Gabarito 2 Exame De Qualificacao Uerj 2020

New York State School of Industrial and Labor Relations (ILR) - A sociedade do espetáculo Um filme escrito e realizado por Guy Debord Baseado no seu livro Sociedade do Espetáculo No desvio de filmes pré-existentes foram utilizadas as seguintes obras: Assim como algumas obras de um certo número de diretores burocratas dos chamados países socialistas. O comentário do presente filme foi completado em Outubro de 1973, e consiste inteiramente de extratos da 1ª edição de "A Sociedade do Espetáculo" (1967). Como cada sentimento particular é apenas parte da vida e não a vida em sua totalidade, a vida deseja por uma completa multiplicação dos sentimentos como que redescobrindo a si mesma em toda sua diversidade. . . No amor, o separado ainda existe, mas existe dentro do conjunto, não fora dele: um reencontro entre vivos. . . ESTE FILME É DEDICADO A ALICE BECKER-HO Toda a vida das sociedades nas quais reinam as condições modernas de produção se anuncia como uma imensa acumulação de espetáculos. Tudo o que era diretamente vivido se afastou numa representação. (1) As imagens que se desligaram de cada aspecto da vida fundem-se num curso comum, onde a unidade desta vida já não pode ser restabelecida. A realidade considerada parcialmente desdobra- se na sua própria unidade geral enquanto pseudomundo à parte, objeto de exclusiva contemplação. A especialização das imagens do mundo encontra-se realizada no mundo da imagem autonomizada, onde o mentiroso mentiu a si próprio. O espetáculo em geral, como inversão concreta da vida, é o movimento autônomo do não-vivo. (2) O espetáculo apresenta-se ao mesmo tempo como a própria sociedade, como uma parte da sociedade, e como instrumento de unificação. Enquanto parte da sociedade, ele é expressamente o setor que concentra todo o olhar e toda a consciência. Pelo próprio fato deste setor ser separado, ele é o lugar do olhar iludido e da falsa consciência; e a unificação que realiza não é outra coisa senão uma linguagem oficial da separação generalizada. (3) Deliberando de uma forma conclusiva e aceitando-os como positivos, deixo claro que ainda há muito a ser feito. O espetáculo não é um conjunto de imagens, mas uma relação social entre pessoas, mediada por imagens. (4) O espetáculo, compreendido na sua totalidade, é ao mesmo tempo o resultado e o projeto do modo de produção existente. Ele não é um suplemento ao mundo real, uma decoração adicionada. É o coração da irrealidade da sociedade real. Sob todas as suas formas particulares, informação ou propaganda, publicidade ou consumo direto de divertimentos, o espetáculo constitui o modelo presente da vida socialmente dominante. Ele é a afirmação onipresente da escolha já feita na produção, e o consumo que decorre dessa escolha. (6) A própria separação faz parte da unidade do mundo, da práxis social global que se cindiu em realidade e imagem. A prática social, perante a qual se põe o espetáculo autônomo, é também a totalidade real que contém o espetáculo. Mas a cisão nesta totalidade a mutila a ponto de fazer aparecer o espetáculo como sua finalidade. No mundo realmente invertido, o verdadeiro é um momento do falso. (9) Considerado segundo os seus próprios termos, o espetáculo é a afirmação da aparência e a afirmação de toda a vida humana, isto é, social, como simples aparência. Mas a crítica que atinge a verdade do espetáculo o descobre como a negação visível da vida; como uma negação da vida que se tornou visível. (10) O espetáculo apresenta-se como uma enorme positividade indiscutível e inacessível. Ele nada mais diz senão que "o que aparece é bom, o que é bom aparece". A atitude que ele exige por princípio é esta aceitação passiva que, na verdade, ele já obteve pela sua maneira de aparecer sem réplica, pelo seu monopólio da aparência. (12) O espetáculo submete a si os homens vivos, na medida em que a economia já os submeteu totalmente. Ele não é nada mais do que a economia desenvolvendo-se para si mesma. É o reflexo fiel da produção das coisas, e a objetivação infiel dos produtores. (16) Lá onde o mundo real se converte em simples imagens, as simples imagens tornam-se seres reais e motivações eficientes de um comportamento hipnótico.(18) À medida que a necessidade se encontra socialmente sonhada, o sonho torna-se necessário. O espetáculo é o mau sonho da sociedade moderna acorrentada, que finalmente não exprime senão o seu desejo de dormir. O espetáculo é o guardião deste sono. (21) O fato de o poder prático da sociedade moderna ter se desligado dela, e ter edificado para si um império independente no espetáculo, não se pode explicar senão pelo fato de esta prática poderosa continuar a ter falta de coesão e permanecer em contradição consigo mesma. (22) É a especialização do poder, a mais velha especialização social, que está na raiz do espetáculo. O espetáculo é, assim, uma atividade especializada que fala pelo conjunto das outras. É a representação diplomática da sociedade hierárquica diante de si mesma, onde qualquer outra palavra é banida. O mais moderno é também aí o mais arcaico. (23) A cisão generalizada do espetáculo é inseparável do Estado moderno, isto é, da forma geral da cisão na sociedade, produto da divisão do trabalho social e órgão da dominação de classe. (24) No espetáculo, uma parte do mundo representa-se perante o mundo, e lhe é superior. O espetáculo não é mais do que a linguagem comum desta separação. O que une os espectadores não é mais do que uma relação irreversível no próprio centro que mantém o seu isolamento. O espetáculo reúne o separado, mas reúne-o enquanto separado. (29) O trabalhador não se produz a si próprio, ele produz um poder independente. O sucesso desta produção, a sua abundância, regressa ao produtor como abundância da despossessão. Todo o tempo e o espaço do seu mundo se tornam estranhos para ele. com a acumulação dos seus produtos alienados. As próprias forças que nos escaparam mostram-se a nós em todo o seu poderio. (31) O homem separado do seu produto produz cada vez mais poderosamente todos os detalhes do seu mundo e, assim, encontra-se cada vez mais separado do seu mundo. Quanto mais a sua vida é agora seu produto, tanto mais ele está separado da sua vida. (33) O espetáculo é o capital a um tal grau de acumulação que se torna imagem. (34) Alguns valores cinematográficos poderiam ser reconhecidos neste filme se o ritmo presente fosse mantido; o que não será feito. A teoria crítica deve comunicar-se na sua própria linguagem. É a linguagem da contradição, que deve ser dialética na sua forma como no seu conteúdo. Ela é crítica da totalidade e critica histórica. Não é um "grau zero da escrita" mas a sua reinversão. Não é uma negação do estilo, mas o estilo da negação. (204) Mesmo no seu estilo, a exposição da teoria dialética é um escândalo e uma abominação segundo as regras da linguagem dominante, e também para o gosto que elas educaram, porque no emprego positivo dos conceitos existentes ela inclui ao mesmo tempo a inteligência da sua fluidez reencontrada, da sua destruição necessária. (205) Este estilo, que contém a sua própria crítica, deve exprimir a dominação da crítica presente sobre todo o seu passado. Por