Carnaval De Rua Porto Alegre Cidade Baixa

Yeshiva College, Washington Heights, Manhattan - Olá, eu sou o Diego, da Husos, estou aqui junto com o Camilo García. Queria agradecer pelo convite, estamos muito contentes de estar com vocês aqui, partilhando essa preocupação de como repensar o trabalho e a produção em relação à arquitetura e à cidade. Como uma possível abordagem a esse propósito, gostaríamos de falar sobre o marco de trabalho da Husos e de algumas das nossas explorações através de projetos de design e de investigação, um trabalho no qual tentamos encontrar sinergias entre formas de fazer e formas de pensar. Em nossos projetos, o trabalho e a produção são muito importantes. Isso porque acreditamos que conformam uma esfera política fundamental dos espaços que habitamos. Ainda que, muitas vezes, seja uma esfera política descuidada. Talvez isso possa estar mudando para o melhor. Este seminário pode ser uma prova muito inspiradora disso. Esta apresentação fala sobre a esfera da produção que poderia ser explicada através de uma... dispersão cada vez maior da produção e do trabalho. Primeiro pela dispersão geográfica da produção. Podemos pensar, por exemplo, na extração de matérias-primas, que são extraídas de lugares cada vez mais distantes. E, segundo, da fabricação que, como sabemos, acontece fora das cidades e, em muitos países ocidentais ricos, fora inclusive de suas fronteiras nacionais. Em segundo lugar, o que também é muito importante, pela dispersão do trabalho no nosso cotidiano. Às vezes pode parecer que isso está tão diluído a ponto de que somos até capazes de vê-lo. É fato que, hoje em dia, essa dispersão do trabalho no cotidiano, foi aumentada pelas novas tecnologias. Dá para pensar no celular, que permite trabalhar a qualquer momento. No entanto, e é nesse ponto que se situa nosso argumento central, a produção e o trabalho sempre foram parte integral e fundamental dos diferentes espaços do nosso cotidiano, só que nem sempre fomos capazes de ver isso. Um exemplo disso é o setor reprodutivo, que se refere não só ao cuidado dos filhos e dos idosos, mas também se refere a tudo o que diz respeito à interação social, com a construção de significados compartilhados necessários para construir e manter os vínculos sociais, como Nancy Fraser nos explica. Portanto, inclui diferentes tipos de trabalhos não remunerados que, todavia, são fundamentais para sustentar a vida. Assim, nossa proposta hoje não é tanto de nos situar em um novo contexto da realidade laboral, e sim, acima de tudo, diante de uma nova perspectiva laboral, ou de uma nova história, um novo relato, algo que podemos chamar de perspectiva de territorialidade dispersa da produção, que viria acompanhada de uma crescente territorialidade dispersa nas diferentes esferas urbanas, em que já não podemos entender o político, o doméstico ou o produtivo como âmbitos separados espacialmente e circunscritos a determinadas áreas geográficas autocontidas ou às tipologias arquitetônicas estabelecidas, mas sim que funcionam de maneira dispersa e reconectadas por diferentes mediações e escalas. É em grande medida graças ao pensamento e ativismo feminista, especialmente o que se pode chamar de feminismos transversais... Graças a eles podemos entender de maneira muito mais ampla e problematizada a questão da produção e do trabalho versus uma visão muito mais tradicional e estreita. Isso fica claro nesse cartaz incrível do grupo ativista feminista Red Women’s Workshop, de Londres, muito ativo nos anos 70, no qual vemos essa linha fantástica, obviamente muito problemática, mas que deixa ver muito bem essa linha de produção que mostra a fábrica acima e, abaixo, uma outra habitação, algo que muitas vezes não vemos e que tem um produto muito importante, que somos nós mesmos como força laboral que produz na fábrica. Nesse pensamento feminista, especialmente pós-marxista, ficam visíveis dois grandes setores da produção capitalista: em cima, como mostra o cartaz da Red Women’s Workshop, temos o oficial que monetariza e mercantiliza essa produção mercantil que funciona nas relações, principalmente as de cunho contratual, aqui na figura da fábrica, e embaixo, ou do lado de fora, temos um setor que não é