Curso Gestao Projetos Ambientais

Pleasantville campus - Se importa se eu acender um cigarro? Me importo, sim. Acho feio mulher que fuma. Você quer algo em especial? Já vou logo avisando que eu não gosto de bizarro, escatologia, essas paradas. Tudo bem? Tudo bem. Eu não quero parecer grossa, mas é que a gente encontra... muito maluco nessa vida. E eu sou meio careta. careta? Do que você gosta? Do que você gostar, bebê. Você está pagando. Mas sem maluquice. Mas eu sou maluco. Não, você não parece. Você é bem bonitão, bem-apessoado. Qual é o seu nome? Vanessa. Vanessa. Vanessa é o seu nome artístico? Digamos que sim. -E o seu? -Não importa. Você não me conhece? -Que eu lembre, não. -Você não sabe o meu nome? Você também tem um nome artístico? Isso não importa. Que bom, você não sabe quem eu sou. -Você faz alguma coisa? -Eu faço música. Legal. Eu adoro música. Que bom! Que tipo de música você gosta? Eu gosto de axé, de dance, gosto de funk. De tudo um pouco. Entendi. -E você gosta de funk? -Funk? Bo Horne. Você conhece? Não. Esse daí não. Ele é carioca? Não. Por quê? Funk é carioca, não? Vai ver que é por isso que eu não conheço. Ele deve ser paulista. Paulista tentando fazer funk carioca. Que merda! Esse cara aí é você? Cara, desculpa. E você? -Não. Definitivamente, não. -Eu estou ligada. Você não me conhece? Nunca me viu? Não. Não que eu me lembre. Eu não sou muito boa em guardar rosto. Você não sabe o meu nome? Ótimo, então. Vamos começar? Ok. Eu vou te pedir uma coisa. Eu vou te chamar de Laura. Pode ser? Laura? Já me chamaram de cada coisa, se você soubesse. Laura para mim está ótimo. -Qual é seu nome? -Vanessa. Eu já falei. Não, você não entendeu. Qual é o seu nome? Laura. Laura. Meu nome é Laura. Laura. Laura. 0 que você quer da sua Laura, meu amor? Laura. Fala para mim o que você está sentindo. 0 que você está sentindo? Minha musa! Minha música! 0 que você está sentindo? Vem, vem meu amor. Minha musa! Vem, vem, meu amor! Laura! 0 que você quer de mim? 0 que você quer da sua Laura? -Que saudade de você! -0 que você quer da sua Laura! Eu preciso... Eu preciso... Eu preciso te reviver. Nem que seja por uma dor. Eu preciso te reviver. Me conta. Me conta. Me conta. Me conta dos seus homens. Me conta! Para que você quer reviver isso agora, meu amor? Para que reviver isso? Porque é nessa dor que eu vou te reencontrar. Fala, fala para mim. Na noite em que eu estive com o Giuliano, na noite em que eu o tive... eu o tive porque eu quis. Simples assim. Eu poderia ter tido qualquer um, mas eu escolhi ele. Pouco me importava se ele era mais inteligente ou menos inteligente que você. Pouco me importava se ele era jovem, bonito, atlético... se ele tinha um pau grande, grosso, se ele mexia bem lento, bem gostoso dentro de mim. Pouco me importava se ele era melhor do que você... ou pior. -0 que mais você quer saber? -Tudo. -Se foi bom? -Sim. -Se eu gozei? -Sim. Gozei. Eu gozei duas vezes. Em nenhuma delas eu estava pensando nele. Na segunda vez foi quase sem querer. Foi um impulso do corpo. Eu não aguentei. 0 corpo às vezes age por si só. Pensa por si próprio. Mas era em você que eu estava pensando. Era no seu corpo que eu pensava o tempo inteiro. Era o seu suor que eu estava sentindo. Era o seu gosto que eu estava sentindo. Era o seu pau que eu imaginava dentro de mim... enquanto o dele me possuía inteira. Era em você que estava o meu pensamento. Era em você que estava o meu pensamento. 