ele, o modo de exposição da teoria dialética é testemunha do espírito negativo que nela reside. "A verdade não é como o produto no qual não mais se encontra o vestígio do instrumento". Esta consciência teórica do movimento, na qual o próprio traço do movimento deve estar presente, manifesta-se pela reinversão das relações estabelecidas entre os conceitos e pelo desvio de todas as aquisições da crítica anterior. (206) As idéias melhoram. O sentido das palavras entra em jogo. O plágio é necessário. O progresso o implica. Ele se achega à frase de um autor, serve-se das suas expressões, suprime uma idéia falsa, substitui-a pela idéia justa. (207) O desvio é a linguagem fluída da anti-ideologia. Ele aparece na comunicação que sabe não poder deter nenhuma garantia em si mesma e definitivamente. Ele é, no mais alto ponto, a linguagem que nenhuma referência antiga e supracrítica pode confirmar. É, pelo contrário, a sua própria coerência, em si próprio e para com os fatos praticáveis, que pode confirmar o antigo núcleo de verdade que ele volta a trazer consigo. O desvio não fundou a sua causa sobre nada de exterior à sua própria verdade como crítica presente. (208) O que, na formulação teórica, se apresenta abertamente como desviado, ao desmentir toda a autonomia durável da esfera do teórico expresso, ao fazer intervir aí, por esta violência, a ação que perturba e varre toda a ordem existente, faz lembrar que esta existência do teórico não é nada em si mesma, e não tem que conhecer-se senão com a ação histórica, e a correção histórica que é a sua verdadeira fidelidade. (209) Aquilo que o espetáculo tira da realidade precisa ser devolvido a ela. A expropriação espetacular precisa, por sua vez, ser expropriada. O mundo já foi filmado. Falta agora mudá-lo. Trata-se de possuir efetivamente a comunidade do diálogo e de atuar com o tempo representados na obra poético-artística. (187) Quando a arte tornada independente representa o seu mundo com cores resplandecentes, o momento da vida envelhece e não rejuvenesce com as cores resplandecentes. Ele deixa-se somente evocar na recordação. A grandeza da arte não começa a aparecer senão no poente da vida. (188) Tudo bem, Mr. Logan? Não consigo dormir. Posso ajudar em alguma coisa? Faça com que a noite passe depressa. O que mantém você acordada? Sonhos. Sonhos ruins. Sim. Vez por outra também tenho pesadelos. Tome, isso os afastará. Já tentei, já não adianta mais nada Quantos homens você já esqueceu? A mesma quantidade de mulheres que você lembra. Assim, da mesma forma que a prática direta da arte deixou de ser a atividade mais destacada, dando lugar à teoria, a teoria, por sua vez, perdeu seu destaque para a prática holística pós-teórica que está agora em desenvolvimento, uma prática cuja missão primária é ser a base e o cumprimento tanto da arte como da filosofia. August von Cieszkowski, Prolegomena to Historiosophy. O próprio pensamento da organização social da aparência está obscurecido pela subcomunicação generalizada que ele defende. Os especialistas do poder do espetáculo, poder absoluto no interior do seu sistema de linguagem de mão única, estão absolutamente corrompidos pela sua experiência do desprezo e do êxito do desprezo; porque reencontram o seu desprezo confirmado pelo conhecimento do homem desprezível que é realmente o espectador. (195) Neste movimento essencial do espetáculo que consiste em ingerir tudo o que existe na atividade humana em estado fluído para depois vomitá-lo em estado coagulado, para que as coisas assumam seu valor exclusivamente pela formulação em negativo do valor vivido — nós reconhecemos a nossa velha inimiga que embora pareça trivial à primeira vista é intensamente complexa e cheia de sutilezas metafísicas, a mercadoria. (35) É pelo princípio do fetichismo da mercadoria, a dominação da sociedade por "coisas supra-sensíveis embora sensíveis", que o espetáculo se realiza absolutamente. O mundo sensível é substituído por uma seleção de imagens que existem acima dele ao mesmo tempo em que se faz reconhecer como o sensível por excelência. (36) O mundo ao mesmo tempo presente e ausente que o espetáculo apresenta é o mundo da mercadoria dominando tudo o que é vivido. O mundo da mercadoria é mostrado como ele é, com seu movimento idêntico ao afastamento dos homens entre si, diante de seu produto global. (37) A dominação da mercadoria sobre a economia exerceu-se, antes de mais nada de uma maneira oculta. A mercadoria, enquanto base material da vida social, permaneceu desapercebida e incompreendida, como o parente que apesar de sua condição não é conhecido. Numa sociedade em que a mercadoria concreta permanece rara ou minoritária, a dominação aparente do dinheiro se apresenta como um emissário munido de plenos poderes que fala em nome de uma potência desconhecida. Com a revolução industrial, a divisão do trabalho e a produção maciça para o mercado mundial, a mercadoria aparece efetivamente como uma potência que vem realmente ocupar a vida social. É aí que se constitui a economia política como ciência dominante e como ciência da dominação. (41) O espetáculo é uma permanente guerra do ópio para fazer aceitar a identificação dos bens às mercadorias; e da satisfação à sobrevivência, aumentando segundo as suas próprias leis. Mas se a sobrevivência consumível é algo que deve aumentar sempre, é porque ela não cessa de conter a privação. Se não há nenhum além para a sobrevivência aumentada, nenhum ponto onde ela poderia cessar o seu crescimento, é porque ela própria não está para além da privação, mas é sim a privação tornada mais rica. (44) O valor da troca não pode formar-se senão como agente do valor de uso, mas a sua vitória pelas suas próprias armas criou as condições da sua dominação autônoma. Mobilizando todo o uso humano e apoderando-se do monopólio da sua satisfação, ela acabou por dirigir o uso. O processo de troca identificou-se a todo o uso possível e reduziu-o à sua mercê. O valor de troca é o condottiere do valor de uso, que acaba por conduzir a guerra por sua própria conta. (46) O valor de uso, que estava implicitamente compreendido no valor de troca, deve estar agora explicitamente proclamado na realidade invertida do espetáculo, justamente porque a sua realidade efetiva é corroída pela economia mercantil superdesenvolvida; e porque uma pseudojustificação se torna necessária à falsa vida. (48) O resultado concentrado do trabalho social, no momento da abundância econômica, toma-se aparente e submete toda a realidade à aparência, que é agora seu produto. O capital não é já o centro invisível que dirige o modo de produção: a sua acumulação estende-o até à periferia, sob a forma de objetos sensíveis. Toda a vastidão da sociedade é o seu retrato. (50) O espetáculo, como a sociedade moderna, está ao mesmo tempo unido e dividido. Como esta, ele edifica a sua unidade sobre o dilaceramento. A contradição, quando emerge no espetáculo, é por sua vez contradita por uma reinversão do seu sentido; de modo que a divisão mostrada é unitária, enquanto que a unidade mostrada está dividida. (54) É a luta de poderes, que se constituíram para a gestão do mesmo sistema socioeconômico, que se desenrola como a contradição