oficial, que está submerso, mas não da maneira como entendemos uma economia submersa, porque trata-se de algo com bases legais. Esse é um setor tornado invisível pela economia tradicional que é um apoio essencial para a economia e, de acordo com a classificação oficial de Fraser, mas podemos considerar também outras teóricas, como Silvia Federici, por trás dessa economia formal, do lado de fora dela, se seguirmos o pensamento desse grupo de ativistas, encontramos diferentes condições de fundo, nessa loja dos fundos que aparece embaixo. Então, estamos falando de espaços como a casa, como no cartaz, que é a fábrica do social, segundo Silvia Federici, mas também poderíamos pensar em muitos outros espaços que são essenciais para a economia, mas não reconhecidos como tais, espaços essenciais para a manutenção da vida social e material. Podemos pensar, então, em outros espaços, por exemplo, neste centro educacional público onde estamos, no SESC onde este seminário está acontecendo, ou também no supermercado que tem na esquina lá fora e ainda na selva amazônica, a muitos quilômetros daqui ou no campo agrícola que fornece os produtos ao supermercado. O não reconhecimento desse setor de base, essa loja de fundo, que o pôster nos desvela parcialmente, só é possível por causa de ferramentas espaciais de planejamento urbano muito específicas, como o Sonic e tipologias arquitetônicas muito concretas que talvez seja mais efetivas no norte e menos no sul, como é o caso aqui na América Latina, mas que, em todo caso, tanto no norte quanto no sul, foram essenciais à implementação, pelo menos como ideal a alcançar, muitas vezes não como realidade, e sim como algo a atingir, essa separação artificial que constrói exclusões claras. Em termos jurídicos, por exemplo, acho que essa separação ocorreu também no sul de maneira bem radical. Teríamos, então, dois setores e duas histórias que precisam ser contadas em relação a essa produção capitalista. O que vou dizer tem bastante a ver, especialmente neste slide, com o pensamento de Fraser, mas também faz parte de outras feministas, como a Silvia Federici. Seguindo a classificação de Fraser, teríamos, então, esse setor frontal ou formal, que está em cima da linha, onde poderíamos encontrar essa economia clássica, o que costuma-se chamar de fatores de produção, como a força laboral, a terra de forma abstrata e o dinheiro. Assim, podemos imaginar esse trabalhador formal da fábrica, como nos mostra o cartaz das Red Women, que frequentemente é um homem. Mas embaixo dessa linha, como um reflexo, vemos esse outro trabalhador, geralmente reprodutivo, que costuma ser a outra metade da população, quase toda, historicamente, composta por mulheres. Numa sociedade em que o dinheiro é a base do conceito de valor, e sendo esse trabalho não remunerado, como mostram as Red Women, fica automaticamente escondido nessa loja dos fundos. Então, podemos pensar não só nas moradias, em como elas se conformam e como são mantidas, mas também em bairros inteiros e comunidades. Se pensamos no conceito de terra para a parte de cima, como um recurso virtualmente ilimitado, considerado erroneamente como ilimitado, teríamos abaixo outro setor, o da natureza finita, geralmente usada para a extração descontrolada de recursos, mas que também absorve os resíduos do sistema produtivo. Assim, poderíamos pensar de novo nesse bosque de que falamos, ou nos oceanos como receptores dos resíduos contemporâneos. Por fim, se considerarmos também que o dinheiro está acima da linha, nessa economia monetarizada que funciona através do dinheiro, haveria também toda uma parte de baixo, que fica escondida, mas serve de apoio ao setor de cima, de governança, constituído por marcos governamentais nacionais e supranacionais, mas também militares que garantem a produção nos centros de poder e suas periferias. Nesse ponto, acho que ontem, nós dois ficamos discutindo sobre a conferência brilhante da professora Felicity Scott, falando sobre as lógicas de operação dessas formas de governo. Então, em termos pós-marxistas, a área acima da linha seria explicada através de lógicas de exploração, enquanto a linha de baixo seria o setor de expropriação. Ou seja, a partir de uma produção