerar que a Nova Lei concentra-se, sobretudo, na graça do Espírito Santo oferecida aos fiéis. São Paulo denomina-a "Lei de fé" (Rm 3,27), "Lei de Espírito e de vida em Jesus Cristo" (Rm 8,2). "Quais são estas leis escritas por Deus mesmo nos corações senão a presença do Espírito Santo?" Veja a que ponto chega a honra de nossa condição. Os hebreus gozavam, na antiga Lei, de promessas temporais, riquezas terrenas e opulência externa. Para eles, isso era muito bom, porque se consideravam "servos": Deus dava-lhes prontamente, a cada dia, seu salário. Nós, ao invés, somos "filhos": nosso Pai celeste nos oferece não o salário diário, mas a herança, segundo nossa condição. Só porque o mercenário pode mostrar o salário em sua mão significa que é mais rico do que o filho que espera a herança, ao qual o Pai diz "tudo o que é meu é teu"? Certamente não. Não me causaria espanto se alguém, entre os cristãos, nesta vida, apreciasse mais alguns bens terrenos do que a glória futura, porque, como diz Santo Agostinho, na Lei evangélica existem muitíssimos que, cristãos de nome e não de espírito, continuam vivendo debaixo da Lei e não da graça. Fazem parte ainda do Antigo Testamento, que procria na escravidão. Os que pertencem realmente ao Novo Testamento compreendem bem e gostam de ouvir o que a cada um deles diz Santo Agostinho: "tu não és chamado a abraçar a terra, mas a conquistar o céu; não à felicidade terrena, mas à celeste; não a sucessos temporais e prosperidades fugazes, mas à vida eterna com os Anjos". 31 - O Reino de Deus na Terra Nossa riqueza não está apenas no direito à herança futura, pois possuímos aqui na terra inúmeros outros bens. "De fato, desfrutamos de algo que não tem preço, diante do qual nada valem o ouro ou a prata, ultrapassando em valor qualquer bem precioso cobiçado e apreciado pelas pessoas" (Sb 7,9; Pr 8,11). Esta é a Sabedoria própria de todos aqueles que receberam o Espírito com a infusão de seus dons ou a unção do mesmo Espírito, como diz São João (1Jo 2,27). O que diremos, então, da caridade derramada em nossos corações? (Rm 5,5). O Anjo do Apocalipse, dirigindo-se ao anjo de Laodicéia - que, na verdade, era pobre, embora bem dotado de riquezas temporais, - assim se exprime: "tu dizes: `sou rico e abastado e não careço de nada', em vez de reconhecer que és infeliz, miserável, pobre, cego e nu! Dou-te um conselho: compra de mim ouro purificado no fogo para ficares rico" (Ap 3,17-18). E em outro lugar: "se alguém oferecesse todas as riquezas de sua casa para comprar amor, com total desprezo o tratariam" (Ct 8,7). Bem se pode dizer, portanto, a todos os que são fiéis à Nova Lei em Cristo: "nele fostes enriquecidos em tudo, em toda palavra e em todo conhecimento. Assim, não tendes falta de nenhum dom, vós que aguardais a revelação de nosso Senhor Jesus Cristo" (1Cor 1,5-7). 32 - Para o Cristão Todo Dia É Festa Cristo nos convida: "vinde a mim todos vós que estais cansados e carregados de fardos, e eu vos darei descanso. Tomai sobre vós o meu jugo... pois meu jugo é suave e o meu fardo é leve" (Mt 11,28-30). "Não são pesados para quem ama, mas certamente muito pesados para quem não ama". Para quem ama, tudo é fácil, tudo é leve. Até as adversidades, por causa do amor que é fundamento da Nova Lei, são facilmente toleradas por aqueles que são fiéis seguidores dessa mesma Lei. De fato, o que há de mais doce e agradável do que o amor? Que coisa mais suave do que ser guiado e dirigido pelo Espírito de amor? Aí está o sinal característico dos que, na Nova Lei, receberam a adoção de filhos, pois "todos aqueles que se deixam