0 pensamento de uma mulher... é a única coisa que um homem pode possuir verdadeiramente. Mas é tão raro. Não se engane, meu amor. Eu sempre fui sua. Sempre. Meu corpo pode ter sido de vários homens, mas a minha alma e o meu coração sempre foram seus. Agora, se você quer acreditar nisso, se você quer sofrer pensando em mim... eu deixo. É isso que você quer? Sofrer pensando em mim? É isso? Eu preciso ir ao seu encontro. Não, não precisa. Você ainda tem muito por fazer. Laura, eu preciso ir ao seu encontro. Senhor? Você está bem? Você usou alguma droga antes de vir para cá? Eu não sei quem é essa Laura, mas eu não quero mais brincar disso. A coisa está ficando séria. Eu estou ficando assustada. Você está bem? Eu sei que você já pagou primeiro, mas... mas vou eu trocar meu cachê por um conselho. Vai atrás dessa Laura, bebê. Vai atrás dela e abre o seu coração. Diz tudo o que você sente. Eu estou falando como mulher. Eu sei do que eu estou falando. É batata! Ela volta para você. Você é maluquinho, mas parece uma boa pessoa. -Não deixa ela ir embora, não. -Vá atrás dela, bebê. Ela se foi. Maestro, com licença. Desculpe-me pelo atraso. Não é do meu feitio. Muita sorte minha merecer tal desfeita, não? Já que não é do seu feitio, eu sou um privilegiado. Desculpe-me. Pare de se desculpar, rapaz! As pessoas se desculpam demais. A sua ausência não teve a menor importância para mim. Eu até acho que teria sido melhor outro lugar... Qual é a sua experiência? Eu trabalho há 15 anos na editora. E você se sente capacitado para escrever uma matéria sobre mim? Não é uma matéria. E uma biografia. Um livro. Sim. A editora acredita que eu sou a pessoa indicada para esse projeto. -E você? -Eu? -Você. -Eu o quê? Você se capacitado para escrever sobre mim? -Eu me sinto honrado. -Pois eu não espero nada de você. Me diz coisa, rapaz. Você já amou uma mulher de verdade? -0 que isso tem a ver? -Tem tudo a ver! Eu fiz uma pergunta! Ora, senhor, nós estamos aqui para falar da sua história. Eu quero saber se você já amou uma mulher a tal ponto... que você se sentiria capaz de desafiar o tempo e o espaço... para ficar o tempo todo com ela. Eu receio que não. Eu quero saber se você já sofreu por amor. Não por um amor não correspondido, mas pela impotência diante do destino. Pela impossibilidade de viver esse amor e não conseguir sequer respirar. Porque quando você perde um grande amor é como se você perdesse o chão. Você flutua entre o céu e a terra. -Não, senhor... -Não, você não está capacitado... para escrever sobre ninguém porque você não viveu ainda a sua vida. Vá viver a sua vida, rapaz. E mande lembranças ao seu editor. Entregue isso para o dono do restaurante e vá pagar a conta. Um autógrafo? É um privilégio dos famosos. Você não precisa andar com dinheiro. 0 senhor poderia aproveitar e assinar a partitura... de uma de suas obras para um amigo? Com esse guardanapo, você paga a conta. Se eu assinar uma partitura, você compra o restaurante. Entendeu? E compre uma tinta menos barata para o seu cabelo. Eu não suporto mais isso. Eu não aguento mais ser sua diversão! Calma, Laura. Você não é a minha diversão. Mas é assim que eu me sinto. Como o seu bichinho de estimação, sozinha, trancada aqui nessa casa. Sempre à sua disposição e à disposição da sua genialidade. 0h, grande maestro! Eu te adoro. De verdade, eu te adoro. Mas não quero mais viver à sua sombra. Eu não quero mais passar o dia inteiro transcrevendo suas partituras maravilhosas. Enquanto a outra fica lá, sob os holofotes, saindo em capa de revista... como uma esposinha lindinha. Entendi. Você quer ser a esposa amável? Não, eu não disse amável. Eu disse lindinha. Eu sou musicista. Eu sou. Mas eu também sou mulher. Mulher! Eu acho que às vezes você se esquece disso. Sabe qual é a pior coisa para uma mulher apaixonada? É saber que ela vai dormir sozinha, enquanto o homem que ela ama está na cama trepando com outra. Sim. Que nem você estava outro dia com um spallinha de terceira categoria... num hotel e me ligando bêbada de madrugada para dizer isso. É, exatamente isso. Foi para isso mesmo. Para que você sentisse uma vez o que eu sinto todos os dias. Para você se lembrar de que eu sou uma mulher. Uma mulher! Aliás, você se lembra disso, sim. Quando quer me foder. -Quando quer trepar comigo. -Boquinha