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Pacific College of Oriental Medicine - O relato deste documentário foi construído a partir da adaptação de textos de: V. I. Lênin, Leon Trotsky, Rosa Luxemburgo, John Reed, Vladimir Maiakovski e Pierre Broué, entre outros autores revolucionários. Instituto do Pensamento Socialista Karl Marx Apresenta Uma realização de CONTRAIMAGEM Com relatos de Eduardo 'Tato' Pavlovsky Silvia Helena Legaspi No capitalismo, o desenvolvimento da técnica e a maior produtividade do trabalho terminam aumentando a miséria. Somente uma minoria leva os lucros obtidos a partir da exploração de outros homens. Os ricos florescem sobre nossa miséria. O nível alcançado pelo desenvolvimento dos meios de produção permitiria a satisfação das necessidades materiais mínimas de toda a humanidade. Poderíamos erradicar as doenças, abolir o analfabetismo, acabar com a fome, semear os desertos. Mas o mundo está nas mãos dos capitalistas. A democracia imperialista é uma máscara que encobre a exploração de seres humanos, o saque do planeta e a destruição do meio ambiente, sem nenhuma preocupação com as gerações futuras. Entre as vastas extensões de terras e as maravilhas da tecnologia, a burguesia conseguiu converter nosso planeta em uma suja prisão. Como dizia Karl Marx: "A classe operária não tem nada a perder, a não ser seus grilhões." Escrava da maquinaria capitalista, ela é a única que pode parar a produção. Fazemos andar o transporte, as fábricas, as comunicações, os bancos, fazemos andar o mundo. A história da humanidade é a história da luta de classes. Pretendem esconder as grandes lutas pela liberdade. Se uma revolução é derrotada pelas armas, buscam que os vencidos sejam esquecidos. Se uma revolução é traída a partir de dentro, buscam impor a ideia de que esse é o único final possível. Para seguir nos expropriando todos os dias, os capitalistas necessitam expropriar nossa história. A história mais terrível para eles é aquela que mostra que podemos vencer. Eles se Atreveram A Revolução Russa de 1917 O mesmo país que na segunda metade do século XX seria uma super-potência mundial, por volta de 1900 era uma nação atrasada, governada por uma monarquia decadente. O Czar e a Czarina definhavam sobre a miséria do povo. A Rússia czarista era um velho império que oprimia diversas nacionalidades. Em seu imenso território pareciam conviver distintos séculos. Uma maioria esmagadora de camponeses sem-terra, pobres e analfabetos, oprimidos pela nobreza e pelos latifundiários, sobreviviam com uma agricultura que se mantinha no mesmo nível do século XVII. A monotonia do campo se quebrava na agitação das cidades. A grande indústria estabelecida em Petrogrado e Moscou concentrava uma classe operária a um nível comparável com a dos Estados Unidos, Inglaterra ou Alemanha. Os principais bancos, empresas e fábricas, estavam em mãos estrangeiras. A burguesia russa encontrava-se diretamente subordinada às burguesias imperialistas, por um lado, e ao czarismo e latifundiários, por outro. Enquanto a classe operária europeia havia se formado há séculos, a classe operária russa era jovem e forte. Recém-chegada do campo, sofreu a transformação repentina de suas condições de vida e de suas relações sociais. Este salto da vida monótona do campo à vida agitada das cidades, somado à luta contra a opressão czarista, permitiu que os operários fizessem suas as conclusões mais avançadas do pensamento revolucionário europeu. Esta Rússia dos contrastes não tardaria a estourar. 1905 A Primeira Revolução Russa Em 1905, os trabalhadores e o povo russo haviam protagonizado a primeira grande revolução do século. Em 1905, o czarismo estava em guerra com o Japão. "Para evitar a revolução, o que nos falta é uma pequena guerra vitoriosa", havia dito um Ministro. Mas a guerra avançava em direção à derrota, e essa foi a faísca que incendiou o descontentamento. No começo do ano, estoura a greve na fábrica Putilov e começa uma onda de lutas pela liberdade política, pelo fim da guerra, pela liberdade dos presos políticos. Em 9 de janeiro, 140 mil operários com suas famílias, dirigidos por um padre, marcham pacificamente ao Palácio de Inverno, residência do Czar. "Senhor, viemos diante de ti em busca de justiça e proteção. Sofremos uma grande pobreza, estamos oprimidos e sobrecarregados com trabalhos que superam nossas forças. O despotismo e o governo arbitrário estão nos estrangulando. Senhor, nossa força está se esgotando, nossa paciência chegou ao limite. Chegamos ao terrível momento que é melhor morrer do que continuar sofrendo um tormento intolerável." O Czar recebeu a manifestação com um massacre. Aquele Domingo Sangrento foi o início da revolução que duraria todo um ano. A onda de greves se estendeu por todo o país. Depois da cidade, o movimento sacudia as tropas derrotadas na guerra com o Japão. Em junho, a bordo do Potemkin, estourou a sublevação na esquadra de marinheiros. Os marinheiros se desfizeram de seus oficiais e rumaram à cidade de Odessa, onde reinava a greve geral. O encouraçado Potemkin passava para o campo da revolução. A tripulação dos navios enviada para reprimi-los negou-se a disparar, mas não se uniu aos sublevados. IRMÃOS! A insurreição do Potemkin não triunfou. Mas fez crescer a ideia do levante armado. O Czar, encurralado, prometia liberdades democráticas para evitar a revolução. A burguesia liberal pretendia apoiar-se no movimento de massas para obter algumas concessões. Mas os operários se emanciparam da burguesia, organizando-se à parte dela e frente a ela, nos Sovietes, verdadeiros embriões de um governo revolucionário. Os Sovietes eram compostos de representantes operários, organismos de democracia direta que superava os limites da organização sindical por ofícios. Cada delegado era eleito democraticamente em seu local de trabalho, e representava o mandato da base. Todos os partidos de esquerda tinham representações nele. Foi então quando atuaram pela primeira vez na história da Rússia todas as forças revolucionárias. As duas alas do movimento socialista russo, os bolcheviques de Lênin e os mencheviques, implantaram suas estratégias. Leon Trotsky e outras figuras revolucionárias se destacaram na luta. O Soviete convocou a greve geral e enviou organizações a toda Rússia. Até o momento de sua dissolução, pela força, foi reconhecido pelo czarismo