conduzir pelo Espírito de Deus são filhos de Deus" (Rm 8,14). "Onde está o Espírito do Senhor, aí está a liberdade" (2Cor 3,17). Liberdade autêntica, santa, pela qual "Cristo nos libertou" (Gl 5,1), conforme "o juramento que fez a nosso pai Abraão, de nos conceder que, sem medo e livres dos inimigos, nós o sirvamos com santidade e justiça, em sua presença, todos os dias de nossa vida" (Lc 1,73-75). Esta é, pois, a condição de felicidade de quem mora no monte santo de Deus ou em sua Igreja, plantada com o sangue de seu Filho, e que, portanto, pertence à Lei Nova de seu Evangelho. SEGUIR A CRISTO 33 - Santidade e Seguimento de Cristo A perfeição, que tem na caridade sua raiz e seu cumprimento, consiste na conformidade de nossa vida com a de Jesus nosso Senhor. Do momento em que este divino Mestre começou a agir e ensinar (At 1,1), deve-se dizer que somos chamados também a imitar as atitudes que vêm de seus ensinamentos, mesmo que Nele sejam singulares e de excelência incomparável. A caridade que com o Espírito Santo nos foi dada está derramada em nossos corações (Rm 5,5). Desde seu início e durante seu crescimento, assemelha-nos a Cristo, conforme seus preceitos e as obras de virtude. Esta é a perfeição evangélica necessária a todos os filhos de Deus, membros da Igreja, regenerados à luz do Evangelho. A caridade, quando alimentada, robustecida e tornada adulta, configura-nos a Cristo, de acordo com seus conselhos e o exercício de virtudes heróicas. Nisto consiste a perfeição própria dos Santos, dos heróis e dos homens apostólicos reconhecidos pela Igreja. Temos que reproduzir em nós os traços de Jesus Cristo. É preciso mostrar ao Divino Pai a imagem de seu Divino Filho em nós. Vamos, então, pedir a graça de segui-Lo e ser zelosos por sua glória e pela salvação das almas. "Se alguém quer servir-me, siga-me". Realizar, por amor a Ele, algo do que antes Ele fez por nós é nossa obrigação! 34 - Com Cristo a Qualquer Preço O mais alto grau de perfeição cristã consiste em assumir a seguinte disposição: pelo desejo sincero de imitar a Cristo Jesus e configurar-se a um Deus pobre, crucificado e exaurido, prefira-se a pobreza às riquezas, o sofrimento aos prazeres, a humilhação à exaltação. Ainda que alguém seja obrigado a viver em um estado de grandeza humana, deve cultivar a atitude interior e contínua que leve a vivenciar a pobreza. Isso significa ter o espírito de Jesus Cristo. Quão sublime, perfeito e excelente é chegar a esse ponto! Quem se entregar a Deus desse modo jamais será julgado. No entanto, percebo que estou longe disso, meu Jesus! A comprovação está no horror que sinto pelas cruzes e humilhações. Isso me convence de que ainda não vos amo verdadeiramente, ó meu Salvador! Se eu vos amasse, desejaria imitar-vos e amaria tudo aquilo que amais. Não, meu Deus, não é possível amar-vos, sem amar as cruzes e humilhações. Do mesmo modo, não é possível amá-las, sem amar-vos, porque só vosso amor pode inspirar-nos sentimentos elevados e contrários à natureza. Eu me ofereço, Senhor, para vos seguir. É preciso que me atraiais, apesar das resistências de minhas paixões e das contradições de minha orgulhosa razão e sentidos: "Levai-me atrás de Vós. Corramos!" (Ct 1,4) Fazei, meu Jesus, que vos ame, a fim de que ame também vossas companhias inseparáveis: o sofrimento, a humilhação e a pobreza. Seja meu prazer renunciar a todos os prazeres deste mundo, para não gloriar-me, como vosso apóstolo São Paulo, senão na humilhação de vossa cruz (Gl 6,14). Enfim, vossa pobreza e vosso sofrimento sejam minhas únicas riquezas e ocupem em mim o lugar de todas as demais coisas, meu adorável e amável Jesus. 