gratuita, não remunerada nem regulada por contratos, uma outra forma de escravidão, distinta e complementar às outras que comentamos nestes dias. Esse entendimento mais inclusivo e problematizado da produção permite-nos identificar alguns setores escondidos abaixo da linha, mas também permite identificar diferentes crises da produção vinculadas a esses setores. Uma crise econômica, algo que dispensa explicações, acho que isso teve, no pensamento arquitetônico, um protagonismo especial e merecido nos últimos anos, mas também uma crise social. Essa área é um apoio essencial para a economia, mas que, muitas vezes, a partir da perspectiva da produção, não é levada em conta porque não é monetarizada. Podemos pensar, por exemplo, na crise da assistência às crianças e idosos, uma crise que atinge norte e sul, o mundo todo, as crises de moradia, as lutas LGBT, a crise do sistema de saúde, que são vinculadas principalmente... É fato que há um aumento da desigualdade entre trabalhadores, mas também faltas de reconhecimento e representação desses setores submersos que vemos embaixo da linha, onde acreditamos que a arquitetura pode ter um papel importante. Assim, acreditamos que para poder tratar essas reivindicações precisamos de novas aproximações do lado produtivo, mas sempre vinculado ao trabalho reprodutivo, entendendo produtivo e reprodutivo juntos, e que precisamos de novos marcos produtivos e reprodutivos de assistência, do social, do natural e do econômico. Essa foi uma intervenção que fizemos e cujo título funciona como uma espécie de convite para pensar essa maneira inclusiva e ampla do trabalho e da produção para, através disso, como agentes vinculados ao espaço, como podemos repensar, partindo dos diferentes âmbitos do trabalho e da produção, como podemos pensar conjuntamente aqueles que são geralmente reconhecidos como produtivos, e aqueles outros, os reprodutivos, mas também da natureza e da governança, que implicações essa perspectiva poderia ter em arquitetura e urbanismo? Em termos metodológicos, por exemplo, pensando essas práticas como ferramentas de reconhecimento e representação. Nós dois achamos especialmente interessante abordar essas perguntas a partir do espaço da moradia, como um campo de batalha essencial do trabalho e da produção hoje em dia, como um laboratório urbano muito útil para analisar a produção. Vamos explicar isso a seguir com alguns exemplos, mas antes eu queria falar do trabalho da Husos em geral e como essa prática tenta se conectar com esses marcos. Podemos resumir o trabalho do escritório como a busca por uma prática arquitetônica entendida como uma prática de cuidados, que tenta ser sensível ao cotidiano, ou seja, sensível à diversidade de experiências, necessidades e imaginários que conformam nosso dia a dia, incluindo experiências que às vezes são muito simples, mas que podem ter um significado enorme em nossas vidas. Sensível também a essa capacidade transformadora que nossas atividades cotidianas podem assumir, incluindo atividades banais, como ir às compras, comprar uma camiseta, fazer jardinagem em casa ou compartilhar um momento doméstico. Por outro lado, podemos dizer também que, nas práticas urbanas, há espaços que foram claramente identificados como políticos, como espaços públicos, que relacionamos de imediato ao coletivo. Podemos pensar, por exemplo, na Avenida Paulista como um lugar politicamente muito ativo, como nos mostrou ontem a artista Graziela Kunsch, em uma incrível visita acompanhada ao MASP. Em relação a esses espaços, há uma tradição de ativismo que se tornou muito importante na arquitetura e outras práticas espaciais. Sem dúvida, é um trabalho fundamental. Contudo, pensamos que também há outros ativismos tão importantes quanto, que têm a ver com outros espaços políticos do dia a dia e que também têm influência importante em nossas vidas, mas que às vezes, talvez por estarmos muito mergulhados neles ou por ficarem fora dos circuitos que chamamos de espaços coletivos, mas às vezes eles não são levados em conta, o valor que têm para nossa subjetividade e a vida em comum. Podemos dizer, então, que o trabalho de nossa plataforma tenta gravitar, em grande medida, acerca dessas linhas de ativismo. Falo, por