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SUNY Delhi - TERCEIRA PARTE - CUIDAI QUE NINGUÉM VOS SEDUZA O tempo está próximo (Lc 21,8) Quem, como o papa Luciani, acredita ser Fátima o verdadeiro "Sinal dos tempos" procurará inteirar-se de tudo que diga respeito a essa aparição e sua mensagem. Quando, então, entender que os grandes eventos preditos vão acontecendo, saberá que ali está descrita também a espantosa crise da Igreja contemporânea. Onde? Em que termos? Com quais conseqüências? E qual o epílogo? Ora, se à primeira pergunta respondermos que a parte oculta deve estar no terceiro segredo, é como se respondêssemos a tudo mais. De fato, os termos em que se manifesta essa espantosa crise são de ausência, silêncio, omissão, engano e demolição com respeito a tudo que a Igreja ensinou em vinte séculos e ao que a mensagem de Fátima veio lembrar. Assim é que a atitude para com esta reflete também a atitude para com a doutrina de sempre: silêncio, quando não engano e demolição. E o mesmo deve ser dito para o terceiro segredo pela atitude de ocultamento e omissão. Não deve admirar, pois, que desde o advento da Igreja conciliar tanto se fale em sinais dos tempos e nova Pentecoste, dignidade humana e liberdade de consciência, em abertura ao progresso e amor pelo mundo, em igualdade e ecumenismo, etc. etc, tudo menos de pecado, de perigo, de castigo, que são a causa e o efeito para os povos e indivíduos que, esquecidos de Deus, não voltam à oração e penitência, dando ouvidos ao verdadeiro "sinal dos tempos". Sobre isto, a Igreja e os papas conciliares têm silenciado, assim como sobre a admoestação ao pecado; a descrição dos grandes perigos presentes, e a descrição dos castigos terrenos para os povos, eternos para as almas. O ocultamento do terceiro segredo não é, nem mais nem menos, que a representação desses silêncios, enganos e omissões. Quanto às conseqüências para a própria Igreja, foi Paulo sexto quem as descreveu, assustado, quando falou em autodemolição e fumaça de satanás. E, no entanto, ignorou que para cada efeito há uma causa, para cada erro uma correção e em cada sinal um aviso. Nosso Senhor em João disse: "Eu vim ao mundo para exercer um juízo - para que os que não vêem vejam e os que vêem se tornem cegos. E ouvindo isto alguns fariseus que estavam com Ele, disseram-lhe: Porventura nós também somos cegos? E Jesus respondeu: Se vós fósseis cegos, não teríeis culpa; mas, pelo contrário, dizeis: nós vemos. Permanece portanto o vosso pecado." Esses fariseus são aqueles doutores religiosos que não aceitavam os sinais que o Messias lhes dava com os Seus milagres. Antepunham a estes as suas regras, pensamentos e deliberações, adotadas nos sinédrios e nos concílios de marca humana e venal. E as conseqüências foram de destruição na Jerusalém antiga como hoje na Jerusalém católica e do retorno e Babel e à Babilônia mundana. Assim foi no passado e assim é no presente. Mas, pode ser este o epílogo na era cristã? Certamente não. As portas do inferno não prevalecerão contra a Igreja, já foi dito por Jesus; "Por fim meu Imaculado Coração triunfará", foi lembrado por Maria em Fátima. "O Santo Padre consagrar-me-á a Rússia, que se converterá, e será concedido ao mundo algum tempo de paz." O que nos separa ainda dessa hora? Eis que ao novo papa se dirigiu a esperança de que atendesse ao pedido de Fátima. Se ele tem o espírito mariano isto podia ser possível. Se ele confia na Mãe de Deus a ponto de ter escrito no seu brasão Totus tuus, isto pareceria provável. É certo, porém que, não poderia fazê-lo sem restaurar antes a fé católica que foi manchada e alterada. Qual outro pode ser o triunfo do Imaculado Coração de Maria? Pode ele triunfar com sua devoção esquecida, sua mensagem escondida e sua reparação silenciada? Não é tudo isto, devoção, consagração e reparação, fruto da íntegra e imaculada fé católica? Qual triunfo sem o "dogma da fé"? CAPÍTULO 1. CARTA AO PAPA JOÃO PAULO II "Santidade, Consideramo-nos entre os que com júbilo sincero deram graças a Deus pela vossa eleição ao supremo pontificado. "De fato, a vossa exposição no Sínodo Episcopal de 1974, as vossas lutas contra a opressão atéia e, sobretudo, a vossa união ao primaz da Polônia católica, davam ainda mais garantias de firmeza na vossa orientação diante da agressão externa à Igreja. Contudo, depois de ter meditado atentamente sobre os vossos primeiros discursos e os vossos primeiros atos, surgem em nosso ânimo filial apreensões. E não somos os únicos e indagar se as duras condições do vosso passado labor pastoral vos tenham permitido conhecer a crise interna da Igreja. Essa crise, santidade, é muito grave. Ela é doutrinal, mas ao mesmo tempo é do governo; é do povo cristão, mas é sobretudo dos pastores; é das associações (sempre mais secularizadas), mas também dos colégios episcopais (em contradição com o papa e com as autênticas responsabilidades episcopais); é das igrejas locais, mas é principalmente da 'mater omnium ecclesiarum'. "Ignoramos quanto vós conheceis até agora dos absurdos, de fato e de direito, que são tecidos quotidianamente por alguns dicastérios da Santa Sé em prejuízo das almas. Tememos, santo padre, pensando a qual relator infelizmente vos submeteis por ter confirmado no cargo o cardeal Villot. Esta confirmação, mesmo provisória, significa para Vós ter uma 'cortina' mais limitadora que aquela com a qual até agora tendes combatido. "Santidade, pedimos fervorosamente a Deus que vos ajude não a venerar, mas a medicar o homem contemporâneo, gravemente afetado pelo vírus do imanentismo; que vos torne testemunha inflexível da encarnação redentora, cumprida por Deus, não certamente numa humanidade genérica, mas no único Homem qui est benedictus in saecula: que Ele vos proteja dos inimigos domésticos e das insídias dos falsos irmãos, dando-vos a visão das ambigüidades internas dos que vos circundam, e a coragem de uma reserva soberana e de solicitude heróica. Com toda a reverência devida... Dom Francesco Putti." Esta carta aberta pode dar idéia do quanto o novo pontificado foi desde o início condicionado pela sombra de um continuísmo decepcionante para os católicos. Antes de tudo, pela confirmação no poder eclesial de homens que já haviam mostrado propensão a maquinações e compromissos. Depois, pela insipiência demonstrada em apurar erros e responsabilidades e encontrar soluções claras diante das gravíssimas pendentes e crônicas, que direta ou indiretamente foram causa da morte de seu predecessor. Mas a maior apreensão com o novo pontificado era que atrás da solicitude aparente em querer agradar gregos e troianos viesse uma nova forma de culto do homem que alimentasse principalmente o indiferentismo religioso e o populismo social. As gravíssimas questões de fé que pesavam sobre o concílio e os pontificados conciliadores continuavam ignoradas, porque os promotores das suas reformas continuavam a dominar e a ser promovidos. Caso sintomático foi o de monsenhor Virgílio Noé, grande inimigo da santa missa tradicional e maçom, nomeado Secretário da Congregação do Culto. Tudo indica que se evitou o remendo e o vinho novo porque não se queria trocar nem as vestes nem os odres velhos. Preferiam-se estes ao conteúdo perene, mas sempre novo. Como poderiam, nessas condições, remendar e sanar as gravíssimas rupturas e o deterioramento doutrinal conseqüente do Concílio Vaticano II e do pontificado de Paulo sexto? Era mais fácil continuá-los. CAPÍTULO 2. FÁTIMA, 62 ANOS DEPOIS: CARTA A SUA SANTIDADE "Santidade, no dia 13 de maio completam 62 anos as aparições de Fátima, no curso das quais a Virgem Santíssima confiou a Lúcia uma mensagem na qual estava contido também o 'terceiro segredo'. Este em 1960 deveria ter sido divulgado segundo o desejo de Nossa Senhora, mas medidas de prudência toda humana opuseram-se. Decorreram desde então 19 anos. Não parece a vossa santidade que já é tempo de torná-lo conhecido integralmente ao mundo católico? "Esperamos ardorosamente que vossa santidade, devoto, de modo particular, da Santíssima Virgem, queira considerar que o objetivo da mensagem mariana, qualquer que seja seu conteúdo ou forma, é certamente o bem do mundo católico e da humanidade e, portanto, das almas. Tornar pública uma mensagem de aviso quando os fatos estiverem consumados, é reduzir seu proveito para as almas. Hoje, porém, ainda poderia ser luz e ajuda nesse momento em que, contrariamente a toda expectativa e previsão, deve-se constatar um progressivo obscurecimento que há anos vem envolvendo a Igreja em todo o mundo. Não vai nisso pessimismo: são fatos a documentar essa lamentável realidade. "Faço este pedido, que não é pessoal, mas de muitos católicos que veneram a Virgem Santíssima e pensam nas almas, sabendo que agora resta só confiar em uma decisão pessoal de vossa santidade. Com toda a deferência devida a vossa santidade. Festa de São José. - Assinado, Dom Francesco Putti." Segue-se um comentário sobre a enorme desilusão causada pelo silêncio a que João 23 condenou o terceiro segredo de Fátima. "Naqueles dias a imprensa católica, que tinha como certa a sua divulgação, dividiu-se entre o estupor e a tentativa de justificar essa deliberação da autoridade na Igreja. Mas as desculpas não poderiam ser suficientes nem para dissipar a desilusão nem para dirimir perplexidades. Era o caso de perguntar por que a Mãe do Céu teria acrescentado algo a uma mensagem se o resto já bastava. Não se estava a confundir, de novo, prudência da Igreja com insipiência de seus homens? Afinal, com qual senso de responsabilidade ousava-se impedir uma intervenção celeste a favor das almas e da Igreja se o terceiro segredo não era mensagem pessoal ao papa? "Essa hipótese não se justificava porque desde o primeiro momento Lúcia dissera claramente que o segredo referia-se aos fiéis. De fato, ao entregá-lo em 1944 ao bispo de Leiria, disse que poderia lê-lo. Este só não o fez por deferência ao santo padre, mas também, como declarou, porque não queria nada com segredos. Ora, se o segredo fosse mensagem pessoal ao papa, nem Lúcia poderia ter-lhe dito que o lesse, nem o bispo poderia tê-lo retido consigo tantos anos. "Afinal, deveria ficar secreto até 1960 não para as autoridades eclesiásticas, mas para divulgação ao povo cristão. Eis que este povo era o destinatário da parte que completava a mensagem. Qualquer consideração lógica só fazia aumentar as perplexidades: se a aparição foi reconhecida oficialmente pela Igreja, por que a sua mensagem não devia ser revelada por inteiro? Pode um aviso celeste ser desprovido de sabedoria, de prudência, e ter outro fim senão a salvação dos homens? Censurar o segredo com o silêncio, equivale a considerar que a argúcia dos homens deve pôr um limite à inoportunidade de Maria Santíssima. Os homens são capazes de tudo! "Não seria a primeira vez que homens da Igreja desprezam avisos celestes. Esse desprezo foi dispensado a muitos que Deus enriquecera de dons extraordinários para chamar ao bom caminho uma humanidade pecadora. A lista dessas pessoas perseguidas em vida pelas autoridades da Igreja, mas declarados santos pela Igreja infalível depois de mortos, é bem longa. Que um nome recente sirva de exemplo por todos: padre Pio de Pietralcina, a quem alguns eclesiásticos rebateram os pregos para melhor crucificá-lo, e de quem hoje se comprovam, sempre mais, as virtudes heróicas." Mas, voltando ao silêncio feito sobre o terceiro segredo, em 1963 numerosos jornais começaram a difundir um seu "resumo" que não foi no começo desmentido pelas autoridades vaticanas. Pelas suas palavras pode-se compreender por que homens da Igreja resistem sempre a essas mensagens: são admoestações aos faltosos e infiéis. CAPÍTULO 3. O RESUMO APÓCRIFO DO "TERCEIRO SEGREDO" "Não tema, minha pequena. Sou a Mãe de Deus que te fala e pede que tornes pública esta mensagem ao mundo inteiro. Fazendo isto encontrarás fortes resistências. Sê firme na fé e vencerás toda hostilidade. Ouve e guarda bem o que te digo: - Os homens devem corrigir-se. Com súplicas humildes devem pedir perdão pelos pecados cometidos e que continuam a cometer. Pedes que eu te dê um sinal de modo que todos creiam em minhas palavras, ditas a ti para o gênero humano. Viste o milagre do sol e todos, crentes e descrentes, camponeses e cidadãos, estudiosos e jornalistas, leigos e sacerdotes, todos viram. Agora, anuncie em meu nome: - Um grande castigo cairá sobre o gênero humano inteiro, não hoje nem amanhã, mas na segunda metade do século 20. Já o havia revelado aos meninos Melania e Maximino em La Salette e hoje repito-o a ti. A humanidade não melhorou como Deus pedia, mas pecou ainda, pisoteando os dons que lhe foram oferecidos. Em nenhum lugar do mundo há ordem e Satã reina sobre as mais altas posições, dirigindo o andamento das coisas. Ele sabe como penetrar até o vértice da Igreja; Ele conseguirá seduzir a mente dos grandes cientistas inventores de armas, com as quais será possível destruir em minutos metade da humanidade. Dominará os poderosos que governam os povos e os induzirá a acumular grande quantidade de armas. Se os homens não deixarem de agir mal e não se converterem, serei forçada a deixar cair o braço de meu Filho. Se os que estão nos vértices, tanto no mundo como na Igreja, não opuserem resistência a tanto mal, eu pedirei a Deus Pai que os castigue com os homens, usando a severidade da Sua Justiça, mais que no dilúvio. Virá então o tempo dos tempos, e o fim de todos os fins. Também para a Igreja virão grandes provações: cardeais combaterão cardeais, bispos estarão contra bispos. Satã estará no meio deles e em Roma haverá grandes mudanças. O que está podre cairá e não mais retornará. A Igreja será obscurecida e o mundo invadido pelo terror. Tempo virá em que nenhum governante, cardeal ou bispo, estará à espera de Quem há de vir para punir segundo os desígnios do Pai. Uma grande guerra será desencadeada na segunda metade do século 20. Fogo e fumo cairão do céu e as águas dos oceanos se transformarão em vapores e a espuma elevar-se-á submergindo tudo. Milhões e milhões de homens morrerão de hora em hora e os sobreviventes invejarão os mortos. Haverá angústia e miséria por todos os lados, ruínas em todos os países. O tempo está próximo e o abismo se alarga sem esperanças. Os bons morrerão junto com os maus, os grandes com os humildes, os príncipes da Igreja com os fiéis e os que governam com seus subordinados. Haverá morte em todo lugar e pelos erros cometidos os sequazes de Satã dominarão nesses dias o mundo inteiro. Por fim, quando os sobreviventes voltarem, gratos, a invocar a Deus e proclamar Sua glória, Ele será de novo servido como no tempo em que o mundo não se havia pervertido tanto. Eu convoco todos os verdadeiros imitadores de meu Filho, todos os apóstolos dos últimos tempos! O tempo dos tempos está próximo, o fim dos fins se aproxima. A humanidade deve converter-se e ser chamada à conversão pelos chefes do mundo e pelos chefes da Igreja. Ai, ai, ai, se a conversão não vier e tudo restar como está, ou se piorar ainda! Vai minha pequena e proclama isto. Eu estarei ao teu lado para ajudar-te." "O conteúdo deste 'resumo' parece repercutir o que foi dito ao padre Fuentes, onde é repetido o aviso urgente sobre a crise que estava para afligir a Igreja, e em particular sacerdotes e religiosos, com grave prejuízo para os fiéis. Sobre esse resumo a revista Lo Specchio comentava: 'Mesmo aos mais céticos o relatório da pastorzinha portuguesa demonstra-se, pelo seu conteúdo, de tal modo ligado à realidade do mundo hodierno que a ninguém consente ficar indiferente.' "Depois de outros doze anos esse retrato fiel da realidade - e, devemos especificar, da realidade eclesiástica hodierna... é mais impressionante ainda. Dizia Lúcia ao cardeal Ottaviani, que lhe perguntava por que o segredo devia ser divulgado em 1960: 'Porque tudo será mais claro então'. Eram as vésperas do Concílio Vaticano II, no qual todos os fermentos modernistas iriam inchar na Igreja." CAPÍTULO 4. SEGREDO DE LA SALETTE OU DE FÁTIMA? Sobre o texto desse "resumo" é preciso tecer algumas considerações, porque contém diversos erros e defeitos. Padre Alonso, em seu livro sobre o segredo de Fátima, informa que o "resumo" foi publicado pela primeira vez no semanário alemão Neues Europa de 15 de outubro 1963. Ali era dito que tal texto fora comunicado por Paulo sexto aos chefes de estado Macmillan, Kennedy e Kruschev, que ficaram impressionados o bastante para antecipar a assinatura do acordo de cessação das experiências atômicas para agosto daquele ano. O autor dessa incrível versão seria o escritor alemão Ludwig Emrich. Tudo isso é pouco plausível, mas a verdadeira objeção a esse "resumo" está em dizer que foi dado a Lúcia dia 13 de outubro 1917, depois do milagre do sol, e não no dia 13 de julho 1917, como se pode ver pela mensagem interrompida. Seria, pois, um erro cronológico, que somado à estrutura literária diversa do restante da mensagem, indica a inautenticidade desse "resumo". A este ponto padre Alonso escreve: "O texto é uma lamentável cópia do assim chamado 'Segredo de La Salette', mas ainda mais distorcido, exagerado e falsificado." E com essa frase fez um julgamento indireto sobre a mensagem dada em 19 de setembro de 1846 na montanha de La Salette, aos pastores Maximino e Melania, que viram Nossa Senhora chorando sobre o destino dos homens. A aparição foi reconhecida pela Igreja e a mensagem de Melania teve o imprimatur de bispos. Por essa razão, há que desconfiar do julgamento de padres que desde então combatem essa mensagem que revelava a mísera decadência de homens da Igreja já no século passado. Acaso isto não era uma realidade? Pois bem, a aversão ao segredo o comprovou, tanto para padres como para muitos bispos. Diz Si si no no: "Também em La Salette a Virgem havia confiado a pastores uma mensagem sobre a corrupção que prenunciava a apostasia de muitos homens da Igreja: 'Os padres, ministros de meu Filho, pela vida ruim que levam, pelas suas irreverências, pela falta de piedade ao celebrar os santos mistérios, pelo amor ao dinheiro, às honrarias e prazeres, os padres transformaram-se em cloacas de impurezas... Muitos abandonarão a fé e grande será o número dos sacerdotes e religiosos que se separarão da religião verdadeira, entre estes haverá também bispos... Será o tempo das trevas; a Igreja terá uma crise espantosa... "Também diante da mensagem de La Salette os homens da Igreja comportaram-se com a mesma incoerência de agora: a aparição foi oficialmente reconhecida mas procurou-se proibir a divulgação da mensagem... anticlerical de Nossa Senhora. Não se quis refletir que ela veio prevenir os fiéis contra os maus padres, os mercenários, não os bons. O aviso teria afastado os fiéis dos inimigos internos da Igreja, impedindo que dela se separassem, precipitando-se junto aos maus pastores. "Sem dúvida a denúncia materna foi clara, implacável, sem véus ou diplomacias. Mas os bons pastores nada podiam temer dela. Eram os maus a ficar desmascarados. Por que então procurou-se silenciar a voz da Santa Mãe que avisa os filhos de perigo? Proibir sua divulgação mostrou a vontade de cancelar a ajuda de Maria às almas. "Consideremos o desastre eclesial que vivemos há 20 anos. Sacerdotes apóstatas que ocupam cátedras em universidades eclesiásticas e seminários, ministrando o veneno das heresias a jovens mentes indefesas. Sacerdotes apóstatas que dirigem ou colaboram em revistas ditas católicas e outras mais, divulgando doutrinas errôneas ou imorais a fiéis indefesos. Párocos e confessores que não iluminam nem guiam, mas são poços tenebrosos para as almas a eles confiadas. Bispos e conferências episcopais que aprovam documentos abertos e comportamentos destoantes ou contrários à moral. "De tudo isto periódicos como o nosso têm informado com ampla documentação, aliás, inútil, porque a dolorosa realidade está à vista de qualquer homem honesto. Diante de tal desastre eclesial e considerando a ruína das almas, é justo perguntar: seria imprudência divulgar a mensagem de Nossa Senhora que nos punha em guarda contra o que ainda estava por vir mas hoje é atual? Ou a imprudência foi impedir a divulgação do aviso da geral apostasia? "Tudo indica que infelizmente a mesma atitude repete-se com o terceiro segredo de Fátima, isto é, com a presunção de ser mais prudente que o Céu, impediu-se que ecoasse no mundo católico aquele alarme que teria ajudado tantas almas ignorantes dos perigos, mas confiantes nas aparências e fábulas, a não seguir os falsos pastores na ruína." - Assinado, Franciscus. Feitas estas considerações sobre o segredo de La Salette e o "resumo" apócrifo do terceiro segredo de Fátima, que copia defeituosamente o primeiro, autêntico, vejamos se essa iniciativa foi uma reles falsificação, ou se encerra um aspecto positivo. Pois bem, embora inautêntico, não contém nada inaceitável diante da fé, e copiando a mensagem de La Salette, vem lembrar esta que foi culposamente esquecida. Não só, mas lembra também que as mensagens celestes, apesar da diversidade de linguagem e conteúdo, não se contradizem, mas sucedem-se em harmonia. E isto ficará claro quando, para o triunfo de Maria Virgem, todas as suas mensagens aos homens vierem à luz do dia, mostrando quanto se perdeu por não tê-las recebido, gratos e confiantes, e nem tê-las estudado e defendido pelos tesouros que são. CAPÍTULO 5. FATOS ACERCA DO SEGREDO DE LA SALETTE "No fim da mensagem dada por Nossa Senhora da montanha de La Salette, foi dito aos dois pastorzinhos: 'Bem, meus filhos, fareis conhecer isto a todo o meu povo'. Começou então uma verdadeira perseguição aos pequenos mensageiros desse novo sinal de contradição. A vidente Melania escreveria ao padre Combe (1903): 'Os bispos que consideraram o segredo dirigido a si, foram os grandes inimigos desta mensagem de misericórdia, justamente como os sumos sacerdotes que condenaram à morte o divino Salvador.' De fato, tinham razão em reagir, o segredo não fazia mais que refletir suas vidas desviadas. "Assim foi com monsenhor Ginoulhiac, que substituiu o venerável bispo de Bruillard na diocese de Grenoble. Para livrar-se da incômoda vidente, enviou-a a um convento de clausura em Darlington, na Inglaterra, com a ameaça de excomunhão se voltasse à diocese. Em 1860 Melania volta, mas teve que exilar-se. "Não muito depois o bispo enlouquece e morre num manicômio. "Seu sucessor é o monsenhor Fava, que acalenta grandes planos para o santuário construído em La Salette, meta de grandes peregrinações, mas acirrado inimigo da mensagem, razão pela qual faz pressões sobre Melania, que vai procurar no sul da Itália, cônscio de que será recebida por Leão XIII. Teme que a mensagem prejudique seus projetos. "Passados poucos anos foi encontrado morto em seu quarto. Estava estendido no chão, nu, olhos esbugalhados e punhos crispados. "Quanto ao bispo Gilbert de Amiens, e depois de Bordeaux (que havia dito: 'O segredo de La Salette não é nada mais que uma trama anti-religiosa feita de exageros e mentiras') anos depois de tal acusação, em 1889, foi igualmente encontrado morto no chão de seu quarto e durante os funerais o féretro desabou do catafalco. "Outro famoso inimigo da mensagem foi o arcebispo de Paris, Darboy, que interrogou pessoalmente Maximino, pressionando-o para que revelasse o segredo, denúncia clara da maçonaria e das tramas urdidas pelo imperador Napoleão TERCEIRO. Não obtendo o que queria, gritara ao jovem: 'As palavras de tua bela Senhora são cheias de estupidez, como estúpido deve ser o teu segredo.' Maximino replicara: 'Ele é tão veraz, e tão certo que eu vi a bela Senhora, como dentro de três anos vossa excelência será fuzilado'." Esse prelado já em 1865 havia sido admoestado por Pio IX pelo seu aceso galicanismo. Anos depois, no Concílio Vaticano I, alinha-se ao famoso monsenhor Dupanloup contra Pio IX, desertando Roma nas vésperas da definição do dogma sobre a infalibilidade papal. Volta à França imperial, onde parecia impossível que em pouco tempo iria desencadear-se a fúria revolucionária da "Comune". Foi assim que em 24 de maio 1871 Paris presenciava com horror o fuzilamento de seu arcebispo pelos comunardos rebeldes (Monsenhor Darboy, enquanto ia sendo arrastado para o muro de fuzilamento, protestava dizendo que havia sempre defendido a liberdade. "Cala-te!" disse um dos executores comunardos - "A tua liberdade não é a nossa!"). Como se vê, os inimigos do segredo de La Salette de certo modo também eram adversários da verdade, da devoção católica e opositores do papa. Em contrapartida, aderiram contritos e gratos à palavra dada pela Virgem Mãe, Pio IX, Leão XIII e monsenhor de Bruillard (Bispo de Grenoble na época da aparição de La Salette, o octogenário monsenhor Filiberto de Bruillard, há vinte anos no cargo, era considerado uma das mais belas figuras do alto clero francês. Seu comportamento aristocrático era temperado por grande generosidade e zelo pastoral, que o tornavam amigo dos pobres e doutor de seus sacerdotes. Foi ordenado em setembro de 1789 e logo depois colocado diante da escolha de prestar juramento à nova constituição ou emigrar. Evitou a primeira, mas permaneceu na Paris sacudida pela revolução. Havia escolhido uma missão heróica: embora procurado e ameaçado pelo regime revolucionário, foi um daqueles capelães que, disfarçados e misturados na multidão, seguiam os condenados à guilhotina esperando o momento para uma furtiva absolvição sacramental. Consta que o "Senhor Filiberto" conseguiu assistir à morte de Luís XVI e conseguiu dar a absolvição à Maria Antonieta ao longo do percurso feito pelo carro da condenada à morte. Mas, além dos reis dedicou-se também à assistência religiosa dos doentes e moribundos. Quanto a La Salette, já em dezembro de 1846 esse bispo nomeou duas comissões de canônicos e de professores, para examinar a fundo o evento. O resultado positivo foi aprovado pelo bispo em 19 de setembro de 1851 e lido do púlpito em toda a diocese de Grenoble. Em maio de 1852, apesar de seus 87 anos, monsenhor de Bruillard subiu a cavalo as alturas da montanha da aparição para colocar a primeira pedra do santuário dedicado a Nossa Senhora de La Salette. Para assisti-lo, fundou também uma casa de missionários. Roma já havia aprovado tudo isto desde outubro de 1851. Depois de ter-se assegurado do andamento dessa obra mariana e do encaminhamento ao papa Pio IX do segredo dado aos videntes, que, aliás, não quis conhecer antes do santo padre, apresentou sua demissão para retirar-se ao silêncio da oração. Em 1856, 30º aniversário de sua consagração episcopal, subiu ainda Salette para rezar junto aos peregrinos de todo o mundo. O venerável monsenhor de Bruillard morreu tranqüilamente em 12 de dezembro de 1860, com noventa e dois anos). Também o pároco Perrin, já no dia seguinte à aparição e antes mesmo de interrogar os meninos, fazia uma comovida homilia para chamar seu povo à conversão e à penitência. O papa Pio IX, ao ler o segredo diante dos padres franceses que o trouxeram ao Vaticano, exclamou: "Oh, isto é muito sério!" E afirmou que meditaria naquela mesma noite sobre mensagem tão importante. Na manhã seguinte os padres receberam esta nota de Pio IX: "O papa ficou convencido da origem celeste do segredo. Ele o terá em conta para as ações que deverá empreender. Abençoa os meninos." Igualmente o papa Leão XIII acolheu Melania em Roma e ordenou que lhe dessem toda a assistência a fim de que escrevesse com toda a serenidade a "regra" da ordem religiosa desejada por Maria Santíssima. O papa Pio X afetuosamente chamou Melania Calvat de "nossa santa." Os bispos italianos que a hospedaram por diversos anos, dando imprimatur ao segredo, monsenhor Petagna de Castellamare e monsenhor Zola de Lecce, morreram em "odor de santidade" e tiveram iniciadas, ambos, causas de beatificação. O segredo de La Salette foi censurado e perseguido pelas suas profecias apocalípticas. Teriam feito o mesmo com o apocalipse! Quanto à mensagem de Fátima, dada no setuagésimo ano da mensagem de La Salette, deve concordar e continuá-la como aviso apocalíptico. Se hoje não é fácil entendê-la toda, virá o dia em que não se entenderá como puderam os homens da Igreja censurá-las e especialmente o terceiro segredo de Fátima, que certamente está ligado a La Salette, sendo o completamento das trevas, crises e perseguições anunciadas. Lembremos então algumas passagens da mensagem dada a Melania, que poderia ser conhecida, como diz o texto, desde 1858. Isto não ocorreu pelos obstáculos postos pelos chefes religiosos que exilaram a pastorzinha. Em 1858 Nossa Senhora aparecia em Lourdes, e que triunfo se essa vinda tivesse sido acolhida pela Igreja peregrinante preparada pela mensagem de La Salette! Mas... "Os chefes, os guias do povo de Deus, relaxaram a oração e a penitência; o demônio obscureceu suas inteligências; transformaram-se naquelas estrelas errantes que o velho diabo arrastará com a cauda para fazê-los morrer. "No ano 1864, Lúcifer e um grande número de demônios serão soltos no inferno e abolirão pouco a pouco a fé, também nas pessoas consagradas a Deus... diversas casas religiosas perderão inteiramente a fé e perderão muitas almas. Os livros ruins abundarão na terra e os espíritos das trevas difundirão um relaxamento universal por tudo que respeita o serviço de Deus... será pregado um outro Evangelho... haverá prodígios por toda parte porque apagou-se a verdadeira fé e uma falsa luz ilumina o mundo. "Desgraça aos príncipes da Igreja que se ocuparão em amontoar riquezas e salvaguardar a própria autoridade para dominar com orgulho. O Vigário de Meu Filho sofrerá muito porque por algum tempo a Igreja será abandonada a grandes perseguições: será o Tempo das Trevas; a Igreja sofrerá uma crise horrenda. "Os governantes terão todos o mesmo projeto, que será abolir e fazer desaparecer todos os princípios religiosos para substituí-los pelo materialismo, ateísmo, espiritismo e todo o tipo de vícios. No ano 1865 será vista a abominação nos lugares santos; nos conventos as flores da Igreja estarão putrefatas e o demônio se tornará como que o rei dos corações. "Roma perderá a fé e se transformará na sede do anticristo. A Igreja será eclipsada e o mundo estará na consternação. Mais eis Enoque e Elias cheios de Espírito Santo (as duas testemunhas do Apocalipse). Roma pagã desaparecerá... É tempo, o sol se obscurece; só a fé viverá. Eis o tempo, o abismo se abre. Eis o rei das trevas. Eis a besta, o pretenso salvador do mundo, e seus súditos." São passagens do Apocalipse de São João. Portanto, em La Salette fomos advertidos de que estávamos para entrar nessa época de trevas espirituais e delitos materiais. Quanto às datas, em 28 de setembro de 1864 Karl Marx fundou em Londres a primeira Internacional com o fim de instaurar a expansão e domínio do comunismo no mundo. O aviso de 1917 em Fátima vinha completar esse quadro com a vitória armada. No livro Le secret de La Salette Raoul Auclair levanta a hipótese de que Nossa Senhora houvesse aludido aos anos '58, 64 e 65', que se aplicam bem ao nosso século, correspondendo ao fim do pontificado de Pio XII, ao ano das decisões conciliares, e 1965 à proclamação de erros pela autoridade da Igreja, que pode ser visto como a abertura do poço do abismo. De fato, a estrela é o bispo, com a chave é o bispo