35 - Radicalidade Evangélica Radicalidade evangélica é um desejo acentuado de seguir Nosso Senhor de perto, a custo da vida, na pobreza e na ignomínia. Ternura profunda para com o Filho, associada à fé muito viva. Grande desejo de união e de participação em suas dores e ignomínias. E mais: pedido da graça de padecer e de ser desprezado por Ele. São Francisco assim seguiu a Cristo: não atrás, mas ao lado; não perto, mas unido; aliás, não somente unido, mas transformado. Ele não procura consolações, delícias e os dons de Cristo, mas, unicamente, a Cristo. Cristo nu sobre a cruz, nas ignomínias e na pobreza. E isso desde o início de sua caminhada, começando exatamente onde outros somente conseguem chegar: "essas coisas que eram ganhos para mim, considerei-as prejuízo por causa de Cristo" (Fl 3,7). Por isso, deixa, recusa, rejeita qualquer coisa, pois não queria nada senão a Cristo e somente a Cristo. "Se alguém quer me servir, siga-me" (Jo 12,26), imitando meu modo de viver. Que se vislumbre, ao menos, algo do que foi a vida de Cristo, seguindo-o até a morte. Possui, certamente, a mais excelente disposição para a vocação sacerdotal o jovem ao qual o Espírito Santo abriu os olhos para sentir autêntico e ardente desejo: de glorificar a Deus, não só com palavras, mas com a vida; de confessar a fé no seu Filho exteriormente, com fatos; de seguir a Cristo, por meio da mais perfeita imitação de sua vida; de estar a seu lado até na Paixão, desdenhando o respeito humano e desprezando sua vida imperfeita. 36 - Fazer um Esboço do Protótipo Caminha, sem dúvida, na presença de Cristo, aquele que em tudo se esforça para orientar a própria vida à luz de seu exemplo, reconhecendo que Ele veio à terra para nos oferecer, em sua humanidade, a imagem do Homem novo. O servo de Deus, fechada a porta, reza em segredo (Mt 6,6). Com isso, Nosso Senhor ensina o modo de obter, conservar e aumentar o seu Espírito. Oportuna, a este respeito, é a imagem proposta por São Gregório. Aquele que tem um pequeno braseiro aceso, mas muito fraco, e teme que se apague, defende-o do vento e o alimenta com pedaços de madeira quando necessário, cortando lenha e dividindo-a em pequenos pedaços. Assim fazei também vós, mantendo recolhido o vosso coração e nele guardando o Espírito recebido na oração. Ao ler o Evangelho muitas vezes, procurai, diante das palavras e ações de Cristo Senhor, esmiuçá-lo bem por meio da reflexão e meditação, aplicando a vós aquilo que mais ajuda nas circunstâncias em que vos encontrais. Procurai formar-vos, segundo o Modelo no qual todos os santos se inspiraram. Como os principiantes em pintura, quereis também um modelo perfeito de inspiração? Lede a vida de um santo e achareis o melhor meio para vos estimular, entusiasmar e levar a traçar, com habilidade, a imagem do Protótipo, isto é, a vida de Cristo Nosso Senhor, autor da perfeição de nossa fé (Hb 12,2). E confiai muito em Deus, "tendo os olhos fixos no Senhor, pois ele livra do laço o vosso pé" (Sl 25,15). 37 - Um Perfeito Seguidor de Cristo: São Francisco A perfeição, que nasce da caridade e nela se completa, consiste no configurar-se a Jesus Cristo, que é a característica da sublime santidade de São Francisco. Falar deste herói muito santo é falar do perfeito espírito de penitência, da sublimidade da cruz e do inflamado espírito de amor para com Cristo crucificado. Aplicam-se-lhe perfeitamente as palavras de Cristo no Evangelho: (Mt 16,24): "se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome sua cruz, e siga-me". Reside aí o