suja! Se está suja foi com o seu pau que eu sujei aqui, várias vezes, dentro dela! É, definitivamente você não serve para ser a esposa lindinha. Eu duvido que ela faça a metade do que eu faço. Eu duvido. Você só está com ela por interesse. -Por interesse, não. -Por interesse, sim. Pelo nome dela, pela família dela, coisa que eu não tenho: nem nome, nem família. -Não é interesse, não. -E interesse, sim! -Não é interesse. -É. -É culpa. -Que culpa? t -É culpa. -E culpa do quê? É culpa, porque no dia em que ela sofreu aquele acidente eu estava aqui com você! Quando ela tinha me pedido para levá-la para a casa dos pais dela de carro. Que bom! Te salvei de uma boa: do acidente. Você podia estar lá com ela, ter se acidentado... Te salvei de uma ótima. Além do mais, ela está viva. Mas tinha uma criança. Como assim, uma criança? "Como assim, uma criança?" Ela estava grávida! Uma criança? Ela estava grávida? Você ia ter um filho e não me disse. Como você me escondeu que ia ter um filho? Como é que você escondeu isso de mim? Isso aqui é a única coisa que te interessa, não é? Essas partituras, essas porcarias que eu fico... o dia inteiro transcrevendo para você. Não faz isso! Essas partituras são originais. Agora eu, você e a música temos um pacto de sangue. Nós vamos estar para sempre juntos. Não! Doutor Guilherme! Uma curiosidade: quantos ossos tem no corpo humano? Pelo que eu aprendi, 206 ossos. Mas esse cigarro aí faz mal para cada um deles. Mas isso você já sabe há muito tempo. Falando nisso, me arranja um cigarro. -É o último? -E, o último. Obrigado. Bem, Dr. Guilherme... um médico fumante impregnando seu jaleco e seu estetoscópio com bactérias... e atendendo os pacientes dessa maneira. Isso sim faz mal à saúde. Fazer o quê? Isso é hábito da nossa época de faculdade. Faculdade. Você se acha muito importante porque fez várias faculdades. Sabe, eu estava aqui há poucos momentos vendo um lixeiro recolher a imensidão de lixo que esse hospital produz. Lixo perigoso! E fiquei pensando que ele é mais importante que você apesar de não ter feito faculdade nenhuma. Porque se ele parar de recolher o lixo nós vamos ficar entregues... a doenças terríveis que você não vai conseguir resolver. Eu me julgo tão importante quanto um lixeiro ou quanto à sua nobre pessoa. Mas vamos logo ao ponto. Eu te chamei aqui porque Laura está muito debilitada. Não há muito mais o que se fazer com ela. Eu escuto isso a minha vida inteira: "Não há muito o que fazer." Mas e o meu dinheiro? 0 dinheiro que emprego na sua instituição há anos? Maestro, você é rico, você é famoso. E eu sei muito bem que esse dinheiro não vai lhe fazer falta. Da mesma forma que eu e você sabemos que ele não vai reservar seu lugarzinho no céu. Mas esse seu dinheiro vai fazer muita falta para muita gente. Se é que isso te serve de consolo. Eu não estou querendo consolo, não. Vamos direto ao assunto. Quanto tempo tem Laura? Eu acho que ela tem dias, alguns dias. -Você quer vê-la? -Não. Eu não conseguiria. A Laura ultimamente ficou obcecada pela ideia maluca e impossível que vocês tiveram. Não, não é ideia maluca. E um pacto que eu tenho com ela. E eu tenho um acordo com você, Guilherme. -Espera, mas esse pacto pode ser... -Não pode ser desfeito, não. Eu sou bem capaz de assinar um termo Vitalício de doação a sua instituição. E não me importa o que você vai fazer com o dinheiro. Se você quiser fazer um cruzeiro ao redor do mundo, você faz. Se você quiser usar em pesquisa de ponta, você usa. Agora, você tem um pacto, um acordo comigo. Você me deve. E quando chegar a hora, você vai pagar. Desculpa. Qual é sua fantasia? -Que tipo de jogo é esse agora? -Não é jogo, não. Não? Que pena, achei que fosse um jogo. -Então pode ser um jogo. -Valendo o quê? -0 meu coração. -Esse eu já tenho. Pensei que você tinha o meu corpo. Não, eu quero tudo. Ou tudo ou nada. E