de Roma, o papa, e pelo que saiu do poço pela liberdade religiosa, vimos a descrição no início deste livro do papa Gregório XVI. O que os sábios papas vêem, Nossa Senhora confirma se é importante para a salvação das almas. Portanto, se já em La Salette é profetizada a falência das estrelas episcopais e a abertura apocalíptica, poderia não haver confirmação disso no terceiro segredo de Fátima, dado para ser conhecido cinco anos antes da conclusão espantosa do Concílio Vaticano II? CAPÍTULO 6. CARTA À SUA SANTIDADE "Santidade, O vosso predecessor, João 23, convocou o Concílio sem dar-se conta de que acendia um pavio ligado a uma bomba. Mostrou-se, porém, subjetivamente certo de ter sido inspirado por Deus. "Também o vosso outro predecessor, Paulo sexto, deu orientações sem dar-se conta da demolição que teria provocado (por exemplo, com a reforma litúrgica). Mas, mostrava-se também subjetivamente certo de ser inspirado por Deus, a ponto de não tolerar críticas. "Quando vós assumistes os nomes de João e Paulo, pensamos que bem cedo perceberíeis as falhas de vossos predecessores. Não o fazíamos ao acaso, mas considerando vossa intervenção no Sínodo de 1974, a epopéia de Nova Huta e alguns juízos externados antes da vossa eleição ao pontificado e ouvidos por pessoas dignas de fé. Tudo autorizava a pôr em vós essa esperança. "Em seguida, porém, verificamos que vossa santidade, depois de ter confirmado em seus cargos praticamente todos os responsáveis pelo desgoverno de vosso predecessor, decidistes também fazer algumas promoções desconcertantes. É evidente que vossos colegas do episcopado polonês não tinham idéias claras sobre quem fosse um Casaroli; vossas estadas na Itália não vos esclareceram, como trata com os partidários do laicismo, esses falsos cristãos italianos, um Silvestrini; vossos amigos romanos não vos informaram da gestão omissa como assistente da Ação Católica Italiana, de um Marco C'é; nem que Martini deu cobertura a um ensinamento errôneo quando dirigiu o Instituto Bíblico; nem que Caprio era muito discutível como administrador; nem que era enorme a responsabilidade de Jadot no desastre católico dos Estados Unidos; nem que Poupard dera um péssimo exemplo na Secretaria de Estado (e também em Paris); e que Etchegaray, à testa da diocese de Marselha, não merecia prêmios, bem o contrário... "Evidentemente não percebíeis que as conseqüências que estas promoções teriam provocado assim como não percebestes o significado de outras nomeações que fizestes. Do mesmo modo parece que não avaliais as conseqüências de elogios feitos a cardeais demolidores do apostolado católico no Brasil, como sejam Lorscheider, Arns, Brandão Vilela etc; ao cardeal Marty, um dos maiores responsáveis pelo olvido que a França revela à sua origem católica; ao cardeal Garrone e até a seu subsecretário Marchisano, dos quais, como membros da Congregação para a Educação antes de vossa eleição, devíeis conhecer a obra (de demolição do seminários). "Exultamos quando vos ouvimos acusar a teologia da libertação, convocar à disciplina da veste eclesiástica, ao celibato sacerdotal e ao culto eucarístico e mariano, ao ensinamento de Pio XI e Pio XII, e ao critério soberano de conformidade à tradição. Quando, porém, em uma entrevista respondestes sobre as ações necessárias para o governo da Igreja, com respeito a questões já estudadas pelos vossos discatérios e que pedem a presença vigilante do papa, afirmastes que as vossas viagens são inspiradas pelo Espírito Santo. "Os fatos, porém mostram que nada mudou para melhor na América Latina, depois da viagem a Puebla. Nem nos Estados Unidos, depois da vossa visita; nem na França, onde, com vossa presença, tantas liturgias dessacralizantes ficaram como que endossadas; nem no católico Brasil, onde vossas palavras foram imprudentemente subvertidas. "Fala-se agora de outras cinco grandes viagens apostólicas que distrairão ainda mais vossa necessária atenção de Roma, para o governo da Cúria Romana. É de Roma que parte o bem da Igreja, ou o mal, pelo visto ninguém vos informa que devido às vossas ausências as coisas vão ainda pior que antes... Mas, como seria possível um saneamento da Igreja sem o saneamento da Cúria? "Por exemplo: vós não tivestes tempo, infelizmente, para apurar que nas vossas universidades pontifícias em Roma se ensinam heresias e imoralidades. E como poderíeis seguir o que é propagado pela Rádio Vaticana nas diferentes línguas, ou como são administrados o Osservatore Romano, o Avvenire e outros periódicos como Família Cristã, Mensageiro de Santo Antônio etc., além de várias editoras que ainda passam por católicas? "Não parece ser de vosso conhecimento nem mesmo a permissividade nos tribunais eclesiásticos, denunciada recentemente e de público pelo cardeal Felici (o enorme aumento de anulações matrimoniais, que foi chamado divórcio eclesiástico). É muito provável também que não seja do vosso conhecimento que o cardeal Willebrands tomou a defesa de Schillebeecks, num processo iniciado com a vossa autorização para julgar esse teólogo. A mesma coisa com relação a outros cardeais que endossam publicamente as heresias de Boff. Quanto a Karl Rahner, desde 1973 é acusado de heresias pelo cardeal Siri, sem resultado... Não é, pois, uma simples suposição considerar que vossas contínuas viagens e audiências vos impedem de interessar-vos por questões de enorme gravidade para a fé. "Contudo, o que nos deixa mais atônitos, é vermos que depois de dois anos que sois o bispo de Roma, não sabeis ainda quem seja o cardeal Poletti, vosso vigário da Urbe. Neste jornal desmascaramos a iníqua tentativa de vos fazer crer na integridade doutrinal desse cardeal, que há anos protege professores que ensinam heresias e imoralidades. Santidade, os elogios dirigidos por vós e esse cardeal só podem fundar-se na ignorância dos fatos por nós insistentemente denunciados (segue-se a lista das denúncias). "Santidade! É tempo de pôr fim aos equívocos: nós expusemos acusações de extrema gravidade sobre o tipo de ensino ministrado na Universidade Lateranense; esse escândalo não pode continuar acobertado. Assumimos a plena responsabilidade das nossas acusações, porque há nisso um crime. Portanto, ou os criminosos somos nós, que acusamos, ou então são os hereges contumazes e, ainda mais, seus protetores. Pedimos, portanto, a vossa santidade fazer instaurar a respeito um regular processo público, para que venha à luz a verdade, que não somente nós buscamos com todo o coração, mas toda a Igreja, que pela sua natureza é contra o erro. "Com todo o respeito que vos é devido, somos obrigados em consciência a dizer-vos que providenciar para restabelecer a ortodoxia é gravíssimo dever ao qual não vos podeis subtrair, e apesar de vossos informantes tudo fazerem para vos distrair. "Santidade, a sinceridade e a clareza com que nos dirigimos a vós, não querem ser, nem podem ser falta de reverência para com a vossa pessoa, embora os interessados assim o insinuem. A sinceridade e a clareza tornam-se necessárias pela dolorosa situação em que jaz a Igreja. Em tais circunstâncias, o silêncio e a omissão podem advir somente da falta de fé. Com toda a deferência devida a vossa santidade... Assinado, dom Francesco Putti." Esta carta objetiva é também concisa nas acusações, enquanto se limita ao que acontece em Roma e no Próprio Vaticano. Ora, quem perde o controle da própria casa não demonstra poder exercitar sua autoridade em outras partes. Esse periódico, por deferência a João Paulo II, fala sempre que estão enganando o papa. Mas, é incontestável que os acusados, por agirem contra a fé, são sistematicamente elogiados e promovidos. E os acusadores são isolados e esquecidos. Se os cardeais feitos no Consistório de 1980 eram em grande parte suspeitos demolidores, nos anos seguintes nada mudou senão para pior. Os demolidores da fé teriam algum poder se este não lhes fosse dado do alto? Não! Portanto, quem detém o maior poder tem a maior responsabilidade na autodemolição da Igreja. CAPÍTULO 7. JOÃO PAULO II DIANTE DO ABORTO Não resta dúvida que João Paulo II sempre falou, e nas mais diversas línguas, da sacralidade da vida desde os seus albores e, portanto, contra o crime e pecado do aborto que suprime a vida no seio materno. Desse pecado, pediria depois que Nossa Senhora livrasse os homens. Mas, como foi justamente no seu pontificado que o povo italiano foi chamado às urnas para votar sobre esta questão, seria justo saber se o bispo de Roma juntou, às palavras, ações eficazes para evitar que a ofensa ao Criador e transgressão à Sua Lei pudessem ser objeto de escolha para tornar-se lei civil. Para isto há que rememorar brevemente alguns fatos. Durante o tempo de Paulo sexto as forças anticatólicas cresceram de tal modo na Itália, que toda ordem jurídica e moral, na aparência ainda cristã, estava ameaçada. O partido Democrata Cristão, que recebia a maioria dos votos católicos, estava tão permeado de idéias liberais e progressistas que, embora majoritário, não constituía uma barreira contra a investida laica e socialista. Além disso, o Partido Comunista Italiano, não era o maior do ocidente como continuava a crescer às custas de defecções no campo católico. Ora, esse processo paulatino tornou-se explosivo depois de 1968, quando o espírito revolucionário passou a querer tudo e logo. Manifestava-se com violência através das Brigadas Vermelhas (em boa parte de extração católica), e de modo violento através dos radicais que faziam então seu ingresso no Parlamento. A primeira batalha não foi parlamentar, porém, através de um referendo popular sobre o divórcio. Nessa campanha o partido (Democrata Cristão), estava, contra a vontade, em companhia do partido de direita contra todos os outros partidos. Não houve, por isto, uma convicta defesa de princípios. Seguiu-se a inevitável vitória do divórcio. Depois dessa primeira derrocada dos princípios católicos da família, que deu aos divorcistas quase 60% dos votos italianos, estavam abertas as portas para as seguintes "conquistas sociais": as do aborto, do cancelamento da concordata com a Igreja, da eutanásia, da educação sexual nas escolas, etc. Ora, como se poderia imaginar, depois da derrota no referendo sobre o divórcio o partido DC, já pouco propenso à luta e menos ainda a cruzadas por princípios, preferiu conduzir essas questões através de conchavos parlamentares, tanto mais porque estava sendo ventilado um "compromisso histórico" com os comunistas. Eis que os equilibristas demo-cristãos, capitaneados pelos mestres em compromisso, Aldo Moro, Andreotti e outros menores, concertaram a questão no próprio parlamento, para evitar crise do governo!. Foi assim que no dia 22 de maio de 1978 passava a lei 194, que introduziu o aborto na legislação italiana. Ironicamente, iriam assiná-la o presidente Leone e o primeiro-ministro Andreotti e seu gabinete, todos demo-cristãos, e o faziam para dar continuidade ao governo. Mas a realidade mostrou-se diversa. O líder Aldo Moro já estava nas mãos das Brigadas Vermelhas, que o liqüidaram sem piedade. O presidente Leone já tinha seus dias contados na presidência, que deixou devido a vários escândalos. O dúbio Andreotti já devia cogitar da formação de outro governo de coalizão, pois aquele (do aborto) cedo abortou. A respeitabilidade aparente dessa classe política que tudo justificava para reter o poder, não foi contestada por nenhum alto prelado. Somente poucos e isolados lembraram a ofensa à Lei divina e só dom Putti lembrou, em Si si no no, a excomunhão automática prevista para os católicos colaboracionistas do aborto. Resistência legal a essa lei veio, porém, de alguns tribunais que levantavam a questão de inconstitucionalidade de uma norma que aprovava uma ação que dias antes era considerada delito (pela mesma constituição). Também nessa ocasião foi Andreotti quem encaminhou o caso para que a procuradoria do Estado defendesse a lei homicida diante da Corte Constitucional. Enquanto isto, Tina Anselmi, nova ministra da Saúde, organizava as estruturas sanitárias para levar a termo o aborto estatal aprovado. Eram os demo-cristãos empenhados na defesa do aborto por vias governamentais. Nada disso, porém, alterou a simpatia de João Paulo II pelo político Andreotti, que escreveu um livro sobre sua relação com os papas recentes. Ele agora enriquecia sua coleção de memórias, com as fotos que os repórteres fazem nas ocasiões em que passeia com João Paulo II, que, confidencial e sorridente, o conduz pelo braço. Teriam do papa um pouco dessa atenção os católicos que se batiam contra o aborto? CAPÍTULO 8. RESISTÊNCIA CATÓLICA AO ABORTO LEGALIZADO Como se viu, a oposição demo-cristã foi de natureza parlamentar e de tênue consistência. Quando a lei 194 foi votada, havia diversos parlamentares da DC ausentes. Depois que a lei passou, então tudo foi considerado matéria resolvida. Se algo veio comprometer essa passividade pusilânime, foi do campo oposto dos radicais, que consideravam a lei insuficiente. A legislação italiana prevê que se dentro de quatro meses após a aprovação pelo Parlamento de uma nova lei um grupo apresentar uma petição de referendo popular revocatório, subscrita por mais de 500 mil eleitores, a questão, se constitucional, deverá ser submetida a voto popular. Isto só poderia ser evitado se o parlamento, nesse meio tempo, introduzisse modificações substanciais na lei que fizessem cair as razões da contestação. Ora, embora os católicos na Itália ainda sejam maioria, pelo menos nas estatísticas, não se pode dizer que foram guiados para opor resistência a essa lei iníqua. Naqueles dias os esforços foram canalizados para uma iniciativa de tutela a ajuda à maternidade, que, embora pudesse ser louvável em si, desviava a atenção do problema principal. Mesmo assim essa campanha, sem fazer alarido e fugindo às possíveis contestações de rua, recolheu bem mais de 500 mil assinaturas em brevíssimo tempo. Mas a consciência católica naquele 1979 ainda não estava anestesiada a ponto de esconder-se atrás de tais panacéias, ou das palavras e conchavos dos chefes demissionários. Houve duas iniciativas católicas no sentido de uma lei ab-rogativa. Aqui mencionaremos a da Aliança Católica, grupo de católicos tradicionais que formaram a "Aliança para a Vida" com o fim de combater o aborto, apresentando uma lei sobre a matéria. Para recolher o meio milhão de assinaturas, porém, solicitaram o apoio dos bispos italianos e eventualmente do papa. A resposta indireta veio através da reação hostil da imprensa católica, que acusava a iniciativa de ser de direita. Quanto às razões contrárias dos bispos, ficou a incógnita, porque nem 1 % deles dignou-se responder, embora não houvesse nenhuma outra solução em vista. Quanto a João Paulo II, sabedor dessa iniciativa, que foi acompanhada por um congresso romano das associações católicas de defesa da vida de diversos países, dirigiu-se a estes na audiência pública na praça de São Pedro com palavras genéricas em francês, e recebeu os dirigentes da Aliança Católica numa audiência privada para dizer com grande afabilidade que a questão estava nas mãos dos bispos italianos. Confortado pela atenção do papa, mas neutralizado por sua evasiva, esse grupo ficou confundido e acabou por dividir-se sobre o que se seguiria. Decorreram dois anos de imobilismo católico, mas não dos radicais abortistas. Estes continuavam trabalhando para que houvesse um referendo que levasse a uma lei abortista totalmente libertária e aplicável também a meninas. Foi quando esse projeto ganhou corpo, e a decisão das urnas tornou-se inevitável, que uma iniciativa de sinal contrário e apoiada indiretamente pela DC e pelo episcopado veio à luz. Mas curiosamente a proposta já nascia dividida e ambígua na origem. De fato, foram apresentados dois projetos de lei revogatórios parciais da lei 194: o primeiro, na modalidade considerada máxima possível, isto é, admitindo somente a intervenção de aborto terapêutico; o segundo, na modalidade mínima, admitindo o aborto voluntário e direto por motivos terapêuticos e concedendo a distribuição gratuita a menores de preservativos de qualquer tipo. Como se vê, dois projetos de lei possibilistas, pelos quais os católicos seriam levados a adaptar a lei natural e os princípios morais às leis permissivas. Diante dessa manobra, feita em detrimento da Lei de Deus, da defesa da vida e da preservação dos princípios de uma sociedade cristã, foram poucos os opositores. Entre estes, manifestaram pública desaprovação a "Europa Pro Vita" e a "Federação Mundial de Médicos para o Respeito da Vida Humana." Mas a CEI, Conferência dos Bispos Italianos, havia apoiado, senão promovido a campanha para conseguir que os católicos votassem a favor dessas propostas. E isto apesar da instrução da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, de 18/11/1974, dizer: "Não é lícito participar de uma campanha em favor do aborto nem dar o sufrágio do voto a ela, nem colaborar com sua aplicação." Foi assim, que com uma "comédia de enganos" orquestrada como única saída política viável pelos políticos de DC e da CEI, os católicos foram convidados a votar um "miniaborto" para evitar o maxiaborto radical. Até a abstenção desse voto foi hostilizada. Nesse meio tempo, a Corte Constitucional houve por bem reprovar a proposta "máxima" apresentada pelos demo-cristãos, tornando definitivamente obrigatório o aborto terapêutico, que ainda em 1978 era crime, e com isto a escolha do eleitor dividia-se em quatro: votar a proposta radical de aborto total; votar a proposta mista DC-CEI de aborto limitado; votar pelo não a estes projetos, mantendo o aborto parlamentar "moderado" da lei 194; e abster-se de votar, o que se obtivesse apoio maciço indicaria a nulidade do referendo. Dir-se-ia que a única opção católica era esta última. Mas assim não pensavam os bispos, nem uma profusão de católicos entre os quais até uma parte da mencionada Aliança Católica. E a confusão reinante não era de modo algum esclarecida por João Paulo II, que fortemente, embora indiretamente, fez a campanha pelo aborto, versão mínima, defendida pelos bispos como mal menor. Na audiência com o papa dia 13 de maio de 1981, um conhecido expoente católico francês exprimia a João Paulo II sua perplexidade diante dessa rendição moral dos bispos italianos às pressões do mundo. A resposta do bispo de Roma foi para explicar que a ele não competia interferir sobre a decisão dos bispos. Era, pois, uma questão da lei de Deus, que nem o supremo pontífice da Igreja ousava enfrentar, para evitar o rancor dos bispos e o ódio do mundo. Não decorreram nem duas horas, e na praça de São Pedro em Roma ocorreu o sacrílego atentado à vida do papa. A emoção do mundo inteiro foi enorme. Os católicos ficaram abalados por aquele crime horrendo. Alguém pensou que seria justo suspender a campanha política pelo referendo que se realizaria dia 17 de maio. Mas apesar da grande comoção tudo prosseguiu de modo regular. Nas urnas foram reprovados tanto o aborto radical como o aborto CEI-DC. Venceu o aborto parlamentar. O gravíssimo atentado não influiu. CAPÍTULO 9. TREZE DE MAIO - 1917 E 1981 "Dia 13 de maio de 1917 a Virgem Santíssima apareceu pela primeira vez em Fátima, onde confiaria a Lúcia uma mensagem em três partes para o nosso tempo. Duas foram conhecidas anos após. A terceira deveria ser revelada em 1960, porque então seria mais clara. "João 23 leu esse terceiro segredo, mas não permitiu sua divulgação apesar da febril espera do mundo. O motivo dessa decisão, à luz dos eventos que desde então se sucederam em ritmo frenético, foi-se tornando sempre mais claro: era uma advertência aos eclesiásticos e à humanidade prenunciando provações e perseguições para a Igreja se os bispos, e por conseqüência o clero, não fossem fiéis à sua missão; e ulteriores castigos para a humanidade se ela continuar em sua perversão moral e religiosa. "Ora, desde 1960 a degradação da Igreja e da humanidade aumenta vertiginosamente. Os infiltrados maçons trabalham há anos na demolição da Igreja, como revelam inúmeros documentos, mas, sobretudo, os fatos sempre mais ruinosos que resultam da desastrosa reforma pós-conciliar, o último dos quais foi o apoio dado pelos bispos ao referendo miniabortista. "A esse respeito, sua santidade João Paulo II, que parece ter ficado surpreso por haver sido enganado, achou que não devia intervir, para não desautorizar a CEI e dividir os bispos italianos. Como se fosse possível manter uma unidade à custa da verdade, ou tocar a essência da fé e da moral, sem dividir os católicos. "Mas, o panorama de todo o mundo católico é desolador. A Igreja na França, Bélgica, Holanda, América Latina, EUA, Canadá, etc., dá um espetáculo da incrível degeneração orquestrada e dirigida festivamente pelas diversas conferências episcopais nacionais. São os frutos amargos da colegialidade mal-entendida e pior aplicada a partir do Concílio Vaticano II. "As conferências episcopais nacionais revelaram-se, em quase todos os lugares, centros de poder através dos quais infiltrações maçônicas podem manobrar a vida da Igreja, condicionando até o papa. "A Igreja, obscurecida pela fumaça de Satã, deixa de ser sinal luminoso para os povos (influência política não significa influência religiosa), as trevas do mundo se tornam mais densas, a redenção é recusada, o príncipe deste mundo reina e os ministros da redenção não mais o enfrentam. "Eis que as provações e perseguições prenunciadas são sempre mais presentes e a humanidade sempre mais abandonada à sua desordem espiritual que reclama castigos: Quos Deus vult perdere amentat ("Deus torna loucos aqueles que deseja perder"). Esses sinais são já visíveis. "Uma infâmia inconcebível - No dia 13 de maio de 1981 um evento inaudito o mundo: o papa foi vítima de um atentado que por pouco não foi mortal. O gesto sacrílego provoca horror e aflição, pois a escalada da violência atingiu até a sagrada pessoa do vigário de Cristo. "Poucos dias antes o santo padre havia dirigido palavras de estranho pressentimento aos novos recrutas da guarda suíça. Também monsenhor Deskur, polonês amigo do papa, havia recentemente manifestado seus temores ao padre Virgílio Levi. "Tudo parece indicar um complô internacional. O autor do atentado não é um exaltado. Desde o início revela a frieza de killer profissional. As investigações orientam-se imediatamente para a hipótese do complô pelo cuidado com que foi escolhido o assassino: condenado à morte na Turquia, evadido misteriosamente de uma superprisão, graças a altas cumplicidades, munido de passaporte regular emitido pela polícia turca e largamente subvencionado a ponto de viajar por dois anos e com luxo por nove países, o killer tinha tudo a ganhar e nada a perder com o sacrílego gesto. A pior hipótese seria a prisão perpétua na Itália, em vez da pena de morte na Turquia, país com o qual a Itália não tem acordo de extradição. "Quem tinha interesse em eliminar o Papa? O pensamento corre para os problemas da Polônia católica (vítima do comunismo 'espalhado pela Rússia', flagelo prenunciado em Fátima) que busca, para sua desesperada resistência, apoio no papa polonês. No número 10, ano sexto, de 1980, publicamos o artigo 'A KGB contra João Paulo II' no qual se reproduzia a informação do Centre Européen d'Information de que a KGB (serviço secreto soviético) armava um complô para assassinar o papa (mais tarde a pista búlgara o confirmou). "Mas a outra hipótese é que os mandantes são dos ambientes maçons, cuja condenação voltou a ser confirmada recentemente pela Sagrada Congregação da Fé, por vontade do papa e desagrado dos que na Revista Maçônica de julho 1978 fizeram o elogio fúnebre de Paulo sexto: 'Que fez cair a condenação de Clemente XII e sucessores.' "Que a Maçonaria tem numerosas infiltrações na Cúria Romana e especialmente na Secretaria de Estado, é notório. Ao prefeito da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, cardeal Seper, foi fornecida uma lista de eclesiásticos maçons, com a respectiva documentação, por um eminentíssimo cardeal, ainda no tempo de Paulo sexto. Infelizmente, (ver cartas à suas santidades), nem com João Paulo I, nem com o atual pontífice, os maçons infiltrados nos altos escalões da hierarquia eclesiástica foram removidos (ao contrário, como se viu). "A inesperada morte de João Paulo I permanece um denso mistério, e foi em vão que de diversas partes fizeram-se pedidos de autópsia. Consta que Karol Wojtyla, apenas eleito papa, teria mandado remover de seus aposentos pesadas tapeçarias que escondiam microfones. Sabe-se também que se cercou de pessoal polonês de sua confiança, a começar pelas irmãs, que cuidam da cozinha. "Mesmo assim, há não muito tempo circulou nos ambientes próximos ao papa que este havia escapado a grave perigo, no Vaticano e também em Castel Gandolfo. E eis que justamente agora, quando no mundo político se fala da ligação entre o terrorismo e a maçonaria, um terrorista atenta contra o santo padre. "Seria a terceira hipótese: o atentado como resultado do entendimento entre a KGB e a maçonaria internacional. "Entre as duas datas - 13 de maio de 1917 e 13 de maio de 1981 - vemos uma estreita ligação. Quer-nos parecer que Nossa Senhora deseja que seja devidamente considerado, independentemente da divulgação, o que ela revelou em Fátima para o bem da Igreja, para o bem dos fiéis e para o bem de toda a humanidade. Por essa razão pedimos a sua santidade João Paulo II que leia, se ainda não o fez, o terceiro segredo de Fátima. Não é mais tempo de belas palavras, mesmo apreciáveis, porque o mundo eclesiástico e leigo as rejeitam e fazem silêncio sobre qualquer admoestação, especialmente se de natureza religiosa ou moral. No atual estado de perversão, são necessários oportunos e decididos atos de governo, sem medo de que a Igreja possa reduzir-se a uma pequena grei. Este é o único caminho que pode evitar, se ainda houver tempo, que seja Nosso Senhor a prover a purificação de Sua Igreja". - Assinado, Pius. Nenhum católico pode duvidar de que o fato de 13 de maio de 1981 esteja nos desígnios de Deus, que permitiu o atentado quase mortal ao Seu Vigário, mas proveu a sua sobrevivência. A violência inconcebível do ato parece gritar um aviso extremo. Que desgraça desconhecê-lo a ponto de sentir sua vida preservada para continuar como antes. CAPÍTULO 10. JOÃO PAULO II FALA DO TERCEIRO SEGREDO É certamente importante saber que atenção e significado dá o papa ao terceiro segredo de Fátima, que continua escondido no Vaticano, sem que nenhuma notícia seja fornecida aos católicos. Deve-se reconhecer, pelo que relataremos em seguida, que o atual pontífice, ao contrário de João 23, que leu o segredo e o arquivou em silêncio, e de Paulo sexto, que ignorou sua existência, evitando falar até com irmã Lúcia, João Paulo II mostrou-se bem mais acessível e confiante no justificar sua ocultação. A prova está no diálogo que teve com católicos de Fulda, por ocasião da viagem à Alemanha em novembro de 1980. Este foi registrado e autenticado para ser publicado pela revista Stimme des Glaubens. Aqui é reproduzido com os comentários de Si si no no, número 2, ano OITAVO. "Pergunta: Que é feito do terceiro segredo de Fátima? Não deveria ter sido publicado já em 1960? Resposta: Dada a gravidade do conteúdo, para não incitar a potência mundial do comunismo a tomar certas iniciativas, os meus predecessores no ofício de Pedro preferiram diplomaticamente sobrestar a sua publicação..." "Observação: Ter silenciado sobre o segredo... equivaleu a acusar a Rainha do Céu de imprudência e de inoportunidade. Equivaleu a considerar a prudência dos homens superior à celeste. "Por outro lado, aos cristãos basta saber isto: se há uma mensagem em que está escrito que os oceanos inundarão partes inteiras da terra, que de um momento para outro milhões de homens morrerão, não é deveras o caso de insistir na divulgação de tal mensagem secreta." "Observação: Essas palavras reproduzem quase literalmente a profecia apocalíptica do terceiro segredo que circula há anos e diz: 'As águas dos oceanos se transformarão em vapores e a espuma se elevará, submergindo tudo. Milhões de homens morrerão de hora em hora'. - Ainda para justificar o silêncio dos predecessores, diz: "Muitos querem saber por simples curiosidade e sensacionalismo, mas se esquecem de que saber comporta também responsabilidade. Procura-se somente satisfazer a própria curiosidade, e isto é perigoso se ao mesmo tempo não se tem a disposição de fazer algo, ou nos convencemos de que nada se pode fazer contra o mal." "Observação: Não é um fato real, nem demonstrável que muitos queiram saber só por curiosidade e sensacionalismo. De qualquer modo, muitos não significa todos. Além disso, de uma natural curiosidade pode nascer um sincero arrependimento e propósito de emendar-se. É doutrina comum da Igreja, que Deus move as criaturas segundo seu comportamento natural. Ora, sendo a curiosidade mola do conhecimento para os homens, é claro que a graça divina não deixará de movê-los partindo justamente do limite extremo dessa curiosidade natural. "É verdade também que conhecer comporta uma responsabilidade. E isto em relação ao livre-arbítrio, que pode decidir rejeitar o bem conhecido. Mas o conhecimento em si é um bem, porque aumenta as possibilidades de agir retamente. Por isto, instruir as almas é um dever, e quem se nega a fazê-lo é culpado de omissão e co-responsável da ruína do próximo. "Enfim, visto que o castigo pende sobre toda a humanidade, é lógico pensar que a Virgem Santíssima queria que cada assumisse as próprias responsabilidades. Existe, portanto, um direito dos homens de conhecer a mensagem celeste que nos diz respeito e cujo desprezo pode trazer-nos conseqüências apocalípticas. "As revelações de Fátima não se destinam ao bem pessoal de irmã Lúcia ou do sumo pontífice, mas a toda a humanidade. Quem pode negar à Mãe dos santos e dos pecadores o direito de comunicar algo a seus filhos? O papa, dir-se-á, é juiz das aparições e de suas revelações, na Igreja. Mas a aparição e as revelações de Fátima foram declaradas autênticas justamente pelo papa. Eis a incoerência: de um lado, reconhece-se que em Fátima a Mãe de Deus falou para a salvação da humanidade; de outro, acrescenta-se: 'Mas o que revelou não é prudente dar-se a conhecer.' "Pergunta: O que acontecerá na Igreja? Resposta: Devemos nos preparar para passar dentro em breve por grandes provações, que pedirão de nós a disposição de sacrificar até a própria vida numa dedicação total a Cristo, por Cristo. Com a vossa oração e a minha será possível atenuar essa atribuição, mas não é mais possível desviá-la, porque somente assim a Igreja poderá ser efetivamente renovada. Quantas vezes do sangue surgiu a renovação da Igreja! Também desta vez não será diferente. Devemos ser fortes, preparar-nos, confiar em Cristo e em Sua Santíssima Mãe e ser muito, muito assíduos na prece do Santo Rosário." Pegando um Rosário havia dito antes: "Eis o remédio contra esses males. Rezai, rezai e não pergunteis mais. Confiai o resto à Mãe de Deus!" "Observação: Também Paulo sexto exclamou em Fátima, angustiado: 'Nós dizemos: o mundo está em perigo... o espetáculo do mundo e de seu destino apresenta-se aqui imenso e dramático. É o quadro que nos descerra Nossa Senhora, o quadro que contemplamos com os olhos estarrecidos...' Mas, e os remédios? Foi justamente a partir do pontificado desse papa que os reiterados pedidos marianos de oração e penitência foram desprezados no triunfante naturalismo pós-conciliar, as suas formas degeneradas, o seu número diminuído (até mesmo nas ordens contemplativas), e quanto à penitência não se fala mais, ficando o jejum eclesial reduzido a duas vezes por ano. "Pior ainda: permitiu-se que as profanações se multiplicassem, e que a devoção mariana, com o Santo Rosário, fosse obstada durante anos, com um zelo realmente diabólico. Este desprezo da prática das devoções pedidas na mensagem de Fátima não partiu do povo cristão, mas veio dos vértices da Igreja. "A consagração da Rússia ao Imaculado Coração de Maria, do modo como foi pedido por Nossa Senhora, não foi nunca feita. E o que se fez para a conversão da humanidade? Ambigüidades e erros doutrinais e a difusão de uma 'moral' imoral, que favorecera o triunfo de leis civis, opostas à Lei divina, natural e positiva. O divórcio, o aborto, a contracepção, a pornografia e a conseqüente corrupção, especialmente da juventude, estão acumulando sobre a humanidade eaira do Senhor. Não se trata somente do silêncio sobre o terceiro segredo, mas de se ter feito exatamente o contrário de quanto havia sido revelado na mensagem de Fátima. Nossa Senhora de Fátima é 'incômoda'. Tem o defeito de ignorar a 'diplomacia' e falar com toda a clareza. De tal modo, pode-se até levar em procissão a Imagem, sempre que os bispos não o impeçam, como aconteceu no Canadá, no Vêneto, etc, mas quanto à mensagem essa é deixada o mais possível na obscuridade e no silêncio. "Começou-se por substituir a palavra 'Rússia', que Nossa Mãe havia explicitamente mencionado, pela fórmula 'nações inimigas de Deus'. "E, todavia, Fátima é uma profecia para o nosso tempo. 