autêntico espírito de penitência. Em "tome sua cruz" está o espírito da cruz. Em "e siga-me" se encontra o espírito de amor. São esses o início, o desenvolvimento e a realização da santidade. Tudo isso resume bem quem é São Francisco. Ele chegou a quase ter um mesmo espírito com Cristo, a tal ponto que podia dizer também ele: "eu vivo, mas não eu, é Cristo que vive em mim" (Gl 2,20), por causa de uma inteira e perfeita transformação de amor. Ele renunciou totalmente a si mesmo para se encontrar em Cristo. Não é possível encontrar São Francisco senão com Cristo, ou melhor, em Cristo. Diria mais, não se distingue Francisco de Cristo: é desprezado como Cristo, pobre como Cristo, chagado como Cristo. Um santo profundamente transformado pelo amor não podia morrer senão de amor. 38 - Ápice do Seguimento de Cristo: um amor esponsal Muitíssimos seguem a Cristo tendo em vista um benefício temporal. Assim, o mercenário, ao chegar à porta do patrão, recebe o pagamento, mas permanece fora da casa. Muitos seguem a Cristo como servos, por temor, acompanhando-o, mas de longe, então, permanecendo distantes, não participam das confidências de seu Senhor. "O servo não sabe o que faz o seu Senhor" (Jo 15,15). Alguns seguem a Cristo como filhos, pelo amor interessado na herança. Assim os filhos são mais amados do que amam. Chegam, às vezes, a desprezar o pai, quando ordena algo contrário a seus interesses, mesmo sendo algo razoável e útil, porém, difícil e árduo. "Fiz crescer e prosperar filhos, porém eles se rebelaram contra mim" (Is 1,2). Poucos seguem a Cristo como amigos, os quais fundamentam seu amor no intercâmbio recíproco de bens. Quando, porém, cessam os benefícios, substituídos pela participação nos males do amigo, este é abandonado. Aqueles que eram chamados amigos de Cristo "o abandonaram e fugiram" (Mt 26,56). "Os outros buscam os seus próprios interesses e não os de Jesus Cristo" (Fl 2,21). Pouquíssimos seguem a Cristo como amantes, onde quer que ele esteja, sobre o Tabor ou o Calvário e, embriagados por seu perfume, correm atrás, embora não consigam manter a mesma passada, nem competir em velocidade, pois Ele dá não passos, mas saltos de gigante, ao percorrer seu caminho. "Exulta como um herói" (Sl 19,6). Somente a esposa, adulta na escola do amor, não é atraída pelo perfume, mas pela mão do Esposo e, estreitando-se fortemente e apoiando-se nele, caminha lado a lado. Com ele não corre, mas voa, "apoiada no seu amado" (Ct 8,5). O AMOR ESPONSAL 39 - Um Só Espírito com o Senhor A alma que ama a Deus é chamada esposa. Estes dois nomes, esposo e esposa, indicam o máximo de união entre duas pessoas. O esposo e a esposa têm tudo em comum: a casa, a mesa, o leito nupcial e a própria realidade pessoal - "por isso deixará o homem o pai e a mãe e se unirá à sua mulher, e eles serão uma só carne" (Gn 2,24). "Quem adere ao Senhor torna-se com ele um só espírito" (1Cor 6,17), por meio da caridade, pela união de vontades, pela graça e pela glória; por tudo isso o homem torna-se realmente divinizado. A alma fiel, esposa de Deus, chamada a formar um só espírito com o Senhor, é destinada a usufruir toda riqueza de virtude, de incorruptibilidade, de pureza, de paz e tranqüilidade. Ora, isso exige um enorme empenho. A alma que se une ao Senhor, como esposa sábia e prudente da Sabedoria do Verbo de Deus, precisa ser ornada com a beleza da Sabedoria à qual está unida, eliminando de si, com assídua meditação das coisas divinas, todo resíduo de humana insensatez, até que, unida totalmente com a eterna Sabedoria e feita um só ser com o Verbo, de corruptível se torne incorruptível, de mortal, imortal, manifestando a todos que está plenamente divinizada. 