Sackler Institute of Graduate Biomedical Sciences - Doenças relacionadas ao sistema digestório constitui um grave problema de saúde pública, principalmente em países subdesenvolvidos e em desenvolvimento. A manipulação de alimentos, a ingestão de água potável sem tratamento e a desnutrição constam como os principais fatores de risco para o indivíduo adquirir uma enteroparasitose. Isabella Fraga, 18 anos, residente de Belo Horizonte, deu a luz uma menina prematura com 33 semanas de gestação e peso baixo. Seus exames durante o pré-natal foram todos normais e o parto ocorreu sem nenhum tipo de agravo. Eu e meu marido moramos no aglomerado Ventosa. Levamos um estilo de vida muito simples. Moramos em um barracão de apenas dois quartos com dois cachorros. Luiza é a nossa primeira filha, mas por ela ser prematura, ela teve que ficar internada por alguns dias no hospital. Após 15 dias de cuidados na maternidade, Luiza voltou para casa. Sempre que posso, gosto de estar levando ela no jardim, no parquinho... qualquer lugar que seja para ela tomar um banho de sol. Gosto sempre de estar levando os cachorros juntos para dar uma volta. Para complementar a alimentação de Luiza junto ao leite materno, ela estava tomando um leite em pó próprio para recém nascido que eu mesma preparava, mas depois de alguns dias, Luiza começou a ter diarreia e estava ficando com a barriga inchada. Fiquei muito preocupada. Voltei ao hospital e o médico a atendeu. O raio-X da Luiza demonstrou uma dilatação das alças intestinais e o exame de sangue constatou um número elevado de eosinófilos, demonstrando um processo inflamatório. Luiza foi internada e foi iniciado um tratamento com antibióticos. Por suspeita de enterocolite necrotizante, Luiza entrou em pausa alimentar por três dias. Luiza ficou 8 dias no hospital e após a pausa alimentar, iniciaram o uso de leite em pó juntamente com antibióticos pois suspeitaram de infecção bacteriana. Mas ela piorou depois de dois dias. Dessa vez ela começou a vomitar e a sua barriga também ficou inchada. Os antibióticos foram trocados e ela entrou em pausa alimentar mais uma vez. Ela melhorou por alguns dias mas continuou apresentando a barriga inchada e diarreia. Novos exames são realizados para diagnosticar o quadro de Luiza. O que será que está causando esses sintomas? A biomédica Ana foi responsável pela realização dos exames que levaram a descoberta do que poderia estar acometendo Luiza. Como o quadro de Luiza persistiu mesmo após a troca de antibióticos Nós resolvemos fazer alguns exames. O primeiro a ser feito foi o de hemocultura para bactérias e fungos que tiveram resultados negativos. O esfregaço de sangue periférico comprovou a eosinofilia, ou seja, um número aumentado de eosinófilos, que comprovam um quadro de inflamação. Os níveis aumentados de IgE mostram um quadro de reção alérgica ao leite da vaca. O teste imunológico também comprovou essa alergia. O exame parasitológico de fezes foi positivo em três amostras com cistos de Giardia. Os exames parasitológicos de fezes também foram feitos nos pais de Luiza Comprovando que há cistos nas fezes da mãe Luiza. Ou seja, a Luiza provavelmente foi contaminada durante a manipulação do seu leite ou até mesmo da chupeta por mãos que estavam contaminadas, ou seja, não houve uma higienização completa dessas mãos. Após o diagnóstico, iniciamos o tratamento de Luiza com metronidazol e o seu estado se estabilizou, além de trocarmos também a forma láctea do leite para uma hidrolisada. Ou seja, houve uma melhora também no quadro da reação alérgica. Não teve mais alergia aquele leite que ela antes tinha. A mãe foi medicada com albendazol que é um fármaco prescrito para o tratamento de verminoses. A Giardia é um protozoário flagelado responsável pela giardíase. Quando o seu cisto responsável pela infecção é ingerido, ele libera o trofozoíto que se aloja no intestino delgado, sendo normalmente encontrado nas porções do duodeno e íleo. Sua forma trofozoíta interfere no processo de digestão, que pode ocasionar síndrome de má absorção com fezes volumosas, e causando distúrbios hepáticos. A transmissão dos cistos ocorre por via fecal-oral, a partir de alimentos e água contaminados com fezes. Os cistos maduros e infectantes podem ser veiculados aos humanos através da sinantropia de insetos, como as moscas, ou de forma direta, de pessoa para pessoa, por meio das mãos contaminadas ou em locais de elevado número de pessoas (as creches, por exemplo), principalmente quando as condições sanitárias são precárias. Ter o diagnóstico do que estava fazendo mal a Luiza foi um alívio, mas não pude deixar de me sentir culpada, pois é muito provável que ela tenha pegado essa doença devido aos meus maus hábitos de higiene. Depois de saber o que é a giardíase e como ela é transmitida, passe a tomar ainda mais cuidado ao preparar a sua mamadeira e ao brincar com ela. Hoje higienizo bem as minhas mãos, também evito de deixar os cachorros chegarem perto dela e sempre fervo muito bem a água. Hoje Luiza tem 1 ano e meio e é uma criança saudável e feliz..
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