1917 foi o ano da revolução bolchevista, que fez da Rússia a primeira nação declaradamente atéia, difusora do ateísmo teórico e prático, imposto no Oriente e infiltrado com todos os meios no Ocidente. Representa o ápice da apostasia da humanidade". - Assinado, Pius. CAPÍTULO 11. JOÃO PAULO II RESPONDE SOBRE FÁTIMA Em maio de 1982 o papa foi a Fátima e na homília da missa celebrada dia 13, no lugar das aparições, foi como se respondesse a diversas interrogações dos católicos. "Vim hoje aqui porque justamente neste dia do ano passado, na praça de São Pedro, em Roma, ocorreu o atentado à vida do papa, que coincidiu misteriosamente com o aniversário da primeira aparição de 13 de maio 1917 em Fátima. Estas datas encontram-se entre si de tal modo que me pareceu reconhecer nisto uma chamada especial para que viesse aqui. Como vê a mensagem de Fátima? "À luz da maternidade espiritual de Maria, procuramos entender a extraordinária mensagem que começou a ressoar no mundo, desde Fátima, a partir de 13 de maio de 1917, e que se prolongou por cinco meses até 13 de outubro." Como a Igreja acolhe a mensagem? "Se a Igreja acolheu a mensagem de Fátima foi sobretudo porque ela contém 'uma verdade e um chamado' que no seu conteúdo fundamental são 'a verdade e a chamada do próprio Evangelho.'" O papa reconhece um conteúdo especial e atual na mensagem? "Esta chamada (de conversão e penitência) foi pronunciada no início do século 20 e, portanto, é a este século que particularmente se dirige. A 'Senhora da Mensagem' parece ler com uma especial perspicácia os 'sinais dos tempos', sinais de nosso tempo." O papa reconhece em nossa época os sinais prenunciados? "Enquanto se completam 65 anos desde aquele 13 de maio de 1917, é difícil não divisar como este amor salvífico da Mãe abraça em seu raio de modo particular o nosso século... o que mais se opõe ao caminho do homem a Deus, diretamente, é o pecado, o perseverar no pecado e, enfim, a negação de Deus. O programado 'cancelamento de Deus' no mundo do pensamento humano. A separação Dele de toda atividade terrena do homem. 'A rejeição de Deus da parte do homem'... se esta se torna definitiva conduz logicamente à rejeição do homem por parte de Deus, é a perdição." "Pode a Mãe que deseja a salvação de cada homem calar sobre o que está minando as bases dessa salvação? Não, não pode! Por isto a mensagem da Senhora de Fátima, tão maternal, é ao mesmo tempo tão forte e decidida. Parece severa. É como se falasse João Batista nas margens do Jordão. Convida à penitência. Adverte, chama à oração. Recomenda o Rosário." A quem é dirigida? "Objeto de Seu cuidado são todos os homens da nossa época, juntamente com as sociedades, as nações e os povos. As sociedades ameaçadas pela apostasia, ameaçadas pela degradação moral. A ruína da moralidade traz consigo a ruína das sociedades..." Empenha a Igreja? "O conteúdo do apelo da Senhora de Fátima é tão profundamente radicado no Evangelho e em toda a Tradição 'que a Igreja se sente interpelada por esta Mensagem.'" Como se apresenta o papa, hoje? "Apresenta-se relendo com tremor a chamada materna à penitência e à conversão, o apelo ardente do Coração de Maria que ressoou 65 anos atrás em Fátima. Sim, com tremor porque vê quantos homens e quantas sociedades, quantos cristãos foram na direção oposta à indicada pela mensagem de Fátima. O pecado ganhou um direito de cidadania tão forte no mundo, e a negação a Deus difundiu-se amplamente nas ideologias, nos conceitos e programas humanos!" Por todos esses males, não é atual, e urgente atender e lembrar o que é pedido na mensagem de Fátima? "Mas justamente por isso o convite evangélico à penitência e à conversão, pronunciado com as palavras da Mãe, é sempre atual. Ainda mais atual que há 65 anos. E ainda mais urgente. Portanto, este se torna o assunto do próximo Sínodo dos bispos do ano próximo. Sínodo para o qual já nos estamos preparando." Estas palavras de João Paulo II, colhidas no meio de tantas expressões gerais, de tantas circunvoluções verbais, foram como uma centelha de esperança para muitos católicos desiludidos. Seria acaso o anúncio prévio de que a mensagem inteira viria à luz? Estariam o papa e outros bispos prestes a proclamar a importância sobrenatural das suas palavras para a conversão dos povos? Estariam preparando uma desassombrada acusação dos grandes males atuais para pedir uma universal reparação? Usariam da ocasião de um sínodo, quando os bispos se reúnem com o papa, para fazer a consagração solene da Rússia ao Imaculado Coração de Maria? Tudo isto parece muito longe das cogitações episcopais, mas pode ser que o papa em Fátima tivesse tomado plena consciência de quanto seja providencial e necessário o caminho que neste lugar foi indicado por Maria Santíssima; se Deus quer que a Igreja reconheça, por essa consagração da Rússia, o triunfo do Imaculado Coração, essa é a via única e infalível para obter a conversão russa. As esperanças, porém, ficaram reduzidas por um ato de consagração incompleto que não cumpria o que fora pedido por Nossa Senhora. Perduravam neles as preocupações de natureza diplomática e política em evitar qualquer menção ao nome Rússia, como se fosse impossível localizar no regime que a domina os erros e o ativismo ateu prenunciados na mensagem de Fátima. Seria possível esperar que aquele ainda fosse um ato preparatório para uma consagração solene e completa no sínodo do ano seguinte? Infelizmente, naquela ocasião e em outras subseqüentes, tanto as palavras como os atos foram cada vez mais demonstrando como estavam distantes do espírito de Fátima, que sopra somente onde é preservada a pureza e a integridade da fé e a vontade de testemunhá-la. CAPÍTULO 12. A VISÃO CONCILIAR DE JOÃO PAULO II Não há intenção aqui de enveredar pelos complexos meandros do pensamento de João Paulo II sobre o Concílio, para o qual colaborou com o texto da Gaudium et Spes, e hoje promove sem reservas. A visão conciliar que interessa ver é a ligada ao ato de consagração pronunciou em Fátima com a intenção de atender ao que ali foi pedido por Nossa Senhora - a consagração da Rússia. Não é preciso repetir que faltavam condições. Mas, faltaria também a compreensão do sentido católico extraordinário? Poderia a visão conciliar coadunar-se com ele? Há boas razões para duvidar. Senão, vejamos. João Paulo II disse e repetiu: "O concílio Vaticano II lançou as bases para uma relação substancialmente nova entre a Igreja e o mundo" (discurso de 22/12/1980 ao Sacro Colégio). Ora, como o mundo não mudou em relação à Igreja de Cristo, senão pelo afastamento do seu ensinamento, teria sido a Igreja que mudou, adaptando-se às condições do mundo, mas isto só é possível para uma nova Igreja, a que se costumou chamar de "igreja conciliar." De fato, nos seus documentos conciliares transparece essa mudança e reconhecimento às crenças diversas. Por exemplo, na declaração Nostra aetate está escrito: " considera com respeito sincero o modo de viver e de agir por preceitos e doutrinas, ." Igualmente, João Paulo II dirá ao escritor Frossard que tem "um respeito total pelas convicções dos que crêem de modo diferente ." Do mesmo modo, manifestou muitas vezes a necessidade de "procurar uma inteligência e uma 'expressão da fé' que corresponda e torne-se aceitável à maneira de pensar e de falar de nossa época" (1/11/1982, aos teólogos de Salamanca). "Uma fé à medida do mundo", dirá muitas vezes, e também ao escritor Frossard. Qual seria essa fé? Na sua primeira Encíclica Redemptor hominis é dito: "A natureza humana está elevada em cada homem a uma sublime dignidade pelo fato mesmo da Encarnação." Esse conceito está na constituição conciliar Gaudium et Spes: "Com a Encarnação o Filho de Deus uniu-se, de certo modo, a cada homem." Mas a Igreja sempre ensinou a necessidade do batismo para tornar-se cristão, este é o sacramento que dá essa dignidade e une o batizado ao Corpo Místico de Cristo. Sem este, não há esta adesão, e nenhum homem poderia deduzi-la por esses vagos conceitos mais humanitários que propriamente religiosos. Além disso, se assim fosse muitos homens estariam unidos ao Filho de Deus sem crer Nele, ignorando-O ou então negando-O. Não seria nem moral nem lógico pensá-lo. Em todo caso, não é catolicismo ortodoxo, pois exclui a união pela conversão e fé cristã. E sendo assim, também a consagração a Deus é inútil; esta, de certo modo, já ocorreu através de Encarnação, segundo esses conceitos. Não haveria, portanto, errantes a exortar, nem erros graves a condenar no mundo. Todos seriam consagráveis. Passemos agora ao texto da homília de João Paulo II do dia 13 de maio de 1982 em Fátima; "Consagrar o mundo ao Coração Imaculado da Mãe significa voltar sob a cruz do Filho. Mais: significa consagrar este mundo ao Coração transpassado do Salvador, trazendo-o à fonte mesma de sua redenção. A redenção é sempre maior que o 'pecado do mundo', a potência da redenção supera infinitamente toda a gama do mal que está no homem e no mundo." Essas palavras dão a entender uma redenção que opera mesmo sem o reconhecimento do pecado, sem arrependimento e sem conversão. A redenção e a consagração seriam tão potentes a ponto de prescindir da renúncia a toda gama do mal e da penitência para ser eficaz. "Consagrar-se a Maria significa fazer-se ajudar por Ela a oferecer nós mesmos e a humanidade a 'Aquele que é Santo', infinitamente Santo; - para oferecer o mundo, e o homem, e a humanidade, e todas as nações, a 'Aquele que é infinitamente Santo'. A santidade de Deus manifestou-se na redenção do homem, do mundo, da inteira humanidade, das nações, redenção efetuada mediante o Sacrifício da Cruz". -- Por eles Eu consagro a Mim mesmo... havia dito em João, 17, 19, Jesus. Como se vê, fala-se de uma consagração total e indiscriminada do mundo, e o mesmo é dito da redenção. "Por eles Eu me santifico a Mim mesmo, para que eles também sejam santificados na verdade". Mas, como podem ser santificados na verdade os ateus, os homens que rejeitam a Cristo e Sua Igreja, um mundo corrupto e uma humanidade apóstata do ensinamento cristão? E como poderiam beneficiar-se dessa consagração e converterem-se se não é indicado o mal em que estão mergulhados? Antes houve uma alusão ao mal e à recusa de Deus, da qual se lembra a recíproca, que é a recusa dos homens da parte de Deus, a danação. É a palavra mais forte usada na homília, mas que permanece única, vaga, sem ser ligada aos erros do ateísmo militante e do comunismo inimigo da ordem cristã. Poderiam tais palavras ser consideradas um apelo à conversão? Pelo texto parece que esse cuidado é deixado à Mãe celeste, como se a função de confirmar na fé não fosse dever do sucessor de São Pedro. Em todo caso, há também omissão no trecho evangélico, porque Jesus está referindo-se em sua "oração sacerdotal" aos fiéis, aos que receberam a palavra de Deus e de Seu Filho. "Manifestei o Teu Nome aos homens que me deste do mundo; eles eram Teus e Tu mos deste e guardaram a Tua palavra. Agora conheceram que todas as coisas que me deste vêm de Ti; porque lhes dei as palavras que me deste; e eles as receberam e conheceram verdadeiramente que Eu saí de Ti, e creram que Me enviaste. É por eles que Eu rogo; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que Me deste, porque são Teus." Para obter a paz pela conversão à fé católica da Rússia comunista, Maria Santíssima pediu sua consagração ao Imaculado Coração. O espírito conciliar, porém, afetou gravemente a visão espiritual dos seus arautos, temerosos de invocar conversões, principalmente da Rússia. CAPÍTULO 13. FOI O PEDIDO DE CONSAGRAÇÃO SATISFEITO? João Paulo II, indo a Fátima um ano depois do atentado que sofreu e não escondendo que conhece o terceiro segredo, certamente mostrou a todos, não só com palavras, a importância e urgência com que deve ser vista a mensagem de Fátima. Acrescente-se a isto que em menos de dois anos, de 1982 a 1984, consagrou o mundo ao Imaculado Coração de Maria por três vezes, a saber: na ocasião de sua visita a Fátima; no Sínodo dos bispos de 1983, em Roma; e na cerimônia solene em São Pedro, dia 25 de março de 1984. Pode parecer paradoxal, então, afirmar que tanto empenho não demonstrasse acolhimento do pedido e adesão ao espírito da mensagem dada por Nossa Senhora em Fátima. Voltemos então à homilia lá pronunciada por João Paulo II, em 13 de maio de 1981. Logo antes da consagração que estava para fazer, é perguntado com referência às consagrações feitas por Pio XII em 1942 e 1952: "Com aquela sua consagração, acaso não satisfez à evangélica eloqüência do apelo de Fátima?" Ora, vista a importância dessa questão ligada à promessa feita por Nossa Senhora: "Se atenderam Meus pedidos, a Rússia se converterá e terão paz; se não, espalhará seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja; os bons serão martirizados, o santo padre terá muito que sofrer, várias nações serão aniquiladas..." Visto que quem pergunta ou responde sobre isto é justamente a suprema autoridade eclesiástica a quem esse pedido foi dirigido, há que considerar com cuidado o que isto comporta. A primeira resposta deveria vir pelo cumprimento do prometido. E esta ninguém melhor que João Paulo II pode dar. Trata-se de comprovar se os males anunciados da difusão dos erros da Rússia, o comunismo e o ateísmo, pelo mundo, com a conseqüente perseguição da Igreja, martírio de muitos cristãos e grandes sofrimentos do santo padre, deixou de ser uma realidade de hoje. Se no mundo em geral, ou na Polônia em particular, ou mesmo na própria Roma, onde um ano antes foi tentado um assassinato contra o papa, chegou finalmente a paz, pela conversão da Rússia. Parece que vivemos bem o contrário disso tudo, e mais ainda: esse espírito inimigo infiltrou-se na Igreja, onde há bispos e padres que acolhem os "erros da Rússia" como se fosse um novo Evangelho. João Paulo II viveu isso pessoalmente por ocasiões de sua viagem à Nicarágua. Sabe também o quanto é difícil ao prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, cardeal Ratzinger, e outras autoridades da Igreja, enfrentar as insídias das igrejas populares, as falsidades das teologias de libertação, o ativismo político das comunidades eclesiais de base, e outras iniciativas apoiadas por certas autoridades "intocáveis" dentro da Igreja. Portanto, deve-se deduzir: ou o pedido de Fátima não foi atendido pelo papa com a Consagração pedida, ou a promessa feita não foi mantida pelo Céu, que não mandou a paz à Terra. É claro que antes de considerar a segunda hipótese, seria melhor dizer que a aparição e a mensagem de Fátima são ilusões que não merecem crédito. Seria menos impudente que insinuar ser o poder celeste ineficaz ou enganoso. Pela realidade do mundo de hoje, portanto, ninguém disposto a fazer um breve raciocínio de causa e efeito, entre os "erros da Rússia" e suas conseqüências, poderia dizer honestamente que o problema não subsiste. Nem os marxistas ocidentais o fazem. Como seria então para os católicos que conhecem a mensagem de Fátima e sabem que isto foi prenunciado desde 1917 e oferecida solução? Passemos agora a considerar a resposta dada pela documentação onde está registrado o que irmã Lúcia, a quem foi confiada a mensagem, diz do seu cumprimento. Usaremos ainda o livro Documentos de Fátima, no qual o padre Antônio Maria Martins da Companhia de Jesus publica as cópias dos manuscritos originais da vidente, com as respectivas traduções em italiano e espanhol, além do texto em português. Veja-se então o anúncio do pedido de consagração feito dia 13 de julho de 1917. Vejam-se, outrossim, as palavras do pedido feito em Tuy, na Espanha, dia 13 de julho de 1929, para a consagração da Rússia: "É chegado o momento em que Deus pede para o santo padre fazer, em união com todos os bispos do mundo, a consagração da Rússia ao meu Imaculado Coração, prometendo salvá-la por esse meio." Essas palavras foram transmitidas aos papas, mas na carta de irmã Lúcia a Pio XII, em 1940, esta foi solicitada pelo seu bispo a mudá-las para: - "consagração do mundo ao Imaculado Coração de Maria, com menção especial da Rússia, e ordenar que em união com vossa santidade e ao mesmo tempo a façam também todos os bispos do mundo, abreviar os dias de atribulação, com que tem determinado punir as nações de seus crimes, por meio da guerra, da fome e de várias perseguições à santa Igreja e a vossa santidade." Não entraremos aqui nas razões dessa modificação, basta dizer que as palavras originais estavam na mesma carta. Foi visto antes que Pio XII atendeu parcialmente o pedido. Assim, em carta de 4/5/1943 de Tuy, ao padre superior, Lúcia confirma: "Deus promete o fim da guerra para breve, em atenção ao ato que se dignou fazer Sua Santidade (consagração de 31/10/1942). Mas como ele foi incompleto, fica a conversão da Rússia para mais adiante." De fato, não houve a explícita menção da Rússia no ato de 1942, e se isto se realizou em 1952 faltava também naquela ocasião a participação dos bispos do mundo. Em carta de Tuy, 2/3/1945, ao padre Aparício, Lúcia diz: "Era preciso intensificar muito a oração e o sacrifício pela conversão da Rússia, para ver se, apesar da consagração desta nação não ter sido feita nos termos pedidos por Nossa Senhora, conseguimos a sua volta para Deus. Eu tenho grandes esperanças, porque o bom Deus conhece bem as dificuldades. Aí reza-se pelo santo padre? É preciso não deixarem de pedir por sua santidade. Faltam-lhe ainda grandes dias de aflição e tormenta" (Padre Martins pergunta em nota: é referência inconsciente à crise da Igreja?). Vemos, assim, também pela confirmação escrita de irmã Lúcia sobre a consagração pedida em Fátima, que esta não foi atendida por Pio XII. É interessante observar que em carta subseqüente de 11/1/1946, onde se fala da ida de padres à Rússia, Lúcia diz que não pode falar ou escrever abertamente porque tem ordens rigorosas. E comenta: "Não admira. As obras de Deus são sempre perseguidas." Vejamos agora, à luz dessas declarações de Lúcia, que nada mais fazem que confirmar, serem como qualquer um pode verificar, os termos da consagração pedida e da realizada diferentes, como foi feita a consagração em Fátima dia 13 de maio de 1982. Antes de mais nada, deve-se registrar um comunicado escrito do cardeal Casaroli, secretário de Estado de João Paulo II, de 20/4/1982, e dirigido a todos os bispos do mundo, para comunicar a intenção do santo Padre de consagrar o mundo a Maria por ocasião de sua ida a Fátima para o 13 de maio. Falava-se nela da repetição do ato de Pio XII e pedia-se em termos gerais a união espiritual na oração. Era uma missiva claramente formal, pois não é segredo a desaprovação dessas medidas "antiecumênicas" por grande número de prelados. Mas, seja como for, as intenções do papa ficaram desconhecidas dos fiéis, tanto quanto essa carta. Portanto, quanto à participação dos bispos do mundo, que deveria ser ordenada claramente pelo papa, ela não houve. A dificuldade enorme para consegui-lo, devido aos novos caminhos ecumênicos do concílio, era descontada na situação atual, mas nem pôr isto era veraz a frase usada por João Paulo II na consagração de 13 de maio: "Estou aqui unido com todos os pastores da Igreja nesse particular vínculo, pelo qual constituímos um corpo e um colégio." A intenção do papa não poderia suprir a dos bispos, e, portanto, nesse aspecto a consagração já era incompleta. No que diz respeito à menção explícita à Rússia, na consagração do mundo de 13 de maio de 1982 em Fátima, João Paulo II usou a seguinte frase: "De modo especial confiamos e consagramos a Ti, aqueles homens e aquelas nações que desta entrega e consagração têm especial necessidade". Ora, isto vale para muitas, diversas nações. Neste ponto, à pergunta de papa Wojtyla - "aquela consagração acaso não satisfez ao apelo de Fátima?" - e se deve receber uma resposta negativa no que se refere às consagrações de Pio XII, tanto mais negativa será para a sua consagração, cujo texto não se aproximou da primeira nem renovou as palavras da segunda. Mas para dirimir a última possível dúvida formal a respeito, havia ainda um meio: perguntar diretamente à Lúcia. Isto deve ter sido feito quando, naquela ocasião, o papa conversou a sós com a vidente por quase meia hora. Poderia ela ter contrariado o que sempre escrevera, e confirmado fatos objetivos? Tudo indica, porém, que João Paulo II, consciente da importância da consagração, pela gravidade e atualidade do terceiro segredo que conhece, pensava ainda resolver a questão com as fórmulas vistas há pouco. Para confirmá-las, mandou depois seu núncio em Lisboa visitar Lúcia em Coimbra. Isto aconteceu em 19/3/1983, e acompanhavam o núncio, o doutor Lacerda e o padre Messias, como relatará um artigo do padre Caillon, que teve essa parte reproduzida em outras publicações, entre as quais Approaches; Sim sim, não não. Eis a declaração de irmã Lúcia: "A consagração da Rússia não foi feita como Nossa Senhora pediu. Não pude dizê-lo antes porque não tive a autorização da Santa Sé para fazê-lo." Depois disso o papa ainda tentaria fazer duas consagrações, como veremos, o que demonstra com eloqüência em que ponto avançado a humanidade e a Igreja devem encontrar-se diante dos enormes perigos prenunciados. Mas, seriam finalmente completas? Conseguiria João Paulo II pronunciar o nome Rússia publicamente, para o bem da Igreja e a glória da Virgem Maria? Sobre as imensas dificuldades, hoje, de enfrentar os erros da Rússia, isto é, o comunismo e o ateísmo, e sobre a evidência dos progressos que esses erros continuam a fazer no mundo e na Igreja, não pode haver ilusão. São empregados todos os recursos e articulados todos os terrores. Pelo medo, abrem-se-lhe as portas. Só poderia sustar esse avanço alguém que de uma cátedra muito alta e com autoridade indiscutível acusasse o mal pelo nome sem procurar compromissos ou escapatórias, nem com as palavras. Essa cátedra, essa autoridade e esse amor destemido são os atributos do sucessor de São Pedro, rocha da fé íntegra e pura. A força está na fé sem mancha, sem misturas humanas, sem compromissos mundanos. E a ação vem da caridade, que não existe sem a fé. Ora, a fé conciliar demonstrou ser apenas um sentimento confuso e uma caridade espúria, aberta a qualquer compromisso. Nada tem a ver com Fátima, antes é contra tudo que seja genuinamente mariano. Eis a conversão necessária, pois: a renúncia, ao "concílio irreversível", suprema desgraça que abalou o sucessor de São Pedro e deixa a arca de salvação à deriva. CAPÍTULO 14. O PAPA TEM DEVERES PARA COM FÁTIMA? Para a mentalidade do mundo e também da Igreja conciliar, a piedade mariana em lugares como Fátima é uma manifestação de um catolicismo superado que pode ser aceito, mas nada pode impor. Por essa razão, a visita de um papa ao lugar de uma aparição celeste nada mais seria que um gesto de solicitude pastoral para com os devotos, ou, eventualmente, resultado de sua pessoal devoção mariana. Assim, já o comparecimento de Paulo sexto em Fátima se justificaria em atenção ao grande número de fiéis apegados a esse tipo de piedade. Portanto, nada haveria de mal que aproveitasse a ocasião para fazer um apelo de paz para a edificação de um mundo mais justo e fraternal, com a colaboração de todos os homens de boa vontade, sem exclusão dos aderentes a credos políticos e religiosos diversos, mesmo opostos ao catolicismo, ao culto mariano e a Deus. Mas, para a fé católica, que reconhece a verdadeira guerra do mundo na oposição do mal ao bem, da sinagoga de Satã à Igreja, do príncipe deste mundo a Cristo, qual é o sentido de Fátima? Ora, Fátima, acontecimento excepcional de nosso século que não pode ser visto apenas como um entre tantos fatos sobrenaturais de que é rica a história da Igreja, vem lembrar essa oposição vital, que os belos discursos certamente não irão elucidar. Assim sendo, o fato de o papa ir em peregrinação a Fátima tem sentido católico, enquanto o chefe da Igreja e supremo custódio da fé quer demonstrar que esta deve ser aceita e os ensinamentos que trouxe seguidos à luz da fé católica. Disso estará dando exemplo, para a glória de Deus e o bem da Igreja. Recapitulemos, então, o ensinamento que a mensagem lembrou. Antes de tudo, que os pecados dos homens são a verdadeira causa de todos os seus males. Segue-se que estes males e castigos são permitidos ou mandados por Deus, que é Senhor da História. Assim, do mesmo modo que males e calamidades são conseqüência da ofensa a Deus, paz e prosperidade, se reais, são o resultado da aceitação, por parte do Senhor, da reparação aos erros e ofensas feitas no espírito de louvor e glória a Deus, pela Sua Igreja. Aplicando isto à nossa época, as mensagens marianas lembram o que vai esquecido, advertem dos perigos e dos castigos, e mostram os meios para evitá-los, prometendo, se forem usados, a intervenção pelo bem e pela paz dos homens e nações. Não admira, portanto, que tal mensagem seja confiada sobretudo ao papa. De sua suprema cátedra e púlpito, só ao pontífice romano é dado julgar se essa mensagem é autêntica e deve ser recebida, e então ensiná-la e proclamá-la universalmente. Isto, no caso da mensagem de Fátima, seria feito atendendo fielmente ao seu pedido, e invocando os homens a fazê-lo igualmente. Assim procedendo renderia glória a Deus por reconhecer Sua oferta, pela esperança da Igreja em vê-la aplicada, e após, pela gratidão e conversão de muitos homens pela intervenção salvadora. Tudo isto seria também triunfo para a religião que ensina a dar a glória de Deus, não só como dever, mas como bem último do homem. Enfim, seria um compêndio vivo da fé, esperança e caridade que aos homens da Igreja compete ensinar sempre aos fiéis, para na oração comum preservar a fé e edificar uma sociedade melhor. Ora, como se viu, a visão de Paulo sexto estava muito distante disso tudo: não mencionou sequer a oferta de Fátima; a sua esperança estava no seu projeto e na ONU, e a salvação viria do culto ao progresso e ao homem, que irmanaria toda a humanidade. Para isto operou, indo à ONU e estabelecendo relações com as mais estranhas religiões e ideologias. E Fátima, por estar longe destas, e ser malvista pelo mundo, tornava-se um empecilho se não fosse devidamente redimensionada ou adaptada à reconciliação humana. Seria diferente para João Paulo II, que demonstrara ter consciência da importância de Fátima, à qual fora chamado também pelo atentado que sofreu, como declarou? Apesar das aparências, a atitude é essencialmente a mesma, não obstante esse chamado, porque, como vimos, não se atendendo o pedido fielmente, nega-se a sua origem. E disto se segue que não se rende glória a Deus, acreditando na Sua oferta, esperando na Sua promessa, e operando para que possa manifestar-se com Sua intervenção milagrosa e salvadora. E dizendo isto voltamos ao ponto inicial: a questão de fé. Dissemos quais os pontos essenciais da fé católica que o pedido de Fátima veio lembrar. Se quisermos resumi-los numa frase, diremos: confiança na Providência. Nesta, até as ações mais ousadas serão tranqüilas. Nesta, até a contemplação mais passiva será ativa. Nesta, o gesto mais louco será racional. Mas, tudo isto é a normalidade da religião de Deus, cujos pensamentos são loucuras para os homens, do Senhor sem o qual nada podemos, de Jesus Cristo cuja suprema prudência foi morrer na cruz pelos homens e que deu esse sinal. E quem não recolhe com Ele, dispersa. No século 20 o sinal da Providência foi lembrado em Fátima. Mas justamente então os homens antepunham suas soluções e seus sinais aos de Deus. E os resultados foram colhidos no mundo pelas guerras, calamidades e mortes. E no entanto, hoje, esses mesmos resultados destroem a vida espiritual, envolvendo a própria Igreja, cujos chefes almejam uma paz do mundo sem ver que esta, sem a fé, é a pior morte. Vivemos uma guerra satânica e o massacre de almas é a realidade invisível. A Igreja foi crucificada pelas heresias, dilacerada pelo cisma oculto de seus chefes, dessangrada pela apostasia de seus filhos que não deram ouvidos a Fátima. Tinham os papas obrigações e deveres para com Fátima? A resposta é dada por uma outra pergunta: têm os papas obrigações e deveres para com a fé? Ora, enquanto Fátima é a lembrança dos pontos essenciais de fé que estão esquecidos, essa obrigação e dever são parte integrante desse supremo cargo. E até há não muito tempo os papas ao serem coroados juravam: "Não diminuir ou mudar nada de quanto encontrei conservado pelos meus predecessores, nem admitir qualquer novidade, mas conservar e venerar com fervor, como discípulo e sucessor fiel e com todas as minhas forças e empenho, o que me foi transmitido; - Portanto, submetemos ao mais severo anátema de interdição, trata-se de nós mesmos ou de outro, quem quer que tenha a pretensão de introduzir qualquer novidade em oposição a esta tradição evangélica ou à integridade da fé e religião cristã, ou também tente mudar qualquer coisa, acolhendo o contrário, ou de concordar com os soberbos que ousem fazê-lo com ousadia sacrílega." Foram fiéis a isto os papas conciliares? É o que seguiremos vendo. Mas, contrários à fé foram os hereges que fizeram a reforma protestante e anglicana. Foram esses papas fiéis às interdições de seus predecessores? Seria interessante lembrar um precedente histórico. Honório Papa, que pactuou com o herege Sérgio sobre um ponto da doutrina, foi condenado postumamente pelo Concílio de Constantinopla TERCEIRO, e pelo papa São Leão II, "por ter permitido com uma traição sacrílega