então, qual é sua fantasia? Faz o seguinte: me diz qual é a sua fantasia primeiro. -Já sei: transar com duas mulheres. -Nossa que clichê. Clichê? Então está. Eu vou ligar para aquela amiga minha... que eu tinha reservado uma surpresinha especial para você, e vou desmarcar. -Não desmarca, não. -Não? E clichê! A vida é um clichê, sabia? Viver, amar, morrer... Tudo isso é muito clichê. Assim como a gente aqui que nem dois adolescentes também é clichê. E a Raquel como é que está? Raquel é um assunto proibido. Mas ela também deve achar tudo isso tudo clichê. Ela também deve ter suas fantasias, suas vontades... Não. A Raquel não tem sexo. A Raquel é uma indiferença. Nossa, que triste. É. Raquel é triste. Eu estava de você. 'Está bem. Sabe qual é o meu desejo? E reger uma orquestra totalmente nua. Totalmente sem roupa. Só eu e a minha batuta. No meio daqueles homens, daqueles músicos todos respeitáveis. E eu lá. Totalmente livre. Eu, sozinha, no meio daqueles homens, pelada... Com aqueles homens respeitáveis. E só eu, livre, com minha música. Está difícil, hein? Que coisa! Eu venero você, sabia? Nossa, que coisa mais religiosa isso! Seu corpo é minha religião. Fazer sexo com você é minha liturgia. Sabe qual é o problema de ser santa? Eu não tenho a menor vocação para ser sacrificada. Pena que não é o cordeiro que escolhe ser a vítima. É a fera quem escolhe o sacrificado. "É um privilégio poder falar de si mesmo." Laura. Laura. Raquel, você pode me dar um lenço? Raquel? Você se incomoda de apagar a luz? Obrigado. De nada. Bom dia, meu maestro. Essa música... -É lipda, não? -E linda! Mas ela estava na partitura que você rasgou. Eu rasguei, sim. Mas eu decore¡ nota por nota. Sei tudo décor aqui e aqui. E eu aposto com você que se eu errar um acorde, eu te pago um boquete. Eu não sei se torço para você errar ou se eu escuto essa canção inteira. E como tudo na sua vida, não importa a situação, não importa o que aconteça, você é quem vai sair ganhando. Maestro... Eu não estou conseguindo mexer as minhas mãos. Para com essa brincadeira. Eu não estou brincando! Para com isso. Para de brincadeira. -Eu não estou brincando! -Laura! Eu não estou brincando! Eu tinha preparado uma longa lista de agradecimentos... mas me sinto impelido a fazer uma confissão. Música é o silêncio entre uma nota e outra. E esse silêncio é carregado de vida... de significados, de sentimentos. Esse trabalho só foi possível pela minha relação com a talentosa compositora a quem eu acho que esse prêmio deve ser entregue. Esse prêmio é para Laura Martin. Muito obrigado. Perguntas, senhores? Senhor maestro, qual é a sensação de receber um prêmio tão importante como esse? 0 prêmio é uma superestimação. Nesse caso, eu me permito dizer que o premiado foi superestimado. E o senhor poderia dizer alguma coisa sobre a sua próxima obra? Não. Obrigado. Ele gostou de mim, viu? E eu também gostei dele. Eu sempre gostei mais de bicho do que de gente mesmo. Na verdade, eu sempre me achei mais bicho do que gente. Tem uma coisa que eu quero te perguntar: Você não acha que está na hora de você compor alguma coisa para você, não? As melhores partes da minha própria obra eu emprestei para você, meu caro maestro. Na verdade, acho que eu deixei você roubá-las de mim. Uma por uma. Você sabe como me machucar, não? Mas eu tenho uma surpresa para você. Eu comecei a compor uma obra. E quando terminar, vou dedicá-la a você. Minha obra-prima, em algum lugar, entre o meu coração e o meu pensamento. Eu sou completamente apaixonado por você. Você até esquece a nossa diferença de idade, não é? /á Í Eu sou uma mulher madura e você um menininho de 13 anos. É assim que eu me sinto na toda vez que... eu olho para você com essa carinha de bobo. Mas eu sou um bobo te olhando sempre. Um menininho. -Um bobão. -Bobo. Por favor, Raquel. Raquel? Raquel, me ajuda, por favor. -0 que ela está fazendo aqui? -Ela está doente. 