Rose Hill campus, The Bronx - Qual literatura de Cuba é funcional para o Big Brother editorial e midiático? Cuba é um país de cultura que produz artistas em grandes quantidades. Profissionais da música ou da dança que residem na ilha conseguiram reconhecimento e promoção no exterior, à margem de considerações políticas. Não é o caso da literatura. Aqueles que conseguiram publicar em editoras estrangeiras são, em sua maioria, os que focam sua obra literária e suas declarações públicas no ataque ao governo e ao sistema político da ilha. Assim como em seu momento foi a escritora Zoé Valdés, hoje são autores como Iván de la Nuez ou Vladimir Hernández, cuja obra tem como centro temático a condenação e a satanização da revolução cubana, que têm a preferência nas grandes editoras. Além de uma enorme difusão de seus livros por meio de entrevistas e resenhas nos principais jornais, muitos pertencentes aos próprios grupos editorais. Rafael Rojas, outro autor com posições similares, tem coluna periódica em diários importantes como El País. Amir Valle dirige um espaço na televisão pública alemã Deutsche Welle. Eles não são somente apoiados pela mídia corporativa. A nova imprensa digital supostamente "progressista", eldiario.es, por exemplo, também é espaço para promoção de romancistas que, como Carlos Manuel Álvarez ou Wendy Guerra, constroem sua criação literária na condenação sistemática ao governo da ilha. O mesmo acontece com os livros sobre Cuba que são escritos por jornalistas de outras nacionalidades. Somente aqueles que desenham a ilha como uma sociedade em decomposição, ou a revolução como um processo liquidado, têm as portas abertas das grandes editoras e a correspondente difusão midiática. É o caso dos livros da argentina Gabriela Esquivada, do chileno Patricio Fernández ou do espanhol Vicente Botín. Enquanto isso, qualquer livro em sentido contrário será condenado aos circuitos marginais de impressão, distribuição e difusão alternativa. Sem entrevistas, artigos ou resenhas. É a mesma censura editorial e midiática internacional sofrida por centenas de escritoras e escritores de Cuba, residentes dentro ou fora do país, cujo pecado é fazer literatura e não política. Como em qualquer país do mundo, a imensa maioria dos romances escritos na ilha conta histórias, não é literatura com leitura política. Ainda que não deixe de retratar com crueza a sociedade do país e os problemas de seu tempo. O viés ideológico da imprensa podemos apreciar, por exemplo, nos obituários. Sobre o falecimento, neste ano, de Daniel Chavarría, autor de romances policiais que, embora nascido no Uruguai, viveu em Cuba e sempre se apresentou como escritor cubano, mal vimos curtas resenhas focadas em sua obra, sem a menor referência à militância comunista. O mesmo tratamento foi dado pela imprensa espanhola, por exemplo, à morte do escritor cubano Miguel Mejides, cujo envolvimento na política cultural do país ou na União de Escritores e Artistas de Cuba não foram dados a resenhar. Por outro lado, sobre a morte do poeta Rafael Alcides, mais do que sobre sua obra, lemos a respeito dos desencontros políticos com o governo cubano e sua caracterização como "escritor dissidente". Cuba é um país de cultura, de arte e de literatura. Mas o Big Brother editorial e midiático, que controla e decide quem deve ser publicado e defendido, empenhou-se em selecionar na ilha apenas aqueles que sejam funcionais a suas ideologias e interesses. Legendas originais em espanhol: Antonio García Moreno Tradução: Antonio Gabriel Haddad.
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Fortaleza:
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