que fosse manchada a fé imaculada." Bem entendido, protestantes e anglicanos podem estar hoje na boa fé de uma religião que receberam, mas nem por isso podem cair as razões de interdição ao erro de que são vítimas. Os homens podem e devem ser convertidos, mas as idéias não, serão sempre novidades contrárias à fé dada por Deus e transmitida pelos apóstolos. A Providência só opera pela fé, primeiro passo para a Sua glória. CAPÍTULO 15. CONVERSÃO OU RECONCILIAÇÃO ENTRE HOMENS? Durante sua peregrinação a Fátima e visita a Portugal, não se cansou o papa de pedir orações para sua viagem à Inglaterra. De fato, esta fora programada para o fim do mesmo mês de maio. De volta a Roma, no dia 19, e na audiência geral na praça São Pedro, João Paulo II diz: O convite à conversão e à penitência é a primeira e fundamental palavra do Evangelho. Essa não cai nunca em prescrição e no nosso século assume dimensões particulares diante da consciência crescente da luta, jamais tão profunda, entre as forças do bem e do mal nesse nosso mundo humano. Este é também o ponto central do cuidado da Igreja, como estão a testemunhar as vozes dos pastores que indicaram 'a reconciliação e a penitência', como sendo o tema mais atual, confiando portanto o seu desenvolvimento à próxima sessão do Sínodo dos Bispos." Parece estranho que um discurso que começa falando de conversão como primeira e fundamental palavra do Evangelho, termine concluindo que por isso mesmo os pastores querem falar de reconciliação, tema mais atual para discutir no Sínodo dos Bispos. Ambas são palavras evangélicas, mas a referência feita a Fátima, sobre a sua mensagem, era da conversão a Deus. Agora os pastores devem ter considerado mais pastoral e prudente falar de reconciliação, que afinal, aplica-se também entre homens. Para os nossos tempos a palavra "conversão" deve ter parecido, forte, quase ofensiva, talvez absoluta demais em tempos de ateísmo e apostasia. "Penitência" ainda é uma palavra lícita, visto que podem usá-la, como se viu, para dizer que a Igreja deve penitenciar-se pelos erros do passado. Em todo caso, tudo isto vinha a calhar para o programa a ser feito dentro de dias: a ida do papa à Inglaterra, onde, dia 29, na catedral anglicana de Canterbury, com cujo arcebispo, primus inter pares da comunhão anglicana mundial, depois de um ofício comum, abençoaram lado a lado a multidão. Não mais o sucessor de São Pedro sozinho, mas os sucessores de São Gregório, João Paulo II, e de Santo Agostinho, doutor Runcie, em igualdade de condições. O papa equiparado a quem, para a Igreja, não é nem mesmo sacerdote. É claro que se pretendia que essa reconciliação fosse em nome da Igreja Católica Apostólica e Romana, que vinha penitenciar-se de erros passados. Quais? Para isso fora rezar em Fátima João Paulo II? Ora, tal suposta reconciliação implicaria uma divisão efetiva da Igreja em partes, e isto é uma heresia já condenada por todos os papas precedentes. O único verdadeiro ecumenismo consiste na reconciliação dos anglicanos com a Igreja instituída divinamente por Jesus Cristo, que conferiu o primado a um só: a Pedro, que como supremo pastor é sinal da unidade e unicidade da Igreja. Então, o que ocorreu em 29 de maio na catedral de Canterbury foi, perante a fé católica, somente uma falsa reconciliação entre João Paulo II e o laico Runcie, a desdouro somente dos homens da Igreja que admitiram possível algo que representava uma ruptura com tudo que o magistério estabelecera como irreformável. Aos anglicanos em boa fé era dificultada, assim, a conversão à Igreja de Cristo, que é a Igreja Católica; e aos católicos, além da confusão, ficava a humilhação de terem tido um chefe que desconheceu a função e unicidade de seu cargo, dado para confirmar todos na fé e nunca estabelecer uniões e reconciliações fora dela. Eis que o projeto que o papa Wojtyla trazia no coração, quando foi a Fátima, era humano e tinha o mesmo sinal do projeto do papa Montini, que vinha do encontro na ONU, em 1967. Este fato não foi único, pois. Desde o Concílio multiplicam-se iniciativas deste tipo. Isto é, reconciliações humanas e falazes que deixavam de lado, para ser discutida depois, justamente o principal, a fé, sem a qual, como Nosso Senhor e a Igreja toda sempre ensinaram, é impossível agradar a Deus e, portanto, salvar-se. Na fé única revelada por Deus Pai os homens reconhecem e ganham a filiação divina, tornando-se irmãos. Ora, pelo pseudo-ecumenismo conciliar, os homens receberam o direito de escolher a religião que preferirem, onde os deuses ou pais serão segundo os homens. Dependerá depois dos homens adaptá-los para a confraternização. É inconcebível pensar que Nossa Senhora possa ter algo em comum com o espírito que levou a isto, e que é o mesmo que no passado, na Inglaterra como em outros países não católicos, levou ao ultraje de tudo o que fosse mariano ou relativo ao papa. Tudo isto é contrário à mensagem de Fátima, como à doutrina da Igreja. E pode-se pensar que quando se falou das ofensas ao Imaculado Coração de Maria, eram mencionadas justamente as ofensas dos católicos que, em favor de falsas uniões ecumênicas, deixam de lado os dogmas marianos que são abominados pelos protestantes em geral. Disso tudo apreende-se que na Igreja Conciliar cultivam-se as suspeitas e objeções a tudo que diz respeito a Fátima, pensando poder ocultar que isto é feito na mesma medida em que contradizem e falsificam o magistério e a doutrina da Igreja. Estes são repetidos e sustentados em Fátima, é o espírito do Concílio que lhes é inimigo declarado, embora queira ocultar-se na ambigüidade e até na falsa devoção mariana. A este propósito é bom registrar aqui um fato bem estranho. Existe em todo o mundo um Movimento Sacerdotal Mariano fundado pelo padre italiano Estêvão Gobbi. Este, depois de receber uma 'inspiração" em Fátima, 1972, diz ter passado a receber mensagens regulares de Maria, que são publicadas em opúsculos. Estes são traduzidos em todas as línguas e tudo recebe o apoio claro do papa e hierarcas vários. O tom dessas mansagens não é diverso do ouvido em Fátima ou mesmo em La Salette, e em muitos aspectos parece igualmente uma chamada à conversão e penitência. Convoca, porém, os sacerdotes a uma total obediência ao papa e hierarcas a ele unidos, em qualquer ocasião, num tom adulatório e acrítico, pouco afim à vigilância católica. Aliás, é dito ali que lhes será dado o sinal do momento de agir, como se quase não vivêssemos já em plena apostasia e abandono da verdade, e aos ministros do Senhor fosse dado ficar à espreita. A descrição do 13 de maio de 1982 em Fátima é uma apoteose de João Paulo II, feita pela voz interior que o padre diz ser da mãe do Céu: "Olhai o papa! O seu exemplo de oração é exemplo de fidelidade ao mandato recebido com a sucessão de São Pedro; - embora muitas vezes esteja circundado por um grande vazio e solidão. A sua palavra é aquela de um profeta, mas cai tantas vezes num imenso deserto... Dá exemplo de fortaleza. Avança sem temor, com a força do seu grande amor de pastor universal e vigário de meu Filho. Não teme nem críticas nem obstáculos; não pára diante de ameaças e atentados... O que está agora vivendo já lhe foi predito por Mim." É curioso que também nas aparições de Medjugorge, que estão acontecendo na Iugoslávia e, segundo o bispo local, monsenhor Zanic e expertos marianos, parecem tudo menos de Maria, essa "aparição maternal" dirija-se a um retrato do papa Wojtyla para beijá-lo carinhosa. Também estas palavras soam estranhas: sabe-se que o papa, em Fátima para a consagração pedida, não conseguiu convocar os bispos para participarem nem teve o destemor de pronunciar o nome da Rússia, que deveria ser consagrada. Depois, de volta a Roma e antes de partir para sua abertura ecumênica anglicana, disse: "Fiz quanto era possível naquelas circunstâncias." Mais que esse possível tão humano, é possível aceitar a notícia de que nesse mesmo 13 de maio, em Granada, na Espanha, uma antiga imagem de Nossa Senhora chorou lágrimas de sangue que foram vistas por muitos fiéis. Formaram-se longas filas para homenagear a Rainha do Céu, que demonstrava sua tristeza infinita aos homens da terra. Mas tudo não durou muito. Já no segundo dia o bispo local, dom Arsênio, mandou retirar a imagem para averiguações. Seguindo-se um longo silêncio, grupos de católicos requereram respeitosamente ao bispo que explicasse o que fora apurado. Apesar do grande número de assinaturas o bispo não deu qualquer resposta aos fiéis, como parece ser o hábito pós-conciliar. Foi feita apenas uma declaração para os jornais, na qual, sem mencionar análises de laboratório ou relatos eclesiásticos, dizia que nada havia acontecido: quanto a esta certeza poria as mãos no fogo. Antes do fim do ano veio a notícia de que o palácio episcopal de Granada, um belo edifício de notável valor histórico, fora destruído num incêndio. Os eclesiásticos foram retirados incólumes, só o bispo teve as mãos queimadas. Quantas já são as vezes em que os homens viram ou souberam que a Mãe chora sobre o destino dos filhos que se negam à reconciliação com o Pai, e dos pais que se recusam a reconciliar-se com o Filho. A longa e triste história da humanidade é o registro dessas desventuradas rebeliões. Mas, desde que Nosso Senhor fundou Sua Igreja, Seus ministros trabalharam pela reconciliação dos homens com Deus. Somente hoje, seduzidos pelo espírito do mundo que deve ter invadido a Igreja, convocam a uma reconciliação humana, em detrimento da fé dada por Deus. E se a Mãe vem lembrar a verdade, ofuscam sua presença, censuram suas palavras, arquivam suas mensagens e negam suas lágrimas, preferindo anúncios de paz e de venturas que os homens não podem dar-se. Não admira que no dia 13 de maio de 1983 o padre de Nantes voltasse a Roma com 200 membros de seu movimento para entregar ao papa Wojtyla um Liber Accusationis em que era pedido ao pontífice que se autojulgasse por heresia, cisma e escândalo público. CAPÍTULO 16. O SÍNODO CONCILIAR DE 1983 Para uma reunião de bispos que se propõe falar de reconciliação, seria importante ter um quadro geral do estado religioso do mundo, onde, como se sabe, proliferam cada vez mais novas seitas e cultos satânicos, em meio a um indiferentismo geral. Havia, portanto, urgência na identificação das falhas e dos vazios pastorais para que os pastores católicos pudessem reparar tanto mal. Na verdade, porém, não foram sequer capazes de identificar o próprio estado religioso em crise. Quem seguiu as notícias do sínodo sabe que o papa pediu à presidência que impusesse ordem nos trabalhos, chamando ao tema central da "reconciliação e penitência" que, para a Igreja, está no sacramento da confissão e não na política. Mas, uma vez que o tema da reconciliação político-social ocupou tanto espaço nesse sínodo, há que notar ter sido esta reconciliação tratada no mesmo sinal do ecumenismo religioso, isto é, sempre com a preocupação de aproximações e uniões exteriores e humanas. Se antes era deixada de lado a fé para se entabularem negociações com protestantes, judeus ou budistas, depois, para se dialogar com movimentos e sistemas políticos, era posta de lado a doutrina social da Igreja e, naturalmente, as palavras de Fátima. Isto porque esses políticos, em geral, comungavam nos "erros espalhados pela Rússia" prenunciados desde 1917 em Fátima. Agora que o potencial bélico soviético atingiu um nível sem precedentes na História e continua impondo seu comunismo e ateísmo em todo o mundo, quer por vias internas, quer externas, justamente agora desponta o espírito do diálogo e da reconciliação. E para os novos pacifistas eclesiais que se recusam acreditar ser esse um diálogo de surdos e uma recondução unilateral, além das evidentes implicações da KGB no atentado ao papa, através da trama urdida usando-se fios turcos e búlgaros, naqueles dias foi friamente abatido pelos soviéticos um avião jumbo civil coreano, com centenas de passageiros inocentes, que se desviou inadvertidamente de sua rota para o lado comunista. O fato foi inicialmente negado com cinismo e depois justificado com arrogância e até acusações. Mas o mal estaria na desconfiança recíproca! Esse sínodo aconteceu, portanto, enleado no fragor de discursos e marchas pacifistas que pretendiam com isto acabar com as guerras, ocupações, repressões e conflitos, além de atentados e ações bélicas que indicam uma guerra onipresente. Mas, palavras falsas e agressões reais, tudo encontra guarida nos corações da nova pastoral reconciliatória. Veja-se a iniciativa desarmamentista dos bispos norte-americanos e também as palavras de João Paulo II declarando ao mundo que a causa dos conflitos reside na falta de confiança recíproca. A essa luz não estranharia uma mediação entre um ocidente que se quer dócil e desarmado e um oriente comunista que se reconhece agressivo e superarmado, só porque desconfiado. No sulco desse pacifismo invertido, iriam seguir-se as mais estranhas iniciativas e até a apologia da objeção de consciência ao serviço militar em um país cujo empenho bélico é limitado à defesa. Os Jornais registraram no dia 12 de fevereiro de 1984 as seguintes palavras ditas a 400 jovens de uma paróquia romana: "Sobre o problema da objeção de consciência gostaria de dizer: demonstram maturidade aqueles Estados que são capazes de aceitar uma outra forma de serviço público para os jovens, que não seja o serviço militar, permitindo substituir um pelo outro." Eram palavras de João Paulo II falando de improviso sobre a ameaça das armas e da guerra. Como polonês, teria dirigido esse discurso de maturidade à pátria ameaçada pelo nazismo? Será que o comunismo soviético é hoje menos agressivo e menos armado? Enfim, diante de idéias tão estranhamente irreais, podem os católicos não lhe opor objeção de consciência? Depois dessa ampla divagação, que dá a medida do que sugere esse espírito de reconciliação, filho do espírito do Concílio, vamos considerar os documentos desse sínodo para ver como foi tratado o tema central, que segundo João Paulo II estava na mensagem de Fátima: - "ainda mais atual que há 65 anos e ainda mais urgente." Pois bem, já no fim de seus trabalhos, marcados por disparates e contradições doutrinais que impressionaram os próprios participantes e provocaram a ironia até dos jornalistas católicos, notou-se que falaram de tudo, mas alusões a Fátima só houve uma, e mesmo assim de passagem e num documento escrito. A esse ponto o arcebispo Mabutas y Lloren, de Davao, Filipinas, na 17ª congregação geral, dia 15 de outubro de 1983, achou que não poderia deixar de observar aos seus colegas uma incrível omissão; "Parece bastante estranho que tratando da missão de reconciliação... praticamente todos tenham feito silêncio sobre a pessoa que a Igreja invoca como Refugium peccatorum, a Santíssima Virgem Maria." Não admira, pois, que o papa, lendo isto, tenha no dia seguinte considerado necessário ele próprio fazer uma tácita admoestação, repetindo palavra por palavra para os padres sinodais reunidos a consagração do mundo à Nossa Senhora, que havia feito em Fátima no dia 13 de maio de 1982. É claro que também desta vez o nome da Rússia não seria mencionado, nem pedida a participação dos bispos no ato. Nos primeiros dias o papa havia repetido ao sínodo dos bispos e a todos os fies que no mundo ia-se perdendo o senso do pecado. Nos dias seguintes foi ficando claro, para quem ainda duvidasse, que isto acontecia também entre os que receberam a unção como sucessores dos apóstolos. Os pastores não haviam atendido às palavras de Maria Virgem que chorava sobre o destino dos homens. A que mais poderiam atender? CAPÍTULO 17. É POSSÍVEL REPARAR UM ERRO SEM DENUNCIÁ-LO? Falou-se aqui continuamente na consagração da Rússia ao Coração Imaculado de Maria para dizer que não foi efetuada; mas, estará claro o significado deste ato e as condições necessárias para cumpri-lo? Vejamos: consagrar significa oferecer, separar do mundo para tornar sacro, reconhecer a soberania divina sobre algo ou alguém que foi devotado a Deus. Portanto, consagrar implica também a ação de purificar e, sendo uma pessoa que se consagra, em renúncia ao que é impuro e mau: implica estar em estado de graça. Do mesmo modo, e por maior razão, quem consagra deve ser consagrado e estar nesse estado, e querer, ou prometer seu empenho nisso, que o objeto de sua consagração esteja ou atinja esse estado de dignidade e purificação para ser recebido. O contrário disto seria o mesmo que oferecer alimento contaminado como donativo, ou oferecer o que é indigno ou impuro como oferta ao Alto. "Vós ofereceis sobre o Meu altar um pão imundo e dizeis: Em que te profanamos nós?... Oferecei estes animais ao nosso governador e vereis se lhe agradarão e se ele vos receberá com agrado, diz o Senhor dos exércitos." Ora, essa consagração implica então um juízo do que seja bom, puro, digno, estado este que o consagrado possa atingir ajudado por quem a consagra e quer operar para isso. Exemplo é uma criança que, batizada antes do uso da razão, é prometida cristã, pelo banho de graça de Quem nos lavou em Seu preciosíssimo sangue e pelo empenho de quem renunciando a Satanás por ela, lhe dará condições de receber o ensinamento cristão. Mas, e uma nação? Embora uma nação se componha de homens das mais diversas extrações e credos, também uma nação pode ser consagrada para o bem de seus habitantes, sempre que a estes sejam dadas as condições, ou pedidas explicitamente a quem pode dá-las, para que se torne cristã nas suas leis, no seu governo, nos seus costumes. Mas, também neste caso, alguém deverá renunciar a Satanás por ela, alguém que saiba claramente quais os males contaminantes que a afligem, quais os erros que a afastaram de Cristo, e estes sejam proclamados a todos os seus habitantes, que se quer cristãos, e para testemunha de todas as gentes. Estamos, assim, diante do que deveria ser a consagração da Rússia. E neste ponto é bom voltar às palavras de Pio XII, tanto quando consagrou o mundo com menção da Rússia, como quando falou sobre o modo como deve ser feito um pedido a Deus. Em ambos os casos ficou claro qual deva ser o propósito de conversão e reconhecimento dos erros contrários que tornam os homens indignos diante do Senhor. Não é diverso do que se dá nas confissões pessoais. Mas, como aplicar isto à Rússia? Ora, quem não sabe que essa grande nação já foi cristã, e, como lembrou Pio XII, era mariana, não havendo casa que não tivesse em lugar de honra um ícone de Maria? E nas palavras ditas à irmã Lúcia ficou claro: a Rússia foi confiada a Maria, que a salvará. Isto, porém, depende do retorno à Igreja Católica que assegurará a continuidade dessa conversão na Terra. Cabe assim à Igreja, pela boca de seu papa, consagrar a Rússia, não a um cristianismo vago, ecumênico, conciliar, mas ao catolicismo íntegro e puro de que é sinal o Coração de Maria, junto ao Sagrado Coração de Jesus e representá-lo em seu máximo esplendor e fidelidade dogmática e litúrgica. É claro que para essa consagração solene deverá haver não só a menção explícita da Rússia, que não pode ser confundida com o que se quis chamar de União Soviética, mas a menção clara dos erros que a dominaram sob esse outro nome, levando essa nação, junto com outras, à gana de domínio, destruição e ódio a Deus e à Sua Igreja. Eis a razão clara para mencionar o nome da Rússia. Infelizmente, porém, esse nome parece arder mais que o amor pelas coisas de Deus, e hoje todos temem a fornalha soviética. Afinal, esse pedido seria normal para a Igreja em outros tempos. Não se pediram cruzadas, nem flagelações, nem mesmo jejuns, mas apenas uma consagração com menção do nome do consagrado de forma explícita. E isto já pareceu impossível. Seria a renegação de uma Ostpolitik vaticana feita de ilusões e enganos, mas cara aos homens, porque criada por eles. E, todavia, eis a obra de misericórdia espiritual que daria glória a Deus e juízo aos homens: acusar os erros, admoestar os pecadores e depois reparar diante do Ofendido, por eles e pelos perseguidos. Mas a Igreja Conciliar não quer mais condenar, inaugurou a nova misericórdia humana ao mesmo tempo que aggiornava a doutrina e revolucionava a liturgia. Eis a miséria atual. Dos homens da Igreja tivemos um novo culto, uma nova lei, uma nova caridade e uma falsa paz que não converte, mas corrompe. Ninguém negará que pode ter havido no passado métodos humanos aplicados à religião que eram duros, insensíveis, intransigentes e por vezes incompreensíveis para muitos, que criaram resistências ao jugo suave de Nosso Senhor. Mas nem por isto pode-se negar que contra o mal toda intransigência é pouca. Comprometer-se ou conviver com o que é ofensa a Deus, ódio a Sua Igreja e perigo para as almas, sem denunciá-lo, nunca foi amor fraterno, mas omissão; nunca foi caridade, mas covardia. Não se faz bem ao próximo condescendendo com o que o aprisiona. Não se livra ninguém do mal silenciando o nome deste. Um consagrado para consagrar uma nação deve apontar os erros que a submetem e dos quais se deve libertar para voltar à verdade e à justiça. Silenciá-los é cumplicidade com o erro. Tratando-se nessa época de erro culminante que vai sufocando todo o mundo, de que ideologia intrinsecamente perversa que inocula o espírito de revolta e descrença em populações sem fim, tratando-se do comunismo que é o maior flagelo que a humanidade já conheceu, Nosso Senhor só poderia confiar essa missão extrema ao Seu representante na Terra, ao sucessor de Pedro que, no temor e amor de Deus, fez sua profissão de fé fundamento da Igreja: o papa. Para fazê-lo em tempos normais não havia escolha de métodos nem diplomacias. Tratava-se de denunciar o mal pelo nome, explicando em que consiste, como opera, quem são seus promotores e então condená-lo aberta e universalmente para o bem dos homens. As horas que vivemos não são, porém, normais. O mal é culminante e está armado como jamais revolução alguma esteve. Além disto, os homens acumularam tais pecados e afastaram-se tão ignominiosamente de Deus em troca de prazeres e dominação que pela multiplicação da iniqüidade se resfriará a caridade de muitos. Quem terá ainda o amor necessário para arriscar a própria vida, para denunciar o que é morte e degradação para tantos? Hoje, não parece que esse alguém habite o nosso mundo eclesiástico, e quem detém o poder das chaves dedicou-se a novas aberturas. E eis que surgem inúmeros falsos profetas que a muitos seduzem. Levantam-se novas doutrinas como novos cristos e fazem-se grandes prodígios que poderiam enganar até os escolhidos. E as estrelas cairão do céu e as potestades do alto serão abaladas. E então aparecerá o Sinal do Filho do homem no céu. E todos os povos da terra chorarão. No dia em que o testemunho católico deixar de condenar os erros e as heresias que contaminam o mundo, mas der ouvidos às novidades das falsas reformas, ignorando os verdadeiros sinais do céu; no dia em que todos os apóstolos fugirem... só restará o Juízo. CAPÍTULO 18. NOVOS CRISTOS E NOVAS DOUTRINAS... A diferença entre as palavras "conversão" e "reconciliação" será mínima se usadas no sentido de volta do homem a Deus. Mas, já não é assim na nova era do culto ao homem. De fato, desde a queda os homens são roídos pela tentação de realizar com um passo mental o pulo do finito ao infinito, do humano ao transcendente, do profano ao sagrado. Na história da humanidade essa tentativa pertinaz já se repetiu incontáveis vezes e acabou no culto ao poder, nas idolatrias de todo tipo, e nas heresias que querem moldar o divino ao uso e especulações intelectuais humanas. A imaginação já deu as mais diferentes formas religiosas a essa auto-religião, mas sua constante é pretender parecer uma nova bondade, uma compreensão do próximo, uma solução dos problemas existenciais. E isto para esconder que é sempre produto da soberba e da inveja. Para estas a conversão é indignidade, senão escravidão. Fala-se da idolatria, hoje, como se fosse remoto culto do passado. E, todavia, ela é sempre a mais comum das religiões, porque o ídolo final nos humanismos do "culto ao homem" é a própria pessoa. Afinal, quem pode ser maior que um inventor do próprio deus! E isto repete-se até para os sectários de um líder carismático, por eles venerado com fervor, antes que ele mesmo suspeitasse ser um semideus. E depois, tudo vem por si mesmo: as lendas, o culto fiel, a representação de humildade, abnegação, heroísmo sem limites, tudo será atribuído de bom, de sábio e de santo, da parte de quem venera como potência imortal o ídolo que escolheu para ser-lhe superior. Essa servidão idólatra foi divinamente rompida pela vinda do Verbo de Deus que se deixou crucificar por nós. Mas nós, homens, para nos salvarmos, precisamos glorificar o Deus que por nosso amor mostrou crucificadas em Si toda a miséria e idolatria humanas. Diante de tal sacrifício redentor só a conversão é possível. Qual é o homem que cogita pagar a quem lhe deve? E um preço que nem todas as vidas nem todas as dívidas se lhe aproximam? Os homens! Os sacerdotes consagrados! Quem há entre vós que feche as portas e acenda o lume em Meu altar gratuitamente? Quem pode converter-se a Deus, sem ainda ser atraído por Ele? Ora, mesmo depois que o Verbo de Deus nos legou Sua palavra e Seu sacrifício para ensinar-nos e fortalecer-nos, a idolatria humana não morreu, mas o espírito do mal, infame imitador de Deus, saberia modelar ídolos à semelhança do próprio Cristo Redentor. Na era cristã, insinuaria falsos cristos e novos salvadores, numa contrafanação crescente até o ápice: O anticristo com poderes na própria Igreja de Cristo. Poderia triunfar sem a idolatria? Eis que a idolatria levou ao dilúvio e levará ao fim. E os homens adorarão aquele que se elevará sobre tudo o que se chama Deus, ou que é adorado, de sorte que se sentará no templo de Deus, apresentando-se como se fora Deus, eis o mistério da iniqüidade descrito por São Paulo em 2Ts 2,4-11. E este artifício extremo do erro será permitido por Deus para que "aqueles que não tiveram amor pela verdade, creiam na mentira." Já Jesus havia ensinado e advertido: "Eu vim em nome de Meu Pai, e vós não Me recebestes; se vier outro em seu próprio nome, recebê-lo-eis. Como podeis crer, vós que recebeis a glória uns dos outros, e não buscais a glória que só de Deus vem?". Eis, portanto, que em tempo de crise a maior vigilância deve ser dirigida aos próprios vigilantes. E estes entre si, lembrando como as heresias, os cismas, os escândalos religiosos quase sempre surgiram entre eles. Falsos cristos e falsos profetas, têm por meio natural, por caldo de cultura, o ambiente eclesiástico. Quem, sendo um alto prelado, negar isto, será pelo menos um falso vigilante, e quem vive falsamente sua função não pode estar longe de aceitar o engano que o vem afastando do dever. De certo modo já aderiu a ele, calando-o. Não podem bastar diante de Deus desculpas de enganos e silêncios que vieram da autoridade, do alto. Perante o erro, cada homem é responsável. Que dizer dos responsáveis da Igreja, que deveriam vigiar essa responsabilidade! Vivemos, portanto, dias em que a vigilância maior deve ser dirigida não mais exclusivamente aos enganos grotescos de fora, mas às ciladas sutis armadas dentro da Cidadela da Verdade, e na medida mesma em que até revelações privadas de sabor mariano querem fazer passar tudo o que vem de cima, e mesmo do papa, como indefectível, acima de toda suspeita, a prova de todo engano. É a papolatria de nossos dias contra a qual os mesmos papas preveniram deixando bem claro em que condições o papa é infalível, o quanto a Igreja é infalível. Esta, porém, é também indefectível e regida pelo Espírito Santo, enquanto o papa pode até dispensar esta assistência divina, como o fizeram no Concílio Vaticano II, que quiseram pastoral, e ao qual fizeram bastar a inteligência precária dos homens, que se sentiam vagamente inspirados e fortemente otimistas. Mas, quem sugeria isso tudo? Não, certamente, Quem havia ensinado - cuidado que ninguém vos seduza... vigiai e orai. Não, certamente, as mensagens marianas de Fátima ou de La Salette, que dizem, depois de falar da decadência dos consagrados e das seduções a que se expõem: Desgraça aos Príncipes da Igreja. O Vigário de Meu Filho deverá sofrer muito porque por algum tempo a Igreja será abandonada a grandes perseguições, tempo de trevas, a Santa Igreja passará por uma crise horrenda. A santa fé em Deus será esquecida, cada indivíduo quererá guiar-se por si mesmo e ser superior aos outros. Roma perderá a fé e se tornará a sede do anticristo. Isto é parte do que foi profetizado em 1846. Para quando? Certamente também não foram os papas a ensinar o otimismo a ser aplicado na defesa da Igreja, ao contrário. O papa Leão XIII, no dia 13 de outubro de 1884, no fim da santa missa, ouviu vozes atrás do altar, uma das quais arrogantemente dizia poder destruir a Igreja em menos de cem anos. A outra voz disse, então, consentir nessa prova. Foi por essa razão que esse papa ordenou que no fim das missas, em todo o mundo, se invocasse a proteção de São Miguel Arcanjo. Além disso, mandou publicar um exorcismo para ser usado pelos sacerdotes onde é dito: "As hostes astuciosíssimas encheram de amargura a Igreja, Esposa Imaculada do Cordeiro, e inebriaram-na com absinto; puseram-se em obras para realizar todos os seus ímpios desígnios. Ali onde está constituída a sede do beatíssimo Pedro, a cátedra da verdade para iluminar os povos, ali colocaram o trono da abominação de sua impiedade, para que, ferido o pastor se dispersassem as ovelhas." Foi Paulo sexto quem declarou com horror ver a "autodestruição" da Igreja e a fumaça de Satã infiltrar-se no templo de Deus. Mas, havia sido ele mesmo a suprimir o juramento antimodernista ordenado por São Pio X para os sacerdotes e a remover as orações leoninas do fim da missa. É bem verdade que a principal intenção destas foi mudada em 1934 por Pio XI, em favor "da volta para Deus da Rússia." Já antes os papas Pio IX e Pio X, como Leão XIII, tiveram visões apocalípticas. Ao contrário, porém, de Paulo sexto, reforçaram as defesas da Igreja, impedindo perigosas aberturas. São Pio X, que combateu valorosamente o modernismo diante da crescente perversidade, considerou que: "o Filho da perdição de quem falaram os apóstolos já está entre nós" (1903). Também Pio IX havia visto crescer de tal modo a aversão a Deus no mundo que: "Ele reservou para Si mesmo vencer seus inimigos." Tudo isto está em POT. CAPÍTULO 19. CARTA ABERTA AO PAPA - MANIFESTO EPISCOPAL No dia 9 de dezembro de 1983 foi tornada pública uma carta ao papa João Paulo II com um documento anexo pelo qual o arcebispo Marcel Lefebvre e o bispo Antônio de Castro Mayer denunciavam as causas principais da profunda crise que dilacera a Igreja e a sociedade contemporânea. Eis como Si si no no a anunciou: A carta e documento anexo entregues à Sua Santidade não regateiam comentários: com o devido respeito, denunciam com clareza e franqueza as causas da dolorosa situação em que está a Igreja, iluminando a figura dos dois insignes bispos, cujo amor pela Igreja e pelas almas vibra em cada linha. "Essa denúncia é confirmada amplamente nos fatos dolorosos, nos números negativos em todos os setores (vocações, confissões, freqüência à missa dominical, etc)., nos seminários