40 - A Visita do Esposo "Meu amado fala-me assim: levanta-te, minha amada, minha rola, minha bela, e vem!" (Ct, 2,10). Essas palavras são dirigidas à Igreja, Esposa de Cristo, não, porém, de modo exclusivo, pois cada um de nós - somos todos Igreja - pode também participar dos mesmos dons. De fato, todos nós, sem diferença alguma, somos chamados a receber esses dons como herança. Feliz a alma que merece ouvir, como dirigidas a si, tais palavras. Feliz quem souber estar sempre vigilante e atento à visita do Esposo, para o acolher, imediatamente, quando chegar e bater à porta. Se alguém de nós "empenha o coração em acordar cedo, dirigindo-se ao Senhor que o criou e orando em presença do Altíssimo" (Eclo 39,5) e esforça-se por abrir "caminho para o Senhor e estrada para o nosso Deus" (Is 40,3), acaso não "alcançará do Senhor a bênção, e justiça de Deus seu salvador"? (Sl 24,5). É evidente que será visitado e jamais esquecerá o tempo da visita. De fato, uma alma bem vigilante descobrirá logo o Esposo ainda distante; adivinhará seu desejo enquanto caminha com pressa; de imediato, o perceberá, quando estiver próximo e também presente. Saberá igualmente distinguir, com indizível alegria, seu olhar que a contempla e ouvir as palavras de incentivo e amor, com que é chamada. 41 - Visitas e Provações, segundo o Projeto de Deus "Já, pela manhã, o vigias e, a cada momento, o pões à prova" (Jó 7,18). Assim, Deus nos faz compreender que, vindo até nós com suas visitas, está levando nossos corações ao progresso nas virtudes e, depois, retirando-se temporariamente, permite que sejamos tentados. Procede desse modo porque se, depois que nos concedeu os dons das virtudes, não fôssemos tentados, seríamos induzidos a nos gloriar das virtudes, como se fossem apenas conquista nossa. Por isso, com a finalidade de fazer que nosso espírito conserve firmemente os dons divinos e reconheça a própria fragilidade e fraqueza, Deus, por meio das visitas de sua graça, eleva-o às alturas das virtudes e, logo depois, retirando-se, fá-lo reconhecer que é fraco por si mesmo. Isso é confirmado em alguns episódios da Santa Escritura. Elias, tendo sido visitado, pela manhã, por Deus, com uma palavra, abre os céus. Logo depois, com medo da rainha Jezabel, sente-se totalmente fraco diante daquela mulher, a ponto de fugir para o deserto (I Rs 19,3). São Paulo, elevado ao terceiro céu, chega a penetrar nos segredos do Paraíso. Depois, baixando à realidade, encontra-se às voltas com a luta da própria carne. Sente o peso de outra lei em seu ser. Este estado de rebelião leva-o a lamentar-se por causa dos tormentos do espírito (2Cor 12,1, seguintes). Portanto, Deus visita pela manhã e, logo depois da visita, coloca à prova. Concede seus dons que eleva a pessoa e, retirando-se por pouco tempo, revela quem ela é de fato. Vamos experimentar sempre essa condição até que, libertados radicalmente da mancha do pecado, cheguemos ao estado da prometida incorruptibilidade. 