exemplo, do trabalho em espaços que relaciono como os novos entornos do laboral atomizado, como a moradia. Antes, queria falar um pouco desta foto, do Sindicato das Trabalhadoras Têxteis, e passo aqui a palavra. Essa foto é do Sindicato Internacional das Trabalhadoras Têxteis, que foi o maior sindicato da indústria nos EUA no século XX. Esse sindicato teve papel central no setor nos anos 1920 e 1930, anos fundamentais na melhoria das condições de trabalho na área têxtil. Esses sindicatos começaram quase simultaneamente às primeiras oficinas e fábricas, e é interessante notar que podemos reconhecer alguns espaços, como a fábrica, e dá para incluir proto-fábricas, como essa oficina da foto, como elementos fundamentais para a organização produtiva e para a construção do social, por exemplo, como um lugar ao redor do qual consolidaram-se certas subjetividades do laboral, desenvolvendo também formas de poder e geografias de produção relacionadas com isso. São também lugares onde se criou e consolidou o senso de comunidade entre os trabalhadores, o que, por sua vez, também permitiu a reivindicação de demandas coletivas, por exemplo, como as que ocorreram em vários países através de sindicatos: melhora de salários, cargas de trabalho mais justas, férias remuneradas etc. Hoje em dia, o contexto produtivo vem sofrendo crescente dispersão e também a atomização geográfica da produção. Mas não só na fabricação e, portanto, do comércio, como também do trabalho, dos trabalhadores e de seus corpos. Dentro da atomização da força laboral, e apesar da dispersão do trabalho que acontece praticamente em todas as horas e espaços do nosso dia a dia, a moradia como infraestrutura polivalente, de que muitos dispõem, ainda que nem todos disponham e isso nunca se dê da mesma forma, desempenha um papel importante no ecossistema laboral atual. Há indícios de que o local de trabalho terá um papel mais importante no futuro. Isso tem a ver com aspectos tecnológicos, como o acesso à internet e o trabalho online cada vez mais presente, também na fabricação em pequena escala, como o que acontece com o uso de impressões 3D. Há também temas ambientais, como aqueles vinculados às crescentes preocupações com o tema do deslocamento, o tempo e a energia gastos indo de casa ao trabalho nas cidades. Por fim, também fatores sociais ligados à vontade de equilibrar o trabalho remunerado e os demais aspectos da vida. Interessa-nos o espaço da casa porque, como dissemos, é um laboratório muito interessante para explorar as problemáticas da produção do trabalho hoje. É um caso paradigmático, o espaço de trabalho mais importante e, ao mesmo tempo, o mais invisibilizado. Isso constitui um exemplo de atomização dos trabalhadores e do isolamento, e também um campo onde estão ocorrendo e sendo testadas novas maneiras de coletividade. É um lugar de concentração de imensa precariedade da construção do elemento laboral no trabalho, mas, ao mesmo tempo, constroem-se formas de emancipação ainda limitadas, mas que são muito importantes. Em relação a essas ideias, existem perguntas que, em parte, motivaram muitas das nossas explorações sobre o tema da moradia, como: Qual o papel dos diferentes espaços onde trabalhamos hoje? Qual é esse papel na construção social da cidade? E qual poderia ser seu papel no futuro? Também podemos pensar nesses espaços como formas de construir empoderamento. Esta imagem também tem a ver com fabricação e trabalho têxtil, só que não em 1920 nos EUA, mas em Cali, Colômbia, hoje em dia. Aqui, o elemento doméstico não se separa do trabalho, eles estão juntos e acontecem no mesmo espaço. Podemos comparar estes dois diagramas em que o componente vertical são as 24h do dia e os componentes horizontais são os espaços. As partes vermelhas são atividades remuneradas ou de trabalho pago, e as partes verdes são atividades que podem ser trabalho, mas não são remuneradas, podem ser reprodutivas, enfim, atividades não ligadas ao trabalho entendido tradicionalmente. Acima, à direita, tem um diagrama de escala do trabalhador moderno ideal, onde se vê claramente que as duas esferas estão separadas. Ele trabalha num lugar completamente diferente do lugar onde leva sua vida pessoal e