fechados, nos conventos desertos, na dispersão dos fiéis, em breve, nos frutos amargos que uma reforma de cunho protestante produziu na Igreja católica. "O angustiado apelo dos dois prelados evoca também a dissenção manifestada de modos diversos, mas com idêntico conteúdo, nestes anos pós-conciliares por diversas autoridades eclesiásticas. Mencionaremos alguns principais: os cardeais Ottaviani e Bacci com o 'breve exame crítico do novo Ordo Missae'; o Cardeal Siri com a revista Renovatio e o livro Getsemani; o arcebispo Arrigo Pintonello no manifesto de dezembro de 1976; 'chegou a hora de dizer basta à sistemática traição da Fé' e na revista Seminari e Teologia, o cardeal Hoeffner no discurso em Fulda, que denuncia a ruptura com a tradição; o bispo de Ratisbona, Graber no livro Athanasius; o bispo holandês Gjissen, na sua oposição à Conferência Episcopal Holandesa; o bispo norte-americano Dwyer, na carta de 31/7/1975 e Paulo sexto, e no artigo 'A catedral devastada'. Deus queira que o número dessas testemunhas corajosas da fé aumente sempre. "A denúncia dos dois bispos reflete o pensamento de muitos outros bispos, sacerdotes, religiosos e fiéis que sofrem com a humilhação da Igreja, mas não dispõem de meios para fazer ouvir a própria voz, ou porque lhes faltam força e coragem para falar contra a corrente, enfrentando as inevitáveis conseqüências, ou por que cedem a um falso conceito de obediência. "O eclipse da Igreja, que é mãe e mestra, torna infrutuosa a redenção para a maioria das almas e acelera a decadência moral da sociedade com todas as espantosas conseqüências que presenciamos com a difusão da droga, da homossexualidade, do crime, do terrorismo, do divórcio, do aborto, etc. Eis que os bispos não podem, não devem ficar em silêncio para não faltar à missão que receberam de Nosso Senhor Jesus Cristo." Segue-se a carta: "Beatíssimo Padre: Permita-nos Vossa Santidade que, com filial franqueza, lhe apresentemos as reflexões que seguem. A situação da Igreja é tal, há uns vinte anos, que se assemelha a uma cidade ocupada. Milhares de sacerdotes e milhões de fiéis acham-se num estado de angústia e de perplexidade, motivado pela 'autodestruição da Igreja': os erros contidos em documentos do Concílio Vaticano II, as reformas pós-conciliares, especialmente a reforma litúrgica, as falsas concepções difundidas por documentos oficiais, os abusos de poder cometidos por membros da hierarquia deixam os fiéis perturbados e confusos. Semelhante situação vem causando em muitos a perda da fé, o resfriamento da caridade, e destruindo o conceito de unidade da Igreja no tempo e no espaço. Sensibilizados pelas angústias de tantas almas desorientadas que, em todo o mundo, desejam perseverar na identidade da mesma fé e da mesma moral, tal como definida pelo magistério da Igreja ou por ela ensinada de modo constante e universal, nós bispos da Santa Igreja Católica, sucessores dos apóstolos, julgamos que não nos seria lícito calar sem sermos cúmplices de obras malignas. Eis porque, baldadas as diligências feitas, nestes últimos 15 anos em caráter particular, vemo-nos obrigados a intervir publicamente junto a Vossa Santidade para denunciar as causas precípuas desta angustiante situação da Igreja e suplicar-lhe que, usando de seus poderes pontifícios, 'confirme seus irmãos' na fé que nos foi fielmente transmitida pela tradição apostólica. Com este propósito, tomamos a liberdade de, em anexo, apontar a Vossa Santidade mais pormenorizadamente, embora não de modo exaustivo, erros principais que estão na raiz desta situação trágica e que já foram condenados por vossos predecessores: I - Um conceito 'latitudinarista' e ecumênico da Igreja, dividida em sua fé. II - Um governo colegiado e uma orientação democrática da Igreja - condenado especialmente pelo Concílio Vaticano I. III - O falso conceito de direitos naturais do homem que aparece claramente no documentado sobre a liberdade religiosa do Concílio Vaticano II - condenado especialmente em 'Quanta cura' de Pio IX e 'Libertas' de Leão XIII. IV - A falsa concepção do poder do papa. V - A concepção protestante do santo sacrifício da Missa e dos sacramentos - condenada pelo Concílio de Trento. VI - E, finalmente, de modo geral, a livre difusão de erros e heresias - como novo humanismo, evolucionismo, naturalismo, socialismo, comunismo, etc.... caracterizada pela supressão do Santo Ofício. Tais erros em documentos oriundos de fontes tão excelsas criam, na Igreja, um profundo mal-estar e perplexidade em muitos fiéis. Trata-se, Santíssimo Padre, não de fiéis reticentes no acatamento da autoridade pontifícia, e sim, pelo contrário, de membros do clero e leigos que têm como base de sua fé a adesão profunda e inabalável à cátedra de São Pedro. Com todo o respeito, ousamos dizer a Vossa Santidade: é urgente que esse mal-estar cesse logo, porque o rebanho se dispersa e as ovelhas abandonadas estão seguindo mercenários. Nós conjuramos Vossa Santidade, pelo bem da fé católica e da salvação das almas, a que reafirme as verdades contrárias a esses erros. Verdades que nos foram ensinadas pela bimilenar Igreja de Jesus Cristo. Dirigimo-nos a Vossa Santidade com os sentimentos de São Paulo com relação a São Pedro, quando aquele o censurava por não seguir a verdade do Evangelho. Com esta atitude, cumprimos um dever para com os fiéis que perigam na fé. São Roberto Belarmino, exprimindo, aliás, um princípio geral de moral, afirma que se deve resistir ao pontífice cuja ação seja prejudicial à salvação das almas. É com a intenção de auxiliar Vossa Santidade que lançamos este grito de alarme, que se torna ainda mais veemente diante dos erros, para não dizer heresias, do Novo Código de Direito Canônico, e as cerimônias e discursos ao ensejo do 5º Centenário de Lutero. Verdadeiramente, ultrapassaram-se os limites. Exprimindo-lhe nosso filial devotamento, rogamos à Santíssima Virgem Maria sua especial proteção sobre Vossa Santidade. Rio de Janeiro, 21 de novembro de 1983, Festa da Apresentação de Nossa Senhora. - Marcel Lefebvre, Antigo Arcebispo - Tulle. - Antônio de Castro Mayer, ex-bispo - Campos. CAPÍTULO 20. A CONSAGRAÇÃO DO DIA 25 DE MARÇO DE 1984 "Coincidência - Só em 1984 soube-se que com data de 8 de dezembro de 1983 João Paulo II mandara uma carta a todos os bispos do mundo, para convidá-los a unirem-se a ele, e suas respectivas dioceses, na consagração do mundo ao Imaculado Coração de Maria, no dia 25 de março de 1984. "Ora, em 9 de dezembro de 1983, no dia seguinte a essa carta e ainda sem ter nenhum conhecimento dessa iniciativa, monsenhor Lefebvre e dom Antônio de Castro Mayer tornavam pública a 'Carta Aberta ao Papa' denunciando as principais causas da hodierna tragédia eclesial, cujo documento anexo terminava com a seguinte frase: 'É tempo de a Igreja recuperar sua liberdade de realizar o Reino de Nosso Senhor Jesus Cristo e Reino de Maria sem se preocupar com seus inimigos.' "Deve-se dizer que João Paulo II mandara anexar à sua carta do dia 8 de dezembro aos bispo do mundo o seu texto de consagração, que era essencialmente o mesmo do ato efetuado em Fátima no dia 13 de maio de 1982 e no sínodo dos bispos no dia 16 de outubro de 1983, onde, como se viu, é omitido o nome da Rússia. "Chegou-se assim ao dia 25 de março de 1984 e o papa, em Roma, diante da estátua da Virgem trazida de Fátima para esta ocasião, recitou seu 'ato de entrega' que redigira para consagrar o mundo a Maria Santíssima. Nessa ocasião, notou-se que fugia brevemente do texto acrescentando estas misteriosas palavras: 'Ilumina especialmente aqueles povos de que Tu mesma esperas a nossa consagração e o nosso ato de entrega.' "Não houve notícia, nem antes nem depois, de que os bispos tenham aderido ao convite papal, dando à consagração um caráter colegial e universal. Por conseqüência, clero e fiéis ficaram em todo mundo e mesmo em Roma, indiferentes ou estranhos ao ato do papa, descrito não como um pedido explícito de Nossa Senhora em Fátima, mas como se fosse sugerido pela pessoal devoção mariana de João Paulo II. Nem faltaram as objeções dos 'ecumaníacos' (maníacos do ecumenismo), tanto bispos como fiéis ou padres, preocupados com as reações negativas dos protestantes ao processo de conúbio da nova Igreja conciliar. "Mais ainda, considerando as palavras misteriosas pronunciadas pelo pontífice na ocasião, poder-se-ia indagar se havia nelas a intenção secreta de satisfazer o pedido de consagração da Rússia ao Imaculado Coração de Maria. Se assim é, como tudo indica, é preciso fazer algumas observações. "O católico sabe que 'sem a fé íntegra e pura é impossível agradar a Deus'. E se sem a fé é impossível agradar a Deus, ainda menos possível é dar-lhe a devida glória e reparar as ofensas cometidas contra Ele, contra Sua Igreja, contra Sua Santíssima Mãe, reparação e ofensas estas que são, em síntese, ligadas à fé e assim ao pedido de Nossa Senhora em Fátima. "Ora, o ateísmo e as heresias são essencialmente reivindicações do direito de juízo e escolha sobre as verdades reveladas, das quais se rejeitariam todas, ou as consideradas incompreensíveis ou inaceitáveis. A Igreja hoje está ameaçada de fora pelos ateus e dentro pelos propugnadores de heresias que são secundados por quem, com uma 'caridade sem fé' já condenada por São Pio X, procura atenuar, ofuscar ou calar verdades reveladas que possam desagradar os 'irmãos' que as hostilizam. "Posto isto, pergunta-se: seria possível satisfazer o pedido de consagração da Rússia ao Imaculado Coração de Maria com um ato hermético, com alusões veladas e apenas intuíveis? Pode-se desse modo prestar a glória devida a Deus? Impossível. A consagração só pode ser cumprida como pediu Nossa Senhora: de modo solene, universal e explícito. Somente assim é uma confissão de fé à altura de quem, na fé, vence os temores humanos e pela fé dispõe-se à retratação dos erros que a ameaçam e à reparação das ofensas e males que causam. Desses erros o mais bestial e agressivo é o comunismo ateu, mas os mais insidiosos e corrosivos são os desvios e heresias conciliares que levam a um ecumenismo ferrenhamente antimariano, soprado pelo espírito inimigo de Fátima, que só pode conduzir ao abismo. "Nas aparições de Fátima brilham os grandes dogmas marianos e católicos que falam da salvação, mas lembram do perigo da perdição eterna. Eis porque sua mensagem é uma verdadeira prova de fé ou de apostasia. E como a apostasia moderna é estranhadamente antimariana, como o seu inspirador que ameaça de morte a fé na Igreja, ao seu chefe foi pedido um ato de coragem na fé: a solene consagração da Rússia ao Imaculado Coração de Maria, que a converterá diante dos olhos estarrecidos do mundo, corrompido pelos seus erros e apavorado pelo seu poder destruidor. E assim na luz e força insuperáveis da fé seriam também dissipados erros e heresias que flagelam a Igreja. "É claro, pois, que o caminho para chegar a essa autêntica consagração fiel ao pedido de Maria Santíssima não pode deixar de passar pela estrada estreita da fé sem mancha, lembrada no 'Manifesto Episcopal' dos dois bispos que dessa fé são fiéis testemunhas, e nunca pela avenida larga dos aplausos, das adulações e das tenebrosas cumplicidades ecumênicas que humilham a Santa igreja. "A alguém poderá parecer que um ato de consagração a Maria é sempre boa coisa. Essa idéia só é verdadeira em sentido absoluto. Quando há um pedido específico de Maria Santíssima ela é falsa. E assim, um ato velado, parcial, truncado, quando foi pedido um ato claro, universal e uma explícita menção da Rússia, nada tem da glória devida a Deus pela Sua Igreja. Eqüivale a insinuar à Rainha do Céu e da Terra que o seu pedido é inoportuno, exagerado, incompreensível, e impor como resposta uma consagração revista e corrigida pela sagacidade e diplomacia humanas, com a qual o Céu deveria contentar-se. Mas, haveria nessa mentalidade o amor e a confiança que os filhos da Igreja devem à Mãe do Céu, Sedes Sapientiae, Virgo Prudentíssima? A resposta seria supérflua. "A esse ponto voltam à mente as palavras de Pio XII. "Como se poderia obter de Maria Santíssima a conversão da Rússia, se o ato mesmo da consagração pedida para esse fim já está intrinsecamente viciado por compromissos, mais ou menos visíveis, com esse mesmo comunismo ateu que se teme acusar, e de que a Rússia é o centro de difusão mundial, mal esse que hoje corrompe os próprios ambientes eclesiásticos? "Como seria possível obter a conversão da Rússia, quando na consagração pública feita para tal fim se evita mencionar o nome do mal que a sufoca, que é ameaça crescente para o nosso tempo e contra a qual a Mãe celeste debalde indicou os antídotos? "É tempo de a Igreja recuperar sua liberdade de realizar o Reino de Nosso Senhor Jesus Cristo e o Reino de Maria sem se preocupar com seus inimigos. A resposta que os dois valorosos bispos davam no dia seguinte ao convite do papa, mesmo desconhecendo-o, soou mais atual que nunca. Como se vê, a lembrança da verdade é sempre oportuna, mas o que para os católicos em geral pode ter passado despercebido, para João Paulo II, que no dia anterior mandara aos bispos um texto que sabia insuficiente, seria uma resposta tempestiva a essa obstinação, como a dizer: continuais prisioneiro de vossos compromissos. Não tenhais medo! CAPÍTULO 21. QUANTA VERGONHA! "O Manifesto Episcopal deve ter lembrado a muitos católicos esquecidos, e que acabaram por acostumar-se com as mudanças pós-conciliares, que havia em aberto graves questões de fé desde os dias do Concílio, que as novidades na prática religiosa só fizeram tornar crônicas e... indiferentes. De fato, os católicos haviam visto tantos absurdos promovidos por autoridades eclesiásticas que na impossibilidade de compreendê-los ou corrigi-los, acharam que o jeito era desinteressar-se e esquecer. "Limitemo-nos agora aos dias que se seguiram a essa denúncia dos dois bispos, para vermos a resposta prática que o destinatário da carta, o papa João Paulo II, daria às questões lembradas. "Pois bem, já no dia 11 de dezembro iria ao templo Luterano de Roma, onde chegou até mesmo adiantado. Havia sido convidado? "Eis os fatos dos bastidores dessa visita como foram referidos (sem desaprovação) na revista Carroccio de 22 de janeiro de 1984: Para que João Paulo II pudesse pronunciar umas palavras e o resto do seu "sermão" no culto vespertino dos luteranos foi preciso entabular longas negociações, que se prolongaram até o domingo, dia 11, enquanto o papa estava na paróquia vizinha de São Camilo. Discussões sobre a duração desse discurso, que, aliás, teve de ser abreviado, sobre onde o papa deveria sentar-se (mais baixo que o pastor, como um comum leigo, ao lado ou em frente do pastor Meyer), sobre a bênção final e como chamá-lo. Decidiu-se por "santitá"; única palavra em italiano e não em alemão de todo o culto. Essas discussões os luteranos as tiveram não só com as autoridades católicas mas também internamente, com inúmeros particulares, para dar a esse encontro um valor rigorosamente local, a ponto de ter-se paramentado na ocasião com vestes de pastor, não de decano, como lhe competia, pois isto seria elevar o nível do encontro que era "com o bispo de Roma, assim como houve outros com alguns bispos católicos." Especificações e distâncias que são sinais quase obsessivos para os protestantes de nada fazer que pareça reconhecimento do primado pontifício. "Que degradação! Um pastor protestante ou um chefe budista têm todo o cuidado em salvaguardar a inexpressiva dignidade dos seus cargos, enquanto o papa humilha publicamente a real, altíssima dignidade do Vigário de Cristo, aceitando ser posposto, no curso de visitas oficiais, a ministros de falsas religiões. Não é preciso deter-se em comentários para intuir o escândalo de tudo isso para os católicos. "A dignidade de um cargo é coisa bem distinta da dignidade da pessoa que o ocupa. Um rei, um presidente de república, podem humilhar a si mesmos, mas não lhes é lícito humilhar a dignidade do próprio cargo. Por razões muito superiores, não é lícito a um papa humilhar a sua dignidade de Vigário de Cristo, porque esta tem por fundamento a própria Pessoa de Cristo que ele representa. Mas, contrariamente a isto, já começou com Paulo sexto a busca da própria glória à custa da dignidade papal da qual mostrou dispor livremente como de coisa própria e pessoal e os seus sucessores continuaram na trilha por ele traçada (Referência ao abandono de trirregno, e depois da coroação, como se essas dignidades fossem devidas à suas pessoas e não a Cristo Rei. É a falsa humildade). "Ao alinhavar estas breves reflexões sobre a recente viagem a Papua - Nova Guiné de quem não é um simples chefe de estado, mas o Vigário de Nosso Senhor na Terra, temos o coração dolorido, mas não podemos cancelar o acontecido, e calar de nossa parte seria omissão muito grave. -- "Novidades litúrgicas - Dia 8 de maio, em Mount Haggen, pela primeira vez na história uma moça participou de uma missa papal como 'ministro da palavra': fez a primeira leitura vestida com uma tanga de folhas e o peito nu. Diz o jornal: Trata-se de Susan Kenye, estudante de 18 anos do Holy Trinity College de Mount Haggen. Uma indígena, talvez? O nome leva a duvidar e o Osservatore Romano fala de estudante em costume indígena, em todo caso não era uma selvagem que não soubesse ler e ainda por cima aluna de colégio religioso. Portanto, uma exibição de nudismo planejada e certamente concordada entre os missionários do verbo divino de Mount Haggen e o séquito papal, esquecidos de Gn 3,21 (depois do pecado original) 'o Senhor Deus fez para Adão e sua mulher umas túnicas de peles, e os vestiu.' "Alguém entendeu na incrível novidade litúrgica uma ligação com o discurso sobre a inculturação que João Paulo II fez na tarde do mesmo dia ao episcopado de Papua - Nova Guiné. Mas essa tal inculturação não poderá jamais significar a aceitação do que, nos usos e costumes dos diversos povos, é fruto da decadente natureza humana e fonte certa, como o nudismo, de ulterior decadência moral: seria trair a missão da própria Igreja católica. Fica, portanto, a amarga consideração de que depois das 'novidades litúrgicas' dessa missa papal de Mount Haggen será ainda mais difícil para os sacerdotes católicos ensinar o pudor, a decência e a castidade (insistentemente pedidos em Fátima). "No curso dessa mesma missa 'no Ofertório começou uma procissão com dança ritmada por tambores e de tanto em tanto o general da banda lançava ao ar com a boca um punhado de pó, alternadamente amarelo e vermelho, para afugentar simbolicamente da assembléia os espíritos malignos.' "A inserção no ato mais sublime da fé católica de um rito pagão supersticioso já é per se uma profanação. Feito na presença de quem tem o mandato de confirmar na fé torna-se, como a precedente 'novidade litúrgica', outro escândalo para a Igreja universal (Católica). "Quando em Manágua (Nicarágua) a celebração da missa foi perturbada pelo indigno comportamento de agitadores políticos locais, foi dito que o papa empalideceu com a profanação. E, no entanto, aquele episódio foi pouco, em comparação com as profanações de Mount Haggen, onde a fé e a moral católica foram renegadas de fato por quem delas deveriam ser mestres. "Honra ou desonra? - Dia 9 de maio João Paulo II nas Ilhas Salomão assiste sorrindo (fotos) à exibição de um grupo de 'dançarinas do ventre'. É verdade que é uso local 'honrar' desse modo os hóspedes. Mas parece que nem o bispo nem o clero local que organizaram o recebimento do papa, nem seu séquito, tiveram suficiente, não dizemos fé, mas bom senso para compreender que para o vigário de Cristo tal recepção podia ser somente desonrosa. "A humilhação do papado - Dia 10 de maio o papa está na Tailândia, onde irá visitar 'Sua Santidade' Vasana Tera, supremo patriarca do budismo tailandês. Eis a reportagem de Il Tempo (11 de maio): "O venerando ancião de 87 anos, em sua veste cor açafrão, estava sentado sobre os joelhos na posição meditativa dita da iluminação, fiel imagem do buda de ouro que tinha às suas costas. A figura imóvel de quem aprendeu desde a infância a técnica da meditação budista, que consiste em negar qualquer sentimento, mesmo do próprio eu, não se moveu. Ele não expressou o mínimo sorriso quando viu entrar o seu colega vestido de branco. O clamor, a exultação e a comoção espiritual que o pontífice romano suscita em todo o mundo não podia nem arranhar esse 'nirvana', essa paz ultraterrestre. Tanto mais que o 'séquito mundano' - que aos olhos desses bonzos é representado pela imprensa internacional - foi rigorosamente mantido a distância desse encontro entre pessoas dedicadas à abstração de si mesmas e à pura contemplação. "João Paulo II entrou nesse templo real, resplandecente de luzes, e teve que tirar os sapatos. Enquanto o supremo patriarca parecia não dignar-lhe sequer um olhar, o pontífice romano inclinou-se diante do bonzo (e do buda que estava às suas costas) para ir sentar-se numa cadeira posta diante dele, mas num estrado muito abaixo de onde estava a máxima autoridade budista." CAPÍTULO 22. NOVA ETAPA ECUMÊNICA IRREVERSÍVEL É inegável que na viagem que fez à Suíça, em junho de 1984, João Paulo II acelerou o passo no caminho ecumênico iniciado pelo Concílio Vaticano II. No primeiro dia em Genebra, participou de um encontro de oração no CEC, Conselho Ecumênico das Igrejas, que reúne 300 igrejas-membros, ortodoxas, anglicanas e protestantes. Lá, falando de seu ministério de bispo de Roma (não pontificado), confirmou que o novo engajamento era irreversível e tudo na Igreja Conciliar, mesmo o novo código canônico, exprime a obrigação de promover o movimento ecumênico. Teve ocasião, depois, de comemorar Calvino e Zwinglio, ferozes inimigos da Igreja, aos quais dispensou compreensão e desculpas. Quando, porém, esteve em Sion, a dez minutos do próspero Seminário de Ecône, não deu o menor sinal de querer encontrar-se com seu fundador monsenhor Marcel Lefebvre, que havia antes pedido para encontrá-lo. Era uma tácita confirmação da resposta negativa que dava João Paulo II ao "manifesto" dos dois bispos que haviam denunciado o falso ecumenismo que se afasta da doutrina tradicional. Punha-se a questão: pode subsistir essa Igreja conciliar na Igreja católica, que há séculos ensina como dogma de fé ser a única Esposa de Cristo e, portanto, a única Arca de Salvação? Além disso havia a questão de localizar a origem de tanto engano e saber até que ponto o responsável supremo pela fé podia eximir-se de responder a estas gravíssimas questões, enquanto, na prática, acelerava o processo ecumênico. Dom Mayer respondeu: "Na raiz de todo esse mal está o falso ecumenismo instalado com o Vaticano II. Este apresenta-se mais como uma práxis que como uma doutrina. A doutrina encontra-se na declaração Dignitatis Humanae, com a qual o Concílio quis sancionar como direito natural do homem a liberdade religiosa, entendida como liberdade de religião. Para a doutrina católica esse direito seria uma aberração lógica, se antes não fosse uma blasfêmia, como foi dito no Manifesto Episcopal. De fato, é impensável que a Igreja, cuja voz é a mesma voz de Deus, possa afirmar o direito do homem de escolher entre as mais variadas concepções humanas de Deus, contra a verdade única que Deus mesmo revelou de Si. A doutrina, portanto, contida nessa declaração conciliar é herética. O Vaticano II, declarando direito natural do homem seguir a religião ditada pela própria consciência, ou não seguir nenhuma, proclama o direito ao erro. Ora, o erro não pode ser o fundamento de direito algum. O erro é contra a natureza humana feita para a verdade. Como pode ele reivindicar conformidade com essa natureza? Acresce que nessa matéria há uma lei divina que importa na obrigação por parte do homem de professar a religião católica. Como poderia a Igreja conceder direito contra essa vontade soberana? Pior ainda: como poderia dizer que esse direito contra a vontade divina é um direito natural? Fundado, pois, na própria natureza humana? Só admitindo que o homem está acima de Deus! Ora, isso é pior que heresia: é uma aberrante apostasia! Portanto, o Concílio Vaticano II proclamou uma heresia objetiva. Os que seguem e aplicam essa doutrina têm demonstrado uma pertinácia que normalmente caracteriza uma heresia formal. Ainda não os acusamos categoricamente dessa pertinácia para dirimir a mínima possibilidade de ignorância sobre questões tão graves. De qualquer modo, mesmo que essa pertinácia não se manifestasse na forma de uma efetiva ofensa à fé, manifesta-se claramente na omissão em defendê-la. A Igreja que adere formal e totalmente ao Vaticano II com suas heresias não é nem pode ser a Igreja de Jesus Cristo. Para pertencer à Igreja católica, à Igreja de Jesus Cristo, é preciso ter fé, ou seja, não pôr em dúvida ou negar um artigo sequer da Revelação. Ora, a Igreja do Vaticano II aceita doutrinas que são heréticas, como vimos. Pode-se admitir, porém, a possibilidade de que haja fiéis em boa fé que não sabem ter o Vaticano II aderido à heresia. Mas, bispos? É difícil admiti-lo, mesmo não a excluindo como possibilidade absoluta. Quanto à possibilidade de que um papa governe a Igreja rejeitando o que ela definiu, a história registra o caso do papa Honório I, condenado postumamente pelo TERCEIRO Concílio Ecumênico de Constantinopla e pelo papa São Leão II, por ter - "permitido com uma traição sacrílega que fosse manchada a fé imaculada." É certo, porém, que a Igreja católica é a única Esposa de Cristo. Não há outras. Apresentá-la como "uma entre outras" é equiparar a verdade ao erro, o que é a essência de toda heresia. Uma Igreja engajada irreversivelmente nesse ecumenismo pós-conciliar não é a Igreja de Cristo, Igreja Católica Apostólica Romana. Os católicos, para conservar-se fiéis aos ensinamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo, devem estar alertas e vigilantes para não se deixarem levar por essa falsa igreja" (Entrevista concedida ao Jornal da Tarde de São Paulo, dia 6/11/1984). CAPÍTULO 23. AS PERSEGUIÇÕES À IGREJA E AO SANTO PADRE "A última perseguição revestirá o aspecto de uma sedução" (Père Emmanuel). O que foi relatado mostra claramente que as perseguições que flagelam a Igreja e fazem sofrer o santo padre nem sempre vêm de fora. Mesmo que pareça paradoxal, o rebaixamento e humilhação que tem sofrido o papado, cátedra suprema da religião revelada, veio pela iniciativa e ação de quem ocupa fisicamente esse cargo. Mas só não entende isto quem perdeu de vista a que estão ordenados o papa, suas chaves, a Igreja e tudo o que haja nela: à fé única. Esta é a perseguida, assim como todas as guerras e revoluções deste mundo se desencadeiam contra um só: Nosso Senhor e Sua Igreja. Deste modo, quando um concílio como o Vaticano II produz documentos que são contra a fé, e se as autoridades responsáveis por isto, ao invés de verificar com cuidado a acusação, referindo-se ao magistério e às escrituras, quiserem impô-los, estarão praticando uma violência contra a fé e perseguindo os que a defendem. Nesse processo perseguidor usa-se a inversão da ordem lógica, moral e religiosa: ao invés de verificar se o que foi aprovado pelo papa, é de fé, dirão que é de fé porque o concílio e - ou o papa o aprovaram, mesmo que a infalibilidade não tenha sido empenhada nisso. Ora, se fossem alguns mais abusados a fazê-lo, seria um caso que a autoridade religiosa mais alta poderia corrigir. Mas, se forem estas mesmas a impor o que é erro, ou gravemente suspeito, estamos no caso extremo do engano, prevaricação e perseguição, justamente da parte de quem compete a defesa da fé e do magistério. Não há, portanto, nenhuma figura de retórica quando se diz que uma falsa fé persegue a fé verdadeira, neste caso dentro da própria Igreja, cuja autoridade é revestida contra ela mesma. Foi para adiar o mais possível tal iniqüidade que Jesus deu as chaves, junto às lágrimas e ao martírio no Seu amor. Mas, vendo o fraco pecador Jesus disse que rezaria para que sua fé não faltasse e acrescentou: "E tu, uma vez convertido, confirma os teus irmãos." Ora, isto mostra que a Pedro e sucessores é garantida a fé, mas poderia também garantir a coragem, a perseverança, o destemor de chegar até o martírio para defendê-la? O Evangelho, a História e os fatos do presente mostram que não. E contra fatos não há argumentos, nem pode haver imposições exegéticas. Voltando às questões de perseguições, sabe-se que aquelas do passado, vindas de fora, só fizeram solidificar a Igreja e expandir sua fé. Esse fortalecimento foi causa de muita dor física e de martírios, mas não seria próprio falar de sofrimentos do santo padre, senão no corpo. O Redentor foi crucificado para que os homens tivessem na verdadeira fé a salvação. A perseguição do mundo não deve ser temida. Ele venceu o mundo. "Não temei quem só pode matar o corpo." O perigo é outro: "Cuidai para que ninguém vos seduza, porque virão muitos em meu Nome..." O perigo, a verdadeira perseguição vem do engano religioso, são as tenebrosas falsidades internas da própria Igreja. Os sucedâneos político-revolucionários de aparência cristã e até eclesial. Ora, aplicando isto à mensagem de Fátima e de modo especial à parte ainda secreta, observa-se que as autoridades da Igreja não teriam motivo para esconder o aviso de uma perseguição externa. Ao contrário um pré-aviso ajudaria a preveni-la, ou senão enfrentá-la. Não, porém, tratando-se de perseguição interna. Esta envolve culpas e responsabilidades graves de quem está no governo da Igreja. Pois bem, é o momento de conhecer mais a fundo o perseguidor e o perseguido dentro da Igreja invadida e ocupada de modo invisível. Já vimos antes que a falsa fé sempre perseguiu a fé única. Isso é fato já ocorrido na História, quando uma hierarquia eclesiástica e seu clero, quase por inteiro, passaram-se para o arianismo. O papa Libério também cedeu e, dizendo-se em paz com todos os bispos apóstatas, excomungou Santo Atanásio, o principal bispo dos raros resistentes. Só depois de anos de lutas e muitas vicissitudes para sacerdotes e povo, que em grande parte permaneceu fiel apesar do aggiornamento de seus maiores, a verdade prevaleceu contra a heresia dessas maiorias episcopais, que com o papa caíram em erro. A perseguição à fé única fracassou, Santo Atanásio voltou do exílio e a religião verdadeira retomou seu lugar.' Foi este um caso incomum na história da Igreja, mas não único. Antes mencionamos a condenação do papa Honório I por um concílio ecumênico e pelo papa São Leão II. Foi devido a um compromisso feito com o patriarca Sérgio sobre a questão monotelita. Um acordo que hoje poderia chamar-se proto-ecumaníaco, pelo fato de colocar a união de igrejas e pessoas acima da pureza e integridade da fé. Na questão das "investiduras", o imperador Henrique QUINTO, para extorquir do papa Pascoal II concessões e promessas incompatíveis com a doutrina da Igreja, aprisionou o pontífice que cedeu e depois hesitou longamente em anular os atos que praticara coagido, excomungando o tirano. Se o fez, com grande atraso, foi devido à pressão exercida por cardeais e bispos como São Bruno de Segni, Santo Godofredo de Amiens, São Hugo de Grenoble e Guido de Vienne, futuro papa Calisto II. Foi então convocado um sínodo sem o papa, acusado de afastar os fiéis da comunhão em sua