0 que ela está fazendo aqui? subitamente, ela ficou doente. Eu não sei o que fazer. -Eu preciso da sua ajuda. -Que falta de respeito! Não é falta de respeito. Ela precisa de ajuda. Eu não quero levá-la para qualquer lugar, entendeu? P°r que? Porque ela precisa ficar perto de mim. Não quero mais. A parte do violoncelo. Eu não consigo mais tocar... mas a música continua viva dentro de mim. Mais do que nunca. Laura. Laura. Raquel? Raquel? Raquel? Me ajuda aqui. Não. Eu não posso ajudar. Raquel, me ajuda. Não, eu não posso ajudar. Eu não vou ajudar. Olha para mim. Olha para mim, Raquel. Ela não vai durar muito. Me ajuda, por favor. Nós vamos ficar juntos no fim, como você sempre quis. Obrigado. Eu só queria que você me amasse... um por cento do que você ama essa mulher. Um por cento. Eu poderia te matar agora. Mas Deus sabe o que faz. E eu sei esperar. Bom dia, meu queridinho. 0 que está acontecendo, Raquel? Não está acontecendo nada. Sem teatrinho. 0 que está acontecendo? Nada. Está tudo normal. Na mais perfeita perfeição. Meu marido não me ama, nunca me amou. Quase não temos mais empregados em casa. No fundo, eu também sou a empregada aqui, não é? A amante de meu marido está dormindo no nosso quarto... eu estou dormindo no quarto de hóspedes. 0 dia está lindo. Está tudo normal. -Você aceita um café? -Obrigada. Eu tenho um compromisso agora. Por favor, cuide dela. Por mim. Claro. Com licença. Vai embora, vai. Vai embora logo. Laura? Laurinha? Laurinha? Enfim, sós. Estamos só nós duas aqui em casa. Só as meninas. Minha menininha, você está tão fraquinha. Como assim? Não está se alimentando, não? Como é você quer que o lobo mau te coma? Hein? Se você morresse agora... esse seria o último som que ouviria na sua vida. 0 som da minha risada. Mas eu vou fazer o que eu prometi. Viu? Vou cuidar de você. Eu vou cuidar de você. Você vai ser minha amiguinha. Espera um pouquinho aqui. Espera um pouquinho. Oi. Oi. Eu sou a Érica. Tudo bem? Vamos brincar? Eu gosto tanto de brincar! Você não quer brincar comigo, não? Você não quer ser minha amiguinha? Fica sendo a minha amiguinha, fica? A minha amiguinha! Já sei! Fica aqui um pouquinho? Fica, Eriquinha, aqui. Espera. Olá. Oi. Eu me chamo Laura. Como vai você? Olá, Laura. Pode me chamar de maestro. Olá, maestro. Você quer me comer? Eu adoraria. Mas acontece que eu estou morta. Martinha! Estou morta. Viu, maestro?! Agora a gente... vai brincar. Eu vou tomar conta de você. Minha bonequinha, venha aqui. Vamos fazer bem bonitinho, bem gostosinho a nossa brincadeirinha. Minha menininha vai ao baile e vai ficar muito bonita. Pronto, olha aqui o que eu trouxe para a minha menininha ficar bonita. Vamos! Você vai ficar linda. E no baile a gente vai encontrar o príncipe. Isso, muito linda. Vamos ficar. Você é tão nova. Eu tenho raiva dessa sua juventude. Eu tenho inveja. Eu tenho inveja dessa sua juventude. Então, vem cá. Você quer... ser a minha filhinha? Você quer ser minha filha, quer? Você deixaria ele? Eu cuidaria de você. Eu vou cuidar tanto de você. Tanto! A gente vai se fazer companhia. Você não vai ficar com ele. Você fica sem ele. E fica comigo. E eu cuido de você. Está bem? Vamos dormir. Dorme, dorme, filhinha Anjinho inocente Dorme, filhinha Que a mamãe fica contente Se essa rua, se essa rua fosse minha Eu mandava, eu mandava Iadrilhar Com pedrinhas, com pedrinhas de brilhantes Só para o meu, só para o meu amor passar Nessa rua, nessa rua tem um bosque Que se chama, que se chama solidão... Laura? Laura, querida? Se você fosse um homem... você sentiria... desejo por mim? Você tem tanta sorte. Se você morrer... você não vai ver a sua beleza física... morrer antes da sua cabeça. Tanta sorte que você tem. Você tem tanta sorte. Tanta sorte. Mas o que é isso? Você ficou louca? -Para com isso! -Que falta de respeito é essa? Quem é você para falar de respeito? Do que é que você está rindo? Quem diria? Quem diria? Que você iria me encontrar na cama com o amor da sua vida? Eu seria a última pessoa que você pensaria. Eu não me lembrava mais do peso da sua mão. Não me lembrava mais da textura da sua pele. Não me lembrava mais do seu toque. De hoje em diante... você não pode mais chegar perto dela. Entendeu? Não pode mais chegar perto dela. É? Quem vai cuidar dela, meu bem? Quem vai cuidar dela? Você, é? Você não sabe nem cuidar de você. Você vai cuidar dela? Eu posso cuidar dela, sim. -Pode? -Posso. .