como o interlocutor da classe trabalhadora. O Soviete proclamou a liberdade de imprensa, editaram livremente jornais revolucionários em todas as cidades, organizaram patrulhas para garantir a segurança dos cidadãos. O Soviete dominava o correio, o telégrafo e as ferrovias, tentou instaurar a jornada de 8 horas e fez valer sua própria ordem democrática na vida das cidades. Abriram as portas das universidades. Em suas salas de aula, operários, artesãos e empregados discutiam livremente sobre política. Porém, quanto mais ascendia o movimento com mais ódio se armava a contrarrevolução. Em dezembro de 1905, quando a revolução alcançava seu ponto culminante com a insurreição de Moscou, o Soviete de Petrogrado foi atacado e dissolvido. Os operários armados ofereceram resistência durante 9 dias em Moscou, mas o governo czarista terminou sangrentamente com a insurreição. O Soviete ficaria na consciência dos trabalhadores russos. Durante 50 dias, o poder operário nascente e o poder da monarquia conviveram disputando o controle da sociedade, mas essa situação de duplo poder não podia sustentar-se por muito tempo. Um devia varrer o outro. O czarismo estava mais bem preparado e a reação triunfou sobre a Primeira Revolução Russa. "O Soviete era a organização de classe dos operários... As razões de sua queda devem ser buscadas na passividade do campo e do exército" "Não há duvida que o próximo assalto da revolução significará a constituição do Soviete em todas as partes" Leon Trotsky - 1905 Leon Trotsky foi militante revolucionário desde sua juventude. Por sua atividade foi preso várias vezes e foi deportado, mas pelo fulgor da justiça, regressou à Rússia em 1905 e foi eleito presidente do Soviete de Petrogrado. Com tão só 26 anos, sentiu tremer o mundo sob seus pés. Preso e deportado para a Sibéria, com toda a direção do Soviete, seu balanço e perspectiva da Primeira Revolução Russa foi taxativo: "O mundo estava preparado para a revolução socialista, inclusive na atrasada Rússia. À ditadura do capital, domínio de uma minoria exploradora, era necessário instaurar a ditadura do proletariado, o poder das classes oprimidas e exploradas." 1905 havia demonstrado a hegemonia política da cidade em um país majoritariamente camponês. Para Trotsky, os trabalhadores urbanos eram os que podiam dar saída às penúrias das massas camponesas, acaudilhando-as para a tomada do poder. Enriquecendo-se, empanturrando-se e dormindo, o capitalismo inchou, tornando-se obeso. E obeso, tombou no caminho da história, no mundo, como em sua própria cama. Não é possível esquivá-lo, nem ignorá-lo, o único remédio é destruí-lo! O capitalismo implica competência. Em 1914, a competência capitalista adquiriu uma nova dimensão. A concentração da produção e do capital foi criando grandes monopólios que começaram a desempenhar um papel decisivo na economia. A fusão do capital bancário com o capital industrial deu vida ao capital financeiro. Um punhado de Estados ricos e poderosos competindo entre si pelo controle das matérias-primas, das rotas comerciais e dos mercados, começaram a saquear o mundo. Ficou assim consolidada a divisão do planeta entre países opressores e oprimidos. Cresceu a rivalidade entre os velhos impérios coloniais e os novos, que estavam se desenvolvendo. A economia converteu-se em política e a política em estratégia militar. Em sua disputa pelo controle global submergiram o planeta no massacre da Primeira Guerra Mundial. O espírito de destruição dominou as ideias até a glorificação e justificação da morte. Nasceu o imperialismo moderno. Abriu-se uma época de guerras, crises e revoluções que chega até os nossos dias. O movimento socialista agrupado na Segunda Internacional, construída sob o lema "Proletários do mundo, uni-vos!", rachou, sob o patriotismo imperialista. A social-democracia alemã encabeçou a traição. Com sua força formidável de 2 milhões de membros, 111 deputados, grandes sindicatos e uma dezena de jornais havia confiado mais nas leis do Estado do que na força da classe operária. Os social-democratas declaravam que se podia chegar ao socialismo pela via pacífica, mediante a progressão de reformas parciais. Em 1914, todos os parlamentares social-democratas votaram a favor da guerra imperialista, e seus sindicatos assinaram a "paz social". Somente um deles se opôs. Karl Liebknecht, que terminou preso. Essa era a proporção de cordura quando até os socialistas tomaram os fuzis em defesa de sua pátria e seus patrões. E no meio daquele imenso manicômio, ergueu-se o único com juízo: Zimmerwald. Aqui Lênin, com um punhado de camaradas, se levantou sobre o mundo e lançou os pensamentos mais luminosos que o maior dos incêndios, uma voz com mais fragor do que todos os bombardeios. O punhado de revolucionários que eram contrários à guerra conseguiu reunir-se em Zimmerwald, um povoado da Suíça. Eram apenas 38 delegados, que mantinham vivo o legado internacionalista de Marx. Vladimir Ilitch Ulianov, Lênin, dirigente do Partido Bolchevique Russo, era o mais firme deles. Lev Davidovitch Bronstein, Trotsky, encontrava-se na conferência. Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht, presos na Alemanha, não puderam participar. Para Lênin, o isolamento não deveria trazer desespero. A Grande Guerra seria parteira de revoluções. As massas trabalhadoras, que haviam trocado o macacão pela farda, empurradas por um sofrimento nunca antes visto, entrariam na política revolucionária com um fuzil na mão. A guerra voltar-se-ia contra a burguesia. A tarefa dos revolucionários era converter a guerra imperialista em guerra civil. "Em breve serás grande. Dar-te-ão um fuzil. Toma-o e aprende bem a manejar as armas. É uma ciência imprescindível para os proletários, e não para disparar contra teus irmãos, os operários de outros países, como acontece na guerra atual e como te aconselham a fazer os traidores do socialismo, mas sim para lutar contra a burguesia de teu próprio país, para pôr fim à exploração, à miséria e às guerras, não só com bons desejos, mas vencendo a burguesia e desarmando-a." 1914 Rússia Em 1914, o czarismo entra na guerra como peão da Inglaterra e França. Ao mesmo tempo, pretendia anexar novas regiões ao seu império e controlar o descontentamento social interno, que crescia desde 1912. Explorando o patriotismo, recrutou 10 milhões de homens nas aldeias. Compensava sua