obediência. E não é preciso dizer que a retidão e santidade também dessa vez não estavam do lado do pontífice, que como não enfrentou devidamente quem perseguia a Igreja, tornava-se cúmplice dos perseguidores. Sobre essa dissimulada perseguição camuflada em liberdade e igualdade ouçamos o papa Pio SÉTIMO, que viveu as conseqüências da revolução francesa: "Sob a igual proteção de todos os cultos, esconde-se e disfarça-se a mais perigosa perseguição, a mais astuciosa que seja possível imaginar, contra a Igreja de Jesus Cristo e, infelizmente, a melhor combinada para nela lançar a confusão e mesmo destruí-la, se possível fosse às forças e astúcias do inferno prevalecer contra ela". Parecia previsão da abertura da Igreja ao liberalismo, que dando livre curso ao erro, persegue a única antagonista que lhe se opõe: a verdade. Eis o que fez a declaração da Liberdade Religiosa aprovada pelo Vaticano II. CAPÍTULO 24. CONSERVAR SEMPRE O "DOGMA DA FÉ" Na nossa época, em que o perigo que corre a fé tornou-se culminante, porque a impiedade esfriou a caridade de muitos, e a fé sem a caridade é morta, apareceu em Fátima a Mãe da Misericórdia. Eis a mulher, arco-íris do amor, contra o dragão, abismo de ódio. É a luta final que o Livro da Religião vem contando desde o Gênesis. Este bem pode ser chamado de exórdio da revelação, fundamento da verdade, princípio do que se deve crer, ponto de partida da fé. Ora, tudo isto parece ser o senso comum da expressão "dogma da fé", que precede na mensagem de Fátima o terceiro segredo e, portanto, pode constituir a sua chave ficando ao alcance de todos. Embora não pareça haver definições teológicas sobre o que possa significar "dogma da fé" por antonomásia, há então que compreendê-lo; indica o que está em crise e sendo atacado, hoje, dentro da Igreja. Pois bem, o ponto de partida, princípio e fundamento da religião católica, é que as verdades de que é depositária a Igreja foram reveladas pelo próprio Deus. Como Deus é uno assim como a verdade, a religião revelada também é única e necessária para atingir a verdade e, por conseqüência, a salvação do erro, da falsidade e do mal. Assim sendo, a Igreja católica está fundada sobre este dogma da fé: ser a única verdadeira depositária da revelação, portanto da verdade, e assim foi colocada por Deus como passagem obrigatória para a salvação, e tudo que ignore essa fé é, por definição, falso, nocivo ao bem dos povos, humanamente funesto. Todos os outros dogmas proclamados pela Igreja decorrem da revelação única, da verdade ensinada por Deus, cuja fé é indispensável aos homens para o entendimento do necessário nesta vida e para a salvação na outra. Eis o que poderia ser chamado de "dogma da fé"; o princípio pelo qual a fé é una e necessária - creio Deus, creio a Deus, creio em Deus. Se quiserem chamá-la de fé tradicional, não há objeção. Contanto que seja a única verdadeira e sendo universal, é chamada católica, sendo ensinada pelos apóstolos, é chamada apostólica, e sendo especialmente confirmada, explicada e presidida pelo sucessor de São Pedro em Roma, é chamada romana. Eis que o dogma fundamental na Igreja Católica Apostólica Romana é ser a única arca de salvação, não porque os homens assim o dizem, mas porque Deus assim o revelou. Este fato e esta verdade tornam-se, portanto, o pressuposto do ensinamento salvífico, ou seja, a submissão ao ensinamento da Igreja e de seu chefe na Terra, o papa, é indispensável para a salvação de todos. É o próprio dogma revelado que pela sua origem, pela sua inestimável importância e pela sua necessidade vital deve ser reconhecido infalível pelos fiéis, como a Igreja e seu chefe o ensinam. Ora, sobre tudo isto o modernismo, coleção de todas as heresias, joga suas sombras de muitas e diversas maneiras, como cada heresia o fez em um particular aspecto. A dúvida que sozinha reuniria todas, seria o reconhecimento de diversas revelações e da equivalência entre elas, além de outras religiões, ideologias e filosofias humanas. Seria o indiferentismo religioso, pelo qual todas as idéias são igualmente boas, mas dispensáveis, num pluralismo de bons sentimentos. Essa idéia de que são muitas as boas opiniões, como ideologias, como religiões, e de que uma sociedade civilizada deve dar a seus membros o direito de escolher entre elas, deve assegurar essa liberdade de opinião e de religião, veio com o liberalismo, cuja grande "descoberta" foi a aplicação da liberdade não só àquilo que o homem aspira para aperfeiçoar-se na verdade, mas também àquilo que serve para exercitar-se no erro. Essa falsa liberdade do homem se apoiava na relativização da verdade e do bem. Curiosamente, diz-se hoje que isto marcou o início da era moderna, quando a razão humana erguia-se "definitivamente" como critério absoluto da verdade em detrimento da fé. O grande empecilho da sua intrínseca imperfeição ficaria pela utopia de um evolucionismo sem limites. Quanto à fé, era confinada ao limbo reservado aos sentimentos interiores, que devem ser respeitados somente como tais. Era o triunfo do dogma iluminista da supremacia da razão como única fonte da verdade frente à revelação. Mas se na sociedade civil este triunfo começou no século 18, na Igreja ainda era duramente condenado pelos papas até a metade do século 20. Nessa época, porém, as infiltrações na hierarquia e no clero já eram devastadoras. Foi provavelmente em 1960, quando o "aberturismo" de João 23 ao mundo era um fato consumado, que dentro da Igreja também se instaurou a era moderna que com o Concílio Vaticano II ficou "irreversivelmente" reconhecida e afirmada pelos inovadores. Mas para nós, católicos, não é o juízo humano que conta, mesmo se desse lado se ache quase a totalidade de consagrados e mesmo o papa. Conta o que ensina a doutrina revelada, senão deixaria de ser a única religião para transformar-se, ela também numa ideologia humana de um partido qualquer. A Igreja ensina que o "dogma de fé" é premissa obrigatória para os católicos. É de fato dogma que fora da Igreja Católica Apostólica Romana não há salvação. É claro que, sendo a mente das pessoas só conhecida por Deus, Juiz perfeito, só Ele pode aquilatar se há culpa e em que grau para cada um também em desconhecer essa verdade. De qualquer modo, preservar o "dogma da fé" e ensiná-lo é absolutamente necessário e é um dever para os católicos, tanto mais para os consagrados na Igreja católica, especialmente se membros da sua hierarquia. Todos devem testemunhar que o Juiz supremo instituiu a Igreja como única depositária da revelação e, portanto, como Seu tribunal terreno, distribuidora de penas, mas, também, de Sua graça. No segredo de Deus, pode haver almas fora dessa jurisdição, excepcionalmente absolvidas na outra vida se encontradas em boa fé; mas sua religião, ideologia ou seita devem ser sempre condenadas, porque são sistemas humanos para negar ou modificar a verdade revelada, conduzindo seus aderentes ao erro. Deste modo, se a premissa da fé consiste na existência de uma única religião e, portanto, de uma única Igreja verdadeira que a professe, a heresia contrária a ela consiste em admitir que as religiões contenham cada qual um aspecto da verdade, uma interpretação parcial, mas, correta, da revelação, alguns elementos da graça divina, enfim que se equivalem, grosso modo, principalmente pela possibilidade de despertar, nos diferentes indivíduos, sentimentos religiosos que irão ajudá-los a realizar suas próprias personalidades e alcançar a dignidade de pessoas humanas. Com isto, também o conceito de dignidade à imagem e semelhança de Deus, como foi revelado, passa a sofrer retoques. O essencial e importante seria a fidelidade ao credo, gnose ou sentimento ensinado pela religião, seita ou partido a que se pertence. A verdade deixaria de ser objetiva para tornar-se subjetiva e, portanto, sujeita aos humores, sonhos e utopias que a mente do homem acolhe. Preservadas as conveniências políticas e sociais do respeito ao dever, comportamento ordeiro e fraterno, cada um seria livre de seguir ou inventar a verdade que preferisse. É claro que, nesse quadro, querer lembrar, ensinar ou, pior, proclamar uma verdade revelada e única passa a ser "aberração reacionária" e o proselitismo correspondente um crime contra a liberdade de consciência. Eis a subversão pastoral em que cai o neo-ecumenismo. Nele, a noção prioritária de verdade e de eventual tolerância ao que lhe é contrário cede às múltiplas noções de unidade e liberdade, criando, por conseguinte, um direito "fundamental" e "natural" que assegure a escolha e liberdade de religião, mesmo uma seita qualquer como a de Jones, responsável pelo suicídio coletivo na Guiana. Resumindo assim as diferenças entre o que se chamou "dogma da fé" e a neo-ecumênica "escolha na fé", a primeira é única, necessária, obrigatória, e suas verdades constituem dogmas acima da inteligência humana; a segunda é múltipla, optativa, dispensável, e suas verdades estão sujeitas à opinião e à escolha humanas, podendo evoluir com o utópico progresso moral democrático. Ora, a origem da palavra heresia é justamente escolha. O homem moderno há muito habituou-se a ver aplicada essa livre escolha em tudo. As diversas declarações de direitos humanos não fazem mais do que afirmá-las. Nada disso, porém, no campo da verdade, do bem e da moral pode ser considerado direito pela Igreja, cujas declarações, embora pronunciadas por homens, vêm só do depósito de fé dado por Deus, e, portanto, vêm em nome de Deus. Quando um hierarca eclesial diz que os homens são livres para escolherem em que acreditar, elegendo a própria religião ou nenhuma, e que esta liberdade é um direito fundamental devido à dignidade do homem e sua moderna maturidade, faz uma afirmação contrária à doutrina católica e, portanto, a quem revelou as verdades divinas, que, estas sim, os homens devem escolher para salvar-se. Portanto esse hierarca engana, não fala como hierarca católico. Pois bem, estes ensinamentos errôneos provêm do Concílio Vaticano II, como explicou claramente dom Antônio de Castro Mayer. Conclui-se que, para conservar o "dogma da fé", não se pode aceitar esse concílio, que encerra matrizes heréticas e também cismáticas. Quem confessa o "dogma da fé" sem compromisso e neo-ecumenismos satisfaz a primeira condição agradável a Deus segundo São Paulo: "Sem fé é impossível agradar a Deus". Assim como: "Há um só Senhor, uma só Fé, um só Batismo". Só dessa premissa pode vir a esperança: "De instaurar todas as coisas em Cristo". E isto pela oração feita ao Pai Nosso que ensina a dar, primeiro, glória ao Pai, para, então, pedir. Pedir o pão com o perdão. Pedir que nos preserve da tentação, como do mal. Se a primeira condição para sermos agradáveis a Deus foi a de ter fé, a seguinte está em demonstrar isto pedindo tudo de que necessitamos. Se a premissa é crer, a conclusão é pedir. A fé no Deus que é Amor e Verdade implica a esperança de Sua ajuda e vontade de salvação, e na caridade... de pedir. Pedir a Deus tudo o que necessitamos é confissão de fé, é confirmação de esperança, é criar as condições para a sua glória em atender-nos. Deus que, sendo a Verdade plena, de nada necessita; sendo o Amor infinito, precisa de nossos pedidos de servos inúteis, para salvar-nos. Dar glória a Deus é não só nosso indeclinável dever como nosso incomensurável benefício. E como atingi-lo senão pela prece contrita? E tudo segundo o ensinamento: "Em verdade vos digo que se pedires a Meu Pai alguma coisa em Meu nome, Ele vô-la dará". "Pedi e vos será dado; buscais e achareis; batei e abrir-se-vos-á. Eis que o homem que pede a Deus faz um ato de fé esperança e caridade. Este ato foi pedido à Igreja na mensagem de Fátima. Pedindo a conversão da Rússia pela consagração ao Imaculado Coração de Maria, foi pedido um ato de esperança no poder de mediação de Maria, segundo a vontade de Deus que indicou esse caminho. Foi pedido um ato de caridade, porque quando o pedido for cumprido e a conversão realizada, será a glória do Imaculado Coração, a restauração da Igreja, a conversão dos homens. CAPÍTULO 25. A INFALIBILIDADE NA FÉ LEMBRADA POR GUSTAVO CORÇÃO O grande escritor católico brasileiro falecido em 1978, solicitado a manifestar-se em 1973 sobre a carta enviada a Paulo sexto por Jean Madiran, lembra a importância da infalibilidade "natural" na fé, de que fala Santo Tomás de Aquino. Em resumo, para que o homem imperfeito possa conservar a fé que lhe foi infundida de modo perfeito por Deus, esta fé vem acompanhada de dons necessários a fim de que reconheça infallibiter o que lhe é contrário. Mas tal defesa implica naturalmente equivalente grave responsabilidade, que não será justificada pela defecção, nem de um papa. E Corção volta à pergunta: "o que é, então, que leva todo o mundo a este estranho enfraquecimento?" "Onde procurar a causa principal, a força central que produz a gradual redução da missa, que encoraja o Institutio Generalis que democratiza a missa, que aconselha a devolução dos troféus de Lepanto, que inspira os discursos da ONU, onde foi dito que essa associação é a nossa última esperança? Eu penso ter encontrado esse cordão central, relendo o primeiro capítulo aos Gálatas. Diversas lições nos vêm desse texto importante. "Vejamos logo a primeira, onde o Apóstolo nos ensina uma coisa muito importante para os tempos modernos. Ele diz aos gálatas, gente simples e pobre, que é preciso lançar o anátema sobre quem quer que, apóstolo, papa ou anjo, ousar nos propor um outro evangelho; - "Vejamos agora a segunda lição, a que nos desvela o espírito que leva as gentes à inquietude, ao gosto das mudanças, à febre das reformas, ao prurido das novidades. No mesmo primeiro CAPÍTULO São Paulo, depois de ter explicado o que devemos dizer aos deformadores do Evangelho ou da Missa, continua: Por que afinal, é a aprovação dos homens ou a de Deus que eu procuro? Porventura é aos homens que eu pretendo agradar? Se eu agradasse ainda aos homens não seria servo de Cristo. Três vezes ele nos diz o nome do Cavalo de Tróia ou do espírito que parece embriagar os católicos modernos: o desejo de agradar aos homens sobreposto ao desejo de agradar a Deus. Ou às avessas: o medo de desagradar o mundo. "Voltemos ao Catecismo de Trento: a Igreja denuncia três inimigos: o Demônio, o Mundo (ou antiigreja), a carne (ou amor-próprio); chegamos quase a ver funcionar as engrenagens dessa mecânica do desejo de agradar. Ele consiste em uma dupla capitulação: para consigo mesmo (amor-próprio); para com o mundo ou antiigreja: ambos comandados pelos cordões manipulados pelo Demônio que bem as conhece! É preciso, portanto, combater a consciência clara dessa mecânica central da subversão. Aqui poderíamos propor ainda uma idéia muito útil ao bom combate. "A propósito da evolução das reformas litúrgicas se lê: 'Ele (o Consilium), perfez o essencial da reforma litúrgica; principalmente ele a pôs em movimento, ele lhe imprimiu o movimento de queda livre, uniformemente acelerado...' As grandes intuições por vezes se traduzem em duas ou três palavras. "Apliquemos a idéia da queda livre ao nível da metafísica. No nosso caso diremos: se a causa de um movimento permanece constante, os efeitos seguirão a lei do movimento acelerado. "Madiran completa seu exame da mecânica do Consilium com esta conclusão espantosa: - 'movimento acelerado que ninguém mais freará'. Sim, que ninguém freará se admitirmos que ninguém pode reduzir-lhe a causa, que ninguém pode nem mesmo frear esta força monstruosa que empurra nossa civilização para o nada, força que é em verdade a fraqueza humana, sim a fraqueza hedionda deste novo humanismo do culto do homem até o desprezo de Deus, diante do qual os levitas da Igreja modernizada se desvanecem felizes e festivos. Mas, o que nos impede de mobilizar-nos sob a bandeira de: AGRADAR A DEUS? Mas quem então nos impedirá de pôr nossa confiança na força das orações, a tempo e contratempo? "Os que resistem são bem mais numerosos do que se pode pensar. "Nesta orgulhosa oligarquia dos vivos - como dizia Chesterton - a parte maior é contra nós, contra a Missa, contra o Catecismo, contra a Sagrada escritura, mas os mortos trabalham para nós, os Santos estão do nosso lado nesta cruzada para libertar o Coração da Igreja; a Santíssima Virgem, Mater afflictorum, quer ajudar-nos - mas nesse jogo da salvação há uma condição, uma regra: é preciso pedir, é preciso saturar as horas do dia com preces incessantes. Batei, e vos será aberto, orai sem cessar, importunai a Deus e Ele vos ouvirá. É bem verdade que Ele não esconde Sua Ira pelos abusos da graça feitos por essa civilização perversa, que teve à sua disposição a abundância dos bens da Igreja na plenitude de Sua beleza. E eis o que desvela um pouco o mistério sombrio da permissão de Deus de que se fartam os novos levitas que abriram as portas da Igreja ao culto do Homem até o desprezo de Deus!" Tudo o que se faz para lembrar e divulgar a mensagem de Fátima é coerente na medida em que mostra o quanto a Mater afflictorum quer ajudar seus filhos submetidos à orgulhosa oligarquia dos vivos. Essa ajuda vem pelo aviso dos perigos, pela lembrança da necessidade de oração e penitência, segundo os perenes ensinamentos da Igreja, mas vem também através de pedidos especiais. É preciso pedir sempre, mas é preciso saber pedir também, conforme é indicado. Gustavo Corção, que nesse escrito não falou de Fátima, lembra, porém, o que aqui queremos lembrar: a ira divina pelos abusos feitos por essa civilização perversa contra a abundância de graças de que dispõe a Igreja. Nela os levitas e fariseus modernos abriram as portas aos detritos do mundo até o desprezo das graças de Deus. Fátima é o espelho dessa prevaricação eclesial sem exemplo. Voltando ao escândalo do terceiro segredo escondido no Vaticano, percebemos logo que temos de pedir e suplicar ao Céu. Essa mensagem foi dada para a salvação das almas, para a paz das nações, para a renovação da Igreja, tudo na maior glória de Deus pela honra aos Sacratíssimos Corações. Revela ser a única saída, e, todavia, é censurada, criticada, esquecida e arquivada. Quanta vergonha! Bastaria que deixassem falar irmã Lúcia, ou o bispo de Leiria, ou qualquer prelado que os ouvisse ou lesse o segredo, sem empenhar a respeitabilidade da autoridade vaticana. Mas o que se faz é bem o contrário. Diz Fr. Michel de la Sainte Trinité: "É um fato assombroso! Há 25 anos o segredo de Fátima, só ele, está de certo modo no Index. Irmã Lúcia, só ela, está reduzida ao silêncio. Dia 15 de novembro de 1966 o papa Paulo sexto ab-rogou os artigos 1399 e 2318 do Código de Direito Canônico que interditavam a publicação de livros e folhetos que propagavam sem autorização novas aparições, revelações ou profecias ainda não aprovadas pela Igreja. Isto é mantido no Novo Código. E assim, desde 1966, não importa quem pode publicar e divulgar para os cristãos as revelações mais fantásticas. Não importa qual impostura, qual diabrura. Nada mais será interditado. Tudo foi autorizado a aparecer. E o 'Príncipe da mentira' aproveita-se habilmente dessa licença multiplicando no mundo as aparições falazes e suas mensagens fraudulentas que, difundidas livremente, desviam incontáveis fiéis. Somente a mensagem, a mais segura, a mais incontestavelmente divina, o segredo da Virgem de Fátima, permanece escandalosamente no Index!" Isto nos faz ver ainda mais claramente que temos de pedir não só em modo geral para que Deus nos livre de todo o mal, mas de modo especial para que a Sua vontade seja feita no que diz respeito a este segredo dado para a salvação. Devemos pedir aos homens que o façam conhecer, mas principalmente devemos pedir a Deus que no reconhecimento das lágrimas de Nossa Senhora "sejam descobertos os pensamentos escondidos nos corações de muitos". Isto representa hoje o segredo. Que Deus nos livre desse mal desolador: os projetos humanos substituindo as mensagens divinas. CAPÍTULO 26. O CARDEAL RATZINGER FALA SOBRE O TERCEIRO SEGREDO Enquanto permanecem pendentes todas as gravíssimas questões que dizem respeito à fé, já vimos que as respostas ao "manifesto" dos dois bispos, que são as duas testemunhas episcopais que tiveram a coragem e a clareza de acusar os erros do Vaticano II, são apenas indiretas e negativas, continuando tudo como antes. Agora vejamos o que diz o cardeal Ratzinger, que é prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé e que, portanto, tem por missão e dever precípuo ocupar-se desses problemas. Ora, como nada declarou sobre o "Manifesto Episcopal", que provavelmente não deve ter toda a regularidade burocrática que esse alto funcionário vaticano quereria, deveremos ler uma entrevista à revista Jesus para ter uma idéia do que admite e do que continua a ignorar. "Num mundo onde o ceticismo contagiou também os crentes, é considerada um escândalo a convicção da Igreja de que exista uma verdade e que essa verdade seja definível e exprimível de modo preciso. É um escândalo hoje partilhado também por aqueles cristãos que perderam de vista a estrutura da Igreja, a qual não é uma organização somente humana e que, portanto, deve defender um depósito de fé que não é seu. Não seria então mais a Catholica se esse depósito não fosse comum e aceito por todos." Como se vê, o grande "vigilante da fé" admite que o ceticismo e a negação da verdade objetiva contagiaram até os crentes, mas parece ignorar, até aqui, que haja uma causa, também definível e exprimível, que provocou tudo isso e que justamente a ele compete apurar e combater para defender o depósito único e imutável. E o concílio? Certamente os resultados parecem opor-se de modo cruel às expectativas de todos, começando por João 23 e depois Paulo sexto: esperava-se uma nova unidade católica e foi-se ao contrário, na direção do dissenso, o qual, para usar as palavras do papa Montini, passou de autocrítica à autodestruição. Esperava-se um novo entusiasmo e muitos acabaram na desilusão e no tédio. Esperava-se um salto para frente, e em vez disso nos encontramos num processo de decadência progressiva que se desenvolveu sob o signo do concílio e portanto serviu para desacreditá-lo. O balanço parece negativo, pois; repito o que já disse 10 anos após a conclusão dos trabalhos: é incontestável que este período foi decididamente desfavorável para a Igreja católica. Mas esse amargo balanço é, mesmo em parte, atribuível a forças desencadeadas involuntariamente pelo concílio? Penso que não. O cardeal segue explicando que o Vaticano II foi vítima do antiespírito do concílio, que queria tudo novo e que a história da Igreja recomeçasse a partir desse concílio. Mas, afinal, a "nova unidade", o "novo entusiasmo", o "salto para a frente" que ele mesmo queria e descreveu acima o que são senão o "novo espírito" antitradicional, anti-mariano e anticatólico? De que serve a cada dez anos fazer análises amargas sem procurar, com zelo, as causas dos problemas, sabendo ouvir quem os aponta com coragem? A doutrina de que cada homem é chamado à salvação se obedece sinceramente aos ditames da própria consciência, mesmo se não é membro visível da comunidade católica, esta doutrina, diz o cardeal Ratzinger, "foi excessivamente enfatizada a partir do concílio, apoiando-se em teorias como a do 'cristianismo anônimo'; chegou-se a dizer que há sempre graça quando alguém, não crente em nenhuma religião, ou em uma qualquer, aceita a si mesmo como homem." É incrível como, do observatório que se encontra, este "vigilante" da fé possa ver esse problema como um fenômeno longínquo, provavelmente sem conexões com as teorias de "dignidade humana", "liberdade religiosa" e "ecumenismo" promulgadas no concílio e aplicadas hoje irreversivelmente na Igreja Conciliar por João Paulo II. Seria desejável uma restauração? 'Se por restauração se entende voltar atrás, não é possível. A Igreja avança para o cumprimento da sua. história, olha para a frente, para o Senhor. Mas se por restauração entendêssemos a procura de um novo equilíbrio depois dos exageros de uma abertura indiscriminada ao mundo; depois das interpretações, por demais positivas, do mundo agnóstico e ateu, então essa restauração é desejável e, aliás, está em curso." Tratando-se de problemas de fé, como seja possível um equilíbrio a meio caminho do mundo agnóstico e ateu, deve ser fórmula secreta e nova desse cardeal, que confessa, porém: "Antes do concílio não entendia inteiramente certas fórmulas antigas como 'Maria inimiga de todas as heresias'; outras, como 'De Maria numquam satis' pareciam-me excessivas. Mudando a situação durante e depois do concílio, tive que retratar-me." De fato, ficou registrada para a História a sua contribuição no concílio contra o esquema de Maria e a idéia de que o Seu culto era excessivo, mas agora, no meio de tantos erros e heresias, ele pode ver o resultado. Leu o terceiro segredo? "Sim, li." Por que não é revelado? "Porque, a juízo dos pontífices, não acrescenta nada de novo ao que um cristão deve saber da revelação: uma chamada radical à conversão, à absoluta seriedade da história, os perigos que pesam sobre a fé e a vida do cristão e, portanto, do mundo. E depois, a importância dos Novíssimos. Se não é publicado - pelo menos agora - é para evitar que se confunda a profecia religiosa com o sensacionalismo. Mas o conteúdo desse terceiro segredo corresponde ao anúncio da Escritura e são confirmados por muitas aparições marianas, a começar dessa mesma de Fátima na sua parte conhecida. Conversão, penitência, são condições essenciais à salvação." Como se vê, há perigos pendentes sobre a fé censurados. O cardeal Ratzinger, responsável da Doutrina da Fé, reconhece a profecia religiosa do terceiro segredo de Fátima. Mais ainda, confirma indiretamente as razões de seu ocultamento. Senão vejamos: - Contém uma radical chamada à conversão; esta não é mais repetida pelos pastores. - Fala dos perigos que pesam sobre a fé; estes não são enfrentados, mas omitidos. - Fala da importância dos Novíssimos e, portanto, da lembrança do Inferno; estes avisos preciosos estão apagados na nova "pastoral." Quanto à absoluta seriedade da História, provavelmente significa a gravidade dos fatos prenunciados na mensagem de Fátima e já em boa parte acontecidos. Só faltam os últimos "sensacionalismos" que virão inevitavelmente desmascarar o "espírito do concílio" e sua obra de nefasta destruição e apostasia dentro da Igreja. É claro que a juízo dos pontífices conciliares nada disso convém revelar. Quanto ao cardeal Ratzinger, voltando ao livro do padre Wiltgen sobre o "concílio desconhecido", saberemos que já na primeira sessão ele exultou porque todo o trabalho preparatório fora descartado. Disse: "Foi uma forte reação contra o espírito que havia orientado por baixo esse trabalho." Com qual espírito associou-se então? Estaria João 23 sujeito a dois espíritos antagônicos, um que lhe inspirou o Concílio e outro que o fez abandonar os esquemas preparatórios? Quantos segredos e mistérios envolve tudo isso? Ora, Ratzinger era o jovem teólogo (34 anos) do cardeal modernista de Colônia, Frings. Junto ao seu festejado mestre Karl Rahner, trabalharam muito e em uníssono com os bispos da "ala do Reno" que se reuniam na casa do cardeal. Este, por sua vez, era o influente gestor dos fundos de Adveniat e Misereor que financiaram a transformação eclesial na América Latina. Para toda essa gente o problema do concílio estava no esquema especial de Maria Santíssima, "que resultaria num mal inimaginável para o ecumenismo". CAPÍTULO 27. NÃO HÁ SEGREDO QUE NÃO SEJA DESCOBERTO Na luta culminante da história entre a cidade terrena e a cidade celeste, entre a sinagoga de Satã e a Igreja de Cristo, as armas finais contra a verdade serão não mais a violência aberta mas o engano sutil; não mais o embate frontal, mas a sedução sinuosa com o que é de aparência cristã. Serão os falsos cristos do ensino escatológico de Jesus. Mostrarão como sendo universal o que é sectário e como doutrina da luz um renovado ocultismo carismático. "Satã é o macaco imitador de Deus", já dizia Tertuliano. Não se trata certamente de verdadeiras contraposições, pois a mentira é somente ofensa à verdade, que não pode ter contrário, assim como falsos cristos e falsos profetas não poderiam ser senão falsos pontífices e falsos mediadores diante do único Senhor e Mediador Jesus Cristo. E disso decorre que os opositores de Quem é a Verdade nada mais podem ser que seus imitadores e parasitas. Reconhecê-los-emos pelos seus frutos. As aparências serão sedutoras e enganosas e tanto o sectarismo como o secretismo servem a isto. De fato, estes recursos, mobilizando ocultamente as concupiscências humanas, conseguem estabelecer pactos e cultos que conduzem a um supremo chefe inacessível, que cedo ou tarde entronizará o anticristo. Jesus assim responde ao pontífice: Ensinei sempre na sinagoga e no Templo, onde concorrem todos os judeus e nada disse em segredo. Antes, instruindo seus discípulos havia dito: "Não os temais, pois; porque nada há de encoberto que não se venha a descobrir, nem oculto que não se venha a saber. O que Eu vos digo nas trevas, dizei-o às claras; e o que vos é dito ao ouvido, pregai-o sobre os telhados;" Ora, se houve um momento para a Igreja em que seus homens mais operaram em maquinações secretas, utilizando recursos velados e ambíguos, foi durante o Concílio Vaticano II. Sobre o que deveria ser inserido nas entrelinhas de seus documentos, quem sabe quantos encontros e pactos obscuros foram feitos. E hoje seus frutos bem amargos estão aos olhos de todos que querem ver. É um dos seus teólogos mais ativos a reconhecê-lo, o cardeal Ratzinger, que fundara a revista Concilium com Rahner, Hans Kung e outros festejados teólogos liberais para fazer avançar o espírito do concílio. Qual? É o cardeal que responde em entrevista à revista Jesus: "O problema dos anos sessenta era adquirir os melhores valores expressos em dois séculos de cultura liberal. Há de fato valores que, depurados e corrigidos, mesmo se nasceram fora da Igreja, podem encontrar seu lugar na visão do mundo. Isto foi feito. O clima é diferente agora, mas piorou muito em relação ao que justificava um otimismo talvez ingênuo. Há que procurar, pois, novos equilíbrios." Eis que o tal espírito conciliar era o mesmo da revolução francesa, condenado durante dois séculos pelos papas juntamente com as maçonarias que o insuflavam na sociedade e na Igreja. O desastre conciliar não tem nem mesmo a desculpa de haver encontrado um clima hostil na Igreja para aplicar suas novidades. Vindo junto com os "desejos" do papa, teve as portas abertas e seus arautos, como Ratzinger, foram premiados com brilhantes carreiras. Mas a corrupção acontecera antes, como sempre no campo das idéias. E estas naqueles dias, não foram curadas com a sã doutrina, mas deixadas livres para infeccionar todo o corpo que hoje agoniza. São Paulo ensinava aos Coríntios: "A nossa carta sois vós, que escrita em vossos corações é reconhecida e lida por todos os homens." Até o silêncio e o segredo das mentes pode ser visível. "Quando se converterem ao Senhor, então cairá o véu." Quais novos equilíbrios podem procurar sem abandonar os velhos projetos que se revelaram extraviados? Como corrigir os efeitos sem remontar às causas? E parece bastante claro que foi a declaração conciliar Dignitatis Humanae que abriu uma brecha