ÉR .E. LegaL Então você vai cuidar dela. Aqui. Você vai lavar as roupas sujas de merda do amor da sua vida. Por que sabe quem lava isso? Sabe quem lava as roupas de merda... do amor da sua vida? Sou eu. Então agora você vai lavar. -Eu vou embora dessa casa. -Não, não, não, não. -Eu vou embora. -A gente não pode se separar agora. Você vai ficar com o seu fantasma. Você vai ficar sozinho e eu vou embora. Há muita coisa em jogo. Não vá embora. -Ela tem que ir embora daqui. -Não. -Ela tem que ir embora daqui. -Não, não. -Ela vai embora daqui. -Não. Ela pode ficar um pouco mais conosco. Entende? Entende isso? Ela tem sorte porque ela não sabe quem é você. Ela não sabe quem ela ama. Ela não tem a menor ideia de quem é você. Eu vou embora. Você vai ficar com ela e vai tomar conta dela. Não vá embora. Nós vamos ficar juntos. Raquel, por favor. Faz isso por mim. Você é patético. Patético. Patético. Não é irônico? 0 que é irônico, querida? Eu sempre me achei uma força da natureza. E agora, só a natureza para dar um jeito em mim. Para com isso. Você vai ficar bem. Não, não vou. Vamos. Outra. Droga. Grande forma, maestro. A prática é o segredo de tudo. Eu confesso que eu joguei mal à beça. Não jogou mal, não. Você jogou bem. É que você sabe reconhecer quem joga melhor que você. Eu sei reconhecer um bom perdedor. -Um suco? -Um suco. Maestro, antes de mais nada, meus parabéns pela brilhante apresentação em Viena. Foi um marco. Giuliano, eu concorde¡ em te receber aqui, o que não quer dizer que eu tenha tempo a perder. De forma que vamos encurtar a conversa e vamos direto ao que você quer de mim. Maestro, eu não sei nem como começar. Comece pelo jeito como você comeu Laura Martin. Depois que você saiu com ela, o que fez com ela? 0 que ela significou para você? Você saiu com ela. E então? Maestro, eu não me lembro. Isso faz muito tempo. Eu estava bêbado. Giuliano, conversa de homem para homem. Como foi? Ela gostou, ela gozou, ela te elogiou? Ela deu bonito? Como foi? Me satisfaça essa curiosidade. Como foi? Me conta. Maestro, o que você quer saber? Se ela deu de quatro, em cima... se ela ficou embaixo? Como eu já te disse, eu não sei. Eu estava bêbado. Eu não me lembro. A única de que eu me lembro é que ela falou que gozou pelo menos umas duas vezes. Mas eu nem consegui gozar, maestro. Sabe o que é? A Laura é uma mulher muito forte, muito dominadora. Eu confesso que eu não consigo me adequar muito bem na cama com... Maestro, ela me usou. Ela fez o que ela queria e depois ela me colocou para fora. E eu fiquei lá em pé, sem entender o que tinha acontecido. Foi isso. Se quiser saber mais alguma coisa, o senhor pode perguntar para ela. Muito bem. Eu sei que você quer me fazer um pedido. Em contrapartida, eu também tenho um pedido a lhe fazer. Pode ser? Se você concordar... Bom, como o senhor bem sabe, está abrindo uma vaga na filarmônica... do Maestro Strassberg, que é um grande amigo do senhor. Não, não é só um grande amigo. Ele é praticamente um irmão. Eu tenho uma grande influência sobre ele. Pois é. Eu precisaria... Eu gostaria de uma indicação, se fosse possível. Giuliano, você deve saber que tem uma legião de candidatos. É o ápice da carreira de um jovem musicista como você. Não é verdade? Eu faço essa indicação. Desde que você faça um favor para mim. Claro, maestro. Eu faço o que o senhor quiser. -0 que eu lhe pedir você faz? -Qualquer coisa. -Qualquer coisa? -Sim, senhor. Pois eu quero que você faça sexo com a Raquel, minha mulher. Como, maestro? Fazer sexo com a minha mulher. Maestro, que tipo de perversão é essa? Do tipo que você nunca vai esquecer. Quer um suco? Giuliano, eu só não estou entendendo a razão do seu convite. 