oficial, pertencente de fato à unidade real; isso, à escala mundial assim como no interior de cada nação. (55) As falsas lutas espetaculares das formas rivais do poder separado são, ao mesmo tempo, reais naquilo em que traduzem o desenvolvimento desigual e conflitual do sistema, os interesses relativamente contraditórios das classes ou das subdivisões de classes que reconhecem o sistema, e definem a sua própria participação no seu poder. Estas diversas aposições podem exprimir-se no espetáculo, segundo critérios completamente diferentes, como formas de sociedades absolutamente distintas. Mas segundo a sua realidade efetiva de setores particulares, a verdade da sua particularidade reside no sistema universal que as contém: no movimento único que faz do planeta seu campo, o capitalismo. (56) O movimento de banalização que, sob a diversão furta-cor do espetáculo, domina mundialmente a sociedade moderna, domina-a também em cada um dos pontos onde o consumo desenvolvido das mercadorias multiplicou na aparência os papéis a desempenhar e os objetos a escolher. A sobrevivência da religião e da família - que permanece a forma principal da herança do poder de classe, e, portanto, da repressão moral que elas asseguram, podem combinar-se como uma mesma coisa, com a afirmação redundante do gozo deste mundo, este mundo não sendo justamente produzido senão como pseudogozo que conserva em si a repressão. A aceitação beata daquilo que existe pode juntar-se como uma mesma coisa à revolta puramente espetacular: isto traduz o simples fato de que a própria insatisfação se tornou uma mercadoria desde que a abundância econômica se achou capaz de alargar a sua produção ao tratamento de uma tal matéria-prima. (59) Ao concentrar nela a imagem de um possível papel a desempenhar, a vedete, a representação espetacular do homem vivo, concentra, pois, esta banalidade. A condição de vedete é a especialização do vivido aparente, o objeto da identificação à vida aparente sem profundidade, que deve compensar a redução a migalhas das especializações produtivas efetivamente vividas. As vedetes existem para figurar tipos variados de estilos de vida e de estilos de compreensão da sociedade, livres de se exercerem globalmente. Elas encarnam o resultado inacessível do trabalho social, ao arremedar subprodutos deste trabalho que são magicamente transferidos acima dele como sua finalidade: o poder e as férias, a decisão e o consumo, que estão no começo e no fim de um processo indiscutido. Lá, é o poder governamental que se personaliza em pseudovedete; aqui, é a vedete do consumo que se submete a um plebiscito como pseudopoder sobre o vivido. Mas, assim como estas atividades da vedete não são realmente globais, elas não são variadas. (60) É a unidade da miséria que se esconde sob as oposições espetaculares. Se formas diversas da mesma alienação se combatem sob as máscaras da escolha total, é porque elas são todas identificadas sobre as contradições reais recalcadas. Conforme as necessidades do estágio particular da miséria, que ele desmente e mantém, o espetáculo existe sob uma forma concentrada ou sob uma forma difusa. Nos dois casos, ele não é mais do que uma imagem de unificação feliz, cercada de desolação e de pavor, no centro tranqüilo da infelicidade. (63) O espetacular concentrado pertence essencialmente ao capitalismo burocrático, embora possa ser importado como técnica do poder estatal sobre economias mistas mais atrasadas, ou em certos momentos de crise do capitalismo avançado. A própria propriedade burocrática é efetivamente concentrada, no sentido em que o burocrata individual não tem relações com a posse da economia global senão por intermédio da comunidade burocrática, senão enquanto membro desta comunidade. Além disso, a produção menos desenvolvida das mercadorias apresenta-se, também, sob uma forma concentrada: a mercadoria que a burocracia detém é o trabalho social total, e o que ela revende à sociedade é a sua sobrevivência em bloco. A ditadura da economia burocrática não pode deixar às massas exploradas nenhuma margem notável de escolha, visto que ela teve de escolher tudo por si própria, e que toda outra escolha exterior, quer diga respeito à alimentação ou à música, é já a escolha da sua destruição completa. (64) O espetacular difuso acompanha a abundância das mercadorias, o desenvolvimento não perturbado do capitalismo moderno. Aqui, cada mercadoria considerada isoladamente está justificada em nome da grandeza da produção da totalidade dos objetos, de que o espetáculo é um catálogo apologético. Afirmações inconciliáveis amontoam-se na cena do espetáculo unificado da economia abundante; do mesmo modo que diferentes mercadorias-vedetes sustentam, simultaneamente, os seus projetos contraditórios de ordenação da sociedade, onde o espetáculo dos automóveis implica uma circulação perfeita, que destrói a parte velha da cidade, enquanto o espetáculo da própria cidade tem necessidade de bairros-museus. Portanto, a satisfação já problemática, que é reputada pertencer ao consume do conjunto, está imediatamente falsificada pelo fato de o consumidor real não poder receber diretamente mais do que uma sucessão de fragmentos desta felicidade mercantil, fragmentos dos quais a qualidade atribuída ao conjunto está evidentemente ausente. (65) Cada mercadoria determinada luta para si própria, não pode reconhecer as outras, pretende impor-se em toda a parte como se fosse a única. O espetáculo é, então, o canto épico deste afrontamento, que a queda de nenhuma Ílion poderia concluir. O espetáculo não canta os homens e as suas armas, mas as mercadorias e as suas paixões. É nesta luta cega que cada mercadoria, ao seguir a sua paixão, realiza, de fato, na inconsciência algo de mais elevado: o devir-mundo da mercadoria, que é também o devir-mercadoria do mundo. Assim, por uma astúcia da razão mercantil o particular da mercadoria gasta-se ao combater, enquanto a forma mercadoria tende para a sua realização absoluta. (66) Na imagem da unificação feliz da sociedade pelo consumo, a divisão real está somente suspensa até à próxima não-completa realização no consumível. Cada produto particular que deve representar a esperança de um atalho fulgurante para aceder, enfim, à terra prometida do consumo total, é, por sua vez, apresentado cerimoniosamente como a singularidade decisiva. Mas como no caso da difusão instantânea das modas de nomes aparentemente aristocráticos que se vão encontrar usados por quase todos os indivíduos da mesma idade, o objeto do qual se espera um poder singular não pôde ser proposto à devoção das massas senão porque ele foi tirado num número de exemplares suficientemente grande para ser consumido massivamente. O caráter prestigioso deste produto decorre apenas do fato de ter sido colocado por um momento no centro da vida social, como o mistério revelado da finalidade da produção. O objeto, que era prestigioso no espetáculo, torna-se vulgar no instante em que entra em casa desse consumidor ao mesmo tempo que na casa de todos os outros. Ele revela demasiado tarde a sua pobreza essencial, que retira da miséria da sua produção. Mas é já um outro objeto que traz a justificação do sistema e a exigência