42 - Os Segredos do Amor Divino É preciso não esquecer jamais da palavra divina. Ela nos diz que Aquele cuja delícia é estar conosco pelo extraordinário amor que nos devota (Pr 8,31) também com sua amorosa Providência se distrai conosco, porque muito nos ama, até "brincando no globo terrestre" (Pr 8,31). Faremos bem, como nos adverte o Apóstolo Pedro, em voltar sempre nossa atenção à Palavra da profecia, que como lâmpada brilha em lugar escuro (2Pd 1,19). Não nos devemos admirar se o Senhor, ao mesmo tempo, oculta-se e revela-se, como faz o raio. O amável Salvador das almas está "espiando pelas janelas e espreitando pelas grades" (Ct 2,9). E, se desejamos ver sua face sem véus, ainda neste mundo - ou seja, ter claro conhecimento dele, de sua bondade e de sua Providência a nosso respeito, - também ele deseja ardentemente ver a nossa, como está expresso no Cântico dos Cânticos: "mostra-me o teu rosto". Se, de nossa parte, desejamos ouvir sua voz, ele deseja ouvir a nossa também: "e tua voz ressoa aos meus ouvidos, pois a tua voz é suave e o teu rosto é lindo!" (Ct 2,14). Ó admiráveis segredos do Divino Amor! Ó profundos abismos de caridade! Quando será que vamos realmente nos abandonar, como náufragos, neste mar imenso, a ponto de não mais enxergar as praias de nossa mísera terra? "Feliz o homem que nele se abriga" (Sl 34,9). 43 - Responder Prontamente ao Convite do Esposo "Levanto-me para abrir a porta ao amado: minhas mãos destilam a mirra... Então abri: mas ele se afastara e passara adiante... e não o encontrei" (Ct 5,5-6). Podemos reconhecer aqui, na esposa do Cântico, a alma atraída por Cristo a uma perfeição maior e à missão para a conversão dos irmãos. Não obedece prontamente, mas com hesitação e demora. Todavia, no final, arrependida da apatia, apresenta-se ao Esposo, oferecendo mirra, isto é, a mortificação e a penitência em reparação por sua indolência. O Amado, porém, vai-se e oferece-lhe não mais a graça heróica, mas uma graça bem menor por causa da rejeição no primeiro momento. Nega-lhe tanto alegrias e consolações espirituais como a possibilidade da conversão das almas, que teria conseguido, se tivesse obedecido prontamente ao convite de Cristo. O Esposo, de um certo modo, pune a apatia e a demora da esposa, obrigando-a a permanecer alerta. E, como quando ele quis entrar, ela não foi rápida em acolhê-lo e em ir-lhe ao encontro, assim, ele, por sua vez, não atende prontamente a seu desejo. Percebem-se o dano da apatia, a fadiga que produz em quem a ela se entregou e as conseqüências que sofre a esposa do Cântico. Por ter hesitado e não ter imediatamente aberto a porta ao esposo, é obrigada não só a ir até a porta, mas a percorrer a cidade toda, vagando pelas praças, enfrentando guardas e sendo ferida por eles (Ct 5,6-7). Só a duras penas acaba encontrando o esposo desejado. Se tivesse obedecido ao convite prontamente, evitaria todas essas desventuras. A ALEGRIA CRISTÃ 44 - Servir ao Senhor com Alegria Deus ama aqueles que o servem com alegria e doam tudo o que podem (2Cor 9,7) com boa vontade e satisfação, não com tristeza como os avarentos, nem por necessidade ou à força, como os contribuintes ao pagarem impostos. Normalmente, se é levado a servir de boa vontade e com alegria quando o senhor e patrão é pessoa de grande dignidade e valor, não ordenando coisas difíceis nem pesadas, pagando muito bem, recompensando generosamente os trabalhos prestados e tratando com bondade seus empregados. Ora, todas estas coisas se verificam, de modo mais perfeito, em Deus. Em particular, "os seus mandamentos não são pesados" (1Jo 5,3); mas, ao contrário, leves: "meu jugo é suave e o meu fardo é leve" (Mt 11,30). No serviço de Deus, as dificuldades, tribulações e os sofrimentos tornam-se fáceis e leves com o auxílio da graça divina e da esperança da glória celeste. Além disso, a recompensa que o Senhor nos reserva é bem maior do que podemos imaginar ou esperar. Além da riqueza de dons que nos concede durante esta vida, no futuro, dar-nos-á a si próprio, como prometeu a Abraão: "não temas, Abrão! Eu sou teu escudo protetor; tua recompensa será muito