reprodutiva, no sentido amplo. Provavelmente é um homem porque o trabalho de que falamos é um trabalho pago, certamente numa fábrica nos anos 1960. Na parte central temos um apanhado de cinco mulheres responsáveis pela tarefa que vamos abordar a seguir, e como suas vidas flutuam o tempo todo entre aquilo que é tradicionalmente entendido como laboral e as demais atividades reprodutivas, receber visitas, responder a amigos e filhos, ou outras atividades. O diagrama representa que essas atividades ocorrem no mesmo espaço. O diagrama anterior se refere a uma oficina têxtil e casa, além de jardim experimental para borboletas, aves e insetos, projeto que realizamos com o biólogo Francisco Amaro, de Madri, junto com uma comunidade de vizinhos, biólogos e entomólogos de Cali, na Colômbia, e outros em Madri. Começou como uma encomenda privada em 2003. Esse é um pequeno prédio onde atividades domésticas e de trabalho se misturam. Tem casas, uma oficina de fabricação, exposição de produtos e um espaço comercial. Nós começamos a desenhar esse projeto em 2003, depois ele foi construído em diferentes etapas em 2005 e 2010, mas até hoje segue em construção, ou seja, foi um processo contínuo de construção e transformação ao longo do tempo. Este projeto tenta explorar a capacidade relacional da moradia produtiva, que tem a ver não só com visitas de amigos e família, mas também outras pessoas, como fornecedores e clientes, que entram na oficina. Essa capacidade de se relacionar é explorada como meio para difundir experimentos botânicos e de jardinagem feito ali durante esses nove anos. Os experimentos são relacionados ao uso de plantas que hospedam lagartas e outras que fornecem néctar para outros insetos e aves do ecossistema local que, por sua vez, são indicadores da qualidade do ecossistema. Esse enfoque da jardinagem é muito diferente do que se via nas revistas que circulavam por Cali na época ou das plantas que existem na maioria dos viveiros e que quase sempre pouco se relacionam com o ecossistema local. Quando falamos em experimentos, estamos falando desses experimentos que tentam se aproximar para entender o doméstico e a cidade, como área comum de coexistência ativa entre trabalhadores, insetos, pássaros que tem nesse prédio. Por causa das plantas que utilizamos no local, espécies distintas podem encontrar alimento, ou seja, o néctar dessas flores, por exemplo, e plantas hospedeiras como a passiflora ou a aristolóquia, que também estão no ecossistema de algumas partes do Brasil. Esse projeto foi desenvolvido graças ao trabalho de jardinagem que fizemos em equipe com moradores, especialistas e também com a colaboração do importante do conhecimento local. Esse projeto inclui, como mostram as imagens, ações de jardinagem e de micropaisagismo responsável, desenvolvidas a longo prazo e com perspectiva não antropocêntrica. Por exemplo, quando chegam os clientes e fornecedores, podem levar sementes embora consigo ou mudas dessas plantas que não estão nos viveiros e que estão relacionadas com esse ecossistema. Também entregam a eles esse tipo de postais com informações ambientais e de jardinagem ou, em algumas oficinas feitas lá, compartilham ideias de como cuidar da flora e da fauna locais. Inclusive algumas crianças do bairro passaram a se interessar mais pelo assunto depois dessas oficinas e parece que tem novos biólogos em potencial, preocupados com a situação ambiental de hoje e no futuro daquele bairro, cidade e região. Nós vemos esse projeto como um pequeno laboratório para explorar novas relações reprodutivas não só entre as pessoas, mas também com a natureza, e novas formas de microgestão ou microgovernos entre vizinhos enquanto trabalhamos ali para depois seguir explorando as potencialidades do trabalho cotidiano no espaço daquele lugar e também através de outros projetos. Este projeto não é em Cali, mas sim em Madri, também é um trabalho feito com uma microcomunidade, mas em escala muito menor do que a anterior. Neste caso, uma comunidade formada por mãe, filha, filho e plantas, uma pequena família que queria se mudar para uma casa de 1900 que nós reabilitamos do ponto de vista climático e energético. Essa é a planta anterior da casa. O que fizemos foi