de ser reconhecido. (69) A própria impostura da satisfação denuncia-se no momento em que se desloca, ao seguir a mudança dos produtos e das condições gerais da produção. Aquilo que afirmou, com o mais perfeito descaramento, a sua própria excelência definitiva muda não só no espetáculo difuso, mas também no espetáculo concentrado, e é só o sistema que deve continuar: Stálin, como a mercadoria fora de moda, é denunciado por aqueles mesmos que o impuseram. Cada nova mentira da publicidade é também a confissão da sua mentira precedente. Cada derrocada de uma figura do poder totalitário revela a comunidade ilusória que a aprovava unanimemente e que não era mais do que um aglomerado de solidões sem ilusões. (70) O espetáculo é absolutamente dogmático e, ao mesmo tempo, não pode chegar a nenhum dogma sólido. Para ele, nada pára; este é seu estado natural e, no entanto, o mais contrário à sua propensão. A unidade irreal que o espetáculo proclama é a máscara da divisão de classe sobre a qual repousa a unidade real do modo de produção capitalista. O que obriga os produtores a participar na edificação do mundo é também o que disso os afasta. O que põe em relação os homens libertos das suas limitações locais e nacionais é também o que os distancia. O que obriga ao aprofundamento do racional é também o que alimenta o racional da exploração hierárquica e da repressão. O que faz o poder abstrato da sociedade faz a sua não-liberdade concreta. (72) Companheiros proletários, estamos realmente vivendo? Essa era, quando não temos absolutamente nada daquilo que precisamos para viver, pode ser chamado de vida? Quando é que descobriremos que cada ano que passa é mais um ano de vida jogado fora?”. Descanso e comida não seriam remédios fracos demais para essa doença crônica que nos aflige? Aquilo que chamamos de "último suspiro" não seria o derradeiro e supremo ataque dessa doença que sofremos desde o momento de nosso nascimento?. A produção capitalista unificou o espaço, que não é mais limitado pelas sociedades exteriores. Esta unificação é, ao mesmo tempo, um processo extensivo e intensivo de banalização. A acumulação das mercadorias produzidas em série para o espaço abstrato do mercado, do mesmo modo que devia quebrar todas as barreiras regionais e legais, e todas as restrições as corporativas da Idade Média que mantinham a qualidade da produção artesanal, devia também dissolver a autonomia e a qualidade dos lugares. Este poder de homogeneização é a artilharia pesada que fez cair todas as muralhas da China. (165) É para se tornar cada vez mais idêntico a si próprio, para se aproximar o melhor possível da monotonia imóvel, que o espaço livre da mercadoria é, doravante, a cada instante modificado e reconstruído. (166) Esta sociedade que suprime a distância geográfica, recolhe interiormente a distância, enquanto separação espetacular. (167) Subproduto da circulação das mercadorias, a circulação humana considerada como um consumo, o turismo reduz-se fundamentalmente à distração de ir ver o que se tornou banal. A ordenação econômica da freqüência de lugares diferentes é já por si mesma a garantia da sua equivalência. A mesma modernização que retirou da viagem o tempo, retirou-lhe também a realidade do espaço. (168) "Uma sociedade baseada na expansão do trabalho industrial alienado torna-se, naturalmente, tão completamente insalubre, barulhenta, feia e suja como uma fábrica" A sociedade que modela tudo o que a rodeia edificou a sua técnica especial para trabalhar a base concreta deste conjunto de tarefas: o seu próprio território. O urbanismo é esta tomada de posse do meio ambiente natural e humano pelo capitalismo que, ao desenvolver-se logicamente em dominação absoluta, pode e deve agora refazer a totalidade do espaço como seu próprio cenário. (169) O homem está agora novamente retornando às cavernas... Com a diferença de que o trabalhador tem apenas um precário direito de habitar essas modernas cavernas: elas são habitações alheias das quais ele pode ser despejado a qualquer momento se não tiver dinheiro para pagar. Sim, ele realmente tem que pagar para viver nessas catacumbas. Marx, Manuscritos de 1844 Se todas as forças técnicas da economia capitalista devem ser compreendidas como operando separações, no caso do urbanismo trata-se do equipamento da sua base geral, do tratamento do solo que convém ao seu desenvolvimento; da própria técnica da separação.(171) Pela primeira vez, uma arquitetura nova, que em cada época anterior era reservada à satisfação das classes dominantes, encontra-se diretamente destinada aos pobres. A miséria formal e a extensão gigantesca desta nova experiência de habitat provêm em conjunto do seu caráter de massa, que está implícito, ao mesmo tempo, na sua destinação e pelas condições modernas de construção. O limiar transposto no crescimento do poder material da sociedade e o atraso da dominação consciente deste poder estão expostos no urbanismo. (173) O meio ambiente está sendo transformado rápida e descuidadamente para benefício do lucro e do controle repressivo, tornando-se ao mesmo tempo mais vulneravel e mais propício ao vandalismo. O capitalismo em sua fase espetacular transforma tudo com material inferior e cria os revoltosos. Seu aspecto é tão inflamável quanto uma escola francesa. A história que ameaça este mundo crepuscular é também a força que pode submeter o espaço ao tempo vivido. A revolução proletária é esta crítica da geografia humana, através da qual os indivíduos e as comunidades têm a construir os lugares e os acontecimentos correspondendo à apropriação, já não só do seu trabalho, mas da sua história total. Neste espaço movente do jogo, e das variações livremente escolhidas das regras do jogo, a autonomia do lugar pode reencontrar-se sem reintroduzir uma afeição exclusiva à terra, e assim, restabelecer a realidade da viagem, tendo em si própria todo o seu sentido. (178) O que toma, senhor? - Um whisky. javaneses, sumatranos, hindus, chineses, portugueses, filipinos, russos, malaios..., é como um sabbath de bruxas!. Qualquer outro lugar parece um jardim da infância comparado com isto. O cheiro é tão inacreditavelmente mal. Eu jamais imaginei que um lugar como esse poderia existir. Tem uma familiaridade horrível, como um sonho lembrado pela metade. Qualquer coisa pode acontecer aqui, a qualquer momento. O tempo da produção, o tempo-mercadoria, é uma acumulação infinita de espaços equivalentes. É a abstração do tempo irreversível, de que todos os segmentos devem provar ao cronômetro a sua única igualdade quantitativa. Este tempo é, em toda a sua realidade efetiva, o que ele é no seu caráter permutável. (147) O tempo geral do não desenvolvimento humano existe também sob o aspecto complementar de um tempo consumível que regressa à vida quotidiana da sociedade, a partir desta produção determinada, como um tempo, pseudocíclico.