0 que eu estou fazendo aqui? -0 vinho está bom? -Está ótimo. Então, o que eu estou fazendo aqui? Digamos que eu preciso de um conselho seu. Você é uma mulher refinada, acostumada a grandes concertos... e com certeza vai saber avaliar meus talentos. Mas ainda não. Obrigada. Olho no olho. Tim-tim. 0 que é isso? Eu te falei que eu queria te mostrar um talento. Para com isso. Que história é essa? Se você quer conquistar uma mulher ou alguma coisa nessa vida... pelo menos se comporte como um homem de verdade. Desculpe. É que eu... Eu sou uma farsa. Como assim? Talento. Eu não tenho talento. Eu sou rico, sempre tive dinheiro, os melhores instrumentos... os melhores cursos, os melhores professores. Mas tem uma coisa que o dinheiro não compra: Talento. Talento. Talento todo mundo tem. Todo mundo tem. É só uma questão de procurar. Me diz, qual é o seu? 0 meu? 0 meu... 0 meu talento... é aguentar músicos chorões. Homens feitos que se transformam em bebês na minha frente. Esse é o meu talento. Eu posso te pedir um favor? o qua? Se o maestro te perguntar se ficamos juntos... Maestro? Como assim? Esta noite foi ideia dele. o qua? Eu pedi um favor ao maestro. E em troca desse favor, ele queria que... eu e você... Você sabe. Não. Eu não sei. Raquel, ele queria que eu e você... A gente... Eu posso te garantir que o que você pediu para ele... você vai conseguir. Quanto ao que ele pediu para você, quem quer agora... SOU eu. Larga ele para ficar perto de mim. Eu vou cuidar de você. Só nós duas. Você não teve mãe, eu não tive um filho. Eu não tive nenhuma filha. Você podia ser a minha filhinha. Eu ia tomar conta de você todo dia. Por que eu estou aqui? Você me prometeu. Agora seja forte e cumpra a sua parte. Você tem certeza mesmo de que quer fazer isso? Eu prometi isso para ela, Guilherme. Mas de que adianta agora? Ela está morta mesmo. Tudo bem. Tudo bem. Só vou fazer isso porque você é o único amigo dela. Aliás, você é a única família dela. Não podemos nos esquecer de que você é o maior doador dessa instituição. -E, sobretudo, você é meu amigo. -Chega, chega, chega. Chega, você faria isso mesmo que não precisasse. Isso é da natureza humana. Você tem certeza mesmo, maestro? Quem é você? Senhor, preciso levá-la para dentro agora. Ela precisa tomar banho, tomar remédios e descansar. Senhor? 0 maestro acredita em Deus? Sim. Por quê? E não tem medo de pagar muito caro por isso? Meu amigo, quando Laura ficou doente, Deus fechou os olhos para nós. Tenho certeza de que Ele não está vendo nada disso. Eu garanto. Ela teve um momento de lucidez e pediu para te ver. De repente ela se trancou, não quis ver ninguém não está comendo nada. Coloquei ela em um quarto exclusivo a seu pedido. Meu Deus! Laura, Laura? Ela está estranha, senhor. Está violenta. Surtou. Deposite¡ uma grande soma de dinheiro na sua conta hoje. Não. Eu nem sei por que aceitei fazer isso. Eu nunca fiz nada parecido com isso. 