grande" (Gn 15,1). Entretanto, quantos são os que servem a Deus com tristeza de espírito! Vivem de má vontade e vêem somente escuridão, prontos a julgar isto ou aquilo. Fazem comentários desagradáveis sobre tudo, abrem enormes processos e proferem duras sentenças. É um vício diabólico que traz muita perturbação! O verdadeiro servo de Deus tem que empregar todo esforço para afastar de seu espírito a tristeza diabólica que acaba com a consolação espiritual e leva-o a ser abominável aos olhos de Deus e do próximo, além de fazer mal a si mesmo. 45 - A Consolação Espiritual A consolação espiritual é um dom gratuito de Deus, força com a qual praticam-se atos de virtude com facilidade, satisfação, gosto e coração inflamado pela doçura. As obras da carne, ao contrário, tornam insípidos e angustiantes tais atos. A consolação espiritual engloba, antes de tudo, paz, sossego interior, alegria, luz e clareza no conhecimento das coisas divinas, elevação do espírito, esperança voltada para Deus e caridade fervorosa. Faz parte da consolação espiritual também a avaliação equilibrada das realidades terrenas, pela qual aprende-se a desprezar a fama, o luxo e a vaidade do mundo e, ao mesmo tempo, a rejeitar os erros próprios da mentalidade mundana. Esses desviam a busca do verdadeiro sentido da vida, conforme o exemplo de São Paulo, que os considerava como "prejuízo deste bem supremo que é o conhecimento do Cristo Jesus, nosso Senhor" (Fl 3,8). A alma visitada pela consolação do Espírito Santo despreza as ameaças do mundo, frutos de violência, de fraudes e de astúcia. A fé e a esperança são muito mais fortes do que todas as ameaças mundanas. A consolação espiritual leva, ainda, a louvar a Deus por seus incompreensíveis caminhos e pelos desígnios de sua Providência, como também por todos os dons da graça. Incentiva o desejo de servir a Deus não por dever, mas por devoção, com fortaleza e humildade, não procurando os próprios interesses, mas os de Cristo. Finalmente, acende nos corações um ardente zelo para buscar, com todos os meios, a maior glória de Deus e para lutar, com todas as forças, pela vitória de Cristo. 46 - Fervor e Alegria A alma humana se fortalece no trabalho e se enfraquece no ócio, porque as boas obras são o alimento da alma: "o meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e realizar plenamente a sua obra" (Jo 4,34). Por isso, vemos como todos os servos de Deus que se desdobram em rezar, meditar, pregar e em outras atividades voltadas para a glória de Deus e a salvação dos irmãos são alegres, ricos espiritualmente e cheios de doçura celestial. Ao passo que os tíbios são aflitos, melancólicos, enfadonhos ao próximo e a si mesmos. Por causa da aridez de espírito, a oração, meditação e qualquer atividade espiritual são fastidiosas para eles. Por isso, buscam os prazeres mundanos. São semelhantes aos filhos de Israel que se lamentavam e murmuravam por causa do cansaço e sentiam aversão ao alimento do maná, choramingando pelas cebolas do Egito. Como aqueles ingratos desprezavam o alimento celeste desejando coisas sem valor, assim também são os tíbios que sentem aversão pelos alimentos e pelos delícias espirituais, desejando apenas os prazeres mundanos. Esses tais não poderão ser capazes de ter compreensão e compaixão pelo próximo, porque são indiferentes e grosseiros. Ah, miseráveis! Como vivem vazios de boas obras que, ao contrário, constituem a delícia das almas fervorosas! 