reorientar todo o apartamento, que era escuro. Ou seja, tem um pátio, marcado em vermelho, e ali ficava a única janela ao sul, por onde chega o sol no hemisfério norte. E essa casa dava as costas a essa fonte de luz, calor e energia. Foi nisso que trabalhamos a partir de várias pequenas ações, mas sem mudar a estrutura, foi reorientar a casa e aproveitar essa janela ao sul para possibilitar a entrada de calor. Criamos, ao redor da janela, o que chamamos de Bathyard, um espaço que permite distintas formas de socialização. Desenhamos essa estufa ao redor da janela, que ajuda a regular a temperatura, além de criar uma atmosfera mais úmida e adequada para as plantas por estar conectada justamente ao banheiro, tornando as condições melhores para essa vegetação. Essa exposição possibilita diferentes graus de luminosidade, os raios de sol refletem nos painéis que têm diferentes ângulos, trazendo-os para a parte de dentro da casa. As plantas ficam em diferentes alturas. As que precisam de mais sol têm maior exposição, e as que precisam de mais sombra encontram sua localização no espaço. Esse espaço é um pátio interno que cria uma nova paisagem na casa, junto com as plantas, é também um espaço indefinido cujo caráter é constantemente negociado pela família, além de permitir situações sociais imprevistas. Pode ser uma experiência mais privada do banheiro, quando os painéis são fechados. Ou como um banheiro social, uma experiência mais coletiva em que esses mesmos painéis permitem abrir o espaço e um banco móvel pode ser dobrado e desdobrado de acordo com o momento e as vontades dessa comunidade. Trata-se de um projeto de reabilitação e design de interiores, mas que foi abordado sob uma perspectiva urbana, no sentido de permitir que as formas de uso sejam inesperadas ou que permita diferentes formas de interação social e a construção de diferentes relações entre uma comunidade. Além de um projeto espacial, um projeto urbano como este, independente do tamanho, é algo que costumamos fazer. Para nós, o banheiro funciona inclusive como espaço urbano, seja como espaço para uma multiplicidade de possibilidades de conjuntos sociais e porque, neste caso, ele pode ser um protótipo de como valorizar os pátios esquecidos típicos de Madri. Esses pátios que vemos à direita são muito comuns e descuidados, como também acontece com muitos espaços ao redor deles, assim como acontecia nessa casa antes. Nossa intervenção tenta dar um novo sentido social, aliando o aspecto climático ao espaço desse tipo de pátio, que não são as únicas vistas de que as pessoas dispõem, há, por exemplo, quadras inteiras no centro de Madri, onde todas as moradias dão para esse tipo de pátio, e os espaços das moradias também dão para esses espaços. O espaço do Bathyard foi concebido como um espaço para proporcionar esses laços afetivos em uma família que dispõe de pouco tempo para estar juntos, mas que tem o hábito de compartilhar o banheiro de manhã. É uma maneira de repensar os espaços onde acontecem as relações familiares e sociais, e também entre as pessoas e outras espécies no espaço doméstico. Este é outro projeto que fizemos também em Madri. Isso é um mapa das pessoas que trabalham de casa. São vários tipos de trabalho: donas de casa, cabeleireiros, designers, costureiros, doceiros, babás, trabalhadores remotos e outros. São parte de uma amostra de 50 casos que analisamos, alguns estudados mais a fundo, parte de um projeto de pesquisa sobre espaços domésticos chamado cotidianidades doméstico-produtivas. Começamos isso em Madri, em 2009. Essa é a Maria, uma trabalhadora remota que explica, na entrevista que fizemos, como as quintas-feiras eram especiais. Isso porque era o dia em que ela trabalhava de casa. Nesses dias ela geralmente trabalha online, da Espanha, com pessoas no Chile e na África Ocidental. Também é o dia em que passa mais tempo com seu gato de estimação, o dia em que encontra os vizinhos, o peixeiro, o padeiro da esquina e conversa com essas pessoas. A partir dessa e de outras entrevistas, pudemos ver que os trabalhadores experimentam uma relação especial com seu bairro precisamente porque passam mais tempo ali. Bom, esse é o ecossistema da Maria, mas no caso do Jaime, que vive na