para conceitos liberais maçônicos e cavou o sulco para o neo-ecumenismo. O presente impasse tem dimensões inauditas. Deus permitiu que pelos crimes dos homens fosse o mundo a converter os chefes da Igreja ao seu humanismo libertário. Forças antropocêntricas atraíram a hierarquia e o clero a compromissos históricos em torno de utópicos direitos humanos que, ignorando Deus, suprimem todo juiz. A nova pastoral parece feita para justificar tudo isto com palavras, enquanto a realidade desoladora desmente a justiça e a paz aventadas. A mensagem de Maria Santíssima, para toda a cristandade, ficou ocultada no Vaticano por razões não confessadas. Mas são os planejamentos humanísticos e ecumênicos, tão opostos ao espírito de Fátima a desvelá-lo. A palavra celeste revela mesmo no silêncio o que se lhe opõe. O comportamento diante da mensagem de Fátima indica as intenções secretas para com tudo que é de Deus e de sua Igreja, como a repetir a profecia do velho Simão: "E uma espada transpassará tua alma, a fim de que se descubram os pensamentos ocultos nos corações de muitos." Em verdade, a palavra de Fátima tem sido o sinal de contradição, a pedra de tropeço que colocada num ano crucial do início deste século, vai desde então medindo homens e eventos. A crucificação de Nosso Senhor pelos doutores da lei que não quiseram reconhecê-Lo Filho de Deus vivo, tem hoje por imagem a crucificação de sua Igreja pelos seus próprios chefes que não a honram como única Esposa de Cristo. No ano 70 do Advento foi arrasado o Templo da Jerusalém que não reconheceu o Salvador. Como será neste século? Na primavera européia de 1986 completaram-se 70 anos das manifestações do anjo que veio preparar os pastorzinhos Lúcia, Francisco e Jacinta para receber a Mãe do Céu que vinha trazer a mensagem de extraordinária importância para o destino dos homens. Mas esta não foi devidamente recebida e seguiram-se as guerras e perseguições para "punir o mundo de seus crimes." Os homens não mudaram e parte da mensagem é mantida oculta em Roma, a Nova Jerusalém cristã. Até quando? Será como a profecia de Daniel: "uma pedra se desprendeu de um monte sem intervenção de mãos humanas e quebrou os pés de ferro e barro, despedaçando o colosso." As construções, impérios, imagens e alianças dos homens que reúnem todo o ouro, prata, bronze, ferro e argila do mundo podem atingir tal poder que não há autoridade humana capaz de enfrentá-los ou contestá-los. Para Deus basta uma pedrinha que rola da montanha. Estamos hoje diante de um colosso moderno sem precedentes: o compromisso histórico entre a revolução atéia e a reforma conciliar. Ambas podem ser filhas da mesma revolução, mas esse desdobramento de forças, aparentemente tão diversas, podem dominar toda a Terra para o mesmo dragão que dá o poder às duas bestas apocalípticas. Teme-se ouvir evocar as imagens apocalípticas. E, todavia, esse Livro Sagrado nos foi dado para nos guiar sobre fatos decisivos que a história um dia registrará. Reconhecemos a besta das sete cabeças na revolução armada. Segue-a a segunda besta, "com dois chifres como os de um cordeiro", que é a revolução religiosa que hoje presenciamos. Quem lhe preparou o caminho senão "a estrela caída do céu na Terra a quem foi dada a chave do poço do abismo?" A autoridade posta no alto para guiar e iluminar com o poder das chaves, mas que as usa para abrir aos erros. Um Judas dos últimos tempos abriu o poço do abismo para fazer sair àquilo que o homem desejou mais que a Deus: o direito a uma liberdade moral e religiosa que a revolução sempre insuflou. A revolução religiosa está gerando um Movimento de animação espiritual para a democracia universal no lugar da Igreja, e este sugere o pacifismo diante de avisos apocalípticos como a mensagem de Fátima. Hoje a revolução conciliar parece imperar junto ao sincretismo das ideologias do mundo, numa conjura humanamente insuperável. Ficou para os cristãos uma pequena mensagem escondida. Não foi dada por mãos humanas. Dependerá destas para tornar-se conhecida de todos? CAPÍTULO 28. O IMPASSE DE TEMPOS FINAIS No século passado, quando a agressão do mundo contra a Igreja abrangeu todas as esferas, inclusive a político-militar, pela invasão da Roma pontifícia, o papa Pio IX disse: "Visto que todo o mundo está contra Deus e Sua Igreja, é evidente que Ele reservou a vitória sobre Seus inimigos a Si mesmo. Isto será mais claro quando for considerado que a raiz de todos os nossos males presentes deve ser encontrada no fato de que os que possuem talento e vigor almejam prazeres terrenos, e não só desertam de Deus, mas O repudiam completamente. E assim parece que estes não podem ser trazidos de volta a Deus por nenhuma outra via senão através de um ato que não poderá ser atribuído a nenhum agente secundário, e assim todos serão forçados a ver o sobrenatural, exclamando: 'Isto aconteceu pela intercessão do Senhor e é maravilhoso para os nossos olhos'! Acontecerá um grande 'portento' que encherá o mundo de admiração. Esse portento será precedido pelo triunfo da revolução! A Igreja sofrerá enormemente. Seus servos e seus chefes serão escarnecidos, flagelados e martirizados." Pode-se mostrar que essa visão profética do papa Pio IX está perfeitamente de acordo com o "portento" de Fátima, tanto pela alusão à maravilhosa intercessão sobrenatural como por suas circunstâncias. Não há contradição em dizer que o "portento" de Fátima será precedido pelo triunfo da revolução. As aparições e a mensagem da Mãe Celeste são um portento que anunciam o portento final: "Por fim, o Meu Coração Imaculado triunfará. O Santo Padre consagrar-Me-á à Rússia, que se converterá, e será concedido ao mundo algum tempo de paz." As aparições de 1917 em Fátima (em número de seis) anunciavam e, portanto, precediam o domínio da revolução na Rússia e no mundo. O portento prenunciado por Pio IX é o fim desse poder pela vitória de Maria. E como isto está profetizado em Suas palavras de Fátima, ninguém poderá atribuí-la a agentes secundários, mas somente à intervenção de Quem o anunciou ao mundo há 70 anos. Na primeira aparição do dia 13 de maio de 1917, Nossa Senhora disse aos pastorzinhos: "Vim para vos pedir que venhais aqui seis meses seguidos, no dia 13, a esta mesma hora. Depois vos direi quem sou eu e o que quero. Depois voltarei aqui ainda uma sétima vez." A maneira como esta frase está destacada da outra pode indicar que a sétima vez, número da perfeição, seja a volta triunfal. É velado o esclarecimento sobre isto. É certo, porém, que o "portento" de Fátima ainda está por vir em sua forma final e triunfante. Assim foi profetizado. Passemos então às circunstâncias. Quanto à raiz dos males dessa época, que vê o inexorável avanço dos "erros espalhados pela Rússia", pode-se dizer que essa débácle é muito mais devida aos recuos, discórdias de espírito sectário de quem deveria defender a civilização cristã do que à eficiência dos "valores" comunistas. Essa ideologia tem tido resultados práticos sistematicamente falimentares e sobrevive pelo espaço e ajuda que obtém dos "adversários." Essa deserção e repúdio de Deus e dos valores cristãos de que falou o sábio papa não podem ser alheios à crise da própria Igreja, ainda em que seus dias seria inimaginável e impronunciável a autodemolição que flagela a Esposa de Cristo há 20 anos de pós-concílio, causando-lhe danos maiores que séculos de lutas, cismas e perseguições externas. Haverá ainda pelo mundo chefes e servos da Igreja humilhados e martirizados, mas este testemunho sempre foi uma força que a edificou. É o esfriamento na fé, a apostasia, a indiferença religiosa que abatem suas resistências como uma leucemia espiritual que a dessangra. Seus filhos vão perdendo o senso do pecado e não há quem os alerte. Também suas autoridades perdem a noção clara dos erros que arrancaram à Igreja povos inteiros pelas heresias ou cismas, como se isto a tivesse dividido na caridade ou na fé, o que é falso. A Igreja é una. Esta força vem do único Chefe, Jesus Cristo, que tem Seu supremo poder de jurisdição sobre bispos e fiéis, representado pelo sumo pontífice. O concílio Vaticano I definiu este dogma de fé. Quem vai, portanto, contra essa união na caridade é cismático e também herético. Separa-se tanto do corpo da Igreja como da verdade. Por esta razão sendo cismáticas as Igrejas chamadas de ortodoxas são também heterodoxas, professando uma fé diferente da universal ensinada pelo magistério vivo dos papas. Essa cristalização doutrinal em fórmulas rígidas e arcaicas certamente as tornaram vulneráveis, senão às novidades, aos jogos do poder político que se multiplicam sobre corpos religiosos privados de universalidade e do vigor que só uma cabeça que representa todo o poder de Nosso Senhor na Terra pode dar. Na Rússia, o poder soviético cuidou de fundir por decreto a Igreja católica com a ortodoxa. Pretendia eliminar assim a verdadeira resistência, embora minoritária, e ocupava-se então de domesticar uma igreja nacional cuja cúpula vergonhosamente aceitou até o "patriotismo comunista", como podem demonstrar livros e testemunhos de padres e intelectuais russos. É famosa a carta do escritor Soljenitsin ao patriarca Pimen, na quaresma de 1972. Soljenitsin: testemunhos, de André Martin. Pois bem, tudo isto está implícito na mensagem de Fátima. Para salvar a Rússia, Nossa Senhora dirige seus pedidos ao papa de Roma, pedindo uma consagração ao Imaculado Coração de Maria que é uma verdadeira síntese de fé católica. Promete com isto converter a Rússia do ateísmo à Fé, da guerra à paz e do cisma à unidade romana sob o único pontífice que representa o Bom Pastor na Terra. Esta deverá ser a clara e pública intenção da Igreja que o santo padre deverá demonstrar para cumprir a consagração, tornando-a satisfatória. Eis o problema. Esse pensamento parece estranho à visão ecumênica dos papas conciliares em geral e de João Paulo II em especial. Confirma a evidência dos fatos uma otimista revelação. Mas como pode a Igreja conciliar, gerada de uma matriz cismática, discernir sobre cismas? Nos dias em que o turco Ali Agca, que atentara contra a vida do papa, começou a falar do terceiro segredo de Fátima no tribunal que o julgava, fazendo referência ao diálogo secreto mantido com o papa Wojtyla, que fora à sua cela na prisão para perdoá-lo, jornais e revistas voltaram a ocupar-se do assunto publicando algumas novidades. A revista dos paulinos Madre di Dio, na edição de junho de 1985 traz uma confidencia do papa ao bispo Paulo Cordes: - "seu constante desejo era nomear expressamente a Rússia dia 25 de março, no texto da consagração, mas renunciou a isso temendo que suas palavras fossem interpretadas como uma provocação aos dirigentes soviéticos. Todavia, essa renúncia a uma expressa e particular consagração da Rússia pesou sempre sobre o seu ânimo, porque justamente a Virgem mesma dava tanta importância a este ato. Mas sua tristeza ficou aplacada quando soube que os bispos ortodoxos da Rússia, tendo sido informados de que o papa se preparava para fazer tinham providenciado a consagração da Rússia à Virgem." Ignora João Paulo II que é o papa que detém o poder único e insubstituível para isso? Pode essa consagração de ortodoxos separados de Roma converter a Rússia à Igreja? Em todo caso, para João Paulo II o ato já foi cumprido. Isto ele declarou ao padre Pierre Caillon numa audiência no Vaticano, e isto é o que faz saber através dos prelados que lhe estão mais próximos, como o monsenhor Paul Hnilica, bispo tcheco-eslovaco exilado em Roma. É claro, porém, que a consagração pedida, sendo ordenada à glória de Deus pelo triunfo do Imaculado Coração de Maria, não pode ser um ato dúbio, pessoal e discutível, mas público e solene a fim de que ninguém possa duvidar que nele está a causa eficiente da conversão milagrosa anunciada há setenta anos à Igreja. Eis, então, o impasse atual: o chefe da Igreja, que tem os poderes para cumprir o único ato capaz de salvar o mundo de castigos sem precedentes, não mostra disposição de fazê-lo. A perseguição interna contra a Igreja e o papado acabou por privar o mundo da única ponte capaz de alcançar a misericórdia divina, o Pontífice Romano. Hoje, só a intervenção direta de Deus pode restaurar a Igreja, restabelecendo sua autoridade pontifical. CAPÍTULO 29. O SÍNODO DE 85 RECICLA O CONCÍLIO O mundo católico sabia que o ar de otimismo respirado na Igreja nos últimos anos é enganoso, e que o sínodo extraordinário convocado pelo papa para novembro de 1985, a fim de verificar os resultados do Concílio Vaticano II 20 anos após seu encerramento, deveria enfrentar problemas muito graves. Fermentavam no âmbito eclesial e no civil manobras de caráter político baseadas em "teologias ideológicas" e mobilização de aparatos religiosos para promover a luta de classes com o rótulo católico. Era o caso da Teologia de Libertação, da Igreja Popular, das Comunidades de Base e das liturgias revolucionárias promovidas por bispos apesar das censuras e instruções contrárias emanadas de Roma. Houve até o caso de dom Ivo Lorscheider, presidente da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), que chegou a ameaçar o papa com um cisma se continuassem a vir do Vaticano essas críticas negativas. Esse ativismo episcopal, secundado por uma violenta campanha da imprensa esquerdista contra a "nova inquisição" não bastava, porém, para explicar a tibieza das medidas vaticanas, inversamente proporcionais à gravidade e alcance internacional do motim. Havendo ataque à própria verdade ensinada pela Igreja, já na ameaça de cisma ficava patente que um cisma material fora consumado. Mas, o que impedia uma destemida atitude da autoridade de Roma? Alguns ainda se iludiam acreditando que esse sínodo, que teria a participação dos presidentes das conferências episcopais do mundo e da cúria romana sob a direção do papa, enfrentaria decididamente as questões porque estava em jogo a defesa da verdade, a proteção dos fiéis e a credibilidade da própria autoridade papal, contornada publicamente. Além disso, a assembléia sinodal, embora reunida para tratar de assuntos religiosos, devia também um esclarecimento a toda a sociedade que estava envolvida por esses problemas, visto que só Roma tem o poder de confirmar ou negar o DOC, a origem controlada da doutrina que, em nome da Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo, se dá a beber aos povos. Alguns avisos gerais haviam sido preparados para contestar a genuinidade de tais enganos, mas a distribuição dos mesmos fora abertamente boicotada, "porque confiada aos contrafatores das conferências episcopais locais. A situação pedia medidas claras e urgentes. Pareciam ecoar as palavras da mensagem de Fátima: "A Rússia espalhará seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja..." Mas, agora que os erros eram internos, promovidos pelos próprios hierarcas contra a doutrina da Igreja, é impossível não ler nisto o que deve estar prenunciado no terceiro segredo. Curiosamente, porém, os transgressores da ortodoxia católica a favor de ideologias e sistemas contrários à ordem cristã da sociedade, é que se sentiam perseguidos por não poder espalhar seus erros e "teologias" subversivas. Deveriam responder perante a justiça civil por suas falsidades ideológicas, mas, ao contrário, acusavam as autoridades civis de perseguição religiosa quando estas os interpelavam sobre iniciativas visando a luta de classes, armada ou não. A promoção da Teologia da Libertação e da Igreja Popular como católicas depois da censura vaticana, é uma falsidade ideológica punível também pela lei civil. Dizer que isso é perseguição religiosa significa agravar a mentira. Contra esta devem estar também a religião e o papa, enquanto defensores da verdade, não de enganos. Estes, implicando uma ruptura com a legítima autoridade da Igreja católica, são também cismáticos, e isto não depende do "respeito" que ostentam. Não depende nem mesmo das declarações da autoridade em exercício. O cisma vai contra a autoridade papal, enquanto responsável pela unidade da Igreja, supremo juiz da lei canônica a serviço da fé. Que a subversão religiosa seja poderosamente sustentada pelas forças do mundo, a ponto de deixarem a autoridade vaticana atual apavorada quanto a pronunciar-se, não anula o cisma real, não oculta a ruptura, mas agrava e amplia enormemente suas conseqüências. A contrafação religiosa não declarada pela autoridade competente vai contaminar a sociedade civil, despreparada para defender-se dos erros e enganos que continuam a ser impingidos como católicos por pastores desviados. Como quem cala consente, essas autoridades religiosas locais teriam no silêncio papal um implícito aval do supremo pontífice para pontificar localmente em seu nome e no da Igreja. Embora não seja o sínodo a sede para medidas disciplinares, certamente o é para confirmar a justa doutrina e condenar todos os enganos atuais que vão contra ela. Isto foi feito nos concílios e sínodos precedentes da igreja católica, razão pela qual, hoje, até a justiça comum pode discernir sobre o que é autenticamente católico, com direito a usar essa denominação no mundo. Houve, por exemplo, o caso de um seminarista na Alemanha, há poucos anos, que abandonou o curso que seguia declarando que este não era católico. A direção do seminário intimou-o então a pagar os custos do ensino. O jovem recorreu à justiça comum que, com base na comparação da doutrina ensinada com a tradicional da Igreja por definição imutável porque revelada, deu ganho de causa ao aluno, vítima de uma falsificação. É claro que essa adulteração no campo das idéias, a esse nível, corrompe a vida social, e, se deve preocupar os juízes, tanto mais deve preocupar as autoridades romanas, não fosse já ofensa a Deus. É preciso conhecer a matriz de males insidiosos dessa ordem, que possibilitam a falsificação religiosa já na formação do clero. Ora, como os males de que falamos expandiram-se sem qualquer freio nos últimos 20 anos, seria justamente o sínodo, que se propunha verificar esse período de frutos conciliares, a ocasião para remontar às origens, as quais deveriam estar inevitavelmente nos documentos produzidos pelo Vaticano II. Seria temerário e ilógico negá-lo. Diz Jerônimo de Santomás: "Podemos afirmar sem necessidade de fornecer prova alguma que a causa de toda a crise é o próprio Concílio e sua aplicação. Quem deve fornecer provas é quem nega ser o próprio concílio a causa eficiente do desastre eclesial. Se quiser ser acreditado, porém, deverá desvendar qual é esse grande acontecimento que sobrepujou o Concílio por seus frutos e por sua doutrina. Que acontecimento foi esse? O único evento anterior ao Concílio e que surpreendeu a todo o mundo cristão foi a negativa da parte de João 23 de dar a conhecer o segredo de Fátima que deveria ser publicado em 1960... Jamais antes se fizera uma tal afronta a nossa Mãe celeste." De fato, o que, senão esse concílio, com seu espírito de abertura para o mundo, com seus documentos sujeitos a ampla interpretação a fim de favorecer um ecumenismo populista, com seu democratismo litúrgico e liberalismo doutrinal, poderia ter proporcionado enganos e cismas como a Igreja Popular, a Teologia da Libertação et alia huismodi?. Das novas atitudes eclesiais que transpareceram logo antes da abertura do Vaticano II, há uma especial cuja influência nefasta ainda não foi devidamente aquilatada. Ao contrário, foi louvada e incorporada, acrítica ou deliberadamente, como uma inspiração celeste pelos sucessivos papas e bispos conciliares. Trata-se da idéia de que a Igreja não mais deve condenar o erro porque a verdade tem força para afirmar-se por si. Assim, a autoridade eclesial ficaria dispensada de uma função antipática e impopular, para dedicar-se inteiramente à missão do bom samaritano, provendo a assistência e a paz na sociedade humana. Com essas idéias inaugurava-se a nova bondade conciliar, que deixava entender ser a ação de julgar, condenar e executar a justiça pouco caridosa. Diversas vezes os papas conciliares pronunciaram-se com esse conceito estranho que permeou os documentos do concílio e outros subseqüentes da Igreja. Na correspondência que Paulo sexto, ansioso por dialogar com intelectuais não católicos, manteve com o prestigioso escritor italiano Prezzolini, este precisou explicar ao papa Montini que seu apelo de 1967 ao mundo pela justiça e paz, talvez tenha comovido muitos, mas a balança da justiça terrena continua associada à espada, não à paz. Um juiz sem nenhum poder para impor suas sentenças não pode ministrar a justiça. Mas ele ofenderia a própria noção de justiça se renunciasse ao poder moral ou espiritual que recebeu, negando-se a condenar culpados, com o pretexto de amor pela paz. No caso de um papa, supremo juiz da Igreja na Terra, essa tácita renúncia a exercer sua justiça levantaria questões de uma gravidade inimaginável. O ensinamento cristão autêntico, tendo origem na verdade, sempre redimensionou as falácias e demagogias deste mundo. É claro que a promoção da paz em detrimento da justiça é alienação que leva à tirania do erro. "Não julgueis que vim trazer a paz à Terra; não vim trazer a paz, mas a espada". "Não a paz, mas a separação". Assim ensina Nosso Senhor Jesus Cristo: "Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz; não vo-la dou como dá o mundo." Por tudo isto, não se compreende bem como os papas conciliares puderam fazer uma opção preferencial pela ONU e Paulo sexto, antes de encerrar o Concílio, tenha voado para Nova York a fim de proclamar no Palácio de Vidro seu novo conceito de liberdade religiosa, mais conforme à liberdade da UNESCO que ao Evangelho de Cristo segundo todos os papas. Os resultados desse novo conceito de liberdade, exarado por tal cátedra religiosa suprema, inevitavelmente iriam difundir-se em todo o mundo. No mundo católico deu origem às mais livres e estapafúrdias mutações doutrinais e litúrgicas, cuja conseqüência é o cisma difuso e subterrâneo que hoje vivemos. No civil deu status de direito à liberdade de negar e agredir a verdade em todos os níveis, deixando assim a moral, a justiça, o ensino e o próprio Estado à mercê do juízo dos mais ousados e violentos sediciosos. Vieram as revoluções de 68, das brigadas vermelhas, dos anarco-comunistas, dos homossexuais, etc., nas quais passaram a ser julgados e suprimidos os juízes, professores e estadistas da sociedade "repressiva." Até o infeliz amigo de Paulo sexto, o poderoso Aldo Moro, foi justiçado pelos novos juízes, autoproclamados arautos de uma nova ordem de justiça e paz. Enquanto isto, com os fundos internacionais para a paz impõe-se até as dialéticas portadoras de guerra. Está demonstrado, por exemplo, que os soviéticos utilizam recursos da UNESCO para a doutrinação comunista, até no Afeganistão por eles invadido. A moral capitalista recusa-se a financiar tais embustes e, assim, os EUA e a Inglaterra retiram-se da mesma UNESCO que a Igreja conciliar considera com olhar desvanecido, não porque ignore os fatos, mas por amor à nova idéia de paz! Havia algum indício de que nesse sínodo de 1985, esses enganos espalhados funestamente pelo mundo seriam denunciados? A resposta é negativa. Por exemplo, apenas cinco meses antes, e com o mesmo espírito enganador, fora preparado pela Congregação para a Unidade dos Cristãos, sob o cardeal Willebrands, um documento segundo o qual cristãos e judeus deveriam esperar juntos pela vinda do Messias! A falsidade doutrinal era a matriz da adulteração política. Levados ainda por um sopro de esperança, pedidos, súplicas, lembranças das promessas de Fátima foram dirigidas a Roma antes do início dos trabalhos sinodais. Monsenhor Marcel Lefebvre, juntamente com monsenhor Antônio de Castro Mayer, enviaram nova carta ao papa. O padre de Nantes fez distribuir aos prelados presentes em Roma uma nova súplica, pedindo a revisão dos erros conciliares. Fátima foi evocada de público. CAPÍTULO 30. CARTA DOS DOIS BISPOS AO PAPA (para o Sínodo de 1985). Santo Padre, Durante quinze dias, antes da festa da Imaculada Conceição, Vossa Santidade decidiu reunir um Sínodo Extraordinário em Roma, a fim de fazer do Concílio Vaticano II, encerrado há vinte anos, "uma realidade sempre mais viva." Permita que por ocasião deste evento, nós que participamos ativamente no Concílio, possamos apresentar-vos respeitosamente nossas apreensões e augúrios, para o bem da Igreja e a salvação das almas que nos foram confiadas. Estes vinte anos, segundo o prefeito da sagrada Congregação da Fé em pessoa, evidenciaram suficientemente uma situação que confina numa verdadeira autodemolição da Igreja, salvo nos meios onde a milenar Tradição da Igreja foi mantida. A mudança operada na Igreja nos anos sessenta, concretizou-se e afirmou-se no Concílio pela "Declaração sobre a Liberdade Religiosa": outorgando ao homem o direito natural de ser isento da coação que a lei divina lhe impõe de aderir à fé católica para salvar-se, coação que necessariamente se traduz nas leis eclesiásticas e civis submetidas à autoridade legislativa de Nosso Senhor Jesus Cristo. Essa liberdade de toda coação da lei divina e das leis humanas em matéria religiosa está inscrita entre as liberdades proclamadas na Declaração dos Direitos Humanos, declaração ímpia e sacrílega condenada pelos papas e em particular pelo papa Pio sexto em sua encíclica Adeo nota, de 23 de abril 1791, e sua alocução no consistório de 17 de junho de 1793. Dessa declaração sobre a liberdade religiosa emana como de uma fonte envenenada: I - O indiferentismo religioso dos estados, mesmo católicos, que se realiza desde há 20 anos sob a instigação da Santa Sé. II - O ecumenismo levado avante sem cessar por vós mesmo e pelo Vaticano, ecumenismo condenado pelo magistério da Igreja e em especial pela encíclica Mortalium animos do papa Pio XI. III - Todas as reformas consumadas desde há 20 anos na Igreja para agradar aos heréticos, aos cismáticos, às falsas religiões e aos inimigos declarados da Igreja como os judeus, os comunistas e os maçons. IV - Esta libertação da coação da Lei divina em matéria religiosa evidentemente vai fomentar a libertação da coação em todas as leis divinas e humanas e mina toda autoridade em todos os campos, especialmente no da moral. Nós não cessamos de protestar, no Concílio e depois do Concílio, contra o inconcebível escândalo desta falsa liberdade religiosa, nós o fizemos com a palavra e com escritos, privada e publicamente, apoiando-nos nos documentos mais solenes do Magistério da Igreja, entre outros: o Símbolo de Atanásio, o quarto Concílio de Latrão, o Syllabus, o Concílio do Vaticano I, e sobre o ensino de Santo Tomás de Aquino a respeito da fé católica, ensino que foi sempre o da Igreja durante cerca de 20 séculos, confirmado pelo direito e suas aplicações. Eis porque, se o próximo Sínodo não voltar ao magistério tradicional da Igreja em matéria de liberdade religiosa, mas confirmar esse grave erro, fonte de heresias, nós teremos o direito de pensar que os membros do Sínodo não professam mais a fé católica. De fato, eles agirão contrariamente aos princípios imutáveis do Concílio Vaticano I que afirmou em sua quarto seção, no Capítulo quarto, "O Espírito Santo não foi prometido aos Sucessores de Pedro para permitir-lhes de publicar, segundo suas revelações, uma nova doutrina, mas para guardar santamente e expor fielmente com sua assistência as revelações transmitidas pelos Apóstolos, isto é, o depósito da Fé." Nesse caso, nós não podemos senão preservar na Santa Tradição da Igreja e tomar todas as decisões necessárias a fim de que a Igreja conserve um clero fiel à fé católica, capaz de repetir com São Paulo: "tradidi quod accepi" (Transmitimos o que recebemos). Santo Padre, a vossa responsabilidade está gravemente comprometida nessa nova e falsa concepção da Igreja que conduz o clero e os fies à heresia e ao cisma. Se o Sínodo sob a vossa autoridade perseverar nessa orientação, não sereis mais o Bom Pastor. Nós nos dirigimos à Nossa Mãe, e Bem-aventurada Virgem Maria, com o Rosário nas mãos, suplicando-A de vos comunicar Seu Espírito de Sabedoria, bem como aos membros do Sínodo, a fim de pôr um termo à invasão do modernismo no interior da Igreja. Santo Padre, queira perdoar a franqueza desta iniciativa que não tem outro fim senão render ao nosso único Salvador Jesus Cristo a honra que lhe é devida assim como à Sua Única Igreja. - Assinado, Arcebispo Marcel Lefebvre e Bispo Antônio de Castro Mayer. O Sínodo inaugurou-se com uma celebração solene na Basílica de São Pedro na manhã de domingo, 24 de novembro de 1985. No mesmo dia, à tarde, apenas do outro lado da colunata da praça e a poucos passos do Palácio do Santo Ofício, iniciavam-se os trabalhos da Conferência sobre Fátima com o título: "Este Sínodo Extraordinário de 85 é a última ocasião para a paz?" Sendo um dos organizadores, posso dizer que foi num encontro em que conheci Padre Gruner (editor da revista Fátima Cruzader), dia 13 de novembro, que aventamos a importância de uma iniciativa sobre Fátima em Roma e às vésperas do Sínodo. A dificuldade estava na sua organização em tempo tão exíguo e na conhecida oposição da Igreja conciliar, além do silêncio da imprensa, dado como certo. Realizou-se, não obstante. Contou com a participação do padre Caillon, que estava em Roma, do senhor Emílio Cristiano, que veio de Nápoles, de Hamish Fraser, que veio da Escócia, e do irmão Michel de la Sainte Trinité, autor dos três volumes sobre Fátima, que veio da França. Se a presença do público foi modesta em número, não o foi em qualidade. Havia dois bispos, muitos sacerdotes e freiras, professores e magistrados entre os fiéis. Falou-se então da resistência sempre encontrada pela mensagem de Fátima, da qual se deu testemunho. Lembrou-se, então, que Sua Beatitude o Patriarca Latino de Jerusalém, Giacomo Beltritti, presente no Sínodo de 1983, havia naquela ocasião lembrado a João Paulo II e à Assembléia Sinodal a importância de fazerem a consagração colegial da Rússia ao Imaculado Coração de Maria, ainda não realizada nos termos pedidos. Como se viu, João Paulo II fez uma consagração novamente incompleta depois disso. A intervenção do patriarca, porém, foi omitida dos documentos sinodais e deixada no silêncio até aquele momento em que o revelamos nessa conferência e em presença do patriarca, sentado logo diante de quem falava. Mais tarde esse alto prelado, embora confirmando o fato, pedia que não se mencionasse que pudesse ser o patrocinador da reunião, como foi noticiado nos folhetos e cartazes. Provavelmente isso incomodava as autoridades que votavam ao silêncio o que lembrava Fátima. O que conta é que, bem ou mal, também nesse Sínodo seus participantes não poderão dizer que não lhes foi lembrado o pedido pendente. Infelizmente, também nesta ocasião os bispos reunidos deixaram de lado a mensagem salvadora de Nossa Senhora. Mas não foi apenas isto. As questões das Igrejas populares, das teologias e liturgias revolucionárias e demais tramóias que vêm corrompendo a vida religiosa, foram igualmente escamoteadas. Prevaleceu o espírito conciliar, que tudo admite ou omite para não condenar. Os abusos, as prevaricações praticadas por grupos de poder que manipulam as conferências episcopais para impor ideologias anticatólicas, foram absorvidos também pelo espírito conciliar que louva a