debilidade militar e estratégica com o envio de milhões de soldados à morte. E passeavam as botas e os rifles, em seguida os tanques, os aviões, os projéteis e a artilharia. Em 1 ano, as perdas alcançaram 8 milhões de pessoas, entre mortos, feridos e desaparecidos. A guerra é algo terrível? Sim, mas é terrivelmente rentável. Os burgueses se enriqueciam, os fabricantes de armas conseguiram lucros fabulosos, a especulação de todo tipo de jogadas na Rússia era exorbitante. Há 3 anos iniciava-se a guerra. Sucediam-se as derrotas militares do czarismo e as condições de vida tornavam-se insuportáveis. Entre operários e camponeses crescia a consciência de que essa não era sua guerra. Nos barcos a radicalização também era cada vez maior. Os navios de guerra eram como fábricas flutuantes. Entre a tripulação havia um grande número de trabalhadores qualificados que saíram das fábricas. Muitos desses marinheiros haviam participado dos movimentos revolucionários antes da guerra. As fábricas estavam paradas por falta de combustível e por corte de eletricidade, as ferrovias se encontravam à beira do colapso, não havia carne e a lenha escasseava, a fome assolava o país e as filas de pão era uma luta cotidiana. Um profundo cheiro de escândalo emanava dos tribunais e do governo. Um regime dominado por aristocratas vigaristas, especuladores e todo tipo de escória. O ano de 1917 começava com uma onda de greves em Petrogrado. Não tenho palavras para descrever os horrores da última entrada. O maravilhoso é que não morremos todos de frio. Só me mantém aquecido o ardor da vida dentro de mim. Ou talvez seja a fome... a fome de vida. Não há sinal de vida no horizonte, e sim milhares de sinais de morte. Nenhuma fibra de pasto, nenhum inseto. Supondo que eu possa suportar o frio e a fadiga, ainda assim estou cara a cara com a morte, tanto quanto qualquer outro. Mas para mim, há algo mais: a extensão universal da fealdade. 1917 Revolução de Fevereiro Surge das profundezas da Rússia um imenso grito de esperança. Nessa voz se mescla a voz de todos os desesperados, os humilhados, os desamparados. Fevereiro de 1917, estoura a revolução mais profunda de todos os tempos. Em uma semana a sociedade se desfaz de todos seus dirigentes. Os monarcas e seus homens da lei, a polícia e os sacerdotes, os proprietários, os funcionários, os oficiais e os amos caem suspensos no ar. As operárias têxteis iniciam o movimento em Petrogrado. Não passava pela cabeça de ninguém que o Dia da Mulher pudesse se converter no primeiro dia da revolução. Nenhuma organização havia feito um chamado à greve para esse dia. Em 5 dias ocorrem uma infinidade de manifestações de rua e, cada vez mais, fábricas e setores operários somam-se à luta. O movimento se transforma em greve insurrecional contra o regime. As vozes que no início pediam "Pão!", agora gritam: "Abaixo a guerra!" e "Abaixo a autocracia!". As massas invadem as ruas, enfrentam o inimigo, põem amistosamente as mãos nas costas dos soldados, atacam, se dispersam de vez em quando se apoderam de armas, transmitem notícias, recolhem rumores e se convertem em um ser coletivo dotado de inumeráveis olhos, ouvidos e braços. À noite, depois da luta, tiram as conclusões fundamentais: ou a metralhadora barra a insurreição, ou a insurreição se apodera da metralhadora. Os operários do bairro de Vyborg, junto com os soldados mais decididos, esboçam o plano de ação. A força revolucionária das massas golpeia o exército. Os soldados foram se sublevando um atrás do outro. Sim, todos os batalhões. No quinto dia de insurreição, os revolucionários estavam em posse de automóveis blindados com as bandeiras vermelhas desfraldadas, semeando o pânico entre as classes altas. Fevereiro de 1917, diante de uma Rússia que bramava como um oceano, o Czar abdicou. E o Soviete renasceu de novo. Avante, filhos da pátria, o dia da glória chegou. O estandarte ensanguentado da tirania contra nós se levanta Às armas, cidadãos! Formai vossos batalhões! Marchemos, marchemos! A Marselhesa IMPOSTOS A Revolução de Fevereiro de 1917 derrubava o Czar. O povo parecia sair vitorioso no enfrentamento aberto em 1905. Nos salões do Palácio de Táurida ocorriam agora as reuniões do novo Soviete de representantes operários e soldados de Petrogrado. Dois mil delegados soldados, 800 delegados operários. Desde o primeiro momento, o Soviete começou a atuar como um organismo de poder: controlava as subsistências, a guarnição militar, ocupou o Banco do Estado, a tesouraria, a fábrica de moedas, o transporte, conquistou a liberdade para os presos políticos. Para os soldados proclamou o Decreto Número 1, que suprimia a humilhante disciplina militar do czarismo. As massas se referenciavam no Soviete, mas paradoxalmente o poder havia ficado nas mãos da burguesia. Os trabalhadores confiaram a direção do Soviete aos partidos conciliadores, os socialistas-revolucionários e os mencheviques, que negociaram a formação de um governo provisório, composto por burgueses e monarquistas. Assim, após a revolução, um antigo príncipe terminou como Primeiro Ministro. O líder do direitista Partido Kadete, Miliukov, Ministro do Exterior. O único personagem com popularidade seria Kerensky, ligado ao Partido Socialista Revolucionário. Era visto pelos trabalhadores como seu representante dentro do governo. O Partido "Socialista Revolucionário" O Partido Socialista Revolucionário contava com muita popularidade entre o campesinato, ao qual atribuía um papel dirigente na revolução, junto à burguesia nacional. O Partido "Menchevique" Os mencheviques se reivindicavam marxistas, porém, eram a fração mais conservadora do movimento socialista russo. Para eles, a atrasada Rússia não estava preparada para a revolução socialista. Primeiro seria necessário fazer uma revolução burguesa, desenvolvendo o capitalismo e a democracia republicana. Sua estratégia era contrária à tomada do poder pelos trabalhadores. A Revolução de Fevereiro emergiu como um sucesso inesperado, mas à frente da maré popular, sob sua aparente espontaneidade, encontravam-se operários que haviam passado pela experiência de 1905, que haviam refletido sobre ela, que eram críticos diante das ilusões constitucionais e que haviam assimilado a perspectiva da revolução. Entre eles se sobressaíam os operários temperados e educados pelo partido de Lênin. Derrubaram o Czar, mas não conseguiram