periferia de Madri e vende meias online, mas se sente totalmente isolado em relação ao entorno. Há uma sensação contínua de solidão ao trabalhar em casa. Por outro lado, essa relação mais estreita com o entorno, como é o caso da Maria e de outras pessoas que trabalham em casa, porque passam mais tempo nesse espaço, em comparação com pessoas que trabalham fora, voltam para casa muito tarde e, portanto, essa relação com o entorno não é possível ou fraca. O que vimos foi que trabalhar de casa pode ser muito solitário, mas isso não só significa isolamento e, em certas circunstâncias, envolve modos de vida que contribuem à construção da cidadania. Nesse caso, o âmbito é a vizinhança, mas também local, mais expandido. Algo muito esclarecedor durante essas entrevistas foram os sonhos e desejos comentados pelas pessoas. Por exemplo, aqui os sonhos são expressados como nuvens e os desejos e recordações são expressados nas formas circulares. A Maria, por exemplo, lembrava de quando vivia numa “corrala”, que é uma tipologia muito comum nas cidades espanholas e em Madri, cuja característica é que o acesso a elas se faz por sacadas que dão para um pátio e, assim, é muito fácil ver os vizinhos, é muito fácil manter uma relação com os vizinhos. Outra recordação era que, vivendo em Genebra e trabalhando de casa, ela ia lavar roupa na lavanderia, que acabou se tornando um espaço de encontro, onde se relacionava com os vizinhos, e essas situações não acontecem na sua moradia atual, ou seja, agora ela não tem espaços compartilhados onde ela possa ter alguma espécie de interação. Outro aspecto fundamental dessas entrevistas e das análises sobre os trabalhadores domésticos, é o aspecto financeiro. Trabalhar em casa pode permitir uma renda própria e possibilitar a realização de projetos pessoais, mas também tem a ver com uma forma de trabalho instável, trabalhos que dependem de contratos temporários e, muitas vezes, vinculado a situações de precariedade econômica, algo muito visível em vários casos que analisamos, em particular aqueles contratados por grandes empresas que cada vez terceirizam mais seus trabalhos e trabalham com essa dinâmica de “outsourcing”. O Javier sinaliza aspectos essenciais, ele é um falso autônomo, termo usado para designar um trabalhador cuja renda vem quase toda de um único cliente, mas não tem relação contratual. No caso do Javier, ele trabalhava para a Nokia, empresa de celulares, até que foi diminuindo muito suas atividades e, com isso, o Javier parou de receber trabalhos e, de repente, ficou sem trabalho e também sem remuneração e, aos 43 anos, teve que deixar Madri e voltar para sua cidade natal. Nessa situação de terceirização, existem casos dramáticos que todos ouvimos falar, como as “maquilas” têxteis em Tijuana e “sweat shops” em que a produção ocorre nessa esfera doméstica oculta. De todo modo, o Javier tinha dois outros trabalhos: ele cozinhava sob encomenda e fazia cenografia. Algumas coisas comentadas por ele durante a entrevista e nos outros encontros que tivemos depois disso era como tornar seu trabalho mais visível, como estabelecer formas de intercâmbio com esse ecossistema local, evitando interações em que o dinheiro fosse o meio de troca. Ele teve algumas ideias que estão aqui nessas nuvens, seus sonhos, por exemplo ter janelas que dão para as áreas comuns do prédio, ou letreiros nas fachadas para comentar o que estava fazendo e, assim, poder estabelecer outros tipos de intercâmbio. No entanto, apesar da legislação não o permitir fazer muito disso, o Javier continua a fazê-las. Aqui vamos passar rápido, tem uma parte importante disso que foi divulgar esse trabalho, debater e fazer reuniões. Neste caso, é uma exposição em um centro cultural de Madri, chamado Matadero, onde, além da exposição, fizemos reuniões com trabalhadores do espaço doméstico para discutir temas de interesse com especialistas e interessados. Aqui usamos um micro dispositivo arquitetônico, que são essas plaquinhas no peito das pessoas. Cada um, ao chegar à reunião, tinha que escrever ali quais eram os trabalhos que realizava em casa. Ao final, desenhou-se uma espécie de paisagem em que todos fazíamos algum tipo de trabalho, remunerado ou não, a partir do