47 - Como Defender a Paz Interior Permanecei sempre de bom humor. Colocai toda a confiança em Deus. Nele ela está bem ancorada e será muito frutuosa. Mais do que se possa esperar. Afastai-vos, quanto possível, dos que impedem ou perturbam os momentos de vossa paz ou vossos deveres. Procurai encontrar, com prudência, lugar e oportunidade para repousar o corpo e o espírito. Que vós também possais dizer: "eu durmo, mas meu coração vigia" (Ct 5,2). Buscai manter, a todo custo, a tranqüilidade e a paz, não usando qualquer sorte de desprezo e amargura, segundo as recomendações de São Paulo (Rm 12,18). Visai ao reino de Deus e sua justiça (Mt 6,33), deleitando-vos com a santíssima vontade de Deus e configurando-vos a ela. No mais, que o Senhor vos console e recompense pelos trabalhos, pelas esmolas e mortificações, cumulando-vos de merecimentos para a eternidade. Tudo acaba depressa. A eternidade, porém, jamais tem fim. O que não é eterno nada é, diz Santa Teresa. Façamos nossa parte, conforme a graça que Deus nos concede. Deus, certamente, fará a sua. Eu nem quero saber o que Ele pretende fazer. Fico tranqüilo ao crer que Deus pode fazer tudo o que quer. E sempre faz o melhor, mesmo quando parece agir de modo muito diferente, e até oposto ao nosso mesquinho ponto de vista. "Bendirei ao Senhor em todo o tempo, seu louvor estará sempre na minha boca" (Sl 34,2). 48 - Um Apóstolo da Alegria: São Zenão O rosto de Santo Zenão era sempre alegre, o semblante sempre sereno, o olhar sempre tranqüilo, os lábios sempre sorridentes, a fala sempre mansa, o aspecto sempre agradável e recatado, sempre contente e modesto, sempre amável e digno de reverência. A caridade autêntica em circunstâncias prósperas ou adversas é praticada sempre com alegria e júbilo. Aliás, esta é a verdadeira característica da caridade: a jovialidade, sinal de generosa e dedicada vontade. Por isso, é também flor e ornamento de toda virtude. E esta é a razão pela qual é muito querida por Deus. Sem ela nossos dons não serão bem aceitos por Ele (2Cor 9,7). Ela é muito estimada por Deus e louvada por todos os homens. Com muito maior razão foi sempre apreciada de modo especial pelos veroneses por tê-la visto em Zenão. De fato, tendo eles, por natureza, índole alegre e agradável, não se teriam adaptado facilmente a outro tipo de pessoa, com temperamento contrário ao deles. Além disso, nossos antigos concidadãos, avessos aos espetáculos cruéis do paganismo e à brutalidade dos vícios, não podendo encontrar por si a paz e a alegria que lhes era peculiar, viram um modelo em Santo Zenão. Sentiram-se imediatamente na obrigação de amá-la. Então, a ele se uniram, para melhor conhecê-la e conquistá-la. A alegria de Santo Zenão era uma fonte perene que contagiava os outros somente com sua presença. Ora, este homem, por acaso, nunca sofreu tribulações? Oh, sim! E quantas! Nunca sentiu angústias? Certamente, e muito freqüentemente. No entanto, tudo isso ficava em segundo plano, pois seu interior era alimentado pelo maná escondido, conhecido somente por quem o recebe. Aqueles que sabem esconder-se em Deus consideram as tribulações um nada, como se elas não os atingissem. Como uma flecha atinge o alvo, assim a jovialidade do rosto de Santo Zenão atingia os corações. Sua eficácia era notória. Podia-se perceber o efeito dessa seta certeira pelo grande número de pagãos que, todo ano, nas festas pascais, deixavam-se batizar por ele. Ao final, a cidade toda foi levada ao batismo por sua ação apostólica..

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Luziânia:

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Jake Mitchell, Avenue D zip 10009. João Pessoa: Eastman School of Music; 2006.

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