mesma autonomia que multiplica os abusos e o colegiado que disfarça as responsabilidades. O comunismo continuou sendo assunto tabu para respeitar o pacto Moscou-Vaticano das vésperas do Concílio. Foi um sínodo de paz! A resposta sinodal consistiu, pois, na anistia de todos os erros e na absolvição de qualquer responsável. Foi uma renovada proclamação da "Pentecostes conciliar", realizada na "maravilhosa união de bispos" junto ao papa. Nesta ficaram reciclados os graves problemas doutrinais, morais, sociais e litúrgicos, bem como cismas e heresias, mostrando que uma Igreja conciliar neles mergulhada não pode vê-los. Não só negaram que a causa da crise religiosa estivesse no Concílio, negaram que houvesse problemas e crise de fé. Foram além. Proclamaram que o que veio do Concílio eram bênçãos do Espírito Santo. Se antes pairava dúvida sobre a amplitude dos desvios conciliares, agora havia certeza. Nessas declarações oficiais havia objetivamente a malícia da blasfêmia contra o Espírito Santo, pecado sem perdão. Seria ainda possível pensar que João Paulo II agia sem conhecer os problemas e pedidos que lhe eram enviados, mas fraudulentamente desviados? Quase no fim do sínodo ocorreu um fato que mostra não ser esse o caso: monsenhor Lefebvre e monsenhor Castro Mayer, sendo informados na Argentina, onde celebravam algumas ordenações sacerdotais, da total indiferença para com as questões por eles levantadas na carta ao papa, autorizaram a distribuição desta aos padres sinodais, inclusive cardeais da Cúria. No dia seguinte, sabedor que a carta dos dois bispos era conhecida por muitos prelados, o papa fez o seguinte comentário, rindo, no banquete de encerramento: "Atenção, porque sou um mau pastor!". Era uma clara referência à carta. A suprema autoridade hierárquica da Igreja omitia-se de responder sobre graves questões de fé. Rindo, ocultava e transformava fatos, palavras e cartas que pediam sua intervenção em defesa da fé. Mas, quem não respondeu a Maria Santíssima como devia, a que podia ainda responder? CAPÍTULO 31. RUPTURA ABISSAL DE ASSIS Desde a Introdução vimos assinalando as insídias e os erros com que a Revolução assalta a Igreja, por fora e por dentro, para destruí-la. Observamos também que, mesmo quando seus inimigos, em 1914, dominavam quase todo o mundo civil e estavam infiltrados em seu seio em posições importantes, como revelou São Pio X, as defesas doutrinais e litúrgicas estavam íntegras e continuava vivo o espírito missionário de tudo instaurar em Cristo. Espírito que não decorre de uma atitude pessoal de algum papa, mas é inerente à doutrina evangélica e à Tradição de que emana o Magistério papal pelo qual as leis humanas devem submeter-se às leis divinas, aos Princípios revelados e ensinados pela Igreja. Estes não são optativos e não há liberdade civil ou religiosa dos homens quanto à Lei imutável de Deus. Os Estados estão, como os indivíduos, vinculados a ela. Por isso, a chamada separação entre o Estado e a Igreja, que é a depositária da Revelação única, corresponde à separação deliberada dos homens em relação a Deus. Fato inaceitável diante do qual um católico não pode ficar impassível e muito menos uma autoridade da Igreja calar-se. Vai nisto uma questão doutrinária, e São Pio X levantou sua voz e exerceu sua ação para dirimir toda confusão a respeito. Preferiu suportar as represálias materiais do governo liberal-maçônico da França e depois de Portugal, antes que aceitar qualquer compromisso acerca do princípio da união da Igreja com o Estado. Vimos então que de 1917 até 1960 houve uma gradual mutação neste testemunho intransigente do direito de Deus. As guerras e desgraças do mundo sopravam um hálito de fome e de morte, sugerindo aos chefes um novo espírito de compromisso e uma nova política de concordatas. Pareceu possível ao Vaticano dos anos vinte até mesmo propor concordatas e acordos com potências do ateísmo militante. Que pontos teriam em comum? Certamente não era o que mais se coadunava com a Mensagem de Fátima, que por esta razão nunca foi inteiramente acolhida. Vimos depois como, de 1960 até 1982, com o Concílio Vaticano II, a Revolução ocupou a Igreja em cujo nome se fizeram documentos e atos inimagináveis. Mas os venenos conciliares continuaram a agir com força sobre João Paulo II, que desde então operou uma escalada ecumênica além de toda decência. Vinha entremeada de atos de índole mariana e conservadora, mas isto, longe de atenuar as mudanças, só fez agravá-las pelo contraste com o confusionismo religioso. Vejamos: Em 12 de dezembro de 1985, dirigindo-se aos bispos filipinos, João Paulo II, confirmando o que havia dito ao lado do rei Hassan II, "comendador dos crentes" (do Islã), assim se expressou: "Quero repetir à Igreja das Filipinas o que disse na concentração de jovens muçulmanos em Marrocos: - Eu creio que nós, cristãos e muçulmanos, devemos reconhecer com alegria os valores religiosos que temos em comum... Creio que Deus nos convida a mudar nossos velhos costumes." No dia 25 de janeiro de 1986, falando da unidade dos cristãos, disse: "A tarefa ecumênica almeja precisamente esta meta - realizar a Igreja como sacramento da unidade sinfônica das múltiplas formas de uma só plenitude." Em fevereiro de 1986 temos a notícia: "Na viagem pela índia recebeu primeiro o sinal de Tilaba de uma sacerdotisa hindu, e depois, em Madras, as cinzas sagradas das mãos de uma mulher numa cerimônia iniciática." No dia 24 de fevereiro noticia o Vaticano que a "Igreja Católica" aderiu ao Conselho Ecumênico das Igrejas. Fato que colide com as proibições promulgadas pelos pontífices pré-conciliares. No dia 13 de abril de 1986, pela primeira vez, quem ocupa o trono de São Pedro faz uma visita à Sinagoga de Roma e participa da recitação de salmos reconhecendo que a Igreja perseguiu os judeus. Disse que "este encontro conclui... um longo período... Para que sejam superados velhos preconceitos e se reconheça este comum patrimônio espiritual... A religião judaica não nos é 'extrínseca', mas de certo modo é 'intrínseca' à nossa religião. São nossos irmãos prediletos e de certo modo, pode-se dizer, nossos irmãos maiores." No dia 27 de outubro de 1986, João Paulo II convocou os representantes das grandes religiões do mundo para um encontro de oração pela paz em Assis. Ali, pronunciou estas palavras: "Que tantos líderes religiosos estejam aqui juntos para rezar... a fim de que o mundo tome consciência de que existe outra dimensão da paz... não é o resultado de... compromissos políticos e acordos econômicos, mas o resultado da oração que, na diversidade das religiões, exprime uma relação com um poder supremo que está por cima de nós... Nosso encontro somente testemunha... que na grande batalha em favor da paz, a humanidade, com sua grande diversidade, deve tirar sua motivação das fontes mais profundas e vivificantes nas quais se plasma a sua consciência e sobre as quais se fundamenta a ação moral de toda pessoa... Daqui iremos a diferentes lugares de oração. Cada religião terá o tempo e a oportunidade de exprimir-se em seu próprio rito tradicional." Foi assim que o mundo assistiu ao espetáculo de bonzos incensando um Buda colocado sobre o Sacrário de um altar católico de onde havia sido removido o crucifixo. Concluindo as orações pela paz de Assis, João Paulo II disse: "Eu professo de novo minha convicção, condividida por todos os cristãos, de que em Jesus Cristo, salvador de todos, pode-se encontrar a paz... Repito aqui humildemente a minha própria convicção: - a paz leva o nome de Jesus Cristo." Ora, como conciliar a convicção expressa nestes atos e nestas palavras com o convite de oração pela paz feito aos representantes de crenças não cristãs? Pode um papa ignorar sua missão de ensinar e confirmar a fé de modo universal? Em abril de 1987 o Grande Oriente da Itália publica: "O nosso interconfessionalismo nos causou a excomunhão de 1738 por parte de Clemente XII. Mas a Igreja estava certamente em erro se é verdade que dia 27 de outubro de 1986 o atual pontífice reuniu em Assis homens de todas as confissões religiosas para rezar pela paz. Que procuravam de diferente nossos irmãos quando se reuniam nos templos senão o amor, a tolerância, a solidariedade e defesa da dignidade humana, considerando-se iguais acima dos credos políticos e religiosos?" A maçonaria dava razão a João Paulo II, que dava razão a esta e a imitava em detrimento de tudo quanto a Igreja ensinou. Ora, para quem crê que é possível pedir pela paz sem invocar o santo nome de Deus e professar Sua fé, também a Mensagem de Fátima, pela qual Deus confiou a paz do mundo ao Imaculado Coração de Maria, não pode ter sentido, ou pelo menos importância. De fato, o espírito ecumênico de Assis não é conciliável como o verdadeiro ecumenismo fiel de Fátima que convida ao retorno à fé, à esperança e à caridade católicas. Foi assim que uma imagem de Nossa Senhora de Fátima levada a Assis por peregrinos da Calábria ficou excluída das igrejas naquela ocasião. Devemos, agora, saber o que declararam os dois bispos fiéis em relação a este ato inaudito: DECLARAÇÃO (como conseqüência dos acontecimentos da visita de João Paulo II à Sinagoga e ao Congresso das Religiões em Assis). - Roma mandou nos perguntar se tínhamos a intenção de proclamar nossa ruptura com o Vaticano por ocasião do Congresso de Assis. Parece-nos que a pergunta deveria, antes ser esta: o senhor acredita e tem a intenção de declarar que o Congresso de Assis consuma a ruptura das autoridades romanas com a Igreja Católica? Porque é precisamente isto que preocupa àqueles que ainda permanecem católicos. Com efeito, é bastante evidente que, desde o Concílio Vaticano II, o papa e os episcopados se afastam, de maneira cada vez mais nítida, de seus predecessores. Tudo aquilo que foi posto em prática pela Igreja para defender a Fé nos séculos passados, e tudo o que foi realizado pelos missionários para difundi-la, até o martírio inclusive, é considerado doravante como uma falta da qual a Igreja deveria se acusar e pedir perdão. A atitude dos onze papas que, desde 1789 até 1958, em documentos oficiais, condenaram a revolução liberal, é considerada hoje como "uma falta de compreensão do sopro cristão que inspirou a revolução." Donde a reviravolta completa de Roma, desde o Concílio Vaticano II, que nos faz repetir as palavras de Nosso Senhor àqueles que O vinham prender. "Haec est hora vestra et potestas tenebrarum." Esta é a vossa hora e o poder das trevas. Adotando a religião liberal do protestantismo e da revolução os princípios naturalistas de Jean-Jacques Rousseau, as liberdades atéias da Constituição dos Direitos do Homem, o princípio da dignidade humana já sem relação com a verdade e a dignidade moral... as autoridades romanas voltam as costas a seus predecessores e rompem com a Igreja católica, e põem-se a serviço dos que destroem a cristandade e o Reinado Universal de Nosso Senhor Jesus Cristo. Os recentes atos de João Paulo II e dos episcopados nacionais ilustram, de ano para ano, esta mudança radical de concepção da fé, da Igreja, do sacerdócio, do mundo, da salvação pela graça. O cúmulo desta ruptura com o magistério anterior da Igreja, depois da visita à sinagoga, se realizou em Assis. O pecado público contra a unicidade de Deus, contra o Verbo Encarnado e Sua Igreja faz-nos estremecer de horror: João Paulo II encorajando as falsas religiões a rezar a seus falsos deuses: escândalo sem medida e sem precedente. Poderíamos retomar aqui nossa declaração de 21 de novembro de 1974, que permanece mais atual que nunca. Quanto a nós, permanecendo indefectivelmente na adesão à Igreja Católica e Romana de sempre, somos obrigados a verificar que esta religião modernista e liberal da Roma moderna e conciliar se afasta cada vez mais de nós, que professamos a Fé católica dos onze papas que condenaram esta falsa religião. A ruptura, portanto, não vem de nós, mas de Paulo sexto e de João Paulo II, que rompem com seus predecessores. Esta negação de todo o passado da Igreja por estes dois papas e pelos bispos que os imitam é uma impiedade inconcebível e uma humilhação insuportável para aqueles que continuam católicos na fidelidade a vinte séculos de profissão da mesma Fé. Por isso, consideramos como nulo tudo o que foi inspirado por este espírito de negação: todas as Reformas pós-conciliares, e todos os atos de Roma realizados dentro desta impiedade. Contamos com a graça de Deus e o sufrágio da Virgem Fiel, de todos os mártires, de todos os papas até o Concílio, de todos os santos e santas fundadores e fundadoras de ordens contemplativas e missionárias, para que venham em nosso auxílio na renovação da Igreja pela fidelidade integral à Tradição. - Buenos Aires, 2 de dezembro de 1986 - Marcel Lefebvre. Arcebispo-Bispo emérito de Tulle - Antônio de Castro Mayer, Bispo emérito de Campos que concorda plenamente com a presente declaração e a faz sua. Dia 30 de dezembro, com a encíclica Sollicitudo Rei Socialis, João Paulo II acentua sua posição: "O encontro de 27 de outubro do ano passado em Assis, para orar e comprometermo-nos pela paz - cada um na fidelidade à própria profissão religiosa - nos revelou a todos até que ponto a paz e sua necessária condição de desenvolvimento de 'todo homem e de todos os homens' são uma questão também religiosa, e como a plena realização de ambos depende da fidelidade à nossa vocação de homens e de mulheres crentes porque depende antes de tudo de Deus." Pode o conceito de fidelidade aplicar-se na indefinição de qual seja a fé? Só se for uma fé pessoal que não depende de Deus. Devemos também sintetizar aqui a instância de católicos leigos ao Sínodo de Bispos de 1987, onde, depois de lembrar diversas contradições e omissões do Concílio sobre problemas atuais e suas conseqüências em iniciativas como a de Assis, diz: "Quem hoje guia este curso, mostrando-se amigo de quem ataca a Fé enquanto ignora os apelos para a sua defesa, é justamente quem está no trono papal. Por isso, uma gravíssima questão de consciência se impõe a todos os católicos." Depois de lembrar os apelos não respondidos senão pela escalada nos erros conciliares, diz: "Este desprezo pela verdade não revela a apostasia da fé e a ausência do autêntico pastor? Será que um poder anticatólico ocupa o Santo Redil e impede seu chefe terreno de defendê-lo? Ou será que este aderiu a novas doutrinas, renunciando por si mesmo à autoridade que lhe foi dada por Nosso Senhor para defender e confirmar a sua grei na Sua Doutrina? Quem se separa da cabeça visível da Igreja, o papa, separa-se dela, excluindo-se por si mesmo da salvação. Mas isto não vale para todos quando a separação afeta a unidade e a continuidade da Fé na Igreja instituída por Cristo, onde todos, o papa, a hierarquia, o clero, a liturgia, o código canônico, se definem católicos por estar a serviço da Fé íntegra e pura revelada por Deus? O cardeal Journet, citando Caietano, explica que o axioma - onde está o papa está a Igreja - vale quando o papa se comporta como papa e chefe da Igreja; caso contrário, nem a Igreja está nele nem ele na Igreja. Para São Roberto Belarmino: 'O papa herege manifesto deixa por si mesmo de ser papa e cabeça, do mesmo modo que deixa de ser cristão e membro do corpo da Igreja'. São Vicente Ferrer, no seu Tratado do cisma moderno, compara a obediência e honra prestados a um falso papa, ao culto a um ídolo estrangeiro. Podemos ser fiéis a Deus seguindo guias de fidelidade duvidosa?" A instância termina lembrando que nestas circunstâncias cabe a quem está na Sede de Pedro pronunciar uma inequívoca profissão de Fé católica. E hoje nenhuma profissão de Fé seria mais completa e mais conforme à vontade de Deus que a consagração pedida em Fátima. Não surpreende que nem esta instância, nem milhares de pedidos relacionados com Fátima chegados ao Vaticano, deixassem de ser atendidos. Pelo contrário, foi dito pelo cardeal Cagnon que todas aquelas cartas atrapalhavam o trabalho dos dicastérios vaticanos e João Paulo II não queria ser pressionado por causa de uma revelação particular. No verão de 1988 soube-se então que fora comunicado à irmã Lúcia que a consagração da Rússia deveria ser considerada cumprida em 25 de março de 1987 e que não se deveria mais falar nisto porque a situação da Rússia havia melhorado muito nos últimos anos. Também o Padre Caillon recebeu uma carta enérgica semelhante. O arcebispo Lefebvre, que com sua Fraternidade estivera em Fátima, em 22 de agosto de 1987, havia dito sobre o Terceiro Segredo: "Porque queremos guardar a unidade da fé, aqueles que estão em vias de perdê-la nos perseguem. Porque os desobedecemos não querendo perder a fé, os que nos querem afastar dela nos perseguem." Dias depois escrevia aos sacerdotes que convidava para serem consagrados bispos sem permissão de Roma: "A Sede de Pedro e os lugares de autoridade de Roma estando ocupados por anticristos, a destruição do Reino de Nosso Senhor continua rapidamente no interior mesmo de seu Corpo místico da Terra, especialmente pela corrupção da Santa Missa, expressão esplêndida do triunfo de Nosso Senhor pela Cruz, 'Regnavit a ligno Deus', e fonte da propagação de seu Reino nas almas e na sociedade." Assim, parece com evidência a absoluta necessidade da permanência e da continuação do sacrifício adorável de Nosso Senhor para que "o seu Reino venha." A corrupção da Santa Missa levou à corrupção do sacerdócio e à decadência universal da fé na divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo. Com a premissa dos anticristos em Roma, que perdem a fé e desviam o mundo católico, o arcebispo prosseguiu no intento de consagrar os quatro bispos. Quando isto se deu em Écone, no dia 30 de junho de 1988, João Paulo II, que opera para "realizar a Igreja como sacramento da unidade sinfônica das múltiplas formas de uma só plenitude", que convida à grande comunhão universal de todas as religiões e crenças, excomungou o arcebispo fiel com os seus seguidores que ainda o reconheciam como papa. Era o cisma da perestroika conciliar. Nesse mesmo dia João Paulo II recebe no Vaticano um grupo de jornalistas soviéticos, a quem diz: "Certamente há um clima de perestroika que seguimos com interesse. Esta democratização, esta maior participação dos cidadãos na vida política e social, não só satisfaz as expectativas do Ocidente... como corresponde também à doutrina social da Igreja." Ora, o líder soviético Gorbachev, pai da atual perestroika, diz: "A nossa inspiração vem de Lênin. São as idéias de Lênin que alimentam a nossa filosofia das relações internacionais e o novo modo de pensar." O que têm a ver as trevas com a luz? Cristo com Belial? Será que alguém pode crer que na nova dialética do regime soviético, nesta perestroika leninista, reside a conversão da Rússia para a qual Nossa Senhora pediu na consagração? Na linha do Vaticano II, depois da abertura ao protestantismo, à maçonaria, ao judaísmo, à democratização da religião, agora querem impingir aos católicos também as idéias do sanguinário Lênin recicladas com doutrina social da Igreja? Estamos diante de fatos abissais. Mas, animados pela fé com que pastorzinhos derrubaram gigantes, guiaram reis e advertiram papas, devemos testemunhar desassombradamente a profecia de nossos tempos que contém o selo inestimável da vontade de Deus. O colosso revolucionário ocupou a Igreja e pontifica o erro por toda a Terra, seduzindo com uma solidariedade pacifista e sincretista que é ofensiva a Cristo Senhor. Mas em Fátima Ele colocou a pedrinha predita pelo profeta Daniel, que destruirá o leviatã infernal. CAPÍTULO 32. "POR FIM, O MEU IMACULADO CORAÇÃO TRIUNFARÁ" Esta frase de Maria Virgem aos pastorzinhos de Fátima repete com outras palavras o que Jesus Cristo, Filho de Deus vivo disse referindo-se à Sua Igreja que assim O confessa pura e integralmente - AS PORTAS DO INFERNO NÃO PREVALECERÃO CONTRA ELA. No dogma da Imaculada Conceição resplende a síntese dos dogmas católicos, como ensinava São Pio X: "Creiam os povos e confessem abertamente que Maria Virgem, desde o primeiro instante da sua concepção, foi isenta de toda mancha; com isto, será necessário admitir também o pecado original e a redenção dos homens por obra de Cristo, o Evangelho, a Igreja e até a própria lei da dor. Depois disto, tudo o que tem sabor de racionalismo e de materialismo será arrancado e destruído e resta à doutrina cristã o mérito de guardar e defender a verdade." Essas verdades de fé constituem o fundamento de toda caridade, contra a qual vai o naturalismo com seus racionalismos e materialismos. A natureza dos homens, seres racionais, não pode prescindir na vida material da verdade e do amor, para evitar de embrenhar-se nos caminhos da degradação e da autodestruição, também na ordem natural. Mas sem a graça o potencial da mente decaída não consegue nem mesmo ordenar-se ao fim que justifica a vida terrena, nem preservar o valor do irrepetível sopro de verdade e de amor que cada um representa e deve salvar para restituí-lo ao Criador na eternidade. O cristão sabe que o reino da verdade e do amor que perdemos com o pecado original, é sobrenatural. Mas, desde que foi trazido à Terra pela Encarnação de Quem é Verdade, Caminho e Vida, também a dignidade da sobrevivência no mundo depende de tudo instaurar Nele. Há que tomar consciência dessa verdade e agir com essa caridade. Para isto Nosso Senhor deixou-nos, como sinal visível de Sua presença na Terra, a Igreja, Esposa Imaculada, a cujos cuidados maternais, alimentação espiritual e modelo caritativo fomos confiados. E todavia vemos hoje que a sagrada hierarquia eclesial malogrou pelo resfriamento da caridade na Igreja que foi medido pelo termômetro de Fátima. Nossa Senhora, aparecendo em 1917, mostrava o início de uma luta decisiva e final. A revolução tomava conta da Rússia para espalhar-se pelo mundo, enquanto na Igreja propendia-se a diplomacias e compromissos confiando em projetos humanos e limitando o recurso sobrenatural oferecido em Fátima. E foi assim que tanto o avanço da Rússia como o recuo da hierarquia assumiram proporções espantosas, mas que se pretende ainda ocultar, como o Terceiro Segredo. Parecia certo aos católicos que toda a hierarquia da Igreja não poderia malograr, assim como aos antigos judeus parecia impossível que o Templo pudesse ser destruído. Hoje sabemos que só houve duas testemunhas episcopais que tiveram a caridade de avisar os fiéis que se atentava contra a fé na própria Roma, demolindo o Templo cristão. O arcebispo Marcel Lefebvre fundou a Fraternidade São Pio X para continuar a formação do sacerdócio fiel à doutrina e liturgia tradicionais da Igreja. A estas continuou fiel a Diocese de Campos, enquanto Dom Antônio de Castro Mayer ainda se manteve seu bispo, passando à resistência depois de sua demissão, a pedido de João Paulo II. A Igreja da fé, esperança e caridade está ferida e humilhada como Nosso Senhor na Sua Paixão, e o mundo está sendo tomado pelo ateísmo, pelo materialismo e pelo comunismo, erros que a Rússia continua espalhando sem resistência real das nações. No vazio de fé, esperança e caridade todos os males podem avançar e dominar. Só voltando os olhos e as vontades do reino da verdade e do amor será possível vencer tanto engano e ódio diabólicos. Como fazê-lo? Se fomos confiados à Igreja que está hoje crucificada, sabemos que Maria está ao pé da Cruz, Stabat Mater, para recolher seus pobres filhos dispersos pelas insídias da fera que sobe do abismo que foi aberto, levando-os para o retiro de penitência preparado no deserto. Isto o Imaculado Coração de Maria confirmou em Fátima aos pastorzinhos que se santificaram pelos meios recebidos, conquistando também graças para os seus e para a Igreja de Portugal. Imitemo-los. Deve-se lembrar antes de tudo que sem a fé não se agrada a Deus e só a defendendo e conservando-a íntegra e pura pode-se atender às devoções e cumprir a consagração pedida em Fátima. Nada melhor para preservar essa fé contra o naturalismo do mundo que os dogmas marianos. Foi o que ensinou São Pio X e o Imaculado Coração de Maria veio suavemente confirmar junto às comunhões reparadoras dos primeiros sábados. Se hoje vivemos a autodemolição da Igreja, que é a perseguição da fé no seu interior, saibamos entender a preciosa indicação que precede o terceiro segredo, parte da mensagem onde isto é certamente descrito: "Em Portugal se conservará sempre o dogma da fé..." Significa que no espírito de Fátima, reparador das ofensas a Deus e confiante nas promessas do Imaculado coração, pode-se perseverar sempre na fé e por ela preparar a restauração da Igreja. A mensagem de Fátima alimenta a fé e, junto com esta, a esperança. Por ela sabemos o epílogo das guerras e perseguições de nossos tempos tenebrosos: "Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará. O Santo Padre consagrar-Me-á a Rússia, que se converterá, e será concedido ao mundo algum tempo de paz." Na crise atual da Igreja isto pode parecer um fato tão incrível como a conversão do império romano ao cristianismo no tempo de Constantino. Mas assim será, e nesse triunfo muitas almas se salvarão e a cristandade será restabelecida. A fé e a esperança, porém, são mortas sem a caridade, e esta foi resfriada pela multiplicação da iniqüidade e da sedução dos falsos profetas, que desviaram a glória de Deus segundo Sua vontade. Esta está no cumprimento da mensagem de Fátima: "Porque quero que toda a Minha Igreja reconheça essa consagração como um triunfo do Coração Imaculado de Maria, para depois estender o seu culto e pôr, ao lado da devoção do Meu divino Coração, a devoção deste Imaculado Coração." Ao reino dos Sagrados Corações chega-se só pela mensagem que, representando a vontade de Nosso Senhor, deve atrair-nos antes de tudo mais. Procuremos primeiro o Reino de Deus e sua Justiça e o resto nos será dado por acréscimo. Pelo amor e dedicação à mensagem maternal de Maria, cujo conhecimento integral e divulgação universal queremos promover, estaremos perseverando na fé, esperança e caridade católicas que testemunham o poder mediador de Nossa Senhora, único que pode dar paz ao mundo. Neste amor devemos intensificar nossas orações, rosários e penitências pedidos, a devoção da comunhão reparadora dos cinco primeiros sábados e o terço quotidiano. Tudo isto não é mais que uma gota de reparação num espantoso incêndio de ofensas a Deus, às quais se juntou o descaso pela mensagem salvadora de Maria Santíssima dada há setenta anos e ainda incompletamente conhecida, honrada e amada. Despertemos, cristãos, o tempo está sempre mais próximo! Voltemos à fé, ao nosso Rei Jesus Cristo, à Virgem Vencedora, à Igreja, à Idéia Divina, única que nos pode defender e salvar. Já muito tempo passou depois daquele aviso precioso: "Se não atenderem a meus pedidos (a Rússia), espalhará seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja." Já muitos bons foram martirizados, já de muitos modos sofreu e sofre o Santo Padre. E continuam sendo aniquiladas muitas nações. A Santa Mãe desvelou a visão espantosa do Inferno aos pastorzinhos. Se nossos olhos não conseguem vislumbrá-lo, pensemos ao menos nos horrores das guerras fratricidas, nos genocídios e fomes. Pensemos nas gloriosas nações apagadas do mapa, pensemos nas civilizações antigas suprimidas e nos povos altivos oprimidos como escravos. Que é feito da Ucrânia, batizada há mil anos e cujo rei era coroado em Roma? E a Lituânia, que se estendeu no passado até o mar Negro? E a Polônia, e a Letônia, Hungria e Tcheco-Eslováquia? Mas se estas nações européias e a própria Rússia não tocam nossos sentimentos, sensíveis até às tragédias de hoje, que dizer do Vietnam, da Etiópia do Camboja onde um quarto da população foi dizimada pela fome, pela doença, por uma letal experiência em nome do comunismo? E o pobre Afeganistão, onde as crianças explodem com os brinquedos soviéticos? Podemos não pensar no hospitaleiro Líbano, hoje dilacerado? Acaso não vemos que o ódio avança, que o terrorismo se expande pelo mundo, que onde não chegam armas chegam drogas mortais? Despertemos, cristãos, com nossas famílias. Voltemos a preencher o dia de preces. Invoquemos os Sacratíssimos Corações com amor e confiança. Nesse amor nos voltarão as luzes, e nessas luzes o conhecimento de nosso estado lamentável. Basta de engano. As guerras e perseguições já atingiram a Igreja, invadiram-na. A arca periga, a civilização cristã está soçobrando enquanto os capitães e os marinheiros cantam embriagados e seduzidos por sereias. Aos fiéis compete, hoje mais que nunca, professar alto e claro a fé íntegra e pura. Em Fátima foi dado um auxílio inestimável para isto. Os filhos de Quem é sabedoria e vitória não podem temer fazê-lo. Como justos, vivem de fé, como filhos, sabem confiar, como devotos que têm por mestre a caridade, compreendem o quanto devemos todos reparar pela avalancha de ofensas a Deus e pelos que não crêem, não amam, não esperam e adoram só a si mesmos. Desde que foi dado aos homens o sinal celeste de Fátima, advertindo das guerras e perseguições causadas pelos pecados dos homens e crimes do mundo, a responsabilidade de todos aumentou, mas especialmente dos fiéis. A mensagem foi dada ao mundo, e o mundo não a conheceu. Foi dada à Igreja, mas os seus não a acolheram, aumentando o débito e diminuindo os recursos. Foi assim que sobreveio a Grande Guerra e depois desta multiplicaram-se os impulsos de auto-destruição da humanidade. Para quem, como Paulo sexto, via na ONU a última esperança de paz, só ficaram a ilusão e o terror. Para os católicos não restou ninguém a quem apelar nesta Terra. A oferta de paz da Mãe de Deus fora esquecida, enquanto a mentira e o ódio cancelam a lei divina. A amnésia conciliar conduz à crise, as reciclagens sinodais ao desvario. Um cataclisma desolador pende sobre a arrogância humana. Reconheçamos ao menos o silêncio divino diante de nossa decadência, irreparável sem a graça, e multipliquemos nossas orações impetrantes e nossas penitências reparadoras. Este é o testemunho indispensável que cada um pode dar seguindo as devoções de Fátima a fim de que a mensagem de Maria Santíssima seja conhecida por inteiro e assim divulgada, honrada, cumprida e amada. Nisto está a vontade de Deus, que quer ver reconhecido o triunfo do Imaculado coração de Maria. Para reforçar este testemunho indispensável nos foi dado o testamento de Fátima, que já em 1917 selava numa mensagem a descrição do estado lamentável a que chegaríamos pela oposição e indiferença à vontade divina. Merecemos hoje as palavras de Jesus aos fariseus que lhe pediam um sinal: "Esta geração perversa e adúltera será condenada pelos ninivitas no dia do juízo, porque eles se arrependeram com a pregação do profeta Jonas, e aqui está quem é mais que Jonas." Tudo foi profetizado para o triunfo final da fé. Quando a Igreja testemunhar isto, revelando e acolhendo integralmente o inestimável testemunho de Fátima, poderemos merecer a atuação de Deus, que, por fim, suscitará o papa, que fará a consagração pedida para enviar-nos então a estrela da manhã, a luz nas trevas que cobrem a verdade pela impiedade e injustiça que invadiram até a Igreja. Neste testemunho fiel do Signum magnun de Fátima estaremos participando do triunfo da Mãe que tudo restaurará no amor e na paz de Cristo Rei..

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