espaço doméstico. É isso, são como micro arquiteturas. Vamos passar rapidamente por este projeto, que é um protótipo de edifício de moradias produtivas em Madri, que usa essas sete estratégias dentre as quais as mais importantes era ter anúncios nas fachadas para divulgar as atividades que as pessoas estavam fazendo em seus espaços. Outra era contar com circulações bastante amplas, conectando espaços comuns: de assistência, para os idosos e que se conectavam através dos espaços de circulação das varandas, com acesso aberto e, então, chegamos a este projeto, que teve uma continuidade através de um mapeamento de infraestruturas vazias no centro e por toda Madri, algumas delas de propriedade pública, pensando que essas propriedades podiam ser utilizadas para acomodar algumas dessas pessoas que queriam possivelmente desenvolver nelas atividades como o Javier, a Maria... Nessas condições de isolamento. Bom, agora deixo para você concluir a fala. Para encerrar em três minutos, vou só dizer duas coisas desse projeto, o nosso mais recente, começado na Trienal de Arquitetura de Oslo com apoio da IE School of Architecture and Design, onde lecionamos, e é um projeto que... A atual crise de assistência em lugares como a Espanha ou EUA aparece ligada a uma nova forma de expropriação nos países do sul, mas, neste caso, não é vinculada a recursos naturais, e sim de corpos cuidadores. Esses corpos que vemos como esperança, são de mulheres que migram como trabalhadoras de cuidados que partem do sul ao norte e transferem os déficits de cuidado a outras mulheres mais pobres em seus lugares de origem. E formas de expropriação que acontecem por meio de dívidas, através de hipotecas para comprar moradias em seus países de origem. Essas dívidas e hipotecas são mobilizadas, entre outros, por grandes feiras, grandes entidades que estão envolvidas, como esta em Madri, que trata de necessidades de imigração, ou ainda em Londres, Nova York, Sydney... Orientadas especificamente a certas comunidades de imigrantes, como esta aqui, dedicada exclusivamente à comunidade de imigrantes colombianos em Madri. Esse trabalho foi feito usando o formato de fotonovelas, que são muito populares nas comunidades que trabalhamos e que serviu não só como meio de comunicação, mas também para conversar e discutir junto com as comunidades sobre esses temas. Nós analisamos particularmente o papel assumido por alguns projetos imobiliários extremamente problemáticos, como o que pode ser visto neste cartaz, comparado a outros projetos de tipologias domésticas autoconstruídas e como cada um deles responde, de maneiras muito distintas, a essas carências corporais, desses corpos que sentem que não estão em seu lugar de origem, e os desafios disso para os cuidados. Estamos fazendo isso em Risaralda, uma pequena região na Colômbia onde essas problemáticas assumem formas especiais. O projeto se chama Urbanismos de Remessas e vai ser publicado em breve pela Caniche Editorial, além de ficar disponível online para distribuir nessas comunidades. Para concluir, acreditamos que nas práticas espaciais que operam no atual contexto capitalista nos parece urgente abordar uma perspectiva plural da produção e do trabalho e, em segundo lugar, que as políticas da produção presentes no meio urbano revelam que enfrentamos assimetrias na produção monetarizada e também na produção não remunerada, e, junto com elas, lutas heterogêneas de reconhecimento e representação. Em terceiro lugar que, ao enfrentar esses desafios e também algumas oportunidades apresentados por essas realidade, passou a ser necessário para nós manter, desde o desenho, uma pluralidade de metodologias de ação. Além de imaginar a territorialidade dispersa da produção e do trabalho, a história frontal e também a da loja de fundo como possíveis cenários de reinvenção. Muito obrigado..

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Pelotas:

Tanya Bargeman, Washington: New York Conservatory for Dramatic Arts. Nilópolis: CUNY School of Public Health; 2009.

Emmett Arroyo, Warren. Canoas: Weill Cornell Medical College; 2015.

Marie Davidson, E 12th Street zip 10003. Toledo: University at Buffalo; 2014.

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