colocar o poder nas mãos da classe operária. Faltava a ação de um partido revolucionário. O Partido "Bolchevique" Com seus principais dirigentes no exílio, a base operária do Partido Bolchevique já opunha uma política independente à burguesia liberal. No entanto, durante o mês de março, sob a direção de Stálin e Kamenev, a postura oficial do partido será o apoio crítico ao governo provisório e à instauração de uma república democrática burguesa na Rússia. Não falavam como representantes de um partido proletário que se dispõe a enfrentar uma luta imponente pela conquista do poder, mas como ala esquerda da democracia burguesa. Mas essa posição não era compartilhada por Lênin, que continuava exilado, nem pela base do partido, que estava desconcertada. Em fins de março de 1917, um mês depois da queda do Czar, Lênin parte de trem da Suíça atravessando a Alemanha, junto a outros 30 exilados. O trem se pôs em movimento, eram 3:10. E o mundo mudou brutalmente de horário. Milhões de obuses destruidores haviam sido lançados no curso da guerra mundial. Os engenheiros continuavam inventando as armas mais pesadas, as mais poderosas e as mais devastadoras. Mas nenhum obus foi mais devastador e mais decisivo que este trem com seu carregamento de revolucionários, os mais perigosos e mais decididos do século. Este trem, que se lançava através de toda a Alemanha rumo a Petrogrado, se preparava para fazer explodir a ordem dos tempos. Lênin, com 46 anos de idade, volta a viver e a fazer viver a história. Para entender Lênin, quem era e como era, deve-se enfrentar palavra por palavra, imagem contra imagem, a falsificação que foi feita de sua vida e suas ideias. Na vida dos grandes revolucionários, as classes opressoras os submetem a constantes perseguições, mentiras e calúnias. Depois de sua morte, tentam convertê-los em ícones inofensivos. Burocratas corrompidos o embalsamaram para transformá-lo em uma figura inofensiva. As classes opressoras não lhe perdoaram saber vencer. Quando dizemos "Lênin", é como se disséssemos "O Partido", e quando dizemos "O Partido", é como se disséssemos "Lênin". 14 anos antes, os núcleos iniciais do partido que dirigiram a Revolução de Outubro de 1917 eram pequenos e isolados. Até 1905, o partido revolucionário era formado por um pequeno grupo. Os reformistas de então, exatamente como os de agora, zombavam de nós, intitulando-nos de "seita". Várias centenas de organizadores, alguns milhares de filiados, folha revolucionária que não saía mais que uma vez ao mês, editava-se no estrangeiro e chegava de contrabando à custa de muito sacrifício. Não obstante, em 1905 o panorama mudou por completo no curso de alguns meses. As centenas de revolucionários se transformaram de repente em milhares. Para os bolcheviques, a Revolução de 1905 havia sido um impulso inesquecível, uma preciosa experiência e, sobretudo, uma inspiração cheia de conclusões para o futuro. Para Lênin, o programa e as ideias socialistas não deviam ficar em pequenos círculos. Faltava um partido político revolucionário para levá-las às massas. "Um militante revolucionário devia ser capaz de aproveitar o menor detalhe para expor perante todos suas convicções socialistas. O que é, por exemplo, qualquer greve, senão uma pequena crise da sociedade capitalista? Em cada greve se esconde a semente da revolução. Os bolcheviques deviam dirigir a luta da classe operária não só para conseguir vantagens salariais, mas para destruir o regime social que obriga os despossuídos a se venderem aos ricos. Devemos empreender um intenso trabalho de educação política da classe operária, do desenvolvimento de sua consciência política. A verdadeira educação das massas não pode ir nunca separada da luta política independente, e, sobretudo, da luta revolucionária das próprias massas. Só a luta educa as classes exploradas, só a luta lhes revela a magnitude de sua força, amplia seus horizontes, eleva sua capacidade, aclara sua inteligência e forja sua vontade." Sob a ditadura czarista, com uma brutal repressão e sem liberdades políticas, o partido devia ser centralizado, preparado para o trabalho clandestino. Os bolcheviques haviam chegado em 1905 com 8 mil militantes, inseridos nos principais conglomerados industriais, militando em contato estreito com as massas trabalhadoras. Isto lhes permitiu influenciar e demonstrar nos atos a política socialista. "Estamos em tempos de guerra, a juventude decidirá o desenlace de toda a luta, a juventude estudantil e, ainda mais, a juventude operária. Não temam sua falta de preparo, não temam diante de sua inexperiência, os acontecimentos os educarão em nosso espírito." Com esta atitude, os bolcheviques estiveram na primeira trincheira da Revolução de 1905. Através deles as ideias socialistas foram tomadas pelos trabalhadores nas barricadas, nos motins militares e nas insurreições urbanas. A revolução foi derrotada, mas o tipo de organização criada por Lênin permitiu ao movimento socialista resistir à desmoralização. Cerrando fileiras entre os mais convencidos, evitou que as conquistas programáticas e as lições revolucionárias de 1905 se perdessem no refluxo. "A principal conclusão de 1905 foi confirmar uma das teses fundamentais de Karl Marx: que a insurreição é uma arte. Nós mesmos não temos estudado, nem ensinado às massas de maneira suficiente esta arte. Agora devemos corrigir com toda a energia este descuido. Não basta tomar partido quanto às palavras de ordem políticas, é preciso tomá-lo também com respeito à insurreição armada. Quem esteja contra ela ou não se prepare para ela, deve abandonar as fileiras da revolução, por traição ou covardia. Aproxima-se o dia em que os acontecimentos e a luta nos obrigarão a distinguir amigos e inimigos segundo este princípio." Lênin regressou a Petrogrado em 3 de abril de 1917. "Queridos camaradas, soldados, marinheiros e operários: Sinto-me feliz ao saudar em vocês a Revolução Russa triunfante, ao saudar-vos como a vanguarda do exército proletário internacional. Não está longe o dia em que, respondendo ao chamamento de nosso camarada Karl Liebknecht os povos voltarão as armas contra seus exploradores capitalistas. A Revolução Russa, feita por vocês, iniciou uma nova era. Viva a revolução socialista mundial!" A Revolução de Fevereiro criou uma situação de duplo poder. Os Sovietes, armados, eram irreconciliáveis com o poder