(148) O tempo pseudocíclico é o do consumo da sobrevivência econômica moderna, a sobrevivência aumentada, em que o vivido quotidiano continua privado de decisão e submetido, já não à ordem natural, mas à pseudonatureza desenvolvida no trabalho alienado; e, portanto, este tempo reencontra muito naturalmente o velho ritmo cíclico que regulava a sobrevivência das sociedades pré-industriais. O tempo pseudocíclico apóia-se ao mesmo tempo nos traços naturais do tempo cíclico, e dele compõe novas combinações homólogas: o dia e a noite, o trabalho e o repouso semanais, o retomo dos períodos de férias. (150) O tempo pseudocíclico consumível é o tempo espetacular, ao mesmo tempo como tempo de consumo das imagens, no sentido restrito, e como imagem do consumo do tempo, em toda a sua extensão. O tempo do consumo das imagens, médium de todas as mercadorias, é inseparavelmente o campo onde plenamente atuam os instrumentos do espetáculo e a finalidade que estes apresentam globalmente, como lugar e como figura central de todos os consumos particulares: A imagem social do consumo do tempo, por seu lado, é exclusivamente dominada pelos momentos de ócio e de férias, momentos representados à distancia e desejáveis, por postulado, como toda a mercadoria espetacular. Esta mercadoria é aqui explicitamente dada como o momento da vida real de que se trata esperar o regresso cíclico. Mas mesmo nestes momentos destinados à vida, é ainda o espetáculo que se dá a ver e a reproduzir, atingindo um grau mais intenso. O que foi representado como vida real, revela-se simplesmente como a vida mais realmente espetacular.(153) Enquanto o consumo do tempo cíclico das sociedades antigas estava de acordo com o trabalho real dessas sociedades, o consumo pseudocíclico da economia desenvolvida encontra-se em contradição com o tempo irreversível abstrato da sua produção. Enquanto o tempo cíclico era o tempo da ilusão imóvel, realmente vivido, o tempo espetacular é o tempo da realidade que se transforma, vivido ilusoriamente. (155) O que é sempre novo no processo da produção das coisas não se reencontra no consumo, que permanece o regresso alargado do mesmo. Porque o trabalho morto continua a dominar o trabalho vivo, no tempo espetacular o passado domina o presente. (156) Como um outro aspecto da deficiência da vida histórica geral, a vida individual não tem ainda história. Os pseudo-acontecimentos que se amontoam na dramatização espetacular não foram vividos pelos que deles são informados e, além disso, perdem-se na inflação da sua substituição precipitada a cada pulsão da maquinaria espetacular. Por outro lado, o que foi realmente vivido está sem relação com o tempo irreversível oficial da sociedade e em oposição direta ao ritmo pseudocíclico do subproduto consumível desse tempo. Este vivido individual da vida quotidiana separada permanece sem linguagem, sem conceito, sem acesso crítico ao seu próprio passado, que não está consignado em nenhum lado. Ele não se comunica. Está incompreendido e esquecido em proveito da falsa memória espetacular do não-memorável. (157) É a vida, você perde uma e encontra outra. Toque algo para mim, Mr. Guitar. Algo em especial? Apenas cante com bastante amor. Não cante tão bem assim senão todo mundo vai cagar nas mesas! O que é que este homem caprichoso está comendo? Não sei não. Qual é que é Kid, algum problema? Eu não tenho problema algum. Ele tem. Enganar uma mulher estrangeira pode trazer muita aflição a um homem. Você é estrangeira? Apenas para estrangeiros. O que está acontecendo com vocês dois? Apenas o que você está vendo meu irmão. Oh, você escolheu o lugar errado para vir, senhor! Foi ela quem me chamou, não você Olha que posso matar você, senhor. Cacete, você pode tocar uma melodia para ela Toque qualquer outra coisa Toque qualquer outra coisa O espetáculo, como organização social presente da paralisia da história e da memória, do abandono da história que se erige sobre a base do tempo histórico, é a falsa consciência do tempo. (158) Sob os modos aparentes que se anulam e se recompõem à superfície fútil do tempo pseudocíclico contemplado, o grande estilo da época está sempre no que é orientado pela necessidade evidente e secreta da revolução. (162) A meia-noite se aproxima Já que não posso usufruir das coisas boas dessa vida, estou determinado a provar de seus vis e podres prazeres. Este é meu melhor amigo, Omar Senhorita Poppy Smith. Você é um mercador egipcio? Não, sou um médico Doutor Omar de Shangai... e Gomorra. Tem algo a ver com o poeta Omar? o livro de poemas proibido... ...muito pão, um jarro de vinho e você do meu lado cantando no deserto... Você disse 'Doutor' Omar, doutor de quê? Doutor de Nada, senhorita Smith. Apenas soa importante e não fere ninguém, ao contrário da maioria dos doutores. E seu manto é real? Onde você nasceu? Meu nascimento aconteceu durante a lua cheia nas areias perto de Damasco. Meu pai era um vendedor de tabaco armênio. E minha mãe o mínimo que posso dizer a respeito dela é que foi a melhor mãe do mundo. Metade dela era francesa e a outra metade perdida na poeira do tempo. Em suma, eu sou um mongrel puro-sangue. Sou parente de qualquer pessoa na Terra e para mim nada que é humano... é estranho Então talvez você possa explicar como nossos amigos desapareceram de repente Estávamos sozinhos quando vimos o primeiro O raciocínio sobre a história é inseparavelmente raciocínio sobre o poder. A Grécia foi esse momento em que o poder e a sua mudança se discutem e se compreendem, a democracia dos Senhores da sociedade. Lá, era o inverso das condições conhecidas pelo Estado despótico, onde o poder nunca ajusta as suas contas senão consigo próprio, na inacessível obscuridade do seu ponto mais concentrado: pela revolução de palácio, que o êxito ou o revés põe igualmente fora de discussão. (134) Nas crônicas do Norte os homens agem em silêncio; declaram guerra, fazem acordos de paz, mas eles mesmos não dizem (nem suas crônicas) porque fazem a guerra ou porque razões assinam acordos de paz. Nas cidades ou nos tribunais do governo nada se ouve, tudo é silencio. Eles se reúnem por traz de portas fechadas e deliberam entre eles mesmos; as portas abrem, os homens saem e sobem ao palanque. As ações que resolveram adotar, guardam para si em silencio. Soloviev, The History of Russia from the Earliest Times Quando a seca cronologia, sem explicação, do poder divinizado falando aos seus servidores que não quer ser compreendida senão como execução terrestre dos mandamentos do mito, pode ser superada e se torna história consciente, tornou-se necessário que a participação real na história tivesse sido vivida por grupos extensos. Desta comunicação prática entre aqueles que se reconheceram como os possuidores de um presente singular, que sentiram a riqueza qualitativa dos acontecimentos assim como a sua atividade e o lugar onde habitavam - a sua época -, nasce a linguagem geral da comunicação histórica. Aqueles para quem o tempo irreversível existiu descobrem ao mesmo tempo nele o memorável e a ameaça do esquecimento: "Hérodoto de Halicarnasso apresenta aqui os resultados do seu inquérito, para que o tempo não possa abolir os trabalhos dos homens..." (133) Boa tarde, York. Boa tarde, General. Tomamos um café? Prepare-se para una campanha de inverno... mais longa ainda se for necessário. Há tempos que esperava suas ordens. Mas claro que não havia ouvido nada Claro que não, York. Se fracassa, posso assegurar que o conselho de guerra o julgará estará acompanhado por nossos antigos