'Eu entendo, eu sei. E um trabalho único. Só um artista como o senhor pode realizar tal tarefa. Eu sei que esse dinheiro vai lhe ajudar. E mesmo que não fosse pelo dinheiro. Aceito. Meu amigo. Meu caro maestro, Na sua vida, eu fui só uma sombra. E quando eu não estiver mais aqui, espero que a minha falta te acompanhe e assombre as suas noites. E que na ausência do sono você não encontre as notas cenas... que estão todas lá, mas eu já não existirei para te indicar onde. Se estivesse, eu te perguntaria se o maestro acredita mesmo... que foi você quem criou as obras que assina. Mas não é preciso. Eu e você sabemos que não. Como não é o seu sobrenome que você carrega... nem é a sua família nas fotos que decoram a sua casa... nem é o seu sorriso vazio que estampa as capas de revistas... e jornais em que você sai. O talento, que também não é seu, segue comigo. E o que te sobra? Lamentar a minha morte... e a tua falta de sorte. E que ao final a minha morte reine sobre a mediocridade de uma vida... sem 3h10¡ e sem talento. Eu morro aqui, mas você já estava morto antes de mim. Acabou tudo? Que ela descanse em paz. E que a gente possa viver em paz. PTOCU re esq uecer. PTOCU re esq uecer. Procure. A vida segue em frente e sua arte também. A sua arte também vai seguir em frente. PTOCU re esq uecer. Ele é meu. Ele é meu. Ele é meu. Que bom que vocês se entenderam. Digo, o senhor e a casa editora. Tenho certeza de que escreveremos um livro à altura da sua importância. Depois você procura a Raquel, minha mulher. Ela vai te contar histórias bastante interessantes a meu respeito. Ela vai ter muito prazer nisso. Porque eu confesso para você que não tenho prazer nenhum. Que bom. Eu tenho certeza de que ela deve conhecer as melhores histórias. Vocês são um casal tão bonito... há tanto tempo juntos. Maestro, eu vi aquele piano lá na sua casa... Ele tem uma cor especial, uma textura especial. -Sentiu o teclado dele? -Exatamente disso que estou falando. Esse piano tem uma história muito especial. Quando comecei os meus estudos eu era muito duro, muito pobre. Eu tinha o sonho de ter um pequeno apartamento... com um piano para desenvolver as minhas histórias, a minha música. E isso parecia impossível. Eu mal tinha dinheiro para me alimentar corretamente. E eu frequentava uma padaria que ficava perto do conservatório. Lá tinha uma senhora, que acho que gostava muito de mim... e que deve ter ouvido algum comentário meu a esse respeito... e ela me avisou que ali perto tinha um apartamento à venda. E nesse apartamento, quem o comprasse levava de brinde um piano que lá existia. Nossa! Que engraçado. Eu não tinha dinheiro nem para comer... nem para alugar o apartamento, quanto mais para comprar. Mas uma força estranha me levou até esse apartamento. Sorte? Destino? Você acredita nessas coisas? Pois bem. Lá no apartamento eu descobri que ele pertencera... a uma antiga professora de piano e que cuidava muito bem dele. Ela o deixou para seus herdeiros, que eram gananciosos, ignorantes... e queriam detonar o apartamento para fazer algum dinheiro. Pois então. Eu fiz uma proposta a eles. Eu disse que em dois meses eu liquidaria a compra do apartamento. -Como assim? 0 senhor estava blefando? -Não. Não estava blefando. É que aqueles gananciosos ignorantes não perceberam, não prestaram atenção... que aquele piano que ali estava, muito bem conservado... era um raro exemplar de um Pleyel que valia mais do que aquele apartamento. Uau. Então, eu vendi aquele piano. Com o dinheiro, eu comprei o apartamento e custeei os meus estudos. Anos depois, com a fama, o sucesso, eu pude comprar de volta o piano. Guarde¡ por um tempo. E, recentemente, encontrei um artífice que fez o teclado do jeito que eu queria. E essa partitura? -Você conhece música? -Claro. Maestro, quem é Laura? Quem é ou quem foi? Desculpe, é que não pude deixar de ver o nome escrito na partitura: "Réquiem para Laura Laura não existe. É uma criação minha. Quantos ossos tem no corpo humano? Você faria isso mesmo que não precisasse. Isso é natureza humana. Eu não sei se ossos humanos podem gerar teclas brancas tão boas quanto o marfim. Eu nunca fiz isso. Ninguém nunca fez isso. Como eu te disse, é um trabalho único..

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Teresópolis:

Curtis McBride, Oneida: State University of New York at Old Westbury. Ourinhos: Elmira College, Elmira; 2014.

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