estatal. Os dois poderes rivalizavam inevitavelmente e se preparavam para o futuro enfrentamento. Em abril se manifesta a primeira crise de duplo poder. Desde sua chegada, Lênin começa uma luta interna dentro do Partido Bolchevique, apoiando-se na base operária militante contra a ala oportunista de Kamenev e Stálin, que empurrava o partido para a direita. Apresenta, então, suas "Teses de Abril". Lênin perguntou: "Por que não se tomou o poder?" Os velhos bolcheviques repetiam: "Porque não se superou a primeira etapa, que é democrática e burguesa." Lênin respondia: "Isto é um absurdo! A única razão é a de que o proletariado ainda não é consciente o bastante nem está suficientemente organizado. A força reside nas mãos do proletariado, mas a burguesia resultou mais consciente e melhor preparada." O poder burguês se manifesta. Miliukov, Ministro do Exterior, declara a necessidade de continuar com a guerra para anexar novas regiões à Rússia. O governo provisório planeja respeitar os compromissos contraídos com França e Inglaterra e prepara uma ofensiva militar no front. Lênin luta dentro do partido. "A guerra da Rússia segue sendo imperialista, de rapina, também sob o novo governo provisório. Em virtude do caráter capitalista deste governo, é intolerável o menor apoio." O poder operário também se manifesta. Superando as vacilações da direção conciliadora do Soviete, em 18 de abril, 30 mil manifestantes armados se lançam às ruas de Petrogrado ao grito de: "Abaixo a guerra!" e "Abaixo Miliukov!". Mas as "Teses de Abril" iam mais além: "Devemos reconhecer que na maior parte dos Sovietes, nós, os bolcheviques, estamos em minoria frente ao bloco de partidos conciliadores, que levam a influência da burguesia à classe operária. A estratégia bolchevique deve ser: explicar pacientemente a necessidade de conquistar todo o poder para os Sovietes, já que é a única forma possível de governo revolucionário." As manifestações massivas abrem a crise. Há enfrentamentos e mortos nas ruas. Os conciliadores buscam desviar a mobilização. Os bolcheviques salientam a intervenção independente das massas. Cai o odiado Miliukov e toma o seu posto o popular Kerensky. É formado um novo governo de coalizão com ministros mencheviques. Trotsky, após 12 anos de exílio, enfrentando várias dificuldades e um mês de detenção em um campo de prisioneiros de guerra, consegue regressar desde os Estados Unidos. Recebe com desprezo a notícia do novo governo e, ao chegar a Petrogrado, toma contato com as "Teses de Lênin" e declara: "Era exatamente o que a revolução necessitava!" Em sua primeira intervenção no Soviete, afirma: "Três preceitos revolucionários: desconfiar da burguesia, vigiar os chefes e não confiar mais que nas próprias forças." Desde a chegada à Rússia, começa sua confluência estratégica com Lênin e o bolchevismo. Desde o primeiro momento enfrentam juntos o governo, chamando uma segunda revolução que desse todo o poder aos Sovietes. Com base nestes acordos fundamentais dar-se-á a fusão entre Lênin e Trotsky, convertendo-os nos principais dirigentes da Revolução Russa. Em agosto, Trotsky engrossará as fileiras do Partido Bolchevique, sendo um notável membro de seu Comitê Central. O papel de Trotsky no Soviete será decisivo para o crescimento da influência bolchevique. Lênin dirá: "Depois que ele entrou no partido, não há melhor bolchevique do que ele." VAMOS TENTAR JUNTOS! O verdadeiro fundamento da revolução era o problema da terra. Os trabalhadores russos não conseguiriam subir ao poder em outubro de 1917, se a burguesia tivesse sido capaz de resolver a questão agrária. O setor dos camponeses ricos tendia à aliança com a burguesia, enquanto os mais pobres se inclinavam para o proletariado. Assim, o campesinato era incapaz de desempenhar um papel político independente das classes fundamentais. O campesinato em bloco seguia o Partido Socialista Revolucionário, que planejava a reforma agrária, ou seja, a distribuição da terra contra a grande propriedade latifundiária. Mas agora este partido, com influência no poder depois da Revolução de Fevereiro, não cumpria suas promessas. O Partido Bolchevique adota o programa de distribuição e entrega imediata da terra, que permitiria solidificar a aliança operário e camponesa para a tomada do poder. Para Lênin e Trotsky, um levante insurrecional nas cidades devia coincidir com a guerra camponesa. Caso contrário, a tomada do poder seria uma aventura insustentável. A busca desta coincidência marcará a política dos bolcheviques durante os próximos meses para alcançar uma revolução triunfante. As Jornadas de Julho O mês de julho anunciava um momento carregado de profundas convulsões. Passados 4 meses da Revolução de Fevereiro, esta já havia dado tudo de si. As massas viam que as condições de vida tinham piorado e se sentiam defraudadas, navegavam em direção a uma segunda revolução. Os trabalhadores giravam a posições radicalizadas. Só um mês antes, em junho, haviam marchado contra a direção conciliadora do Soviete, levantando as palavras de ordem bolcheviques: "Abaixo os ministros capitalistas! Todo o poder aos Sovietes!". Nesse mesmo dia, o governo democrático-burguês havia colocado em marcha uma nova ofensiva militar no front. Uma semana mais tarde, tentava esconder a derrota. A renúncia de 4 ministros capitalistas aprofundou a crise do governo. A frota do Báltico e os marinheiros de Kronstadt incitam a lançar-se às ruas. A notícia de que 500 lotações de regimentos e metralhadoras seriam enviadas ao front, agitou as tropas, que responderam planejando um levante armado contra o governo de coalizão. Os agitadores bolcheviques pediam para esperar, enquanto persistisse a defasagem entre o estado de ânimo impaciente de Petrogrado e a situação atrasada nas províncias. Apesar disso, a impaciência dos soldados não podia ser contida. Delegados dos regimentos percorrem fábricas e quartéis em busca de apoio. Na fábrica Putilov, em todo o bairro de Vyborg, a situação toma um caráter turbulento. Em 3 de julho, a produção industrial é interrompida. As fábricas sublevadas organizam esquadras e armam destacamentos da Guarda Vermelha. 