companheiros de Shenandoah. Escolherei eu mesmo Shenandoah Pergunto-me que escreverão os historiadores sobre Shenandoah. A vitória da burguesia é a vitória do tempo profundamente histórico, porque ele é o tempo da produção econômica que transforma a sociedade, de modo permanente e absoluto. Durante todo o tempo em que a produção agrária permaneça o trabalho principal, o tempo cíclico, que continua presente no fundo da sociedade, alimenta as forças coligadas da tradição, que vão travar o movimento. Mas o tempo irreversível da economia burguesa extirpa essas sobrevivências em toda a vastidão do mundo. A história, que tinha aparecido até aí como o único movimento dos indivíduos da classe dominante, e portanto escrita como história factual, é agora compreendida como um movimento geral, e neste movimento severo, os indivíduos são sacrificados. A história que descobre a sua base na economia política sabe agora da existência daquilo que era o seu inconsciente, mas que, no entanto, permanece ainda o inconsciente que ela não pode trazer à luz do dia. É somente esta pré-história cega, uma nova fatalidade que ninguém domina, que a economia mercantil democratizou.(141) Assim, a burguesia fez conhecer e impôs à sociedade um tempo histórico irreversível, mas recusa-lhe a utilização. "Houve história, mas já não há mais", porque a classe dos possuidores da economia, que não deve romper com a história econômica, deve recalcar assim como uma ameaça imediata qualquer outro emprego irreversível do tempo. A classe dominante, feita de especialistas da possessão das coisas, que por isso são eles próprios uma possessão das coisas, deve ligar a sua sorte à manutenção desta história reificada, à permanência de uma nova imobilidade na histórica. Pela primeira vez o trabalhador, na base da sociedade, não é materialmente estanho à história, porque é agora pela sua base que a sociedade se move irreversivelmente. Na reivindicação de viver o tempo histórico que ele faz, o proletariado encontra o simples centro inesquecível do seu projeto revolucionário; e cada uma das tentativas, até aqui destruídas, de execução deste projeto marca um ponto de partida possível da nova vida histórica.(143) Com o desenvolvimento do capitalismo, o tempo irreversível é unificado mundialmente. A história universal torna-se uma realidade, por que o mundo inteiro está reunido sob o desenvolvimento deste tempo. Mas esta história, que em toda a parte é ao mesmo tempo a mesma, ainda não é mais do que a recusa intra-histórica da história. É o tempo da produção econômica, dividido em fragmentos abstratos iguais, que se manifesta em todo o planeta como o mesmo dia. O tempo irreversível unificado é o do mercado mundial e, corolariamente, do espetáculo mundial. (145) O tempo irreversível da produção é, antes do mais, a medida das mercadorias. Assim, pois, o tempo que se afirma oficialmente em toda a extensão do mundo como o tempo geral da sociedade, não significando mais do que interesses especializados que o constituem, não é senão um tempo particular.(146) Como uma mesma corrente, desenvolvem-se as lutas de classes da longa época revolucionária, inaugurada pela ascensão da burguesia, e o pensamento da história, a dialética, o pensamento que já não pára à procura do sentido do sendo, mas que se eleva ao conhecimento da dissolução de tudo o que é; e no movimento dissolve toda a separação. (75) Este pensamento histórico ainda não é senão a consciência que chega sempre tarde de mais, e que enuncia a justificação post festum. Assim, ela não ultrapassou a separação senão no pensamento. O paradoxo, que consiste em suspender o sentido de toda a realidade ao seu acabamento histórico, e em revelar ao mesmo tempo este sentido constituindo-se a si próprio em acabamento da história, resulta do simples fato de o pensador das revoluções burguesas dos séculos XVII e XVIII não ter procurado na sua filosofia senão a reconciliação com o seu resultado.(76) Quando o proletariado manifesta, pela sua própria existência em atos, que este pensamento da história não foi esquecido, o desmentido da conclusão é igualmente a confirmação do método. (77) A carência na teoria de Marx é naturalmente a carência da luta revolucionária do proletariado da sua época. A classe operária não decretou a revolução permanente na Alemanha de 1848; a Comuna foi vencida no isolamento. A teoria revolucionária não pôde, pois, atingir ainda a sua própria existência total. (85) Toda a insuficiência teórica na defesa científica da revolução proletária pode ser reduzida, quanto ao conteúdo assim como quanto à forma do enunciado, a uma identificação do proletariado com a burguesia, do ponto de vista da tomada revolucionária do poder.(86) -Tenente? - De Jordan? Sim, leia-o -O quê? -Demasiado tarde… Já nos localizaram. Desta vez seremos derrotados... Ruim... sim... Muito ruim... As duas únicas classes que correspondem efetivamente à teoria de Marx, as duas classes puras às quais leva toda a análise no Capital, a burguesia e o proletariado, são igualmente as duas únicas classes revolucionárias da história, mas a títulos diferentes: a revolução burguesa está feita; a revolução proletária é um projeto, nascido na base da precedente revolução, mas dela diferindo qualitativamente. Ao negligenciar a originalidade do papel histórico da burguesia encobre-se a originalidade concreta deste projeto proletário, que nada pode atingir senão ostentando as suas próprias cores e conhecendo "a imensidade das suas tarefas". A burguesia veio ao poder porque é a classe da economia em desenvolvimento. O proletariado não pode ele próprio ser o poder, senão tornando-se a classe da consciência. O amadurecimento das forças produtivas não pode garantir um tal poder, mesmo pelo desvio da despossessão crescente que traz consigo. A tomada jacobina do Estado não pode ser um instrumento seu. Nenhuma ideologia Ihe pode servir para disfarçar fins parciais em fins gerais, porque ele não pode conservar nenhuma realidade parcial que seja efetivamente sua. (88) Esta alienação ideológica da teoria já não pode, então, reconhecer a verificação prática do pensamento histórico unitário que ela traiu, quando uma tal verificação surge na luta espontânea dos operários; ela pode somente concorrer para reprimir-lhe a manifestação e a memória. Todavia, estas formas históricas aparecidas na luta são justamente o meio prático que faltava à teoria para que ela fosse verdadeira. Elas são uma exigência da teoria, mas que não tinha sido formulada teoricamente. O soviete não era uma descoberta da teoria. E a mais alta verdade teórica da Associação Internacional dos Trabalhadores, era já a sua própria existência na prática. (90) Você aprenderá quão amargo é o pão estrangeiro, e quão difícil é escalar degraus alheios. E o fardo mais pesado no vale do exílio será ver-se condenado na forma de uma companhia tola e desagradável. Mas depois virá a honra pela coragem de se levantar sozinho e formar um partido de uma só pessoa. O mesmo momento histórico, em que o bolchevismo triunfou para si mesmo na Rússia, e onde a social-democracia combateu vitoriosamente para o velho mundo marca o nascimento acabado de uma ordem de coisas que está no coração da