70 mil marinheiros entram em ação. Uma grande manifestação percorre as ruas. Pelo centro avança o regimento de metralhadoras, ao redor vão as colunas de operários, à frente um estandarte onde se lê: "Todo o poder aos Sovietes!". As colunas se dirigem ao Palácio de Táurida, junto com os bolcheviques. Os bolcheviques compreendem que não podem abandonar as massas à sua própria sorte. Decidem encabeçar a ação para que se resolva pacificamente. A direita organiza provocações, há disparos e enfrentamentos nas ruas. Lênin tenta orientar as massas, garantindo que a palavra de ordem de "Todo o poder aos Sovietes!" acabará por triunfar, chamando à serenidade e à firmeza. Em 4 de julho, sob a direção bolchevique, o movimento caótico se organiza. Uma imponente mobilização armada de operários, soldados e marinheiros se dirige ao Palácio de Táurida, exigindo aos conciliadores que os Sovietes tomem o poder. A reação contra-ataca. Em 5 de julho, o governo começa a detenção dos dirigentes operários e o confisco de armas, isolando os bairros da cidade. Acusa publicamente os bolcheviques de complô e cumplicidade com o Estado alemão, responsabilizando-os pela derrota no front. Coloca o partido na ilegalidade e pede a captura de sua direção. Lênin é obrigado a passar para a clandestinidade. Trotsky é preso. A reação se estende a todos os âmbitos em nome da defesa da democracia. A pena de morte é reinstaurada, há fuzilamentos no front, a imprensa opositora é proibida, todas as ações camponesas são reprimidas. O partido, ao pôr-se audazmente à frente do movimento, evitou a derrota. O golpe assestado em julho foi considerável, mas não decisivo. O golpe de Kornilov Abre-se o momento da reação dentro da revolução. Kerensky assume todos os poderes e designa Kornilov, um general czarista, como chefe do exército. As classes possuidoras apoiam o novo governo, enquanto preparam a contrarrevolução. A reação levanta a cabeça. Em agosto, Kornilov lança um golpe militar contra o governo, que lhe permite aniquilar os Sovietes e a revolução. Impotentes diante desta situação, pressionados pelas massas dispostas a combater, os partidos conciliadores se veem obrigados a devolver uma limitada legalidade aos bolcheviques. Os bolcheviques, cujos dirigentes ainda se encontravam presos ou escondidos, eram os únicos que por sua influência podiam organizar as forças para derrotar a contrarrevolução. Aceitam integrar a comissão de "autodefesa revolucionária" com a condição de que se entreguem armas. 40 mil fuzis foram distribuídos entre os trabalhadores. Lênin adverte: "Nós não devemos apoiar Kerensky nem sequer agora. Vamos combater as tropas de Kornilov como fazem as tropas de Kerensky, mas não o apoiamos, e sim desmascaramos sua debilidade." Ainda na prisão, Trotsky diz aos marinheiros: "Apoiemos o fuzil sobre o ombro de Kerensky e disparemos contra Kornilov. Depois ajustaremos as contas com Kerensky." Os ferroviários obstaculizam as vias, os oficiais são presos por seus próprios homens. Assim, o avanço das tropas rebeldes foi derrotado sem combate algum. Depois da intentona de Kornilov e seu lamentável fracasso, as massas afluem definitivamente em direção aos bolcheviques. Enquanto isso, a província e o front uniam-se mais estreitamente à capital. No campo se desata a guerra camponesa, que se estende por toda a Rússia. Os bolcheviques conquistarão a maioria nos Sovietes. Em setembro, Leon Trotsky, recém-posto em liberdade, foi eleito novamente Presidente do Soviete de Petrogrado, como em 1905. 1917 Revolução de Outubro A ARTE DA INSURREIÇÃO Lênin, na clandestinidade, proclamava: "As desordens, cada vez mais frequentes e maiores nos países beligerantes, e o começo dos motins no exército e na frota alemã demonstram claramente que nos encontramos no limiar da revolução socialista mundial. Se agirmos agora teremos do nosso lado toda a Europa proletária. Estou profundamente convencido de que se esperarmos e deixarmos passar o momento, afundaremos a revolução. As massas já deram a sua confiança aos bolcheviques e exigem deles não palavras, mas ações." Em 10 de outubro se reúne em Petrogrado o Comitê Central do Partido Bolchevique e aprova impulsionar a insurreição armada para derrubar o governo capitalista. 10 votos a favor contra 2, de Zinoniev e Kamenev. A data se manteria em segredo. No período chave de setembro e outubro, Lênin passou a maior parte do tempo na clandestinidade e a preparação política e organizativa da insurreição recaiu sobre Trotsky. Muitos dos velhos bolcheviques – Kamenev, Zinoniev, Stálin – eram contrários ou vacilantes frente à tomada do poder. No início de outubro, a frota alemã se encontrava no Golfo da Finlândia ameaçando a Petrogrado revolucionária. Os marinheiros do Báltico combateram valorosamente o inimigo e lançaram um chamado internacional: "Nossa esquadra, atacada por forças alemãs superiores, sucumbe em uma luta desigual. Nenhum de nossos navios recuará do combate. Mas não por ordem de qualquer depreciável governante, não! Combaterão pela conservação de Petrogrado, lar da revolução. Oprimidos de todo o mundo, levantai a bandeira da insurreição!" Os alemães se apoderaram do arquipélago, ficando às portas da cidade. Kerensky decide evacuar a capital e entregá-la sem lutar. A burguesia russa sentia um ódio muito mais ardente pela Petrogrado Vermelha do que pelos generais alemães. "Nós, os bolcheviques, declaramos que não temos nada em comum com este governo traidor do povo. Coloquemos em guarda os operários, soldados e camponeses de toda a Rússia. Petrogrado está em perigo! A revolução está em perigo! O povo está em perigo! E dirigindo-nos ao povo, lhe dizemos: Todo o poder aos Sovietes!" Para 25 de outubro, estava convocado o Segundo Congresso dos Sovietes. A burguesia sabe que Petrogrado irá propor ao Congresso que tome o poder em suas mãos. Prevendo a luta inevitável, o governo tenta desarmar a cidade retirando a maioria da guarnição para o front. O plano desatou a indignação e demonstrou que Kerensky se preparava para avançar sobre a revolução. A revolução tinha o direito de passar à ação em defesa própria. O Soviete de Petrogrado se nega ao traslado das tropas e empreende o caminho da insurreição. Os bolcheviques impulsionaram a criação do Comitê Militar Revolucionário dos Sovietes, um organismo que em pouco tempo adquiriu um enorme poder e se converteu na vanguarda da Revolução de Outubro, sob a presidência de Trotsky. A partir desse momento não se moviam armas sem a permissão do Comitê, e o mesmo Comitê fazia petições públicas para o armamento dos trabalhadores. Assim, os preparativos para a insurreição ocorriam debaixo dos próprios narizes das autoridades. Leon Trotsky voava de fábrica em fábrica, da de Putilov à do Báltico, do bairro operário de Vyborg aos quartéis, e parecia como se falasse simultaneamente em todos os lugares. Cada soldado e cada operário de Petrogrado o conhecia pessoalmente. Sua influência, tanto entre as massas como no Comitê Militar Revolucionário, era esmagadora. "Não abandonar Petrogrado e assegurar com a força armada a conquista do poder para os Sovietes." Nos preparativos da insurreição, participavam diretamente centenas de milhares de operários e soldados. Em 24 de outubro, do Palácio de Inverno, o governo decide mobilizar tropas do front e outras cidades para reprimir Petrogrado, fechar os jornais que incitam a insurreição e prender o Comitê Militar Revolucionário. Do Palácio Smolny, centro de operações do Comitê Militar Revolucionário, partiam destacamentos de soldados e marinheiros aos pontos chaves da cidade. As imprensas são reabertas imediatamente e os jornais proibidos são publicados. Emitem contraordens e freiam o avanço das tropas solicitadas pela contrarrevolução. O controle dos trens lhes permite dominar a situação. O governo ordena ao Cruzador Aurora a partir para o front, mas seus marinheiros acatam a ordem do Comitê de permanecerem na cidade. Por volta de uma hora da manhã, ocuparam a agência de telégrafos. Meia hora mais tarde, tomaram a agência dos correios. Às cinco, a central telefônica. Às dez da manhã cercaram o Palácio de Inverno, que impôs uma breve resistência, até que soaram os canhões do Aurora. O motivo pelo qual a insurreição ocorreu tão rapidamente e quase sem baixas não foi militar nem técnico, foi político. 90% do trabalho da insurreição havia sido feito de antemão. Na sessão do Segundo Congresso dos Sovietes, Trotsky explica em seu discurso: "Levantamos a bandeira da insurreição abertamente perante o povo inteiro. A palavra de ordem da insurreição era: 'Todo o poder aos Sovietes, através do Congresso dos Sovietes'. Dizem-nos que não esperamos o Congresso para o levante. Nós queríamos, mas Kerensky não teria deixado sancionar o Congresso. A tarefa de nosso partido era possibilitar que o Congresso dos Sovietes tomasse o poder. Se o Congresso tivesse sido rodeado por forças contrarrevolucionárias, não poderia fazê-lo. Para cumprir essa tarefa fazia falta um partido que arrancasse o poder das mãos da contrarrevolução e dissesse: aqui tens o poder e vosso dever é tomá-lo!" Poucas horas depois, Lênin anunciou o triunfo da revolução operária e camponesa. Em 4 dias o poder soviético decretou a paz, confiscou as terras dos latifundiários e as distribuiu entre os camponeses, e reconheceu o direito das nações à autodeterminação. Os delegados do Segundo Congresso se espalharam pelo país para difundir a notícia do triunfo em Petrogrado e assegurar a vitória do poder soviético. Em uma cidade após a outra da Rússia, os operários se apossavam do poder. "O objetivo básico da República dos Sovietes é a abolição de toda exploração do homem pelo homem, a completa supressão da divisão da sociedade em classes, o esmagamento implacável da resistência dos exploradores, o estabelecimento de uma organização socialista da sociedade e a vitória do socialismo em todos os países." Declaração dos Direitos do Povo Trabalhador e Explorado – 1918 Como em toda revolução, a tomada do poder não foi seu episódio final. Em 1918, os bolcheviques assinam em Brest-Litovsk um tratado de paz com a Alemanha, onde devem ceder grandes territórios. As forças da reação desataram uma guerra civil contra a revolução que durou 4 anos. Os imperialistas que haviam se enfrentado na guerra, uniam-se agora em uma grande coalizão contrarrevolucionária. 21 exércitos estrangeiros invadiram a Rússia dos Sovietes. Apoiaram e financiaram as forças burguesas e czaristas do Exército Branco. Das entranhas do povo russo, Trotsky criou uma nova força proletária. O Exército Vermelho, que assombrou o mundo com suas vitórias, um a um fez retroceder os inimigos da revolução. Leon Trotsky, a bordo do trem blindado, unia o front com o interior e somava novos combatentes. Por cada região que avançava, expropriava a terra e a entregava aos camponeses pobres. Com seus 5 milhões de soldados revolucionários solidificou a aliança operário e camponesa. Pela primeira vez, o povo russo travava uma guerra por seus próprios interesses. O apoio internacionalista foi indispensável para o triunfo da revolução. Os estivadores britânicos se negaram a carregar os barcos com armamentos, haviam motins em todos os exércitos que eram enviados contra a revolução. Contra todas as expectativas, o poder soviético sobreviveu para mostrar ao mundo, pela primeira vez, que a sociedade pode ser dirigida sem capitalistas, banqueiros e latifundiários. Nos primeiros anos da revolução o povo conseguiu enormes direitos e conquistas É proclamada a implantação do controle operário, como primeiro passo para que as fábricas, oficinas minas, ferrovias e demais meios de produção e de transporte passem por inteiro a ser propriedade do Estado Operário e Camponês. Fica abolida a propriedade privada da terra. Toda a terra, junto com os meios de produção agrícolas, são proclamados propriedade de todo o povo trabalhador. É proclamada a autodeterminação das nações e povos oprimidos de toda a Rússia. Direito das mulheres a votar e a serem votadas para as funções públicas Matrimônio civil e direito ao divórcio. Direito ao aborto livre e gratuito. Creches populares. Abolição das diferenças entre filhos legítimos e ilegítimos. Proteção às mulheres grávidas. A Igreja foi separada da educação e do Estado. A educação privada foi abolida. A educação tornou-se laica, gratuita e obrigatória. Crianças e adultos de todos os povos foram alfabetizadas, respeitando suas nacionalidades. A arte e a cultura deixaram de ser um privilégio das classes altas. A arte se libertou e se uniu ao povo nas ruas, nas praças e nas fábricas. Toda expressão artística e cultural experimentou uma grande criatividade e diversidade. "O poder soviético é um milhão de vezes mais democrático do que a mais democrática das repúblicas burguesas" V. I. Lênin Lênin e Trotsky fundam a Terceira Internacional e proclamam: "Começou a era da revolução proletária mundial!" Para se diferenciarem da velha social-democracia, passam