dominação do espetáculo moderno: a representação operária opôs-se radicalmente à classe. (100) Aqueles que se esforçam na montagem de um estado totalitário burocrático capitalista sem esmagar os conselhos não irão muito longe. Também não irão muito longe aqueles que tentam abolir a sociedade de classes sem condenar todos os sindicatos e partidos hierárquicos especializados. Esta industrialização da época estalinista revela a realidade última da burocracia: ela é a continuação do poder da economia, a salvação do essencial da sociedade mercantil mantendo o trabalho-mercadoria. É prova da economia independente que domina a sociedade ao ponto de recriar para os seus próprios fins a dominação de classe que Ihe é necessária: o que se resume em dizer que a burguesia criou um poder autônomo que, enquanto subsistir esta autonomia, pode ir até ao prescindir de uma burguesia. A burocracia totalitária não é "a última classe proprietária da história" no sentido de Bruno Rizzi, mas somente uma classe dominante de substituição para a economia mercantil. A propriedade privada capitalista enfraquecida é substituída por um subproduto simplificado, menos diversificado, concentrado em propriedade coletiva da classe burocrática. Esta forma subdesenvolvida de classe dominante é também a expressão do subdesenvolvimento econômico; e não tem outra perspectiva senão a de recuperar o atraso deste desenvolvimento em certas regiões do mundo. É o partido operário, organizado segundo o modelo burguês da separação, que forneceu o quadro hierárquico-estatal a esta edição suplementar da classe dominante. (104) A classe ideológica totalitária no poder é o poder de um mundo reinvertido: quanto mais ela é forte, mais ela afirma que não existe, e a sua força serve-lhe antes do mais para afirmar a sua inexistência. Ela é modesta nesse único ponto, porque a sua inexistência oficial deve também coincidir com o nec plus ultra do desenvolvimento histórico, que simultaneamente se deveria ao seu infalível comando. Exposta por toda a parte a burocracia deve ser a classe invisível para a consciência, de forma que é toda a vida social que se torna demente. A organização social da mentira absoluta decorre desta contradição fundamental. (106) Quanto mais nos aprofundamos na mentalidade burocrática, mais nos surpreendemos com ela. Marx, Observações sobre a Recente Censura prussiana O estalinismo foi o reino do terror na própria classe burocrática. O terrorismo que funda o poder desta classe deve também atingir esta classe, porque ela não possui nenhuma garantia jurídica, nenhuma existência reconhecida enquanto classe proprietária que ela poderia estender a cada um dos seus membros. A sua propriedade real está dissimulada, e ela não se tomou proprietária senão pela via da falsa consciência. A falsa consciência não mantém o seu poder absoluto senão pelo terror absoluto, onde todo o verdadeiro motivo acaba por perder-se. Os membros da classe burocrática no poder não têm o direito de posse sobre a sociedade senão coletivamente, enquanto participantes numa mentira fundamental: é precise que eles desempenhem o papel do proletariado dirigindo uma sociedade socialista; que sejam os atores fiéis ao texto da infidelidade ideológica. Mas a participação efetiva neste ser mentiroso deve, ela própria, ver-se reconhecida como uma participação verídica. Nenhum burocrata pode sustentar individualmente o seu direito ao poder, pois provar que é um proletário socialista seria manifestar-se como o contrário de um burocrata; e provar que é um burocrata é impossível, uma vez que a verdade oficial da burocracia é a de não ser. Assim, cada burocrata está na dependência absoluta de uma garantia central da ideologia, que reconhece uma participação coletiva ao seu "poder socialista" de todos os burocratas que ela não aniquila. Se os burocratas, considerados no seu conjunto, decidem tudo, a coesão da sua própria classe não pode ser assegurada senão pela concentração do seu poder terrorista numa só pessoa. Nesta pessoa reside a única verdade prática da mentira no poder: a fixação indiscutível da sua fronteira sempre retificada. Stálin decide sem apelo quem é finalmente burocrata possuidor; isto é, quem deve ser chamado "proletário no poder" ou então "traidor a soldo do Mikado e de Wall Street". Os átomos burocráticos não encontram a essência comum do seu direito senão na pessoa de Stálin. Stálin é esse soberano do mundo que se sabe deste modo a pessoa absoluta, para a consciência da qual não existe espírito mais alto. "O soberano do mundo possui a consciência efetiva do que ele é - o poder universal da efetividade na violência destrutiva que exerce contra o Eu de seus sujeitos que lhe faz contraste." Ao mesmo tempo que é o poder que define o terreno da dominação, ele é "o poder devastando esse terreno".(107) -Camaradas! Uma notícia alarmante. O Reichstag está en chamas. A rádio fascista deu a entender que os comunistas incendiaram o Reichstag. Uma monstruosa provocação do governo nazista... -A reunião está dissolvida! -Querem proibir nosso partido sufocar a voz da classe operária... -Enquanto existir comunistas na Alemanha não cessará nunca a luta contra Hitler! -Lutemos pela paz entre todos os povos, já que Hitler, camaradas... Hitler é a guerra! Há um vale na Espanha chamado Jarama, é um lugar que todos nós conhecemos muito bem. Foi lá que perdemos não apenas a coragem, como também os melhores anos de nossas vidas. Esta paz social restabelecida com grande dificuldade não durou mais do que alguns poucos anos quando apareceram, para anunciar seu fim, aqueles que entrariam na história do crime sob o nome de situacionistas. Quando o proletariado descobre que a sua própria força exteriorizada concorre para o reforço permanente da sociedade capitalista já não só sob a forma de trabalho seu, mas também sob a forma dos sindicatos, dos partidos ou do poder estatal que ele tinha constituído para se emancipar, descobre também pela experiência histórica concreta que ele é a classe totalmente inimiga de toda a exteriorização petrificada e de toda a especialização do poder. Ele traz a revolução que não pode deixar nada no exterior de si própria, a exigência da dominação permanente do presente sobre o passado, e a crítica total da separação; e é disto que ele deve encontrar a forma adequada na ação. Nenhuma melhoria quantitativa da sua miséria, nenhuma ilusão de integração hierárquica é um remédio durável para a sua insatisfação, porque o proletariado não pode reconhecer-se veridicamente num dano particular que teria sofrido, nem, portanto, na reparação de um dano particular, nem de um grande número desses danos, mas somente no dano absoluto de estar posto à margem da vida. (114) Camaradas: Considerando que a fábrica de aviação de Nantes foi ocupada por dois dias pelos trabalhadores e estudantes daquela cidade e que hoje o movimento está se espalhando por diversas fábricas (NMPP em Paris, Renault em Cléon, e outras), o Comitê de Ocupação de Sorbonne chama para a imediata ocupação de todas as fábricas na França e a formação de Conselhos de Trabalhadores. Camaradas: Espalhem e reproduzam este apelo tão rápido quanto possível. Sorbone, 16 de maio, 15:00 horas. Ocupação de fábricas Conselhos operários De hoje até o fim do mundo do espetáculo, o mês de maio nunca passará sem que evoque nossa memória. Nós poucos, poucos e felizes, unidos, irmanados. Camaradas, a humanidade não será feliz até que... ABAIXO COM A SOCIEDADE DO ESPETÁCULO MERCANTIL Não se iluda pensando que eles não têm um plano. Eles têm sim; se eles não tivessem, as circunstâncias por si só os forçaria a desenvolver um. Uma conquista conduz a outra; uma vitória abre o apetite para mais vitórias. Machiavel, carta a Francesco Vettori Corra, camarada, o velho mundo está atrás de você! Desde 25 de fevereiro, milhares de sistemas estranhos afluem diante da imaginação impetuosa de inovadores e se espalham através da mente agitada da multidão... Parece que o choque da revolução reduziu toda a sociedade em poeira, e que existe uma competição aberta para determinar a forma de uma nova estrutura a ser colocada em seu lugar. Cada um tem seu próprio esquema. Alguns estão impressos em jornais; outros em cartazes que logo são colados nos muros; outros ainda são proclamados em encontros ao ar livre. Uns defendem a abolição da desigualdade da riqueza; outros a desigualdade na educação, um terceiro propõe dar um fim à mais velha de todas as desigualdades, entre homens e mulheres. São prescritos remédios contra a pobreza e contra a maldição do trabalho que vem atormentando a humanidade desde os primeiros dias. Alexis de Tocqueville, Lembranças da Revolução Francesa de 1848. Nem a madeira nem o fogo acham qualquer paz ou satisfação no calor, seja ele grande ou pequeno, ou semelhante a eles, até o momento em que o fogo se torna um com a madeira e lhe dá sua própria natureza. Eles estão sendo acusados de vandalismo e denunciados por desrespeitar as máquinas. Tais críticas teriam fundamentos se os trabalhadores estivessem buscando a destruição sistemática em si mesma. Mas este não é o caso! Se os trabalhadores estão atacando as máquinas, não é por prazer nem por capricho, mas porque a urgente necessidade os obriga fazer isso. Emile Pouget, Sabotage Aos novos sinais de negação, incompreendidos e falsificados pela ordenação espetacular, que se multiplicam nos países mais avançados economicamente, pode-se já tirar a conclusão de que uma nova época está aberta: depois da primeira tentativa de subversão operária, é agora a abundância capitalista que falhou. Quando as lutas anti-sindicais dos operários ocidentais são reprimidas primeiro que tudo pelos sindicatos, e quando as correntes revoltadas da juventude lançam um primeiro protesto informe, no qual, porém, a recusa da antiga política especializada, da arte e da vida quotidiana, está imediatamente implicada, estão aí as duas faces de uma nova luta espontânea que começa sob o aspecto criminal. São os signos precursores do segundo assalto proletário contra a sociedade de classe. (115) Lembra-se de mim? Nunca me recordo de mulheres bonitas, são muito caras. Então, Van Stratten, quer um iate novo? Não é sobre negócios, Sr. Tadeu. Queremos apenas que nos faça um favor Nunca concedo favores Queremos apenas uma pequena informação sobre a Polônia Nunca concedo informações... Polônia! Mais uma vez a Polônia é coberta de sangue e permanecemos como impotentes espectadores Declaração dos trabalhadores franceses na conferência de fundação da I Internacional, 28 de set. de 1864 Quando a realização, cada vez mais poderosa da alienação capitalista em todos os níveis, tornando cada vez mais difícil aos trabalhadores reconhecer e nomear a sua própria miséria, os coloca na alternativa de recusar a totalidade da sua miséria ou nada, a organização revolucionária teve de aprender que ela já não pode combater a alienação sob formas alienadas. (122) O próprio desenvolvimento da sociedade de classes até à organização espetacular da não-vida leva, pois, o projeto revolucionário a tornar-se visivelmente o que ele já era essencialmente. (123) A teoria revolucionária é, agora, inimiga de toda a ideologia revolucionária e sabe que o é. (124) Mas considerando o conteúdo desta experiência como um todo, notaremos que o trabalho desaparece a olhos vistos... Este desaparecimento é por si só bastante real: está estreitamente ligado aos seus limites e desaparece com ele. O negativo perece junto com o positivo que o nega É obviamente mais fácil fazer história quando nos engajamos apenas em lutas com sucesso garantido. Isto é tão óbvio que destruiria completamente esta sociedade. Temos que estar prontos para lançar duzias ou mais de assaltos como os de maio de 1968, e estar preparados para aceitar um certo número de derrotas e de guerras civis não apenas como desastres mas também como inevitáveis. Na história, o que faz diferença mesmo é a energia e a determinação com que são perseguidos os objetivos que se quer alcançar. Sétima de Michigan! Avante!... A trote!... A galope!... Ao ataque! Não, não vou fazer um discurso, vou propor um brinde, em estilo georgiano Os brindes georgianos sempre são antecedidos por uma pequena história... Eu tive um sonho. Sonhei que estava em um cemitério onde todas as lápides estavam marcadas de um modo curioso 1822-1826, 1930-1934... todas dessa forma, sempre com um tempo muito curto entre o nascimento e a morte. No cemitério havia um homem idoso. Eu lhe perguntei como foi que ele conseguiu viver tanto tempo quando todos viviam tão pouco em sua aldeia. Então ele respondeu: Não é que morremos cedo, é que por aqui as lápides não contam os anos de vida de um homem, mas apenas o período de tempo em que ele conseguiu manter uma amizade Um brinde à amizade! Quinta e Sexta de Michigan! Adiante! A trote! A galope! Ao ataque! 'E a lógica?' lamenta a rã chorando enquanto o escorpião se aproxima dela, 'Onde é que está a lógica disso?' 'Entendo', diz o escorpião, 'mas não posso evitar. Essa é minha natureza!' Um brinde à natureza! - 1º Cavalaría de Michigan! Ao ataque! Ao contrário do que parece, o mérito de nossa teoria não está no fato dela ser uma idéia correta, mas no fato dela ser absorvida naturalmente. Em suma - e isto deveria ser enfatizado continuamente, como acontece no campo da prática o propósito da teoria é treinar aquele que a pratica e não servir-lhe de muleta para cada passo que dá na realização de suas tarefas. Clausewitz, A Campanha de 1814 Legendas em Português: Antivalor www.antivalor.cjb.net.

Gabarito 2 exame de qualificacao uerj 2020 direito do consumidor produto com defeito dinheiro de volta Guarujá curso ios instituto da oportunidade social. Marabá florida bar exam average score TCC, como comecar um artigo jornalistico Relatório de Laboratório, mecanica dos solos adensamento Crítica Literária/Filme, art 739 a paragrafo 1o do cpc Código. Temas para tcc na administracao publica festa chapeuzinho vermelho rustica gabarito 2 exame de qualificacao uerj 2020 Maringá exames para renovacao cnh rj. Exames sangue e jejum Artigo Santa Luzia artigo sobre saude do trabalhador, curso intensivo de ferias espanhol.

Caxias do Sul:

Anita Rosario, Erie: Jewish Theological Seminary of America, Morningside Heights (Columbia University area). Erechim: CUNY Law School, Long Island City; 2011.

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