a chamar-se "Partidos Comunistas". A Terceira Internacional constitui a mais grandiosa tentativa de dar uma direção revolucionária ao proletariado mundial. Seus primeiros quatro congressos são importantes lições de teoria, estratégia e tática, a partir de generalizar as experiências da classe operária em sua luta pelo poder. A luta contra o imperialismo e pela emancipação nacional dos países coloniais e oprimidos, a auto-organização das massas, seguindo o exemplo dos Sovietes, a necessidade de construir partidos revolucionários solidamente organizados e dotados de um programa e de uma estratégia para vencer. Este verdadeiro Estado-Maior foi construído no calor da onda revolucionária do pós-guerra, que se expandia pela Alemanha, Itália, Hungria e Polônia. Entretanto, estes processos foram derrotados pelas traições da velha social-democracia e pela imaturidade dos novos Partidos Comunistas. E a Rússia ficou isolada. Para Lênin e para Trotsky, a Revolução de Outubro e a ditadura do proletariado na Rússia eram o começo da revolução mundial. "Sem a vitória mais ou menos rápida do proletariado dos países adiantados, o Estado operário não poderia sequer manter-se na Rússia. Abandonado às suas próprias forças, cairá ou degenerará. Mais exatamente: primeiro degenerará e depois cairá." Ao atraso cultural, econômico e social, herdado do czarismo, somavam-se as consequências da guerra civil. As massas estavam exaustas e muitos dos mais experientes bolcheviques morreram no front. Assim, o terreno ficou livre para o surgimento de uma poderosa burocracia no Estado e no Partido. Os mais lúcidos começaram a batalha contra as deformações do novo Estado. O próprio Lênin, gravemente doente, decide colocar-se à frente desta última batalha ao lado de Trotsky. Após sua morte, em 1924, é mumificado e convertido pela casta burocrática em um ícone inofensivo. A burocracia personificada em Stálin adquiria mais segurança à medida em que as derrotas da classe operária internacional eram mais terríveis. Para consolidar-se no poder e manter seus privilégios recorreu à falsificação, à calúnia e ao terror. Progressivamente, tomou o controle do Partido, do Estado e da Internacional. Contribuía para as derrotas e as derrotas garantiam seu domínio. Concentrou todo o poder em suas mãos, liquidando o poder democrático dos Sovietes. Contra as bases do marxismo, inventou a teoria do "socialismo em um só país". Em cada província, em cada região, a depuração foi sangrenta. Nos aberrantes Processos de Moscou, toda a velha guarda bolchevique foi submetida ao extermínio físico. Foram fuzilados os organizadores do Partido, os participantes da Revolução de Outubro, os edificadores do Estado soviético, os heróis da guerra civil e os melhores generais do Exército Vermelho. O julgamento de Stálin contra mim é baseado em confissões falsas, arrancadas através de métodos inquisitoriais modernos para servir aos interesses da camarilha governante. Não há na história crimes mais terríveis em sua intenção ou execução do que os Processos de Moscou contra Zinoviev-Kamenev ou Pyatakov-Radek. Esses processos não são um produto do comunismo nem do socialismo, mas do stalinismo. Ou seja, do despotismo irresponsável da burocracia sobre o povo. O partido que tomou o poder em 1917 foi o Partido Bolchevique de Lênin. A burocracia stalinista massacrou o partido e expropriou seu nome. Desde o começo, em uma luta implacável contra a burocracia, Trotsky formou a Oposição de Esquerda. Stálin não duvidou em ver nele o seu principal adversário. Por meio da calúnia mais infame, o expulsou do Partido e do território russo. A heroica Oposição de Esquerda resistiu valentemente ao stalinismo nos campos de concentração da Sibéria. Desenvolveu suas seções na Europa e Ásia, na América do Norte e do Sul. Contra a degeneração da Terceira Internacional, Trotsky e seus camaradas fundam a Quarta Internacional em 1938 para lutar pela revolução socialista mundial. Leon Trotsky continuou na batalha até o final. Foi perseguido até seu assassinato, em 1940, pelas mãos de um sicário stalinista. O papel fundamental de Trotsky foi manter a continuidade do bolchevismo revolucionário e nadar contra a corrente na noite negra do stalinismo. Trotsky assegurou que haviam duas alternativas: ou os trabalhadores derrubavam a casta burocrática mediante uma revolução política e regeneravam o Estado operário, ou inevitavelmente a burocracia terminaria restaurando o capitalismo na Rússia. Seu prognóstico foi certeiro. As massas operárias se levantaram várias vezes contra a burocracia stalinista, mas foram derrotadas. A burocracia sobreviveu e estendeu seu domínio ao capitalizar a derrota do nazismo na Segunda Guerra. Nos anos 80, as distintas burocracias stalinistas e maoístas começaram a implementar reformas pró-capitalistas. Assim, os levantes de 1989 e a queda do Muro de Berlim puderam ser capitalizados por forças políticas começando pelas próprias burocracias que terminaram impondo a restauração capitalista. "O que se trata é distinguir o essencial do não essencial na política dos bolcheviques. Não se trata desta ou daquela questão secundária sobre táticas, mas da capacidade de ação do proletariado, sua força para atuar, da vontade de poder do socialismo como tal. Neste sentido, Lênin, Trotsky e seus companheiros foram os primeiros a dar o exemplo ao proletariado mundial, e até agora continuam sendo os únicos que podem gritar: 'Nós nos atrevemos!'." Os revolucionários russos aprenderam com a Comuna de Paris e com as melhores experiências da classe operária. Os revolucionários deste século têm na Revolução Russa e em todas as revoluções do século XX, uma enorme pedreira de ensinamentos. No início do século XXI, milhões de trabalhadores veem aumentar suas penúrias dia-a-dia. A barbárie capitalista anuncia as grandes convulsões que caracterizaram o século XX: as crises, as guerras e as revoluções. Em nossos dias, Lênin, Trotsky e o Partido Bolchevique seguem invocando o espectro da revolução e do socialismo. A busca da verdade histórica é um combate essencial nesta luta. O capitalismo merece perecer. É disso que se trata quando pensamos em Outubro de 1917. Recuperar a memória revolucionária para preparar a vitória de amanhã, ou melhor, recuperar a memória revolucionária para amanhã saber vencer..

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